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4 TECNOLOGIA DE INFORMAÇÃO E CRIATIVIDADE NAS EMPRESAS

4.4 Estímulo à criatividade nas três organizações

Tendo em vista o foco deste estudo, no sentido de caracterizar através de três estudos de caso, a forma como grandes organizações utilizam a TI no processo criativo voltado ao desenvolvimento de produtos, é interessante que se faça inicialmente a observação da importância que a própria criatividade tem para essas organizações, segundo a percepção dos

entrevistados, a fim de obterem novos produtos como resultado. Essa verificação está mais ligada à caracterização da cultura organizacional relacionada a criatividade.

Stoltz (1999) afirma que é crescente o interesse pela criatividade em função da necessidade de acompanhar as intensas e rápidas mudanças que se observam, sendo que as novas necessidades e problemas exigem o uso da capacidade de pensar e criar. Nesse mesmo sentido, Perkins (1999) afirma que pessoas criativas resolvem problemas e moldam produtos.

Observa-se que a Weg percebe claramente a necessidade de aproveitar o potencial criativo dos seus colaboradores, dando abertura às mais diversas contribuições, e especialmente estimulando os grupos de CCQ a proporem idéias e soluções, envolvendo todos os colaboradores, desde o chão de fábrica, conforme se observa nos depoimentos a seguir:

As pessoas aqui dentro da Weg são muito livres para exporem as suas idéias, tanto para os seus chefes, os seus gerentes, quanto para uma comissão, então o estímulo que é dado é essa liberdade para as pessoas exporem as suas idéias, mas não existe, por exemplo, um espaço criado para as pessoas exercerem a sua criatividade, não existe um tempo de folga para as pessoas exercerem a sua criatividade, não existe uma política clara, definida, de que é permitido fazer esse tipo de coisa, se seria permitido se ausentar para pensar em criatividade. (...) O estímulo financeiro acaba sendo adotado nos grupos de CCQ, através de premiação dos grupos que tenham melhor desempenho, e esses grupos recebem viagens como prêmios, pois a Weg dificilmente utiliza dinheiro como premiação (Weg – Sr. Sebastião).

Essa afirmação foi confirmada pelo seu colaborador, nas seguintes palavras:

A gente tem muita liberdade para expressar as idéias, de forma alguma são podadas as idéias, então essa cultura de liberdade de expressão de idéias é muito forte na empresa, e ela tem uma estrutura que tem condições de avaliar essas idéias. (...) tem conselhos e grupos que avaliam todas as etapas de desenvolvimento de um produto novo, onde passa por equipes interdepartamentais, onde tem gerentes de diversas áreas, ou pessoas de várias áreas que avaliam o produto para ele ser realmente posto em produção. (...) não só do nosso departamento, que uma das nossas funções é gerar idéias, mas desde a pessoa que trabalha com maquinário no chão de fábrica, tem a possibilidade de divulgar as suas idéias através do CCQ (Weg – Sr. Marcelo). Na Siemens, de igual modo, percebe-se a importância da criatividade dos colaboradores, mas não foi adotado um sistema tão bem estruturado como os grupos de CCQ da Weg. A empresa adota um programa de incentivo chamado 3I, e como resultado as contribuições são mais isoladas, ainda que possam resultar em retorno financeiro para o

indivíduo criativo. Esse fato somente foi apontado pelo gerente da equipe de criação, mas não pelo seu colaborador.

A empresa tem um programa chamado 3I, em que o colaborador, independentemente se a idéia é inerente à área em que ele trabalha, ele pode apresentar essa idéia para a empresa e essa idéia será encaminhada ao setor beneficiário dessa idéia, e ela vai ser trabalhada dentro da empresa, e se a idéia se torna num produto, numa solução que redundou numa economia, ou em nova entrada de dinheiro para a empresa, faturamento para a empresa, ele receberá um prêmio proporcional ao benefício que a empresa auferiu (Siemens – Sr. Ronaldo). Por outro lado, somente o integrante da equipe de criação apontou o fato de haver atividades geograficamente separadas como contribuição para que a criatividade deixe de ser estimulada em condições de aproveitar o potencial dos colaboradores, conforme se observa nos depoimentos dos entrevistados. Essa diferença de perspectivas pode ser representativa de problemas de comunicação entre os níveis hierárquicos da organização, o que poderia ser objeto de um estudo posterior.

Não posso dizer para você que exista uma sistemática. Já ocorreu muitas vezes, mas sempre de forma pontual, dependendo da ocasião. (...) Nós estamos separados e as pessoas se comunicam pouco, se conhecem pouco, é impraticável você pegar cem pessoas e estar conhecendo outras dezenas que estão em São Paulo, então isso aí tem inibido e muito os processos criativos (...) repetidas vezes aconteceu das pessoas aqui terem idéias, e as idéias não terem eco e respaldo, às vezes até aqui internamente a área gerencial abraça a idéia, aí você tenta levar essa idéia para a área de vendas, mas ela não compra. (...) Com as repetidas vezes que isso aconteceu, eu percebo que inibiu o potencial do grupo, um potencial muito grande de ter novas idéias, criar soluções para problemas que nós temos, e esse processo se realizar e se tornar em produtos, porque as pessoas ficam bloqueadas, ficam desestimuladas (Siemens – Sr. Maurício).

Na Datasul também as respostas dos entrevistados afirmam a existência da percepção de que a criatividade é importante, e de que pode vir a ser adotada alguma forma de incentivo, mas atualmente só se observa o apoio pessoal, tanto de colegas quanto de gerentes e diretores, às idéias inovadoras apresentadas voluntariamente. Os depoimentos a seguir são coincidentes, e sustentam essa constatação.

Eu acho que é estimulada (a criatividade), porque a partir do momento que uma pessoa mostra alguma coisa diferente, ela acaba aparecendo no grupo, o estímulo é mais a apreciação das pessoas pelo que ela descobriu e, de repente, um desejo

pessoal, uma satisfação pessoal de sentir que aquela idéia dele rendeu frutos, que alguém ouviu e alguém tentou tocar aquela idéia dele para a frente. Mas para por aí. (...) Existe o desejo disso, mas a gente não tem uma política de algum prêmio, de alguma coisa para incentivar (Datasul – Sr. Nívio).

Ainda não tem nada formal, mas a gente percebe que eles têm bastante interesse até de implementar algo formal para incentivar o uso da criatividade. (...) O nosso diretor incentiva em termos de dar liberdade para que a gente possa criar, mas não temos nenhuma política de incentivos para premiar por novas idéias (Datasul – Sr. Claudio).

Em uma comparação entre as três organizações, e considerando a importância que a criatividade tem para as organizações, depreende-se que seria interessante que a Datasul desenvolvesse mais a intencionalidade de ser criativa, em conformidade com a proposição de Carr (1997), e que para tanto adotasse políticas mais claras de incentivo à criatividade de seus colaboradores, até para que depois pudesse utilizar a tecnologia de informação para apoiar esse esforço. Nesse sentido, e tendo em vista que se busca compreender as relações que podem existir entre o uso da TI e a criatividade no desenvolvimento de produtos, apresentam- se a seguir os depoimentos quanto à utilização da TI de forma intensiva.