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2 PROFISSÕES DA INFORMAÇÃO Para Mueller (004, p 5),

2.1.2 Processamento técnico

Segundo Ramos (2004), o setor de processamento técnico é “responsável pela criação e manutenção dos instrumentos de acesso ao acervo pelo usuário, tais como catálogo, boletins

de alerta, bibliografias, entre outros” (RAMOS, 2004, p. 40). Para Fujita, Rubi e Boccato

(2009), a etapa seguinte à coleta de documentos é a do tratamento, seguida da sua difusão. Nessa etapa ocorrem alguns dos processos de mediação implícita – “ações desenvolvidas sem presença física e imediata dos usuários. Nesses espaços, como já

observado, estão a seleção, o armazenamento e o processamento da informação” (ALMEIDA

JÚNIOR, 2009, p. 92), diferentemente da mediação explícita, que “ocorre nos espaços em que a presença do usuário é inevitável, é condição sine qua non para sua existência, mesmo que tal presença não seja física, como, por exemplo, nos acessos a distância em que não é solicitada a interferência concreta e presencial do profissional da informação” (p.93).

O tratamento dos registros bibliográficos abrange tanto a sua forma quanto o seu conteúdo (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009). No que diz respeito à representação da forma, é necessário que os registros bibliográficos sejam representados unicamente em conformidade com códigos descritivos padronizados, como o AACR224. O tratamento do conteúdo, por sua vez, é conhecido como “tratamento temático da informação documentária” e envolve operações de análise de assunto, síntese e representação (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009).

A análise do assunto é realizada por “indexadores, classificadores, resumidores e

catalogadores com diferentes tipos de documentos e sistemas de informação” (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009). Segundo Pereira e Bufrem (2005) e Dodebei (2002), a

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representação do documento feita pelo analista (bibliotecário) é um trabalho de mediação, de re-significação e, necessariamente, de redução/síntese de grande valia para seu usuário, pois ajuda na recuperação da informação. Necessariamente, a partir dos documentos, são realizadas operações de tradução da linguagem do texto para as linguagens documentárias25, tais como tesauros, terminologias, listas de cabeçalhos, sendo os produtos mais comuns destas operações os resumos e índices. As áreas científicas de Biblioteconomia e Ciência da Informação se dedicam muito aos processos de representação, com o desenvolvimento das Teorias da Classificação e da Teoria do Conceito.

Pereira e Bufrem (2005) alertam que a leitura técnica realizada pelo profissional bibliotecário (normalmente o indexador) exige o conhecimento da estrutura do documento indexado (dissertativo, descritivo, narrativo) e tem sido considerada, na literatura, como uma leitura neutra, como se ela realmente fosse possível.

No que diz respeito à representação descritiva, Guinchat e Menou (1994, p. 103) apresentam o procedimento para descrição bibliográfica composto de sete etapas26 e relacionam elementos de boa descrição: indicação de responsabilidade; título; edição; área de publicação; descrição física; série; notas; ISBN/ISSN; casos particulares (como patentes, mapas, plantas) e documentos audiovisuais, entre outros. Os autores apontam a existência de três níveis bibliográficos: o nível analítico (descrição de parte de um documento, como capítulo de um livro, por exemplo); o nível monográfico (descrição do documento como um todo, como um livro) e o nível coletivo (descrição de conjunto de documentos, como coleções de livros).

Guinchat e Menou (1994, p. 104) comentam que as normas e os formatos se constituem em “ferramenta fundamental da descrição bibliográfica”, tendo surgido da

“necessidade de um acesso fácil e universal à informação bibliográfica e ao desenvolvimento

da cooperação entre sistemas de informação”, primeiramente a nível nacional ou linguístico. Grande parte do tratamento físico dos registros bibliográficos associa-se à utilização dos formatos de registro de informação bibliográfica internacionalmente difundidos e padronizados. É importante notar que a adoção de regras e formatos de representação

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Segundo Kobashi (2007), os tipos de linguagem documentária podem ser pré-coordenadas (Sistemas de classificação; Listas de cabeçalhos de assuntos; Glossários; Dicionários) ou pós-coordenadas (Vocabulários controlados; Tesauro; Taxonomias; Ontologias).

