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4. REVISÃO DA LITERATURA

4.2. Recursos naturais e crescimento econômico

Na literatura econômica, que analisa os fatores determinantes do crescimento econômico, a importância dos recursos naturais foi investigada pelas duas principais correntes do pensamento econômico. Pelo lado da corrente neoclássica, o trabalho desenvolvido por Solow (1974) seguiu a formulação original de crescimento exógeno e ampliou a função Cobb-Douglas, incluindo a taxa de fluxo dos recursos naturais, extraído de um grupo de recursos pré- existente e procedeu a análise do crescimento ótimo, similar ao modelo básico. O autor concluiu que a inclusão dos recursos exauríveis no modelo depende da pressuposição de que a elasticidade de substituição entre recursos naturais e bens de capital e trabalho não é menor que a unidade, o que deixa dúvidas sobre essa medida. Em sua perspectiva, o conjunto finito de recursos (excluídos os recicláveis) será usado otimamente, de acordo com as regras gerais que governam o uso ótimo de ativos reproduzíveis (ENGLAND, 2000).

A questão da viabilidade técnica-científica do pensamento neoclássico passou a ser questionada a partir da definição do termo “Desenvolvimento Sustentável”, formulado pela comissão Brundtland, em seu relatório intitulado “Our common future” que define o desenvolvimento sustentável “... como sendo aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Ele contém dois conceitos-chave: 1) conceito de “necessidades”, sobretudo as necessidades especiais dos pobres do mundo, que devem ter a máxima prioridade; 2) a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessidades presentes e futuras.

O desenvolvimento sustentável requer a conjugação de: um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos nos processos decisórios; um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know-how técnico em bases confiáveis e constantes; um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não equilibrado; um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; um

sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções; um sistema internacional que estimule padrões sustentáveis de comércio e financiamento; um sistema administrativo flexível e capaz de autocorrigir-se (VIOLA; LEIS, 1995).

Aghion e Howitt (1998) afirmam que a teoria do crescimento endógeno é a que melhor discute a questão da substituibilidade entre os vários tipos de capital – Físico, Natural e Intelectual. Conforme seus argumentos, a intensidade da elasticidade de substituição é importante na escolha de uma das várias formas da função de produção: Cobb-Douglas, AK ou Schumpeteriana. De acordo com a perspectiva desses autores, o Capital Natural é representado pelos ativos ambientais e, em algumas vezes, pela própria natureza em si, e são tratados como se fossem manufaturas.

England (2000) explorou a relação analítica entre acumulação de capital e crescimento econômico, por um lado, e o ambiente natural, por outro. Utilizando-se das modernas teorias do crescimento, discute-se se o fator biofísico é, ou não, um limitador do crescimento econômico. O autor apresenta um modelo em que esses fatores são complementares e conclui afirmando existir um limite biofísico para o crescimento e que o crescimento exponencial do produto agregado não continuará indefinidamente.

Jeon e Sickles (2004) usam o método da função de distância direcional para analisar o crescimento da produtividade e avaliar o papel que insumos indesejáveis da economia, tais como dióxido de carbono e outros gases, têm sobre a fronteira de produção. Com este método é feita a decomposição do crescimento da produtividade em duas partes: uma parcela devida à eficiência (catching up), e outra, às mudanças tecnológicas (inovação). O teste de significância estatística dos parâmetros estimados foi feito com base no método

bootstrap. Além de apresentar explicações sobre a implicação do crescimento da

PTF nos países da OECD e Ásia, os resultados da pesquisa apontam que quando o gás carbônico (C02) é colocado como um insumo da função de produção dos países da OECD, a taxa de crescimento médio da PTF mostra pequenas mudanças quando comparada com a função de produção sem o insumo C02. Para os países Asiáticos fica evidenciado o pequeno impacto sobre a taxa de

crescimento da PTF. No entanto, os principais achados da pesquisa carecem de significância estatística.

