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1. Introdução

2.3. Espiritualidade no Tabalho

2.3.4. Espiritualidade nas Organizações e no Trabalho

O mundo das organizações de trabalho mudou ao longo da última década, diante da necessidade de sobreviver em uma economia global competitiva, com transformações políticas, econômicas, sociais e ambientais. A todo o momento, a sua sobrevivência depende da capacidade de se moldar para satisfazer o cliente e suas necessidades, conseguir qualidade, flexibilidade, inovação e responsabilidade organizacional e social. Nesse contexto, destacam- se as organizações que estão se voltando para o intangível, ou seja, destituindo-se do materialismo imperioso e se espiritualizando através de um comportamento atitudinal pautado em valores éticos e princípios na realização de sua missão e condução de seus relacionamentos (Kretly, 2005).

Um reflexo dessa espiritualidade corporativa pode ser visualizada, segundo Penteado, et al (2007), no tratamento dado para o colaborador, que passa a ser olhado de forma companheira e humana, assim como no respeito e incentivo às suas qualidades individuais e expressões espirituais no âmbito da organização. Há também uma nova percepção do colaborador como amigo e parceiro dos clientes, colocando-se no lugar destes e fazendo a eles o que gostaria lhes fizessem. Como resultado dessa mudança de atitude, essas organizações encontram apoio moral dos clientes, dos colaboradores e da sociedade, são dignas de respeito e atraem para si o sucesso.

A espiritualidade é posta atualmente como um componente muito importante de todos os sistemas de gestão corroboram Mitroff e Denton (1999), em face das necessidades do envolvimento dos funcionários em um trabalho que dá sentido às suas vidas. Os colaboradores querem ser considerados mais do que apenas um recurso ou custo para a organização. Desejam a valorização de seus espíritos, almas e sonhos. Buscam uma vida significativa no trabalho. Intencionam contribuir para a sociedade, além de sentir-se bem sobre o que fazem ( Neal, 1997). O incentivo á espiritualidade dentro da organização pode levar, segundo Garcia-Zamor (2003), os funcionários a uma maior produtividade, criatividade, honestidade e confiança, realização, satisfação pessoal, e comprometimento, o que acabará por favorecer um aumento de desempenho organizacional.

Não há dúvida de que o enriquecimento espiritual traz inúmeros benefícios comuns para uma organização e seus membros. Provou-se que os locais de trabalho espiritualizados têm influenciado positivamente no que diz respeito à rentabilidade (Thompson, 2000).

Por isso, defende-se que a espiritualidade deve ser incentivada no ambiente de trabalho, onde suas práticas têm papel importante para a gestão de pessoas. No entanto, devido à diversidade de crenças e definições que cada indivíduo tem sobre espiritualidade, é preciso que os gestores incentivem os funcionários a seguir seu próprio caminho de espiritualidade e a relacionar este caminho com os objetivos da organização, o que pode levar a uma diversida de pontos de vista diferentes, havendo momentos em que a organização necessite moderar essas percepções, mas isso só pode ocorrer em casos extremos. A organização que tem uma política para a liberdade espiritual fará seus funcionários desenvolverem suas potencialidades plenamente, o que, mais uma vez, proporcionaria um melhor desempenho no trabalho e um mundo corporativo amigável.

Vários estudos sobre espiritualidade confirmam essa influência significativa e positiva da espiritualidade no trabalho em seus processos de gestão. A seguir destacam-se alguns.

Nos estudos realizados por Paulino (2011), sobre correlatos de espiritualidade no trabalho em organizações da Paraíba, os resultados indicaram que os valores humanos influenciaram a espiritualidade no trabalho; que há uma correlação positiva entre as variáveis comprometimento organizacional afetivo, afetos positivos no trabalho e desempenho relacionados à espiritualidade no trabalho, e que há um impacto positivo da espiritualidade no trabalho no que se refere à satisfação com a vida do colaborador.

Silva (2012), por meio de sua pesquisa, “A espiritualidade nas organizações, um estudo empírico em ambiente empresarial português”, infere a existência de uma importante influência da espiritualidade nos comportamentos dos indivíduos, assim como no seu desempenho, mesmo que indiretamente. Assim, sugere que a espiritualidade deve ser implementada, pois os funcionários terão um maior empenho, uma ligação mais forte com a empresa, sentir-se-ão mais comprometidos, potenciando assim a contribuição destes para a organização, por meio do relacionamento e interação com os colegas, da sua produtividade e de desempenho individual. Gonçalves (2011), constatou em seus estudos, a contribuição inegável da espiritualidade no bem-estar, na produtividade e no desempenho. Os trabalhadores não querem mais serem vistos como uma despesa, pois, são mais do que isso, têm uma alma, um espírito e querem ter uma vida no trabalho e fora dele com significado, contribuir para a sociedade, ou seja, querem se sentir bem com o que fazem.

