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Mandado de Segurança n 2004.011220-3

Tribunal de Justiça de Santa Catarina: Mandado de Segurança n. 2004.011220-3. EMENTA:

MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - LIMITE DE ALTURA PREVISTO NO EDITAL - INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E RAZOABILIDADE - AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

A exigência constante de Edital de Concurso para ingresso na carreira de Policial Militar de estatura mínima, para o sexo feminino, de 1,60m (um metro e sessenta centímetros) não configura ofensa ao princípio isonômico previsto na Carta Política em vigor, uma vez que, em determinados casos, o requisito está relacionado com a indispensabilidade de apresentação de qualidades específicas por parte dos concorrentes, as quais possam acarretar o melhor desempenho das funções, em virtude da natureza do cargo.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de mandado de segurança n. 2004.011220-3, da Comarca da Capital, em que é impetrante THATIANE DO NASCIMENTO MACHADO e impetrado SECRETÁRIO DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA DO CIDADÃO:

ACORDAM, em Grupo de Câmaras de Direito Público, por maioria de votos, denegar a ordem, cassando-se a liminar deferida. Vencido o Exmo. Sr. Des. Francisco Oliveira Filho que concedia a segurança.

Custas na forma da lei. VOTO:

O SR. DESEMBARGADOR VOLNEI CARLIN:

O writ versa sobre a possibilidade de se estabelecer altura mínima de candidata no concurso de ingresso na carreira de Sargento da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina.

A impetrante insurge-se contra a regra contida no Edital n. 004/CESIEP/2003, cuja cópia encontra-se acostada à fls. 30/49, o qual em seu item 3.6.2 elenca os requisitos para a inscrição de candidato ao concurso de ingresso na carreira de Sargento da Polícia Militar, veja-se:

"a) Ser brasileiro; b) Idade mínima de 18 anos e no máximo não ter completado, até o ato da inscrição, 26 anos de idade; c) ter altura mínima de 1,65m para o sexo masculino e 1,60m para o sexo feminino e ter peso proporcional à altura, a ser conferido pela Junta Médica da Corporação, no ato da inspeção de Saúde; d) Estar em dia com o Serviço Militar e Justiça Eleitoral; e) Não ter sido condenado por crime doloso; f) Não exercer, ou não ter exercido atividades prejudiciais ou perigosas à Segurança Nacional; g) se reservista das Forças Armadas, ter sido licenciado no mínimo no comportamento "Bom" e não tê-lo sido a bem da disciplina (ainda que reabilitado para o serviço militar); h) Não será deferida matrícula a candidatos isentos do serviço militar por incapacidade física ou desligado de Curso ou Escola Militares por incapacidade física ou mental; i) Ex-Policiais e Bombeiros Militares e Militares da ativa deverão estar no mínimo no comportamento "Bom"; j) Gozar dos direitos políticos; l) Não estar incompatibilizado para nova investidura em cargo público; m) Possuir idoneidade moral que o recomende ao Ingresso ao Quadro de Sargento de Carreira das Praças da Polícia Militar de Santa Catarina; n) As Declarações e Certidões deverão ser negativas para a matrícula dos Candidatos ao Curso de Formação de Sargento da Polícia de acordo com o item 10.1.2 exigidas do presente Edital; o) Se Civil, sem ter ainda prestado o Serviço Militar inicial, estar na situação de alistado ou dispensado de incorporação; p) Não ter

sido julgado incapaz "definitivamente" para o serviço ativo das Forças Armadas ou das Forças Auxiliares ou para o serviço militar inicial; q) ter concluído o ensino médio ou concluí-lo até a data da matrícula no Curso de Formação; r) não estar"sub judice"; s) possuir carteira nacional de habilitação, no mínimo categoria "B"; t) para os militares das forças armadas e forças auxiliares tendo em vista característica própria da carreira não poderão encontrar-se em licença para tratar de interesse particular (LTIP), licença para tratamento de saúde (LPS), isenção total em residência (ITR), licença para tratamento de saúde de pessoa da família (LTSPF), reserva remunerada, reformado por incapacidade física; u) ter ingressado na PMSC sob efeito de liminar sem julgamento do mérito, no que tange idade; v) possuir antecedentes, predicados morais e sociais que recomendem o ingresso na PMSC." (sem grifo no original).

Assim, o próprio Edital, em consonância com a norma de regência - Lei n. 6.218/83 - especifica que os candidatos deverão ter altura mínima de 1.65m, se homem, e 1.60m, se mulher, além do preenchimento dos outros pressupostos nele constantes.

Na própria inicial a impetrante afirma que, embora preencha os outros requisitos, não satisfaz a exigência referente à altura, posto que possui 1.57m, ao invés de 1.60m, exigido.

