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Conforme demonstrado em outros tópicos, a decisões proferidas pela Administração devem ser dotadas de razoabilidade, em consonância com seus objetivos, sendo vedadas discriminações sem a devida fundamentação.

A imposição do critério referente ao estado civil do candidato é entendida como desarrazoada, como ilustra Celso Spitzcowsky: “afigura-se inconcebível a exclusão de candidato a cargo na carreira de bombeiro tão somente por ser casado.”

Confira-se a decisão proferida pelo TRF da 2ª Região, que entendeu ser ilegal tal exigência, nos termos que segue:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. INSCRIÇÃO EM CONCURSO PÚBLICO POR FORÇA DA CONCESSÃO DE LIMINAR. NECESSIDADE DA ENTREGA JURISDICIONAL. SERVIDORA PÚBLICA MILITAR CASADA. ÊXITO EM DUAS ETAPAS DO CERTAME. IMPOSSIBILIDADE DA EXIGÊNCIA DE ESTADO CIVIL DIVERSO. RESPEITO AO PRINCÍPIO DA ISONOMIA (ART. 5° DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL). 1 - O julgamento do mérito torna-se necessário para definição do direito postulado e de eventuais responsabilidades da Administração para com o impetrante e regresso contra o impetrado. 2 - A Constituição Federal em seu art. 7°, XXX, aplicável aos servidores públicos por força do art. 39, § 2° proíbe a diferenciação na admissão para o serviço público por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil. 3 - Aprovação de candidata casada nas duas Etapas do Exame Intelectual para ingresso no Curso de Formação de Sargentos do Exército. 4 - Interpretação sistemática do art. 37, I, da Constituição Federal com o art. 7°, XXX. Exigência de especificidade para cada cargo, como habilitação profissional, capacidade técnica, nível intelectual, jamais relativa ao estado civil. 5 – A limitação do estado civil de candidata ao concurso público para ingresso na Escola de Saúde viola o princípio constitucional da isonomia, uma vez demonstrado que a exigência não decorre das atribuições pertinentes à carreira militar, pois a discriminação ocorre entre candidatas que estão em situação de

igualdade, ou seja, integrantes das Forças Armadas. 6 - Manutenção da sentença na íntegra. Remessa necessária improvida.77

Nesta decisão, é oportuno reproduzir o seguinte trecho do voto do relator:

Assim, viola o princípio constitucional da isonomia a limitação do estado civil de candidata ao concurso público de admissão à Escola de Saúde do Exército, uma vez demonstrado que a exigência não decorre das atribuições pertinentes à carreira militar, pois a discriminação ocorre entre candidatas que estão em situação de igualdade, integrantes das Forças Armadas.78

Neste contexto, se expressa o TJMG, concordando com tal posicionamento:

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - CANDIDATO CASADO - AUSÊNCIA DE MOTIVO IMPEDITIVO - DIREITO DE PARTICIPAÇÃO - ESTADO CIVIL - PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE - IGUALDADE DE

CONDIÇÕES A TODOS - NEGATIVA - DESCRIMINAÇÃO

DESARRAZOADAS - SEGURANÇA CONCEDIDA - CONFIRMAÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ART. 37, ‘CAPUT’ E INCISO I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. Deve ser assegurado ao candidato o direito de participar do Concurso Público para matrícula no curso de formação de oficiais, impedido tão-somente por ser casado, tendo em vista que a realização do certame deve se pautar pelo cumprimento dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade, além da igualdade de condições a todos que a ele se submetem, nos termos do mandamento constitucional.79(grifo nosso)

Ainda neste sentido, posicionou-se o TJMG em outra oportunidade:

CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DA PMMG - CONCURSO - REQUISITO DE INSCRIÇÃO: ESTADO CIVIL - OFENSA AO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. A exigência do estado civil de solteiro para inscrição no concurso para o Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais vai de encontro ao princípio da razoabilidade. Em reexame necessário, confirma-se a sentença.80

77

BRASIL. Tribunal Regional Federal 2ª Região. Remessa ex-ofício em mandado de segurança 200351010174125. Relator Juiz Federal Guilherme Calmon Nogueira da Gama, 18 de julho de 2005. Disponível em:<http://www.trf2.gov.br/iteor/RJ0108810/1/9/121908.rtf>. Acesso em: 30 out. 2008.

78 Ibid. 79

MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Mandado de segurança

1.0000.00.343691-2. Relator Des. Dorival Guimarães Pereira, 28 de agosto de 2003. Disponível em:

<http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/juris_resultado.jsp?palavrasConsulta=concurso+publico+candidato+casa do&acordaoEmenta=acordao&tipoFiltro=and&resultPagina=10&submit=Pesquisar>. Acesso em: 30 out. 2008.

80 MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Mandado de segurança

1.0382.04.039877-0/002. Relator Min. Kildare Carvalho, 24 de fevereiro de 2005. Disponível em:

<http://www.tjmg.gov.br/juridico/jt_/juris_resultado.jsp?palavrasConsulta=concurso+publico+candidato+casa do&acordaoEmenta=acordao&tipoFiltro=and&resultPagina=10&submit=Pesquisar >. Acesso em: 30 out. 2008.

A decisão acima, fica evidenciada a ausência de relação entre o estado civil do candidato e sua capacidade de ocupar um cargo na Administração e bem exercer suas funções. Confira-se:

Com efeito, não se mostra razoável a inadmissão do impetrante à matrícula e freqüência no CTPS/2004, devido ao fato de ser casado, sobretudo tendo em vista que foi ele aprovado em todas as demais fases do concurso. A meu ver, inexiste correlação entre o casamento ou o impedimento de contraí-lo e o exercício das funções militares. Tem-se aí uma forma de descriminação infundada e ilegal, sem razão objetiva ou lógica, a ofender a ordem constitucional vigente.81

Como se percebe por meio das decisões elencadas, embora a CF preveja a criação de elementos discriminadores em razão da função a ser exercida, tal situação não se aplica ao caso dos candidatos casados, impedidos de participarem de concursos públicos.