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5 USUÁRIOS EM BIBLIOTECAS COM OU SEM MUROS Conforme apresentado no capítulo de metodologia dessa tese, foram realizadas

5.2 Caracterização das bibliotecas e seus usuários

5.2.1 O espaço da biblioteca e seus desafios

Torna-se necessário caracterizar a biblioteca e seu espaço, para melhor compreender as abordagens dos usuários. No quadro 8, tem-se uma breve descrição da estrutura das empresas onde trabalhavam os entrevistados.

QUADRO 8 – Caracterização da estrutura das empresas onde trabalhavam os bibliotecários entrevistados

(Continua)

Empresa Posição institucional e estrutura da biblioteca ou centro de informação

Universidade A Biblioteca vinculada à gerência de ensino de graduação. Biblioteca multidisciplinar, acervo de cerca de 650.000 obras. Tem setores de aquisição e seleção; processamento técnico; periódicos; referência e coleções especiais, com um bibliotecário responsável por cada setor. 9.578 m2 de área. Há, ainda, uma biblioteca multidisciplinar por campus, vinculada à central. Processamento técnico, compras e aquisições são centralizadas. Disponibiliza o acesso ao portal de periódicos da CAPES, participa da rede Pergamum. Possui cooperação interinstitucional com outras bibliotecas, faz serviços de COMUT.

Universidade B Biblioteca vinculada ao Sistema Central de Bibliotecas e Arquivo da Universidade. Biblioteca de uma das Escolas da Universidade, as bibliotecárias entrevistadas revelaram dificuldades de gestão pela biblioteca não estar vinculada administrativamente à Escola que atende. Não há divisão interna de seções na biblioteca. Todas as quatro bibliotecárias fazem as atividades de processamento e referência, mas dividem entre si o trabalho conforme preferências e disponibilidade. Há quatro auxiliares de biblioteca. Trabalham oito pessoas no espaço de 185,87 m², com cerca de 6.000 exemplares. Disponibiliza acesso ao portal de periódico da CAPES.

Faculdade A Biblioteca vinculada à direção da instituição. A direção central da biblioteca coordena ações das outras bibliotecas (uma da faculdade, duas escolares e uma infantil em BH; três escolares em filiais no estado de Minas Gerais), além do arquivo e do projeto de museu da instituição. Na biblioteca central pesquisada, onde está a faculdade, em Belo Horizonte, trabalham 11 pessoas, nas outras, apenas uma, exceto na infantil (um auxiliar de biblioteca e um pedagogo, onde não há bibliotecário). O acervo da biblioteca central, conforme informação do entrevistado, é constituído de cerca de 40.000 itens, dos quais mais ou menos uns 25.000 da faculdade e no colégio mais ou menos 15.000 livros. O acesso ao portal de periódicos da CAPES é somente para os títulos de acesso livre. Possui cooperação interinstitucional com outra instituição de ensino superior em Belo Horizonte.

Faculdade B Biblioteca subordinada à diretoria da faculdade. O acervo da biblioteca conta com cerca de 4.700 títulos incluindo livros e periódicos. O acesso ao portal de periódicos da CAPES é somente para os títulos de acesso livre. A instituição tem procurado fazer acordos de cooperação interinstitucional. Trabalha uma bibliotecária no turno da noite (que foi entrevistada) e um auxiliar de biblioteca durante o dia.

Empresa A Biblioteca subordinada à gerência de recursos humanos. A biblioteca faz parte de um pool de bibliotecas das outras unidades de pesquisa no país, bem como coopera com uma rede de bibliotecas da América Latina na área de pesquisa em que a instituição atua. Possui cerca de 12.000 livros, mais de 2.000 títulos de periódicos (104 revistas físicas), cerca de 7.000 normas técnicas e 85.000 relatórios técnicos, conferências, patentes, teses e dissertações. Trabalham duas bibliotecárias que atuam em todas as atividades da biblioteca (referência, catalogação, entre outras), além da empresa contar com alguns funcionários terceirizados no atendimento. Disponibiliza acesso aos periódicos da CAPES.