26“1-Tomar conhecimento do documento; 2- determinar o tipo de documento e as regras aplicáveis a este caso; 3- determinar

o nível de descrição bibliográfica que será utilizado; 4- identificar, para cada nível de descrição bibliográfica, os dados necessários, na ordem das áreas indicada pela norma ou pelo formato utilizado; 5- transcrever estes dados de acordo com as regras da norma ou formato utilizado; 6- verificar a exatidão da descrição e sua conformidade com as normas; 7- elaborar as

bibliográfica internacionalmente acordados é importante para garantia da interoperabilidade dos sistemas, conforme comentam Fusco e Santos (2011, p.2452):

A catalogação tem como objetivos principais a descrição e a recuperação dos itens bibliográficos em ambiente centralizado ou interoperável. Assim, para atender esses objetivos, comumente são utilizadas regras de catalogação (e.g. AACR2) e padrões de metadados (e.g. MARC) como requisitos informacionais básicos para construção dos catálogos.

Os serviços de bibliografias, índices e resumos devem ser realizados de acordo com o perfil dos usuários (BETTIOL, 1990). Neste sentido, é preciso desenvolver também políticas de indexação compatíveis com a clientela da biblioteca (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009). Para o desenvolvimento das políticas de indexação, Fujita e Rubi (2006), citando Carneiro (1985)27, apontam a necessidade de se (re)conhecer as necessidades da organização (contexto), do público da unidade de informação (destinatários) e os recursos humanos, materiais e financeiros da organização (infra-estrutura). A partir deste reconhecimento, o processo de indexação deve levar em conta os assuntos centrais e periféricos da instituição, estabelecendo critérios de exaustividade e especificidade, de escolha da linguagem e de capacidade de revocação e precisão do sistema.

Fujita, Rubi e Boccato (2009), ao realizarem pesquisa sobre o contexto sociocognitivo do catalogador – “a política de indexação, as regras e procedimentos do manual de indexação, a linguagem documentária para representação e mediação da linguagem do usuário e os

interesses de busca dos usuários” (FUJITA; RUBI, 2006, p. 51) - pontuam que o domínio dos

formatos (como o MARC) e regras adequadas de catalogação (como o AACR2) é essencial na descrição física do item, mas não garante que a linguagem do sistema de recuperação da informação esteja próxima da linguagem dos seus usuários, sendo necessária mais atenção à representação temática da informação, tomando o usuário como peça fundamental no processo de catalogação em uma abordagem centrada no usuário:

A importância da mediação da linguagem do usuário na recuperação impõe condições de compatibilidade à linguagem documentária e, nessa perspectiva, os catalogadores apresentaram clara percepção do uso da linguagem pelos usuários ao sugerirem alguns mecanismos para o aprimoramento da compatibilidade: a criação de sistema de remissivas para guiar os usuários a outros termos relacionados durante a busca, a construção de outra linguagem documentária a partir da necessidade do usuário, aproximação da linguagem do sistema à dos usuários por meio de formulário de sugestão de termos, criação de elos de comunicação entre quem faz e quem usa a linguagem e da função dos usuários nesse processo, a construção de uma linguagem a partir das estratégias de buscas dos usuários em

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CARNEIRO, M. V. Diretrizes para uma política de indexação. Revista da Escola de Biblioteconomia da UFMG, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 221-241, set. 1985.

controle feito pelo software e disponibilidade da linguagem documentária junto à interface de busca (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009).

Os usuários confirmam a necessidade de compatibilidade da linguagem do catálogo com a linguagem do usuário durante a busca, ressaltam que a linguagem documentária utilizada na indexação não corresponde àquela utilizada por eles no momento da recuperação da informação e sugerem a construção de um vocabulário com a linguagem do aluno. Com relação à especificidade, consideram que a linguagem utilizada no catálogo deve ser mais específica para atender suas necessidades de busca (FUJITA; RUBI; BOCCATO, 2009).