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A responsabilidade civil é dividida em espécies, considerando o seu fato gerador e o elemento culpa (presença ou ausência), que serão apresentadas a seguir.

Esta espécie de responsabilidade decorre de uma relação contratual, ou seja, se uma das partes deixa de cumprir uma obrigação preestabelecida em uma ou mais cláusulas de um contrato, responderá por tal ato se este ocasionar um prejuízo. Nessa direção aponta Gonçalves (2009, p. 26):

Uma pessoa pode causar prejuízo a outrem por descumprir uma obrigação contratual. Por exemplo: quem toma um ônibus tacitamente celebra um contrato, chamado contrato de adesão, com a empresa de transporte. Esta, implicitamente, assume a obrigação de conduzir o passageiro ao seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre um acidente e o passageiro fica ferido, dá-se o inadimplemento contratual, que acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389 do Código Civil.

Nesta espécie, o dever de indenizar restou positivado no artigo 389 do Código Civil de 2002: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.” (BRASIL, 2002).

Aqui, faz-se necessário uma relação jurídica estabelecida antes da ocorrência dano. Relação esta que deve ser pactuada por pessoas com capacidade civil para tanto. A capacidade civil é requisito nesta modalidade de responsabilidade civil e conforme destaca Diniz (2004, p. 127) que:

Resulta, portanto, de ilícito contratual, ou seja, de falta de adimplemento ou da mora no cumprimento de qualquer obrigação. É uma infração a um dever especial estabelecido pela vontade dos contraentes, por isso decorre de relação obrigacional preexistente e pressupõe capacidade para contratar. Baseia-se no dever de resultado, o que acarretará a presunção da culpa pela inexecução previsível e evitável da obrigação nascida da convenção prejudicial à outra parte.

Uma peculiaridade da responsabilidade civil contratual é que a culpa é, em tese, “presumida, invertendo-se o ônus da prova, cabendo à vítima comprovar apenas, que a obrigação não foi cumprida, restando ao devedor o onus probandi, por exemplo, de que não agiu com culpa ou que ocorreu alguma causa excludente [...] de causalidade.” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2004, p. 20).

3.4.1 Responsabilidade civil extracontratual

A responsabilidade civil extracontratual é também conhecida como responsabilidade civil aquiliana e tem seu fundamento no ato ilícito, que está disposto nos artigos 186 e 187, do Código Civil de 2002:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestadamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. (BRASIL, 2002).

No tocante ao tema, Gonçalves (2009, p. 26) discorre que:

Quando a responsabilidade não deriva de contrato, diz-se que ela é extracontratual. Neste caso, aplica-se o disposto no art. 186 do Código Civil. Todo aquele que causa dano a outrem, por culpa em sentido estrito ou dolo, fica obrigado a repará-lo. É a responsabilidade derivada de ilícito extracontratual, também chamada aquiliana. Ao inverso da responsabilidade contratual, nesta espécie, o causador do dano e o lesado não possuem nenhuma relação jurídica preexistente ao dano, sendo prescindível a capacidade civil e deve o lesado provar a culpa do agente causador do dano. Diniz (2004, p. 128) corrobora:

A fonte dessa responsabilidade é a inobservância da lei, ou melhor, é a lesão a um direito, sem que entre o ofensor e o ofendido preexista qualquer relação jurídica. P. ex.: se alguém atropelar outrem, causando-lhe lesão corporal, deverá o causador do dano repará-lo (CC, art. 949). O lesante terá o dever de reparar o dano que causou à vítima com o descumprimento de preceito legal ou a violação de dever geral de abstenção pertinente aos direitos reais ou de personalidade, ou seja, com a infração à obrigação negativa de não prejudicar ninguém. O onus probandi caberá à vítima; ela é que deverá provar a culpa do agente. Se não conseguir, tal prova ficará sem ressarcimento.

Nesta modalidade, a obrigação de indenizar está disposta nas hipóteses dos artigos 927 a 954 do Código Civil de 2002.

3.4.2 Responsabilidade civil subjetiva

Esta espécie de responsabilidade funda-se na teoria clássica da culpa, pela qual apenas responde pelo dano aquele que agiu munido do elemento subjetivo culpa – culpa em sentido lato, que abrange o dolo e a culpa em sentido estrito. Nesse sentido discorre Gonçalves (2009, p. 30):

Diz-se, pois ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na idéia de culpa. A prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa. (grifo do autor).

Nesse mesmo norte, apontam Gagliano e Pamplona Filho (2004, p. 15):

A noção básica da responsabilidade civil, dentro da doutrina subjetiva, é o princípio segundo o qual cada um responde pela própria culpa – unuscuique sua culpa nocet. Por se caracterizar em fato constitutivo do direito à pretensão reparatória, caberá ao autor, sempre, o ônus da prova de tal culpa do réu.

Destarte, para que haja reparação, não basta a ocorrência pura e simples de um dano (prejuízo), faz-se imprescindível a existência da culpa na prática da conduta lesiva. Portanto, incumbirá à vítima o ônus probatório do dano e da culpa na ação praticada pelo agente causador.