Empresa B Biblioteca da empresa é vinculada ao núcleo de conhecimento de uma das gerências da instituição, denominada Unidade de Inteligência Empresarial. A gerência de inteligência empresarial tem dois núcleos de atuação – núcleo do conhecimento (ao qual está vinculada a biblioteca) e núcleo de inteligência. Trabalham na biblioteca da empresa uma bibliotecária (que foi entrevistada) e uma assistente que dá suporte ao empréstimo. Trabalham mais três bibliotecárias no núcleo de conhecimento, conforme informação verbal da entrevistada. São atividades realizadas pela gerência de inteligência empresarial o portal do conhecimento corporativo, o suporte à gestão da inteligência competitiva, entre outras atividades. A biblioteca da empresa, em si, não tem setores especializados, conforme informação do entrevistado, a compra e aquisição de itens do acervo são feitos pelo usuário. Bibliotecária entrevistada se queixa do espaço reduzido da biblioteca e da perda progressiva de espaço físico da mesma. O acervo é fechado para o público externo, estando disponíveis apenas para os funcionários da Empresa B.

Biblioteca escolar é subordinada ao setor de sistemas de informação, o qual é vinculado à direção da escola. Trabalham na biblioteca escolar, que ocupa um espaço aproximado de 150 m2 (estimados por observação), uma bibliotecária, um

auxiliar de biblioteca e um menor aprendiz.

Escola A Biblioteca escolar é subordinada à coordenadoria administrativa da escola, e não à coordenadoria pedagógica. Acervo de cerca de 16.000 obras (informação verbal). A bibliotecária atua sozinha na biblioteca. Apesar de a biblioteca ficar aberta o tempo todo, para lidar com limitações de tempo e espaço, solicita aos professores para agendarem visita quando forem levar os alunos.

(Conclusão)

Empresa Posição institucional e estrutura da biblioteca ou centro de informação

Escola B Biblioteca pólo vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte. A biblioteca pólo é uma biblioteca que, além de atender a escola em que está sediada e a comunidade do seu entorno, coordena as atividades de outras bibliotecas (outras quatro além da sede) escolares municipais próximas e subordinadas a ela. A biblioteca pólo conta com três auxiliares de biblioteca e uma bibliotecária, as demais bibliotecas contam com apenas um auxiliar de biblioteca por turno. A bibliotecária julga o acervo muito bom, composto por livros, revistas e fantasias (para encenações de teatro).

Biblioteca pública A

Subordinada à Superintendência de Bibliotecas Públicas de Minas Gerais. A biblioteca possui mais de 250.000 exemplares, divida nos setores de coleções especiais, hemeroteca histórica, setor braile, setor de periódicos, setor infanto-juvenil, setor de referência e estudos. Oferece serviços de carro-biblioteca, caixas estantes, visitas orientadas, além de contar com espaços para realização de eventos científicos e culturais. Trabalham no setor de referência 20 pessoas (dois bibliotecários – o entrevistado e a coordenadora - seis técnicos de nível superior; técnicos de segundo grau e estagiários).

Biblioteca pública B

Subordinada à Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, ocupa uma área de cerca de 1.500 m2 e possui cerca de 70.000 itens no acervo. Há diversas salas de leitura e consulta (cultural, mística, multiplicidade, pensadores, religião, artes e ciências), salas multimídia e multiuso, auditório, jornais e revistas, e seção de atendimento. 24 ou 25 pessoas trabalham na biblioteca (informação verbal do entrevistado). Há quatro bibliotecários (dois no serviço técnico, dois no atendimento/referência, um dos quais foi entrevistado).

Empresa C A Biblioteca Digital pesquisada tem cinco anos e parece estar vinculada à biblioteca física da instituição, informação que o entrevistado não confirmou de forma categórica, já que ele atua como assessor do projeto da biblioteca digital e de outros projetos (como o repositório institucional) da instituição. A biblioteca física é subordinada diretamente à direção da instituição e a biblioteca digital conta com sua coordenadora (que cuida da catalogação, indexação, conferência da qualidade do material), um técnico administrativo e três estagiários de biblioteconomia. O acervo é constituído essencialmente de muitos relatórios técnicos produzidos em órgãos públicos do estado de Minas Gerais, contabilizando mais de 20.000 itens.

Empresa D O projeto da biblioteca digital (repositório de objetos de aprendizagem digital) pesquisado é fomentado pela Empresa D, mas sua estrutura administrativa se vincula a uma rede de desenvolvimento de práticas do ensino superior coordenada pela Diretoria de Inovação e Ensino subordinada à pró-reitoria de uma universidade pública. Participa da construção do repositório/biblioteca digital uma equipe multidisciplinar coordenada por uma professora da área de Educação e vários subcoordenadores de áreas diversificadas; cerca de cinco designers instrucionais (uma bibliotecária – a entrevistada, duas ou três pedagogas, uma licenciada em Letras); onze bolsistas de graduação; cinco funcionários da universidade; onze bolsistas de graduação (muitos oriundos da área de educação, mas também de outras áreas como cinema e animação e outras licenciaturas) e cerca de seis ou sete bolsistas de pós-graduaçao. O repositório contava com 760 objetos no momento da entrevista.

