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4. REVISÃO DA LITERATURA

4.4. Infra-estrutura e crescimento econômico

A literatura econômica sobre os determinantes do crescimento econômico de países, regiões e estados, em geral, aceita que investimentos em infra-estrutura podem produzir substanciais benefícios públicos. A Infra- Estrutura contribui para o crescimento setorial e social. No primeiro caso, porque eleva a produtividade, via ampliação dos serviços públicos dos sistemas de energia elétrica, água potável, comunicação e transporte, com reflexos sobre a redução de custos de produção e transação, e, por conseguinte, sobre a elevação da demanda dos produtos da região. Essa questão foi demonstrada no trabalho seminal de Hirschman (1958), que descreveu as redes de ligação para frente e para trás dos efeitos do investimento industrial em uma região.

Infra-Estrutura contribui, também, para o crescimento social, pois a elevação da produtividade ocorre via melhoria do Capital Humano. Ou seja, uma melhor instalação física das escolas e dos serviços de saúde implica positivamente no crescimento econômico. Além do mais, a existência de estradas em melhores condições de tráfego e o acesso aos meios de comunicação, como telefone e energia elétrica, contribuem para elevar a produtividade dos trabalhadores.

A investigação empírica realizada por Aschauer (1989) encontrou evidências de que o gasto público não-militar nos EUA é mais importante na determinação da produtividade do que os gastos públicos na área militar, e que a Infra-Estrutura em estradas, aeroportos, esgoto, sistema de tratamento de água, dentre outros, tem maior poder de explicação para a produtividade. Esse estudo mostrou que para cada dólar investido em Infra-Estrutura tem-se um retorno de 24 centavos de dólar.

Moomaw e Williams (1991), ao estudarem as fontes determinantes da PTF do setor de manufatura em 48 estados americanos, concluem que os investimentos em educação e Infra-Estrutura de transporte contribuem positivamente para o crescimento da PTF. Esses autores encontraram que a elasticidade da produtividade em relação ao investimento público feito em auto- estradas é da ordem de 0,25.

O estudo realizado por Zhang e Fan (2004), sobre o efeito dos gastos em Infra-Estrutura rural sobre a produtividade da agricultura na Índia, mostra evidências de que a Infra-Estrutura de estradas e sistemas de irrigação contribuem positivamente para o crescimento da PTF. Nessa mesma linha de pensamento, Fane t al. (2000) mostram que os gastos públicos em Infra-Estrutura contribuem para a redução da pobreza rural naquele país.

O trabalho de Calderon e Servén (2003), que faz uso da metodologia de dados de painel para países latino americanos, aplicando o Método dos Momentos Generalizados para estimar os coeficientes da função de produção Cobb-Douglas dos países, encontrou evidências positivas e significativas da relação entre a Infra-Estrutura em telecomunicações, transporte e energia elétrica

e o produto real dos países. Calderon e Servén (2004) encontraram evidências significativas de que o volume do estoque de Infra-Estrutura afeta positivamente o crescimento econômico de longo prazo. Trata-se de estudo realizado com base em uma amostra de 100 países, para o período de 1960-2000, usando modelos de dados de painel e índices analíticos qualitativos e quantitativos da infra-estrutura, estimados por técnicas que utilizam variáveis instrumentais para controlar o potencial endógeno das variáveis representativas da Infra-Estrutura.

Easterly e Rebelo (1993) encontraram evidências significativas da regularidade empírica para a relação das variáveis de política fiscal com o nível de desenvolvimento e a taxa de crescimento, usando dados de seção cruzada. Concluíram que: a) existe uma forte associação entre o nível de desenvolvimento e a estrutura fiscal; b) o investimento público em transporte e em comunicação está consistentemente relacionado com o crescimento.

No Brasil, Ferreira e Malliagros (1998) apresentam uma análise empírica do setor de Infra-Estrutura brasileiro, no período de 1950-1995, usando a técnica de vetor auto-regressivo (VAR) para estimar a elasticidade da produtividade em relação ao investimento em Infra-Estrutura do setor privado, desagregados em cinco setores (energia elétrica, telecomunicações, ferrovias, rodovias e portos). Os resultados desse estudo são significativos e mostram que a elasticidade oscila entre 0,34 e 0,38 indicando que uma queda de 10% nos investimentos em Infra- Estrutura provocaria uma queda de 3,5% na PTF. Para esses autores, “... a queda dos investimentos em infra-estrutura nos anos de 1980 teria afetado negativamente a evolução da produtividade dos fatores nessa década”.

Os impactos dos investimentos em Infra-Estrutura na PTF do setor agrícola brasileiro foram estudados por Mendes e Teixeira (2006), que usaram o método MMG para estimar a elasticidade da PTF em relação à Infra-Estrutura em energia elétrica (0,15), telecomunicações (0,25) e rodovias (0,65), sendo os dois primeiros significativos a 5%, e o último, a 10%. Além disso, apresentaram como instrumentos os regressores endógenos defasados de até dois períodos de tempo.

O trabalho desenvolvido por Silva e Fortunato (2007) investigou empiricamente a importância da infra-estrutura no crescimento de longo prazo da economia brasileira, usando dados para 26 unidades da federação, no período de 1985 a 1998. Nesse estudo, foi aplicada a metodologia de dados em painel, assumindo o modelo de efeitos fixos. A variável Despesa Estadual em Infra- Estrutura foi usada como proxy do investimento no setor. Os resultados empíricos mostram evidências significativas de uma relação positiva entre o crescimento econômico e os gastos em Infra-Estrutura, para o Brasil e para as regiões Sul/Sudeste e Norte/Nordeste. O coeficiente de elasticidade em relação ao gasto em Infra-Estrutura foi de 0,08 para o Brasil, de 0,02 para as regiões Sul/Sudeste e de 0,24 para as regiões Norte/Nordeste. Desagregando-se os gastos em Infra-Estrutura de energia/comunicação e transporte, foi encontrado: 0,30 e 0,06, para o Brasil; 0,50 e -0,006 para as regiões Sul/Sudeste; 0,20 e 0,25 para as regiões Norte/Nordeste.