A previsão de altura mínima para a participação no concurso de ingresso nos quadros da Polícia Militar, quando esteada na razoabilidade, não tem o condão de afrontar o princípio isonômico previsto na Carta Política em vigor, uma vez que, em determinados casos, incluindo o ora em exame, a exigência está relacionada com a indispensabilidade de apresentação de qualidades específicas por parte concorrentes, as quais possam acarretar o melhor desempenho das funções, em virtude da natureza do cargo da Administração Pública.

Esta Corte já teve a oportunidade de apreciar a matéria, observe-se:

"CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO - POLÍCIA MILITAR - LIMITE DE ALTURA PREVISTO NO EDITAL - INEXISTÊNCIA DE OFENSA AOS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E RAZOABILIDADE - AUSÊNCIA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO.

"A exigência constante de Edital de Concurso para ingresso na carreira de Policial Militar de estatura mínima, para o sexo feminino, de 1,60 m (um metro e sessenta centímetros) não configura ofensa aos princípios da igualdade e da razoabilidade, nem tampouco violação a direito líquido e certo, uma vez que representa o padrão médio de altura dos brasileiros, sendo perfeitamente concebível admitir-se que aquele que vai exercer função de intimidação a criminosos não deve ter altura abaixo da média, para que possa impor respeito na repressão à marginalidade." (MS n. 04.000081-2, da Capital, Rel. Des. Volnei Carlin, j. em 12/05/04).

"ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO DE INGRESSO EM CARGOS DA POLÍCIA MILITAR. LIMITES DE IDADE PARA INSCRIÇÃO. EXIGÊNCIA PREVISTA NO EDITAL DO CERTAME. DIREITO LÍQUIDO E CERTO INEXISTENTE. SEGURANÇA DENEGADA.

"1. O ingresso na Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar, nos termos do § 1° do art. 42, c/c as disposições do art. 142, § 3°, inc. X, da Constituição Federal, será regulamentado por lei, que poderá inclusive prever regramento a respeito dos limites de idade. Por estarem submetidos a regime jurídico especial, distinto dos servidores públicos, não se aplica aos militares a garantia inscrita no inc. XXX do art. 7° da Lex Mater.

"2. O Estatuto da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina - Lei n. 6.218/83, art. 11 - prevê expressamente a idade como um dos critérios a ser observado no ingresso na Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar. O fato de a norma não especificar a idade mínima e máxima não constitui fator de invalidação da exigência, desde que o detalhamento conste do edital que regula o certame (AgAI n. 284.001-0/DF, Min. Moreira Alves). Este procedimento atende com mais presteza as necessidades do provimento dos cargos, levando

em consideração a complexidade e diversidade das funções dos integrantes da Corporação. Isso não viola a Constituição Federal porque a exigência está prevista em lei; e não viola o princípio da legalidade porque o edital a ela está vinculado (Mandado de segurança n. 2003.021399-6, Rel. Des. Luiz Cézar Medeiros)." (MS n. 2003.026861-8, da Capital, Rel. Des. Cesar Abreu, j. em 12/05/04).

"ADMINISTRATIVO - CONCURSO PÚBLICO DE INGRESSO EM CARGOS DA POLÍCIA MILITAR - LIMITE DE ALTURA - EXIGÊNCIA PREVISTA NO EDITAL DO CERTAME - DIREITO LÍQUIDO E CERTO INEXISTENTE - SEGURANÇA DENEGADA

"1. O ingresso na Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar, nos termos do § 1° do art. 42, c/c as disposições do art. 142, § 3°, inc. X, da Constituição Federal, será regulamentado por lei, que poderá inclusive prever regramento a respeito dos limites de altura. Por estarem submetidos a regime jurídico especial, distinto dos servidores públicos, não se aplica aos militares a garantia inscrita no inc. XXX do art. 7° da Lex Mater.

2. "Razoabilidade da exigência de altura mínima para ingresso na carreira de delegado de polícia, dada a natureza do cargo a ser exercido. Violação ao princípio da isonomia. Inexistência. Recurso extraordinário não conhecido" (STF, RE n. 140889/MS, Min. Marco Aurélio)." (MS n. 2003.028630-6, da Capital, Rel. Designado Des. Luiz Cézar Medeiros, j. em 9/06/04).

"MANDADO DE SEGURANÇA - CONCURSO PÚBLICO - SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR - ALTURA MÍNIMA - PREVISÃO NO EDITAL - DIREITO LÍQUIDO E CERTO INEXISTENTE - SEGURANÇA DENEGADA.

"Não tem direito líquido e certo que legitime a propositura de mandado de segurança o candidato que em concurso público não logra preencher um dos requisitos previstos no edital para a inscrição" (MS n. 01.023658-3, da Capital)."(MS n. 03.029287-0, da Capital, Rel. Des. Cláudio Barreto Dutra, j. em 09/06/04).

Já decidiu o Excelso Pretório:

"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO PARA INGRESSO NA CARREIRA DE DELEGADO DE POLÍCIA. ALTURA MÍNIMA. REQUISITO. RAZOABILIDADE DA EXIGÊNCIA.