Biblioteca Nacional

O setor pesquisado está associado à divisão de referência e difusão da biblioteca, o qual conta com Acervo geral, periódicos e acervo especial (manuscritos, obras raras, música, cartografia, iconografia e o plano nacional de obras raras (PLANOR). O setor pesquisado é um dos relativos ao acervo especial e nele trabalham 15 pessoas. Os bibliotecários fazem processamento técnico e atendimento, com divisão de tarefas mais pela característica do acervo tratado do que por divisões funcionais da biblioteca. O acervo da biblioteca (e não apenas da seção pesquisada) tem grande valor museológico, com obras datadas inclusive a partir do século XIV. A bibliotecária entrevistada revelou que há 10 anos havia 18.000 obras no setor em que trabalha.

Fonte: Dados da pesquisa, coletados entre junho e setembro de 2012, a partir de informações verbais, folders e websites das empresas.

Como se vê no quadro 8, duas bibliotecas se vinculam diretamente à direção das instituições (Faculdades A e B), outras se associam a gerências relativas ao ensino (Universidade A, Empresa D), gerências administrativas (Universidade B, Escola A, Empresa C), gerências de conhecimento e de sistemas (Empresa B), órgãos do governo (Escola B, Biblioteca pública A, Biblioteca pública B), gerência de recursos humanos (Empresa A) e gerência de difusão e referência (Biblioteca Nacional).

A visão que o bibliotecário tem do papel da biblioteca e da sua atuação profissional revela se o usuário está no centro de suas atenções. Perguntados sobre seus desafios profissionais, os bibliotecários entrevistados revelam-se preocupados com a falta de espaço físico (questão que aparece na biblioteca universitária e especializada – nas falas de B6, B9, B10), cuja solução pode ser a oferta de serviços virtuais; e com a necessidade de ocupar o

ambiente virtual para que a biblioteca se aproxime do usuário (o usuário hoje está online). As falas dos participantes das bibliotecas universitárias, públicas, digitais e nacional (B1, B6, B13, B15, B16, B17) revelam possível reorientação da biblioteca em busca do seu usuário – visto como mais imediatista pelos participantes:

A biblioteca está ficando cada dia mais virtual e menos dependente da questão física, né, não é à toa que está discutindo o papel da biblioteca na nuvem, a era da informação na nuvem. [...] Eu tenho pequenos e grandes desafios, que é tentar atender o usuário em tempo real, né, colocar essa informação virtual física mais próxima. Eu falo assim: minha intenção não é tirar o usuário da biblioteca, mas é

levar a biblioteca até o usuário. Como? Eu já até brinquei que eu deveria ter um

serviço de... é uma brincadeira séria, eu gostaria de implementar aqui um serviço de moto de motoboy. Da mesma forma que você entrega uma pizza, você entrega um livro. Você numa cidade como Belo Horizonte, numa correria que a gente tá, eu tenho certeza de que teriam pessoas que pagariam 5 reais, 6 reais, para ter um livro na casa dele para não ter de deslocar.

[...] Mas eu acho que isso enquanto a gente não passar pro ebook, que é o livro digital, que é o que a gente já está pensando [e] já tá executando, [...] nós já estamos lá com a biblioteca virtual da Pearson, estamos associando à Minha biblioteca e estamos comprando ebooks pra pós-graduação. Que é que quando o cara tiver um insight às duas da manhã, ele ter acesso àquela informação. (B1, grifos nossos).

A tendência apontada na fala de B1 de levar a biblioteca ao usuário é quase uma consequência da redução (ou falta de ampliação) do espaço físico da biblioteca e da oferta de serviços à distância. A reestruturação ou oferta de serviços online é vista como possibilidade de melhorias na atuação da biblioteca por Silva e Peixoto (2011) e revela-se na pesquisa realizada de duas formas: a- os acervos online solucionam problemas de atualização e disponibilidade de obras nas bibliotecas universitárias, permitindo atender melhor os usuários,

oferecendo melhor “tempo de resposta” (B1), aspecto considerado essencial para atender bem

o usuário por B1 e B3; b- o uso da internet pode auxiliar a cobrir lacunas do acervo, aspecto apontado nas bibliotecas pública e escolar. A saída para o ambiente virtual reflete a mudança de postura dos usuários em suas buscas e o papel de mediação do bibliotecário, como fala B10:

