• Nenhum resultado encontrado

3 GOSTOS, PREFERÊNCIAS, USOS E FUNÇÕES MUSICAIS: A NECESSÁRIA

5.3 As relações dos estudantes com música(s)

5.3.1 Os conceitos

Minhas primeiras inquietações foram acerca dos possíveis e diferentes conceitos de música presentes entre os estudantes. Conhecer conceitos de música em pesquisas que a concebem como um fenômeno social é um importante modo de se conhecer o contexto mais amplo em que ocorrem as experiências das pessoas com música. A partir do Gráfico 1 – que

apresenta categorias para as respostas da primeira pergunta do questionário –, é possível perceber que a maior parte dos respondentes associa música a “sentimento”, o que sugere haver uma tendência de eles terem com música uma relação orientada por (ou orientadora de) fatores emocionais, podendo a música evocar ou acompanhar suas diferentes emoções ou sentimentos. Vale também destacar o significativo número de estudantes que associou música à “arte”, indicando, à primeira vista, que, para boa parte desses respondentes, música é uma manifestação esteticamente orientada.

Gráfico 1 - O que é música para você?

Fonte: Gráfico elaborado pelo autor.

A partir do mesmo Gráfico 1 é possível perceber que, para muitos, a música é vista como um elemento potencialmente motivador de outras ações. Cabe frisar que há diversas formas de se buscar satisfação, e a música parece ser vista, nesse sentido, como uma impulsionadora nessa busca pela felicidade. A música, portanto, como fenômeno que causa prazer nos indivíduos se correlaciona com as necessidades desses indivíduos. Era assim, esperado em algumas das falas, que essa relação emergisse de alguma forma. A ligação entre gosto, som e sentimento se interligam formando sensações aos ouvintes que eles definem como “boas”, “más”, ou que gerem alegrias, tristezas e entre outros sentimentos. Atentar para o fato que o som vai além da escuta é perceber que a multiplicidade desses sons, ao se configurarem

de maneiras diferenciadas, provocam nos ouvintes sensações; estas, implicam em sentimentos e consequentemente em critérios de gostos e classificações. “Portanto, diremos que a audição se dá a priori e o gostar a posteriori, porque não se gosta do som em si, mas do que se sente ao ouvi-lo” (CURTÚ, 2011, p.54). Baseado nisso, se pode inferir que esse é um dos critérios de legitimidades para a escolha e ao mesmo tempo de descartes dos repertórios desses ouvintes.

É importante destacar também que, dentro dos 55% das respostas restantes, há vários pensamentos sobre música e suas definições. Tal perspectiva demonstra que música não é vista como algo único ou estático – sendo minimizada a algumas atividades humanas –. Pelo total de respostas do grupo, trata-se de algo que apresenta inúmeras funções sociais. Isso porque a música passa por vários setores que constituem a complexidade do que é o ser humano e da sociedade que constantemente ele produz. É um dado significativo, então, perceber que, para os respondentes, música não está atrelada apenas à dimensão dos sentimentos, apesar de este ser a mais notada pelos respondentes.

Por meio das entrevistas, foi possível perceber que os estudantes se relacionam com música em diversos contextos, sendo a escola apenas um deles. O conceito de música que possuem, portanto, possivelmente, é influenciado por essa diversidade de contextos. Inicialmente, fiz as seguinte perguntas: Você tem o hábito de escutar música? Se sim, o que é música para você? Como é que você escolhe estas músicas? Alguém te indica? Ou é através da internet, do rádio, da televisão? Como é? A seguir, estão excertos de respostas dadas por alguns dos respondentes.

Marcos A: Tenho sim. Música para mim é… um som legal que mexe com meus sentimentos. O cara sente paz escutando música. Eu só gosto mais de pop internacional e sempre escuto também pela internet, as vezes eu pesquiso pela internet e digito algo ou alguém me mostra, ai eu vou lá, pesquiso e escuto. As vezes do nada também eu abaixo e começo a escutar. (...) ou é pela internet ou alguém vem e me mostra… aí quando eu gosto vou lá pesquisar.

Tamy C: Sim. Música é uma das formas da pessoa se divertir. Tipo, quando a pessoa tá no show dos cantores que gosta, aí… a pessoa se divertir com aquele som. Sou influenciada mais pelos meus amigos. Pelo meio... é mais ou menos assim.

Radamés G.: Tenho demais. É um sentimento que emociona. Quando o cara tá triste ou alegre. A música vai longe na vida da pessoa. Eu acho que tipo, eu não tenho tipo um estilo, uma coisa: - ah só escuto aquilo. Eu escuto vários tipos de músicas. Muitas vezes é pelos amigos também, ou em casa, às vezes. Eu vejo a música e gosto. Tipo assim...

Ludmila B.: Sim! Música é tudo e está em tudo. Ela é uma das formas que me liga a Deus quando tou na igreja louvando os hinos. Louvar a Deus através

das músicas é bom demais. Eu sou influenciada na maior parte pelos meus amigos e a igreja. (ALUNOS, 2ª resposta das entrevistas, 2017).

É notório, nos discursos, a associação que esses estudantes estabelecem entre música e o campo abstrato dos sentimentos que estrutura suas percepções e sensibilidades. Sejam essas relações permeadas por sentimentos – alegria, tristeza – ou ancoradas em diversão/entretenimento. Parece que, pelo fato de a música se relacionar com aspectos sensíveis de sua vida, os indivíduos tendem a associá-la mais ao campo emocional. Através disto, fica a percepção de que música, para eles, está associada ao bem-estar individual, assim como, a relação afetiva que estabelecem com os demais indivíduos do seu convívio. Conforme indica Curtú (2011), “sensibilidade enquanto sentimento depende da sensibilidade enquanto sensualidade/sentido e ambas atuam na leitura objetiva e subjetiva que se faz das músicas” (p.54).

Os respondentes, carregados de subjetividades e sentimentos, externam que as músicas que eles escutam amenizam as inúmeras demandas sociais impostas a eles. Desta forma, como já indicado na revisão de literatura, a indústria cultural – em suas produções midiáticas – vê aí uma possibilidade de investimento, enfocando e mesmo ampliando a percepção de algumas necessidades e demandas. Por essa razão, é recorrente se observar o ato dos indivíduos se divertirem associado intrinsecamente com músicas. É importante destacar que, no discurso da aluna Ludmila B., a música além de exercer uma função social também ligada ao sentimento, é uma forma também de ligar as pessoas ao divino. A música, como manifestação sempre presente nas religiões é encontrada em diversas manifestações culturais. Dessa forma, é recorrente encontrar em alguns momentos nos discursos dos indivíduos a associação da música com suas expressões de fé. No caso, é clara a relação dessa aluna com o fenômeno religioso e as músicas que compõem a sua relação com o sagrado, trazendo para nossas análises mais um sentido de ser no escutar musical.