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3 GOSTOS, PREFERÊNCIAS, USOS E FUNÇÕES MUSICAIS: A NECESSÁRIA

4.2 A escolha da abordagem e do método

A escolha pelo estudo de múltiplos casos se deveu por este se caracterizar como um método de “exploração de um sistema limitado ou um caso (ou múltiplos casos) [...] que envolve coleta de dados em profundidade e múltiplas fontes de informação em um contexto” (CRESWELL, 1998, p.61). Como meu estudo contemplou mais de um contexto, utilizei a terminologia “estudo de múltiplos casos” (MAFFEZZOLLI; BOEHS, 2008; p.99). Meu campo empírico foi constituído por uma escola de 1º ano do ensino médio estadual na cidade do Natal; uma escola de 9º ano do ensino fundamental particular na cidade do Natal e um 9º ano em uma turma da escola na rede municipal de Natal-RN. Todas as aulas são integralmente de música. Ao todo, cada turma versava entre 20 à 25 alunos, entre idades médias de 15 à 17 anos, tanto do sexo masculino como feminino. Mais da metade dos alunos são de classe média baixa. Todos os 3 professores das escolas são formados em Arte/música e dão aulas integralmente de música.

Minha busca por este objeto de pesquisa está associada com as problemáticas construídas por mim ao longo de minhas observações sociais frente a organização industrial vigente que me cerca e influência em meus hábitos de consumo. Então, considero que seja uma relação metodológico de proximidade entre pesquisador/objeto no que esboça Bourdieu (2005), uma forma também de encontrar satisfação no estudo científico.

4.2.1 Procedimentos e técnicas de coleta de dados

Foram utilizados nesta pesquisa as seguintes técnicas de coleta de dados: pesquisa documental; questionários; entrevistas com gravação em áudio (as quais foram posteriormente transcritas) e fotografias. Por meio da pesquisa documental, tive acesso aos projetos pedagógicos das escolas, através dos quais pude conhecer a organização e o planejamento institucional de cada escola. Aprendi que o pesquisador deve estar atento aos projetos políticos pedagógicos da escola pois através deles podemos compreender o panorama da visão crítico/social que a escola exerce em suas tarefas. Minha atenção em relação ao PPP se concentrou em alguns fatores como: região, situação socioeconômicas, estruturas e em relação às suas concepções de ensino – de uma maneira geral –.

Foi realizado por meio de instrumento de pesquisa o uso de entrevistas com alguns alunos dessas escolas fazendo uso de gravadores para registro dos diálogos. Entendi que “a compreensão dos mundos da vida dos entrevistados e de grupos sociais especificados é a condição sine qua non da entrevista qualitativa. Tal compreensão poderá contribuir para um número de diferentes empenhos na pesquisa (BAUER; GASKELL, 2002, p.65), da mesma maneira entendi também o que Duarte (2004) destaca, quando comenta que as “entrevistas são fundamentais quando se precisa/deseja mapear práticas, crenças, valores e sistemas classificatórios de universos sociais específicos” (p.2). Foram 15 perguntas em questionários para os alunos e 10 perguntas nas entrevistas feitas a um grupo de três alunos de cada turma. As perguntas discorriam desde a influência das músicas midiáticas massivas na prática pedagógica à concepções sobre diversidade cultural musical.

4.2.2 Procedimentos e técnicas de organização e análise

No que concerne à pesquisa documental, considerei-o como um instrumento importante para a pesquisa. Das três escolas só uma nos forneceu no PPP uma ação em relação a mídia e o elo com a escola. Percebi que das três escolas duas ainda tiveram certa resistência em nos

fornecer acesso ao PPP. Acredito que tal fato se dava à não atualização de seus PPPs há mais de dois anos. E uma outra constatação que tive foi a de que em uma das escolas, nem souberam me informar onde o PPP estava. Depois de muita insistência, consegui ter acesso aos três PPPs e extrair as informações necessárias para o desenvolvimento da minha pesquisa.

Por meio dos questionários, pude compreender de forma mais ampla os resultados obtidos, entendendo que os questionários são meios eficazes de “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc” (GIL,1999, p.128). De acordo com Subtil (2003) os dados não são “critério de verdade absoluta, na convicção de que a realidade é dinâmica, mutável e os sujeitos são extremamente suscetíveis de mudanças na explicitação das representações, gostos e opiniões sobre a música” (p.3). Acredito que os indivíduos e os lugares, bem como as ideias que eles se exprimem são subjetivos e subjetivados pelas mudanças. Assim, tentei me aproximar daquelas opiniões encontradas no período da pesquisa com as fundamentações teóricas mais relacionáveis à aquelas experiências. Os dados coletados via questionários foram tabulados em planilhas virtuais para otimizar a confecção de gráficos e, consequentemente, a visualização das informações.

Como uma de minhas propostas foi a realização de entrevistas semiestruturadas com os alunos, entrevistei dois alunos por sala, sendo todas essas entrevistas gravadas (com consentimento prévio) e depois todas transcritas. Identifiquei os alunos de cada sala das três escolas diferentes observadas através de pseudônimos para preservar as identidade dos mesmos. Sendo assim, ao partir primeiro do questionário aplicado antes das entrevistas com eles, possibilitou-me a oportunidade de compreender minimamente o que eles entendiam por música em uma visão geral – como analisado no questionário –. Por assim perceber, afunilei meu locus para outras reflexões pertinentes que permearam meu aporte teórico. Então, uma de minhas perguntas desenvolvidas compreendia os âmbitos do hábito de escuta e que meios/pessoas os influenciavam na predileção dessas músicas. As gravações foram realizadas através dos gravadores de dois celulares distintos para a preservação dos áudios. Cada entrevista durou em média entre 20min a 30min, no qual, todas foram transcritas originalmente para uma melhor veracidade dos dados. Utilizei para uma melhor compreensão dos dados a análise de discurso. Há várias definições do que seja essa análise. Preferi adotar as proposições de Bauer e Gaskell (2002), no que concerne:

estudo de textos, desenvolvida a partir de diferentes tradições teóricas e diversos tratamentos em diferentes disciplinas. Estritamente falando, não existe uma única “análise de discurso”, mas muitos estilos diferentes de análise, e todos reivindicam o nome. O que estas perspectivas partilham é uma rejeição da noção realista de que a linguagem é simplesmente um meio neutro de refletir, ou descrever o mundo, e uma convicção da importância central do discurso na construção da vida social (p.244).

Os autores, portanto, entendem que as análises podem ser vistas diferentemente de acordo com o objeto a ser estudado, diferenciando também, assim, das abordagens metodológicas de outros teóricos. A fim de ilustrar brevemente a pesquisa, também lancei mão de registros fotográficos, realizados durante o período de coleta de dados, com o objetivo de fornecer, por meio desta pesquisa, informações sobre os campos empírico que fossem além de minhas descrições textuais.