Vincent e Ali (1997) analisaram os resultados de uma regressão múltipla no sentido de avaliar o relacionamento entre o desmatamento e a densidade populacional, o crescimento populacional e a taxa de crescimento da renda, na Malásia, entre 1972 e 1981, e não encontraram evidências estatísticas significativas. No entanto, os resultados sugeriram que a relação entre a taxa de desmatamento e a renda per capita era significativa, de forma que, para distritos residenciais, com renda mais elevada a taxa de desmatamento apresenta-se menor.

Ao longo da década de 1970, aceitava-se que o nível de produto (ou renda) e a degradação ambiental estavam relacionados de forma direta. Argumentava-se que, como os estoques de recursos naturais são dados e a produção material acarreta em agressão ao meio ambiente, pelo despejo de dejetos, uma expansão contínua da atividade econômica não seria sustentável. A justificativa para esse sentimento pessimista é decorrente do fato que o uso contínuo dos recursos naturais levaria ao esgotamento deles, além de resultar no aumento da degradação ambiental (MUELLER, 2007). O relatório de 1992 do Banco Mundial mostrava evidências contrárias à idéia de relacionamento direto entre o produto e a degradação ambiental, sugerindo que o uso de tecnologias limpas e de políticas de proteção ambiental ajudariam a reduzir os impactos sobre o meio ambiente.

O relatório de 1992 do Banco Mundial sugeriu que a formulação de uma hipótese especial sobre a relação entre o desenvolvimento econômico e a degradação ambiental. A essência da hipótese de U invertido ambiental formulada foi que

... em um país subdesenvolvido, cuja renda per capita aumenta consistentemente, um emprego de quantidades crescentes de energia e materiais conduz a uma degradação ambiental cada vez menor. Mas isso aconteceria até certo nível de renda per capita. Se a renda per capita (Y/P) continuar a crescer, cedo ou tarde será atingido um nível de renda per capita, após o qual

aumentos ulteriores nesse indicador de desenvolvimento trariam reduções na magnitude dos indicadores de degradação ambiental5”.

A Figura 16 descreve a relação sugerida por Kuznets, ou seja, que para países ou regiões com renda per capita baixa, em desenvolvimento, o nível de degradação ambiental tende a ser elevado, de forma que haverá um nível de renda que maximiza a degradação. E no caso de rendas acima dessa a trajetória, é esperada de queda da degradação ambiental.

Os fatores que contribuem para esse comportamento, segundo Borghesi (2002 apud MUELLER, 2007) são os efeitos escala, composição e o efeito mudança tecnológica. Na etapa inicial do processo de desenvolvimento predomina o efeito escala; com o desenvolvimento, eleva-se o peso dos outros dois fatores.

Fonte: Retirado de Mueller (2007). Figura 16 – Curva de Kuznets ambiental.

5 Com base em estudos empíricos Simon Kuznets, na década de 1950, formulou a hipótese de que, a distribuição de renda e a renda per capita de uma economia, desenvolvida ao longo do tempo, tem uma relação, que representada graficamente, descreve uma trajetória em formato de “U” invertido.

Renda per capita Índice de

degradação ambiental

Os estudos desenvolvidos por Grossman e Kruguer (1995) e Shafik e Bandyopadhyay (1992), avaliam a existência de uma relação não linear entre poluição e crescimento econômico. Esses estudos mostraram que, para alguns índices de poluição do ar e dos rios, usados em vários países, assim como o nível de desmatamento anual das florestas, há evidências estatísticas de que problemas ambientais e renda teriam uma relação U-invertido, de forma que, a partir de certo ponto no tempo, o impacto ambiental decrescerá com o crescimento econômico. A pesquisa foi desenvolvida com base em dados oriundos do painel

Global Environmental Monitoring System (GEMS) e do painel de países da

Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que congrega informações sobre a qualidade do ar em áreas urbanas de algumas cidades de países desenvolvidos e em desenvolvimento no mundo, além de informações sobre desflorestamento. Para avaliar a relação entre poluição e crescimento, os autores digrediram sobre o nível de poluição, a renda per capita corrente e defasada, além de incorporar outras co-variáveis de interesse, como densidade demográfica, tendência, dummy para especificar as várias regiões e ainda outras.