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4. REVISÃO DA LITERATURA

4.1. Escolaridade e crescimento econômico

A discussão sobre a importância da educação como variável de destaque para ampliar as habilidades dos trabalhadores e elevar sua produtividade remonta a Adam Smith (2003), muito embora este autor não tenha explicitado a forma

como se dá essa relação. A importância do investimento em capital humano como forma de desenvolver as habilidades das pessoas foi discutida também nos trabalhos de Thünen et al. (apud NAKABASHI, 2005).

Na década de 1960, importantes estudos foram realizados com o objetivo de avaliar a relação entre o desenvolvimento dos recursos humanos e o crescimento econômico, com destaque para as investigações conduzidas por Shultz et al. (apud RODRIGUES, 2004), que deram elevada importância ao capital humano em suas análises.

Para Nelson e Phelps (1966), um elevado estoque de capital humano contribui para que o país absorva novos produtos ou idéias que tenham sido descobertas. Assim, um país com maior capital humano tende a crescer mais, pois absorve rapidamente a nova tecnologia.

A nova teoria do crescimento econômico, ou teoria do crescimento endógeno, afirma que existem forças internas ao sistema econômico de regiões, países e estados que impedem a queda do produto marginal do capital à medida que os países elevam seus investimentos e geram externalidades. Os precursores dessa nova teoria foram Romer (1986) e Lucas (1988), que apontaram as externalidades nos gastos com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e na formação de capital humano (anos de educação) como as prováveis fontes de crescimento de um país e das diferenças econômicas entre eles. Essa mudança de foco é bem expressa por Lucas (1993, p. 270):

The main engine of growth is the accumulation of human capital – of knowledge – and the main source of differences in living standards among nations is differences in human capital. Physical capital accumulation plays an essential but decidedly subsidiary role. Human capital takes place in schools, in research organizations, and in the course of producing goods and engaging in trade.

Becker et al. (1990) afirmaram que o investimento em capital humano é o fator chave para o crescimento econômico e que as várias formas de investimento nesse fator incluem escolaridade, estágio, treinamento empresarial, seguro saúde e acesso a informações sobre o sistema econômico. Esses autores encontram evidências substanciais, indicando que os países crescem mais rapidamente quando educação e outras oportunidades são mais abundantes.

A concepção de um modelo matemático para avaliar a relação entre aS escolaridade e experiência e o rendimento do trabalhador foi apresentada por Mincer (1981) e ficou conhecida na literatura como Função Minceriana de Rendimentos do Capital Humano. Segundo Rodrigues (2004), os estudos empíricos na área da microeconomia mostram claros indícios de elevados retornos ao investimento em Capital Humano.

De acordo com Barro (1991), o crescimento econômico de uma nação depende, tanto do Capital Físico, quanto do Capital Humano. O primeiro, na forma de investimentos em edificações, equipamentos, terrenos, estradas, entre outros; o segundo, através do investimento em educação, treinamento e na melhoria da condição de saúde dos indivíduos, o que possibilita elevar o nível de produtividade da força de trabalho.

Em nível mundial, existe uma substancial gama de estudos empíricos evidenciando que a acumulação de capital humano constitui um importante determinante do crescimento econômico. Barro (1991), em um estudo para 98 países, no período de 1960 a 1985, concluiu que a taxa de crescimento do produto é fortemente relacionada com a quantidade inicial de Capital Humano.

Os resultados de Barro (1991), sobre o impacto do Capital Humano no crescimento per capita, foram confirmados pela pesquisa de Levine e Renelt (1991), feita por meio de uma amostra de 119 países, na qual sugeria um número de canais através dos quais a política macroeconômica pode afetar o crescimento econômico de longo prazo. Estes autores usaram a taxa de participação do ensino de segundo grau como proxy para o Capital Humano.

O estudo realizado por Lee et al. (1994) examinou os principais determinantes do desenvolvimento econômico, em especial o papel do capital humano, mensurado pelos anos de estudos realizados, para a Coréia do Sul e Taiwan, e encontrou evidência estatística de que melhoria no Capital Humano e Capital Físico resulta em elevação na renda dos trabalhadores.

A modelagem do progresso tecnológico, como uma função do nível de educação, foi aplicada por Benhabib e Spiegel (1994), os quais consideraram a hipótese de que o Capital Humano afeta o crescimento, não apenas diretamente –

influenciando a taxa de inovação tecnológica de um país –, mas indiretamente, influenciando o ritmo de adoção de tecnologias estrangeiras. Os resultados obtidos, com base em uma amostra de 78 países, no período de 1960-1985, sugerem que o papel do Capital Humano, como uma condição necessária para a adoção e criação de tecnologias adaptadas às necessidades internas do país, é mais importante do que a de um fator de produção.

Silva e Marinho (2005), ao aplicarem as abordagens delineadas por Nelson e Phelps (1966), Romer (1986) e Lucas (1988), com base na análise da fronteira estocástica e do índice de Malmqüist, confirmaram que o capital humano contribui, de diferentes formas para o crescimento econômico de um conjunto de países, como sugeriam as abordagens desses autores.

A elevada importância do Capital Humano para a PTF da economia brasileira foi mensurada por Tavares et al. (2001), em estudo que aferiu a PTF para os estados brasileiros, no período de 1986-1998. Os autores utilizaram o método dos MQG para estimar os coeficientes da variável anos de estudo. O coeficiente de 1,05, encontrado nessa pesquisa, significa que o aumento de 10% nos anos de estudo médio da população ocupada aumentaria em 10,5% a produtividade total dos fatores, mantido tudo o mais constante.

Souza (2004), ao investigar o fator Educação como importante determinante do crescimento econômico dos estados brasileiros, no período de 1970-1995, com base em dois modelos de função de produção, um exógeno e outro endógeno, encontrou que, para cada ano adicional de escolaridade média, o PIB se eleva em 38% no primeiro modelo, e 36% no segundo. Esse autor, em suas análises sobre os fatores determinantes do crescimento econômico das regiões brasileiras, obteve um coeficiente de 19% de aumento da PTF – definida como Dinâmica Interna Regional, no seu modelo – para cada ano adicional da escolaridade média, mantido constante tudo o mais.

Evidências do efeito direto da educação sobre o nível de renda são freqüentemente encontradas nos trabalhos empíricos, como os desenvolvidos por Nelson e Phelps (1966), Romer (1986) e Lucas (1988), entre outros disponíveis na literatura sobre os determinantes do crescimento econômico.