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I) APONTAMENTOS DO ESTADO MODERNO E O ADVENTO DO ESTADO SOCIAL:

1.2.3 A crise do Estado Liberal:

“Em termos de política social, o preceito implícito nessas primeiras declarações – Bill of Rights, de 1689, na Inglaterra; a Declaração de Direitos da Virgínia, em 1776, ou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão francesa, de 1789 – poderia reduzir-se a uma palavra: ‘abstenção’ do Poder Público. Cada indivíduo procurando, livremente, seu próprio interesse, realizaria, da melhor forma e automaticamente, o interesse social.

Mas a experiência não confirmou esse otimismo. O regime de plena liberdade, proclamado nos códigos, foi, na realidade, acompanhado de uma situação de opressão e miséria de grandes massas. O pauperismo, a fome, o desemprego, o proletariado, o campesinato, marcam o quadro dessa trágica realidade em que a plena ‘liberdade’ – solenemente proclamada – foi, na realidade, o instrumento que facilitou aos poderosos a exploração dos mais fracos”78.

“O arcabouço teórico do Estado liberal estava muito longe de corresponder essa teoria com a realidade. Assim como a República de Platão, que fora arquitetada no

77 O sociólogo português, professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra,

Boaventura de Sousa Santos já escreveu que no socialismo do século 21 o regime político que deve viger é o “democrático assente na complementaridade entre democracia representativa e democracia participativa” (“In” Socialismo do século 21. Folha de São Paulo, 7/6/2007, p. A3.

mundo das idéias, o Estado liberal seria realizável numa coletividade de deuses, nunca numa coletividade de homens. Empolgados pelas novas idéias racionalistas, fortemente sedutoras mas impregnadas de misticismo, os construtores do Estado liberal perderam de vista a realidade. Desconheceram (e isto foi o seu maior erro) uma das mais importantes revoluções que a história política do mundo registra – a revolução industrial -, que se iniciara na Inglaterra em 1770 e que modificaria fatalmente a realidade social em todos os países, criando problemas até então desconhecidos mas perfeitamente previsíveis”79.

“(a burguesia) Foi quem primeiro demonstrou quão capaz é a atividade dos homens. Realizou maravilhas superiores às pirâmides egípcias, aos aquedutos romanos e às catedrais góticas. Levou a cabo expedições maiores que as grandes invasões e as Cruzadas... Em apenas um século de sua dominação de classe, a burguesia criou forças de produção mais imponentes e mais colossais que todas as gerações precedentes reunidas. O domínio das forças naturais, o maquinismo, as aplicações da química à indústria e à agricultura, a navegação a vapor, as ferrovias, o telégrafo, o desbravamento de continentes inteiros, a canalização de rios, o aparecimento súbito de populações – em que século anterior se poderia prever que tais forças produtivas cochilavam no seio do trabalho social?...a sociedade burguesa moderna que gerou, como por encanto, meios de produção e de troca tão poderosos assemelha-se ao feiticeiro que já não consegue dominar as potências demoníacas que evocara...Nas crises eclode uma epidemia social que teria parecido um contra-senso a todas as épocas anteriores: a epidemia da superprodução”80.

Pelas citações desses trechos se mostram as incoerências e contradições pela qual se pautou o Estado Liberal e suas conseqüências. Pensadores que não abominam os ideais liberais reconhecendo o grave problema social e até mesmo uma involução humana, no seio da maioria da população; e pensadores mais radicais, talvez o mais revolucionário de todos, Karl Marx, admitindo os avanços que a sociedade burguesa haveria alcançado.

O progresso tecnológico, o avanço da ciência, a evolução da produção sem igual parâmetro em qualquer outro período da história até então, as possibilidades do conhecimento levada ao extremo, realmente, foram inquestionáveis. Todavia, isso foi acompanhado da pauperização da grande massa popular, da miséria humana e vivência em condições subumanas. A evolução formal (tecnológica) causava a involução substancial (ser humano).

79 Cf. Sahid Maluf. “In”, Teoria Geral do Estado. 22º ed. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 130.

80 Cf. Karl Marx e Friedrich Engels. “In”, Manifesto do partido comunista. Trad. Sueli Tomazzini Barros Cassal.

O proletariado e os camponeses, que abrangiam quase a totalidade da população de qualquer Estado, não sentiam os benefícios dos avanços. A evolução era privativa de uma classe específica, que agora dominava o poder econômico e político: a burguesia.

Realmente foi a época dos contrastes. Fortunas incalculáveis foram levantadas, fruto da ânsia de obtenção de lucros cada vez mais relevantes a custa da exploração, sem qualquer amarra, de trabalho de outrem, ainda mais com a tendência monopolística ocasionada pelo livre mercado; e em contrapartida o resto da população que representava a esmagadora maioria da população era submetido a condições de verdadeiros animais irracionais.