A gente só compra um exemplar. É raríssimo comprar mais de dois exemplares. Porque nós somos uma biblioteca especializada, não tem aquele cunho universitário, escolar, que você compra quatro ou cinco exemplares pra estar usando. Na época que tinha um espaço muito grande, podia até fazer, mas hoje o espaço é super

reduzido. (...) O que que acontece? Na empresa hoje, não sei se é o estilo, não sei se

outra biblioteca especializada, o técnico [- um dos perfis de usuário-] é raríssimo de

ele ir no seu espaço. Ele liga, pede, manda o boy buscar, ou já pede e você, você, a bibliotecária, [é] que faz toda estrutura de pesquisa pra ele e manda. Hoje ele

encontra, hoje a maioria dos softwares tem os sites online, né. Então, você pode fazer aqui, o que que eu faço hoje? Oriento “você não sabe? Então me liga que eu vou te ensinar o passo a passo pra consultar o acervo online, se você não conseguir, então vem que eu te ajudo” (B10, negritos nossos, sublinhados de ênfase na fala da entrevistada, sobre a biblioteca especializada).

Aparecem nas falas das bibliotecárias universitárias, de biblioteca especializada, pública e escolar (B4, B10, B12 e B14) problemas de demanda de serviços por usuários. Uma das bibliotecárias atuante na biblioteca especializada comenta que não pode oferecer mais serviços por ter um espaço muito reduzido para atendimento como se nota na fala acima de B10. Todos os entrevistados com experiência em biblioteca especializada comentam que é raro o usuário ir ao espaço da biblioteca, sendo realizados serviços de DSI ou entrega por mensageiro, com solicitações via sistema online, o que modifica a relação do bibliotecário com o seu usuário: “eles iam assim muito pontualmente [à biblioteca da empresa]. (...) é um público bem seleto, a procura pelo sistema e a entrega pelo mensageiro é mais” (B4). Constata-se queda no serviço de levantamento bibliográfico, na biblioteca pública:

“levantamento bibliográfico... a gente ainda não faz isso com muita frequência, não há demanda, eu acho que o leitor tá se sentindo muito autônomo pra fazer isso também” (B14);

problemas de demanda de leitura na biblioteca escolar e pública; e concorrência das novas mídias (aspecto evidenciado na biblioteca pública por B14).

A falta de demanda de serviços pelo usuário, relacionada à consulta de acervos online na fala de B10 (na biblioteca da empresa grande parte dos documentos está na intranet), também aparece nas bibliotecas escolares associada ao uso da internet, o que modifica ou impede o trabalho de mediação do bibliotecário:

antigamente antes desse boom da internet tinha muito [aluno pedindo ajuda para fazer trabalho escolar]. A biblioteca aqui era recheada de aluno fazendo pesquisa, trabalho e eles perguntavam sobre como fazer capa de trabalho, como fazer isso, como fazer, então a gente dava esse suporte todo para o aluno. Agora com a questão da internet, nós temos pouquíssimos alunos que fazem pesquisa dentro da biblioteca, ou eles vão pra lan house ou eles vão pro computador né, e aquele esquema de copiar e colar, copiar-colar (B12).

Outro aspecto que influi na falta de demanda é associada à falta de hábito de leitura do brasileiro, ponto apontado na biblioteca pública (B14) associado à concorrência do impresso com os formatos digitais, e também na biblioteca escolar (B12), relacionado a aspectos culturais.

Apenas um dos profissionais dentre os entrevistados – atuante em biblioteca digital – destaca que conhecer o usuário é um grande desafio, por ele estar fisicamente distante, o que endossa as dificuldades de atuação no ambiente virtual, pelo bibliotecário:

o principal desafio é conhecer o usuário, é traçar perfis, traçar necessidades, que eu acho que é um desafio de bibliotecas digitais, de sistemas digitais, é conhecer o seu usuário. Infelizmente [...] o digital, o virtual, [...], que [...] está mais ligado à proporção à distância, à imaterialidade, ele traz consigo essa dificuldade de você

reconhecer seu usuário, você traçar perfis, delimitar necessidades. Isso eu acho que é o principal desafio da nossa biblioteca digital: saber quem, saber exatamente, a gente tem uma ideia vaga, não tão vaga, mas também, não é formulada, não é tão precisa [...] do nosso usuário, os perfis dos usuários, as categorias dos usuários, para servir de tomada de decisão, [...] pra gente seguir em frente, saber em que investir, o que planejar, quais são os próximos passos (B15).

