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4 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E CRIATIVIDADE NAS EMPRESAS

4.7 Especificidade da Tecnologia de Informação no processo criativo

Segundo Lévy (1993), as diferentes funções que um equipamento ou sistema pode assumir faz com que o ser humano utilize a TI em conformidade com as suas necessidades e oportunidades. Na Weg observa-se que os colaboradores da área de pesquisa e desenvolvimento têm necessidades específicas, fazendo portanto solicitações também específicas ao responsável pela aquisição de TI na empresa. No depoimento do gerente da equipe de criação, percebe-se que o setor especifica as ferramentas que lhe serão necessárias, a fim de solicitar a sua aquisição.

Os softwares na área técnica, como por exemplo os softwares de análise de planejamentos finitos, que são utilizados apenas pelas áreas de pesquisa e desenvolvimento e pelas engenharias, esses são especificados por nós. (...) no caso de computadores com uma configuração muito diferente, para rodar, por exemplo, os softwares de análise de planejamentos finitos, essa configuração especial é definida por nós também (Weg – Sr. Sebastião).

Os depoimentos dos seus colegas são condizentes, conforme se observa a seguir:

Por todo mundo ter computador, a base do nosso trabalho é em cima do computador, então ele participa desde o início da concepção até o relatório final, então utilizo desde um software de CAD para fazer todo o meu desenvolvimento, como um software de análise para eu depois analisar elementos finitos (Weg – Sr. Marcelo). Em função da nossa área de pesquisa e desenvolvimento, como eles trabalham com software dedicado, software específico, no nosso caso aqui nós temos aqui o CAE, o Computer Aided Engineering, ou seja, o software de apoio à geração de produtos da engenharia, nós temos todo um trabalho onde a gente tem equipamentos específicos para esse trabalho de simulação, de análise de elementos finitos, e também softwares específicos (Weg – Sr. Wandair).

A realidade da Siemens mostra uma complexidade ainda maior, requerendo a criação de centros de pesquisa interligados, o uso de diversos softwares que estão à disposição no mercado, e mesmo a criação ou aquisição de ferramentas especiais. O senhor Ronaldo relata:

Recentemente nós criamos um novo centro de pesquisa na Universidade Federal de Pernambuco, no qual nós precisamos interligar os dois centros, e também adequar esses centros para fazer desenvolvimentos, então foram especificadas as máquinas e os links necessários para que tivesse uma condição mínima operacional. (...) São utilizados praticamente todos esses softwares de mercado, e mais softwares específicos desenvolvidos pela própria Siemens. São utilizados softwares da IBM, da Microsoft, Linux, basicamente se você pegar toda essa lista de produtos existentes no mercado, a maioria dela a Siemens utiliza, quase todos. Por exemplo, para a geração de software tem C, C++, Visual Basic, SQL, Corba, Sip, toda essa parte de protocolo também, são todos protocolos internacionais, também se usa muito o Assembler na parte de desenvolvimento requerido com tempo real, então basicamente o que essas grandes empresas disponibilizam no mercado a Siemens acaba utilizando (Siemens – Sr. Ronaldo).

O senhor Maurício acrescenta detalhes sobre a variedade e as especificidades do uso de TI em seu trabalho de desenvolvimento de novos produtos:

A gente está utilizando nesse projeto com a Itália uma tecnologia de desenvolvimento de circuitos que é um hardware que não é tão hardware assim. Ele é soft. Ele se programa. Na verdade a configuração desse hardware se modifica conforme o seu software, e isso aí exigiu a aquisição de uma plataforma de desenvolvimento que a gente especificou. (...) Windows 2000 ou XP, como ferramenta o Tipoffice, junto com o Office da Microsoft. Basicamente nós temos uns três ou quatro grandes sistemas de desenvolvimento, que são sistemas utilizados pela Siemens, comprados pela Siemens e customizados, esses são sistemas para arquivamento de projetos. São sistemas onde você armazena todas as informações do seu projeto, e são sistemas de tipo versonados, onde você tem um controle também da versão do seu projeto, e de todos os seus elementos constituintes. Nós utilizamos algumas ferramentas de desenvolvimento, como o que eu já mencionei, de FPGA, Zielings, nós também trabalhamos um pouco com Terams, que são dois grandes fabricantes e fornecedores de tecnologia com lógica programável, para essa área de hardware, e dentro desse grupo de hardware, utilizamos ferramentas CAD para o desenvolvimento de placas de circuito impresso, como por exemplo utilizamos o Mentor, que é uma ferramenta utilizada pela Alemanha também, para a geração do CAD e de toda a documentação de uma placa de circuitos, e utilizamos o ProEngineer para a geração de desenhos mecânicos. Dentro de um desenvolvimento de hardware também utilizaríamos ferramentas para geração de código, compiladores, e ferramentas que variam conforme a tecnologia que a gente estiver utilizando no momento, porque a gente não usa necessariamente uma família específica, por exemplo, de microprocessadores, aí varia conforme o projeto, conforme a necessidade (Siemens – Sr. Maurício).