3.4.3 Responsabilidade civil objetiva

Com a evolução da sociedade em geral, proporcionada pelo desenvolvimento tecnológico e industrial, a responsabilidade civil subjetiva aos poucos se tornou insuficiente para reparar os danos causados às pessoas, pois em muitos casos a ocorrência do dano, apesar de incontestável, não era elemento suficiente para responsabilizar o seu agente causador, e, por conseguinte não aflorava o direito de indenização, restando assim, muitos prejudicados sem qualquer reparação. Stoco (2007, p. 156) confirma:

A jurisprudência e a doutrina convenceram-se de que a responsabilidade civil fundada na culpa tradicional não satisfaz e não dá resposta segura à solução de numerosos casos. A exigência de provar a vítima o erro de conduta do agente deixa o lesado sem reparação, em grande número de casos.

Por essa razão, surgiu a necessidade de se criar uma teoria capaz de ensejar a reparação do dano mesmo que o agente causador tenha agido desprovido de culpa. Por isso, surgiu a teoria da responsabilidade civil objetiva, igualmente conhecida como teoria do risco criado.

Conforme essa teoria, ao indivíduo sofredor do dano somente é exigido a prova do dano e do nexo de causalidade, tendo em mira que o fundamento do dever de indenizar está lastreado no risco proporcionado pela atividade desenvolvida pelo agente causador do dano ou decorrente de lei.

Nesse diapasão, manifesta-se Gonçalves (2010, p. 54): “Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda no risco (objetiva propriamente dita ou pura).”

Gagliano e Pamplona Filho (2009, p. 14) corroboram:

[...] hipóteses há em que não é necessário sequer ser caracterizado a culpa. Nesses casos, estaremos diante do que se convencionou chamar de “responsabilidade civil objetiva”. Segundo tal espécie de responsabilidade, o dolo ou culpa na conduta do agente causador do dano é irrelevante juridicamente, haja vista que somente será necessária a existência do elo de causalidade entre o dano e a conduta do agente responsável para que surja o dever de indenizar.

O Código Civil de 2002, mais precisamente no parágrafo único do seu artigo 927, consagrou a responsabilidade civil objetiva fundada na teoria do risco:

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,

nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida

pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

(BRASIL, 2002, grifo nosso).

Nos casos especificados em lei, a que se refere o artigo supracitado, significa os casos de responsabilidade civil objetiva previstos em leis especiais como, por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078 de 1990) que em seu artigo 12 dispõe:

O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos

causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. (BRASIL, 1990, grifo nosso).

Na doutrina e na jurisprudência, existem divergências acerca da possibilidade de sujeição dos sites de relacionamentos às regras do Código de Defesa do Consumidor. E isso implica na determinação de qual espécie de responsabilidade (subjetiva ou objetiva) estaria presente no caso de algum dano gerado por meio dos referidos sites, e a consequência seria a distribuição do ônus probatório que, caso seja aplicado o mencionado Código a vítima não necessitará provar a culpa do site.

Conforme Gonçalves (2009, p. 25):

Em diversas leis esparsas, a tese da responsabilidade objetiva foi sancionada: Lei de Acidentes do Trabalho, Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei n. 6.453/77 (que estabelece a responsabilidade do operador de instalação nuclear), Decreto legislativo n. 2.681, de 1912 (que regula a responsabilidade civil das estradas de ferro), Lei n. 6.938/81 (que trata dos danos causados ao meio ambiente), [...] e outras.

Há também, a responsabilidade civil objetiva do Estado, insculpida no artigo 37, § 6º, da Constituição da República de 1988: “§ 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” (BRASIL, 1988).

Nota-se que, pelo enunciado do parágrafo 6º, não se faz necessário que a vítima prove a culpa da administração pública, tendo em vista que seu texto dispõe que nos casos em que o seu agente houver agido com dolo ou culpa, haverá o direito de regresso da administração pública contra ele. Conclui-se, portanto, que mesmo que o agente administrativo não tenha agido com dolo ou culpa, restará o dever de indenizar do Estado. Venosa conclui: “Em síntese, como regra geral, a responsabilidade civil das pessoas jurídicas

de direito público não depende da prova de culpa, exigindo apenas a realidade do prejuízo, a autoria e o nexo causal.” (2009, p. 95).

A responsabilidade civil do Estado, acolhida por nossa Constituição vigente, funda-se na teoria do risco administrativo que admite que a responsabilidade do Estado seja elidida ou atenuada pela culpa concorrente da vítima. É o que diz Rodrigues (2003, p. 87):

Essa responsabilidade, como em todos os outros casos de responsabilidade civil, pode ser atenuada ou mesmo excluída se houver concorrência de culpa da vítima ou culpa exclusiva desta. No primeiro caso, porque o dano haveria derivado não só de atividade do funcionário como da negligência ou da imprudência da vítima; no segundo porque, havendo o dano defluido da exclusiva culpa da vítima, esta última circunstância suprimiria a relação de causa e efeito entre o ato de representante do Estado e o prejuízo experimentado pela vítima.

Existe controvérsia doutrinária e jurisprudencial no tocante a responsabilidade civil objetiva do Estado por atos omissivos. Pois há o entendimento de que o Estado só responde objetivamente se o ato que proporcionou o dano tenha se dado de forma comissiva – se o ato fosse omissivo a responsabilidade seria subjetiva -, e há também, o entendimento de que o Estado responde objetivamente mesmo pelos atos omissivos de seus agentes. Todavia, se houver dano decorrente de ato emanado do poder Estatal, seja objetivamente ou subjetivamente, ao Estado restará o dever de indenizar.

Conclui-se, portanto, que a responsabilidade civil objetiva subsiste juntamente com a subjetiva e que uma não exclui a outra, elas apenas se complementam.