Problemas com demanda pela biblioteca, no geral, não aparecem nas falas das bibliotecas públicas e Nacional. Parece que nelas o usuário é subsumido à função pública da instituição:

a biblioteca nacional tem obrigação do depósito legal, o que vem a gente recebe. Independente se nunca uma pessoa vai ver aquele livro, ele vai morar aqui porque quando ele entra, ele leva um número de tombo, ele vira patrimônio, ele vira objeto.[...] É o patrimônio nacional, independente disso, então a gente não vai escolher demanda. [...] A biblioteca não é só pro usuário, ela é uma biblioteca que faz intercâmbio com todas as outras bibliotecas, a forma que a gente cataloga vai ser usada por outras bibliotecas, o país vai seguir, se a gente fizer uma coisa errada, tudo é errado, o erro é geral (B17).

Desafios ligados à formação do leitor, e que dizem respeito aos usuários e sua formação, caros à biblioteconomia, estão mais presentes de acordo com a natureza da biblioteca – escolar e pública (B12 e B14)– e foi considerado um grande desafio profissional apenas por uma entrevistada da biblioteca pública (B14), em parte associado ao perfil do usuário online:

eu fico aqui [...] no atendimento ao leitor, na mídia, mediando as questões dos jovens que muitas vezes só querem ficar no jogo ou no facebook o dia inteiro. Então, a gente tem bastante dificuldade em alertá-los de que a biblioteca consiste em muito mais do que uma mídia, né, ou outra mídia que é o cinema. [...] A concorrência desse material midiático com o material texto é bastante evidenciada aqui, fica bem à tona mesmo, é um ponto nefráugico porque às vezes a leitura parece pra eles menos interessante (B14).

Especialmente na biblioteca escolar, a parceria com os professores é um grande desafio, tanto para B11 quanto para B12, e visto como importante para formação do leitor.

Outros desafios apresentados pelos profissionais que se relacionam aos usuários indiretamente – mediação implícita do profissional (ALMEIDA JÚNIOR, 2009) – são relativos ao tratamento da informação, apontados pela dificuldade de tratar documentos de valor histórico e arquivístico (B7 e B17), à mediação da produção de objetos digitais com suas restrições de direitos autorais (B16), e a atenção à interoperabilidade entre bibliotecas, no caso da biblioteca nacional. Para contornar tais dificuldades, um dos profissionais disse contar com os usuários, inclusive pelas facilidades que os contatos virtuais propiciam:

muito do acervo tá sendo melhor tratado porque o nosso conhecimento como bibliotecário ou até mesmo o conhecimento geral que cada um tenha vai ter um limite, então uma pessoa que tenha um conhecimento bem específico vai auxiliar

que a gente melhore aquele tratamento técnico e eu acho que é importante a digitalização por isso, porque quando você alcança um universo maior de pessoas, a identificação também vai ajudar. Teve, há pouco tempo mesmo teve um usuário que teve em Portugal e achou uma cópia dum acervo que a gente tem aqui de outro artista, então a gente consegue associar até por essas informações. Mas isso quando o universo abre, né (B17).

Alguns bibliotecários queixam-se da dificuldade em realizar pesquisas de usuários ou ofertar mais serviços por questões de gestão – problemas de atualização do acervo online em relação ao físico (aspecto mencionado na biblioteca pública – B14) ou sobrecarga de trabalho (mencionada por bibliotecários das faculdades particulares, escola particular e escola pública B1, B6, B8, B11, B12), e estrutura administrativa insuficiente para realização de um bom trabalho junto aos usuários, no caso da biblioteca digital, como evidenciam as falas abaixo:

Como a faculdade é particular, ela quer mais é dinheiro, ela tá preocupada em ter aluno, ela não tá preocupada se o aluno está bem. O que eu acho que é uma gestão falha, porque se os alunos estiverem insatisfeitos você nunca vai trazer mais alunos pra escola [...]. É uma falta de informação mesmo, então, o fato [da gerente] me por pra fazer outras atividade que não beneficie os alunos em si, mas beneficia ela, com certeza a biblioteca vai ficar a desejar e não vai ser melhorada (B8).

Gerenciar o repositório, numa universidade [...], um repositório popular, onde todos conhecem, todos querem depositar, é muito complexo pruma mera bibliotecária. É preciso uma biblioteca central assumir isso, esse trabalho, um corpo de bibliotecários preparados pra lidar com esse tipo de objeto digital [...]. Eu sou só uma bibliotecária, eu não sou, eu não tenho uma equipe, né, eu não tenho [um apoio institucional da biblioteca central] [...]. Agora, assim, um estudo de usuários da comunidade [da universidade] é algo gigantesco, não sei se a biblioteca central tem isso, até porque adiantaria uma série de trabalhos (B16).

Mesmo as questões adminsitrativas – como as ligadas à ordem institucional, aos