De forma semelhante, o senhor Nestor enumera outras ferramentas de TI que são solicitadas pela equipe de desenvolvimento, conforme se observa a seguir:

Na área mecânica eles usam bastante o ProEngeneering para fazer o desenvolvimento mecânico. Na área de hardware é bastante utilizado o Mentor para fazer o desenvolvimento de circuitos elétricos e layouts, e além disso a parte de simulações eletromagnéticas, térmicas e tudo o mais. Algumas ferramentas importantes estão mais ligadas a banco de dados, onde você vai encontrar listas de peças e documentações, que é o caso do Brisa, Karati e Globals. Também na área de hardware a gente usa o que eles chamam de Model Sym, que é um simulador de VHDL para o desenvolvimento de FPGA. (...) Além disso tem o Zielings, que é também um ambiente integrado de edição, compilação e também halter para VHDL. E um outro tool da Zielings, que é o ChipsColp, que é quase um simulador, um emulador para o chip (...) para a área de software nós temos ferramentas comerciais, que é o caso do Visual Studio, temos ferramentas da casa, para desenvolvimento de software da área de controle, que é o software que roda dentro de uma central de comutação (...). começamos a usar algumas ferramentas free, apesar de existir bastante ferramentas disponíveis no mercado, algumas são muito interessantes, que é o caso por exemplo do Eclipse. (...) A gente recebe inputs diretamente do pessoal da área de desenvolvimento, é uma interação direta. (...) Temos que ter uma área isolada da rede corporativa, onde a gente pode instalar Linux e versões antigas de Windows quando a gente precisa fazer algum teste (Siemens – Sr. Nestor).

Observa-se nos relatos da Siemens, que a equipe de desenvolvimento de novos produtos requer muitas ferramentas de TI, de tal modo que precisou ser criada uma infra- estrutura à parte, separada da rede corporativa, a fim de não haver o risco de comprometer sua integridade e segurança, em função da diversidade de softwares que fica instalada nos seus computadores.

Na Datasul, por trabalhar com diferentes equipamentos (computadores, palms, pocket PCs, celulares e outros), também são necessárias diversas ferramentas específicas para o desenvolvimento, sendo seguidas as diretrizes de aquisição de TI ditadas pelo pessoal que trabalha na criação. Segundo os entrevistados:

Existem diretrizes sim, por exemplo os padrões abertos. Tudo o que a gente desenvolve tem que seguir um padrão aberto. (...) Na parte de gerenciamento de projeto, a gente avaliou, por exemplo, mais de um software e entre eles estavam o Project e o Primavera, daí nesse caso a gente não tinha um de padrão aberto para seguir, porque os de padrão aberto eram muito limitados, nisso o responsável avaliou o mercado como é que estava, em que direção estava tendendo o mercado, e em função também de custos foi escolhida uma ferramenta (Datasul – Sr. Nívio). A idéia de trabalhar com padrão aberto, segundo o sr. Nívio, consiste em uma precaução para evitar a relação de dependência com uma determinada organização.

O sr. Nívio falou mais sobre diretrizes organizacionais, mas existem solicitações específicas também, conforme ressalta o sr. Cláudio.

Em algumas situações, principalmente em termos de ferramentas e de infra- estrutura, como banco de dados, servidores de aplicação e assim por diante. (...) Nós trabalhamos com desenvolvimento de software, então nós temos ferramentas de programação, ferramentas para desenvolvimento em linguagem Java, ferramentas para desenvolvimento em linguagem Delphi, nós trabalhamos com bancos de dados, então temos vários bancos de dados, as nossas aplicações, os nossos softwares rodam em outros tipos de aplicação chamados servidores de aplicação, então nós utilizamos vários servidores de aplicação de diferentes fornecedores, além de ferramentas de documentação, edição de textos, edição de apresentações, e temos também software para gerenciamento de projetos, além de software para gerenciamento de cronograma, software também para controle de versão de produto, para trabalho em equipe, e assim por diante. (...) O nosso processo de desenvolvimento é utilizando computador, mas utilizamos também ferramentas de apoio, que são soluções voltadas para TI. Ferramentas de controle de projeto (Datasul – Sr. Claudio).

Da mesma forma que um pintor precisa de pincéis e tintas apropriados para o tipo de superfície a ser trabalhada, observa-se que um engenheiro necessita de ferramentas específicas, tanto quanto um analista e um programador requerem a aquisição de equipamentos e softwares com determinadas características para que seu trabalho seja concluído a contento.

Nos itens apresentados a seguir, procura-se identificar na prática das três organizações pesquisadas, se existem as mesmas relações que foram apontadas em termos teóricos, no Quadro 15, entre fatores que influenciam a criatividade, e os efeitos do uso da TI.