Para fazer frente aos grandes avanços, métodos brutais de exploração do trabalho foram empregados, com um modo de produção degradante, que não raro lesava, fisicamente e moralmente, o empregado, e assim que avariado era descartado como qualquer outra coisa que não servia mais como utensílio. Era um método de eugenia social, com foco no poder econômico, ou de darwinismo social, de eliminação do mais fraco economicamente.

Não podemos olvidar ainda as longas jornadas diárias, que, por vezes, eram mais pesadas do que a carga horária de trabalho de um escravo, que não pouparam nem mulheres e crianças. Muito pelo contrário. Era dada primazia a estas, que podiam operar as máquinas e geravam um custo menor.

A ideologia do liberalismo pautada no individualismo, no contratualismo, a liberdade de contrato, na proteção da propriedade privada, no Estado absenteísta, no voto censitário e no livre mercado, consistiam as pautas ideais, no âmbito do “dever-ser”, desapegado com o “ser” e com as contradições da vida social.

A igualdade defendida era a igualdade formal, em confronto com a máxima aristotélica de tratamento igual para situações iguais e tratamento desigual para situações desiguais. O laissez-faire visa o tratamento isonômico, independente de sua situação desigual, encobre as desigualdades de fato sob o manto da igualdade ideal. Ora, tratar isonomicamente condições desiguais é o mesmo que se proceder a uma discriminação. É ferir o princípio da igualdade e causar injustiça social.

A liberdade de contrato baseava-se que todos são iguais para contratar. Entretanto, como pensar que um proletário seria igual e teria as mesmas condições de um capitalista, que goza de todos os privilégios que lhe servem na sociedade montada a sua

imagem e semelhança? No livre jogo de mercados, em que o proletário somente tinha a sua força física como contraprestação no contrato de trabalho, e o detentor de poder econômico tinha todos os recursos para comprar essa força física sem qualquer esforço próprio, tornava- se muito fácil para este último obter avanços com a empreitada de outrem.

Nestor Pedro Sagüés se manifesta sobre a crise dos ideais liberais:

“Paradójicamente, los tres ideales supremos del constitucionalismo liberal- individualista, enunciados al producirse la Revolución Francesa (libertad, igualdad, fraternidad) quedaron desvirtuados por aplicación del propio sistema jurídico-político que los proclamaba:

a) CRISIS DE LIBERTAD. Acontecimientos tecnológicos, como la Revolución Industrial, y económicos, como el libérrimo juego de la oferta y la demanda, así como la capacidad de acumular ilimitadamente las riquezas, produjeron fenómenos de enorme concentración económica que, en definitiva, extinguieron la libre concurrencia en el mercado. La presencia de trusts, carteles, monopolios y oligopolios estranguló, de hecho, las bases del sistema económico liberal.

En el ámbito político, el cuarto estado advertía el engaño ideológico que significa la distinción entre ‘ciudadanos activos’ y ‘ciudadanos pasivos’ en función de la riqueza, argumentación clasista que sólo beneficiaba al tercer estado, y reclamaba, en su consecuencia, el sufragio universal. También demandaba nuevas libertades y derechos, y su reconocimiento constitucional, como el agremiarse y, en particular, el derecho de huelga.

b) CRISIS DE IGUALDAD. La igualdad formal que declaraban las constituciones contrastó con enormes diferencias sociales entre la alta burguesía y el proletariado. Si bien había desaparecido la antigua aristocracia feudal, una nueva nobleza – la del dinero – operó con igual o mayor opulencia que los viejos señores feudales. Las desigualdades económicas determinaron, obviamente, las políticas, ya que el ejercicio y la eficacia de los derechos cívicos y de las libertades enunciadas por la constitución eran bien distintos entre quienes disponían de los medios culturales y económicos para practicarlos, y quienes carecían de ellos.

c) CRISIS DE JUSTICIA. El eslogan de la ‘fraternidad’ fue tal vez el menos cumplido: el sistema constitucional individualista fue cualquier cosa, menos solidario. A fines del siglo XIX, una encíclica papal, la ‘Rerun Novarum’, advertía que la mayoría de los obreros ‘se debate indecorosamente en una situación miserable y calamitosa’. El trabajo de

menores (de cuatro y cinco años de edad), junto con el de adolescentes que cumplían jornadas de doce a dieciséis horas diarias, pasa a ser en ciertos países un dato de la existencia cotidiana. En ciertas tareas se usan obreras, en lugar de animales de carga, porque son más baratas que las bestias”81.