Como podemos perceber a espiritualidade tornou-se uma área cada vez mais aceitável em estudos acadêmicos. As pesquisas revelam que as crenças e práticas espirituais, parecem estar ligadas com resultados positivos, como a saúde psicológica, física (bem-estar); satisfação pessoal e no trabalho; funcionamento interpessoal positivo e melhor qualidade de vida (Seybold e Hill, 2001).

Um dos fatores que contribuem para estes resultados positivos indicam que a vivência da espiritualidade protege as pessoas contra os comportamentos não-desejáveis e não adaptativos, como agir de forma destrutiva, tanto em nível social ou até mesmo pessoal (Emmons, 2000). Aparecem também outros benefícios para uma organização incentivar a espiritualidade no local de trabalho. Tais como a provável ligação entre a espiritualidade no trabalho e maior criatividade individual (Freshman, 1999), o aumento da honestidade e confiança dentro da organização (Wagner-Marsh & Conely, 1999), maior senso de realização pessoal dos funcionários (Burack, 1999), e maior empenho para o alcance dos objetivos organizacionais (Karakas,2010).

Siqueira (2005), também esclarece por que a espiritualidade está sendo requisitada nos ambientes corporativos, em face de oportunizar a descoberta ou redescoberta de valores, conexões, vivências, que transcendam a materialidade. Uma postura de vida que buscaria sentido, significado para estar no mundo (família, trabalho) e equilíbrio entre as diversas esferas da vida (racional, afetiva, social). A autora reforça ainda que nesse sentido o trabalho passaria a ser não apenas uma atividade, pois transcenderia interesses e conflitos pessoais, configurando-

se em uma ação transcendental ou espiritualizada, vocacionada, satisfatória e com significado. Nessa lógica, tanto o trabalho quanto a organização poderiam se tornar fontes de desenvolvimento interpessoal e espiritual.

Conforme proposto por Vasconcelos (2011), as organizações que desenvolvem espiritualidade no trabalho, deve possuir pelo menos algumas características marcantes, como atender às necessidades e demandas da sociedade por meio de seu trabalho, realizar ações de responsabilidade social corporativa (por exemplo, através da adopção de práticas de fazer o bem).

Promover o bem-estar de seus stackeholders, comportamento ético, ir além de seus próprios interesses, atender as necessidades da sociedade, Construção de uma reputação forte; também deve mostrar políticas de gestão internas consistentes, a fim de avaliar a seus stakeholders internos e satisfazer as suas necessidades, proporcionando políticas de recursos humanos adequadas a promover a motivação e satisfação no trabalho, permitindo a felicidade no local de trabalho e gerando confiança, envolvimento, engajamento e comprometimento do empregado com os objetivos organizacionais. Como resultado, este tipo de organização alcançaria resultados adequados em seus processos de trabalho, em seus negócios e passaria a ser admirada, reconhecida e premiada pela sociedade como um todo.

Além disso, varios pesquisadores conceituam que uma organização que utiliza a espiritualidade no trabalho além de apresentar estruturas planas e uma mente aberta para mudanças. Acredita-se que esse tipo de organização pode gerar uma maior interligação e a cooperação entre unidades de organização e capacitação dos trabalhadores em todos os níveis da organização (Biberman, 2009; Biberman e Whitty, 1997). O que oportuniza um profundo senso de significado inerente ao próprio trabalho desenvolvido na organização; resultando em grande motivação e excelência organizacional ccomplementam (Marques, Allevato, Holt, 2008).

Giacalone & Jurkiewicz (2003), argumentam que as organizações que buscam propósitos espirituais ou nobres são geralmente bem sucedidas, em seus processos de gestão de pessoas em termos de estabelecimento de alcance de metas, motivação e manutenção de seus empregados. Com isso ampliando seu papel social, reconhecendo os princípios morais como uma bússola e simultaneamente, trabalhando de forma ética para atender as necessidades da sociedade. Em contrapartida, um local de trabalho sem a espiritualidade pode vir a resultar em

absenteísmo elevado, altas taxas de rotatividade, estresse associado com prazos de trabalho e depressão menciona (Thompson, 2000).