"1. Razoabilidade da exigência de altura mínima para ingresso na carreira de delegado de polícia, dada a natureza do cargo a ser exercido. Violação ao princípio da isonomia. Inexistência. Recurso extraordinário não conhecido." (RE 140889/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, publicado no DJU em 15/12/00, p. 104).

"Pode a lei, desde que o faça de modo razoável, estabelecer limite mínimo e máximo para ingresso em funções, empregos e cargos públicos. Interpretação harmônica dos artigos 7º, XXX, 39, § 2º, 37, I, da Constituição Federal" (RE n. 184.835-9/AM, Min. Carlos Velloso).

"CONCURSO PÚBLICO - AGENTE DE POLÍCIA - ALTURA MÍNIMA - VIABILIDADE. Em se tratando de concurso público para agente de polícia, mostra-se razoável a exigência de que o candidato tenha altura mínima de 1,60m. Previsto o requisito não só na lei de regência, como também no edital de concurso, não concorre a primeira condição do mandado de segurança, que é a existência de direito líquido e certo." (RE 148095/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, publicado no DJU em 03/04/98, p. 14).

Do corpo deste último acórdão, destaca-se:

"Na hipótese dos autos, o discrímen mostra-se próprio à função a ser exercida. Na carreira policial, exsurge com peculiaridades próprias a função de agente de polícia. Enquanto, por exemplo, o cargo de escrivão não exige, em si, estampa que se mostre até mesmo intimidadora, no caso de agente tem-se justamente o contrário, em face a uma atuação que pressupõe, à primeira visão, respeito aos cidadãos em geral. Assim, não há como

considerar discrepante da ordem jurídica em vigor, legislação que imponha aos candidatos ao cargo altura mínima de 1,60 m. Pouco importa que, na espécie, tenha-se o envolvimento de candidata do sexo feminino. A altura mínima exigida mostra-se média, em relação aos padrões brasileiros." (original sem grifos)

Assim, a exigência de altura mínima prevista no Edital não configura ofensa aos princípios da igualdade e da razoabilidade, nem tampouco violação a direito líquido e certo. Ademais, a Lei n. 6.218/83, art. 11, condiciona o ingresso na Polícia Militar à necessidade de capacidade física, entre outras, estando implícito o requisito da altura mínima.

Diante do exposto, denega-se a ordem, cassando-se a liminar deferida. III -DECISÃO:

Nos termos do voto do relator, decide o Grupo, por maioria de votos, denegar a ordem, cassando-se a liminar deferida. Vencido o Exmo. Sr. Des. Francisco Oliveira Filho que concedia a segurança.

Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Desembargadores Rui Fortes, Cesar Abreu, Nicanor da Silveira, Newton Janke, Jaime Ramos, Pedro Manoel Abreu e Newton Trisotto.

Pela douta Procuradoria-Geral de Justiça, lavrou parecer o Exmo. Sr. Dr. Plínio Cesar Moreira.

Florianópolis, 11 de maio de 2005. FRANCISCO OLIVEIRA FILHO Presidente com Voto

VOLNEI CARLIN Relator Designado

Declaração de voto vencido do Exmo. Sr. Des. Francisco Oliveira Filho:

Ousei divergir da douta maioria porque a restrição do art. 142, § 3º, X, da Constituição Federal, há de ser, data venia, entendida em termos no tocante ao Policial Militar, isto por força do § 1º do seu art. 42, relativamente ao ingresso na corporação, devendo ser considerado dentro do critério de razoabilidade, evitando-se impedimento ou discriminação. As peculiaridades da carreira do Policial Militar e conseqüentemente o trabalho desenvolvido, a meu ver, não justificam a exegese predominante. Adilson de Abreu Dallari, mutatis mutandis é categórico quando defende que "tanto o estabelecimento de condições referentes à altura, à idade, bem como ao sexo, poderão ser lícitos ou não, caso respeitem ou violem o princípio da isonomia, isto é, caso sejam ou não pertinentes, o que se verificará em cada caso concreto. Condição pertinente será somente aquela ditada pela natureza da função a ser exercida, ou seja, circunstância, fator ou requisito indispensável para que a função possa ser bem exercida, o que não se confunde com a mera conveniência da administração, nem com preferências pessoais de quem quer que seja" (Regime Constitucional dos Servidores Públicos, 2ª ed., 2ª tiragem, RT, 1992, p. 32).

O Supremo Tribunal Federal não discrepa:

"A imposição de limite de idade em concurso público somente é possível caso tal fator se encontre justificado pelas circunstâncias que cercam o exercício da função" (AGRAG 156537-RS, Min. Marco Aurélio). Esta, debaixo de todas as venias, não é a hipótese, pois inexistem circunstâncias objetivas para negar a participação no almejado certame público.

Esses, pois, os motivos do dissenso. DES. FRANCISCO OLIVEIRA FILHO