Sobre esses ideais liberais já se manifestou Reinhold Zippelius:

“Era um otimismo grandioso que preenchia estas teses. No entanto, fracassou a idéia otimista de um Estado que permitisse que a personalidade do indivíduo, a sociedade e a economia se desenvolvessem de acordo com as suas próprias leis. A benção de uma economia que se desenvolvesse sem intervenções nem restrições por parte do Estado revelou-se para os milhares de operários apanhados pela engrenagem das novas fábricas e minas, como sistema de exploração desumana. Os empresários e operários eram, sem dúvida, juridicamente livres de celebrar e rescindir contratos de trabalho, mas em termos econômicos esta liberdade consistia para o operário na escolha entre trabalhar sob condições muitas vezes mais que indignas ou morrer de fome. A sociedade que tinha procurado escapar à Cila do Estado-providência regulamentador de tudo, tinha caído na Caríbis de um liberalismo desenfreado”82

O papel do Estado era de apenas assistir, inerte, essa livre luta. Era como se colocar dentro de um ringue alguém que teve todos os recursos e meios para aprender e desenvolver artes marciais, professores para treiná-lo, personal trainning para aperfeiçoar o condicionamento físico e músculos e sparring para colocar em prática os ensinamentos em forma de treinamento, para confrontar com um aleijado desnutrido. O Estado era apenas o arbitro dessa luta escancaradamente desigual, que permanecia inerte frente às ofensivas do primeiro, legitimando todas as suas investidas, mas que aplicava penalidades para o aleijado- proletário quando o capitalista achasse que aquele cometeu alguma irregularidade.

81 “In” Elementos de derecho constitucional, ob. cit., p. 13/4.

Ainda para esse autor, “en resumen, emerge con toda fuerza un problema gravísimo e insoportable: la

cuestión social, lo cual provocó cambios sustanciales en la estructura vigente. Diferentes doctrinas políticas (el socialismo, con sus múltiples versiones, el sindicalismo, el solidarismo, el social cristianismo, el marxismo, los anarquismos, el corporativismo, etc.), reclamaban un nuevo orden no individualista. Hasta el propio liberalismo termina por aceptar la necesidad de una reformulación sistemática: el neoliberalismo” (p. 14).

82 “In” Teoria geral do Estado, ob. cit., p. 379.

O professor Zippelius ainda alerta:

“Mas não foi só na relação entre operários e patrões que a liberdade foi utilizada para limitar a liberdade. Também na relação entre os próprios empresários encontraram-se exemplos de eliminação de instituições liberais com auxílio das liberdades liberais: por toda a parte se formaram concentrações de capital e de empresas bem como cartéis. Recorreram à liberdade contratual, à propriedade livremente disponível e aos meios de uma concorrência, inclusivamente ruinosa se for necessário, com o fim de neutralizar a concorrência liberal e tornar ineficaz o mecanismo do mercado e dos preços” (p. 380).

E realmente era assim, tanto que era proibida a associação da classe trabalhadora, mas permitida a de empresários. A separação de poderes era exatamente para impedir a ingerência do Estado nesta liberdade-contrato e no livre comércio, separando-o do mercado.

Antonio Enrique Pérez Luño resume a posição do Estado nesta sociedade liberal:

“Una aparente despolitización del Estado, que, lejos, de proponerse la realización de fines políticos propios, aparece como un mero instrumento neutro y disponible para asegurar el laissez faire, esto es, para garantizar jurídicamente el libre juego de los intereses económicos. Para ello se consuma la fractura entre sociedad y Estado al independizar la organización y reproducción del poder político de cualquier conexión con la sociedad. Estos presupuestos se traducen, en la práctica, en la cobertura ideológica de los intereses de la burguesía. El Estado liberal de Derecho funciona como un Estado al servicio de la burguesía para lo que dificulta el ejercicio poderosos y reconoce una libertad e igualdad en el plano formal, que no tienen correspondencia en el social y económico”83.

A classe trabalhadora – camponeses e proletários – vira que muita pouca coisa ou quase nada mudou em sua vida depois das revoluções liberais, apenas tivera que atender a outro “senhor”. De fato, mudou muito pouca coisa até na política francesa, tanto que depois da abdicação do trono de Napoleão Bonaparte, em 1815, após a invasão dos aliados a Paris, restaurou-se a Dinastia Bourbon, voltando do exílio Luís XVIII, com o compromisso de instaurar uma monarquia constitucional nos moldes ingleses.

De fato, não tardou para que se percebesse o paradoxo e a inconsistência do Estado liberal e da doutrina do laissez-faire. Não demorou a que se percebesse que a liberdade ideal do liberalismo não significava, em absoluto, liberdade real. A única liberdade real era a do mercado, que acabava aprisionando o ser humano.

A revolução francesa serviu para que o povo percebesse sua força em promover uma verdadeira revolução, em que pese as conseqüências não terem saído exatamente como desejado. Uma nova ação popular dos desprivilegiados era latente. O socialismo deu a fundamentação teórica para esta reação. Com isso, as teses socialistas se desenvolveram e agremiaram cada vez mais correligionários, buscando novas formulações

sociais para uma sociedade mais justa e igualitária, dividindo-se em socialistas utópicos, anarquistas e científicos ou marxistas.

Marx, antevendo uma revolução popular, publica o “manifesto comunista”, em 1848, abrindo a introdução com a profecia de uma nova revolução popular – “um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo”. No dia seguinte, a França serviria de novo palco para influenciar o mundo com a Revolução de 22 de fevereiro de 1848, que culminou com queda do rei e a instauração da Segunda República, com moldes voltados mais para o social defendendo um sufrágio universal, mas universal masculino, redução da jornada de trabalho de 12 para 10 horas diárias e criação de oficinas nacionais. A oposição burguesa a esse projeto era completa e, desta feita, financia a subida ao poder do sobrinho de Napoleão Bonaparte, e, posteriormente, o golpe de Estado de Napoleão III, em 1852.

A par dessa nova revolução francesa, vários países europeus – Alemanha, Itália, Áustria, Hungria - padeceram de movimentos populares no mesmo ano de 1848.

O Estado liberal não saiu derrotado, porém, saiu alterado. Teve de se submeter a algumas mudanças e concessões para que pudesse sobreviver.

“O insucesso das revoluções românticas de 1848, chamadas também, como no caso alemão, de ‘revolução dos intelectuais’, cede lugar a uma era que se poderia dominar de época do realismo e do nacionalismo, caracterizado pela progressiva execução das políticas de unificação da Itália e da Alemanha, empreendidas por governos predominantemente conservadores. Nesse período, os ideais liberais entram parcialmente em recesso, enquanto que a exaltação nacionalista ganha novo impulso.

Encerrando este período, pode-se colocar o episódio revolucionário constituído pela Comuna de Paris (1871) como uma espécie de marco divisório a assinalar o fim das revoluções burguesas e o início das revoluções predominantemente proletárias que irão caracterizar épocas posteriores. Essa transição já é observável na própria França durante os acontecimentos de 1848, bastando para isso compararmos as jornadas de fevereiro, predominantemente burguesas com as jornadas de junho, basicamente proletárias”84.

1.3 – O Estado Social:

84 Cf. Francisco Falcon e Gerson Moura. “In” a Formação do Mundo Contemporâneo. 5º ed. Rio de Janeiro,

O Estado social, ou Estado do bem-estar social, ou Estado-providência surge como uma das respostas aos movimentos revolucionários dos trabalhadores que almejavam alcançar o poder do Estado, derrubar o sistema capitalista de produção e acabar com a hegemonia burguesa no domínio político, econômico e social.

As respostas do poder estabelecido foram dadas, por vezes, de forma armada, em outras, na forma de concessão de direitos sociais objetivando, com isso, estancar parte das feridas sociais para impedir a gangrena de todo o tecido social. O Estado social corresponde à concessão de direitos sociais e implementação de políticas públicas permitidas pelo capitalismo, pretendendo manter-se no poder político, sobrevivendo às empreitadas revolucionárias e, até mesmo, continuando seu expansionismo.

É cediço que vários dos direitos sociais foram conquistados pelas classes desprivilegiadas, em vários casos, a custo de vidas humanas. Também é verdade que para conquista desses direitos precisou-se apelar à força, ao emprego de armas, tendo como resposta também uma frente armada disposta a lutar para manter seus privilégios. Onde não houve uma luta armada escancarada, prosseguiu-se numa luta ideológica em que o receio de ruptura já foi suficiente para se obter concessões. Entretanto, quer seja oriundo de uma luta armada, quer seja decorrência de um “medo” da classe dominante, não há que se pensar que caracteriza uma nova forma de organização política, com novo modo de produção, pois é sim uma continuação do Estado capitalista.

Portanto, não obstante o “Welfare State” ser uma resposta na forma de concessão de direitos sociais para as classes mais desprivilegiadas, em várias hipóteses esses direitos apenas foram concedidos após batalhas travadas e que, para não sucumbir por completo diante da força da maioria e continuar manter certas regalias, a burguesia restringiu algumas luxúrias para se manter viva e poderosa.

O Estado social não é fruto de uma revolução que pôs abaixo o regime até então dominante. Ele pode até ter como origem revoluções. Todavia, de onde ele se originou não se pode extrair que essas revoluções foram por completo vitoriosas. Pode-se até contemplar êxitos, que é exatamente a positivação de direitos sociais, uma intervenção maior do Estado com o fito de regular e equilibrar as relações sociais e econômicas, mas que não significa a ruptura de um sistema para o advento de um novo.

O que significa o Estado social é a tentativa de manutenção do capitalismo na infra-estrutura social, mas com um aspecto mais social e menos individualista. Por um

prisma lógico, constitui um paradoxo o ideal de um capitalismo-social, já que se trata de um sistema balizado pelo egoísmo, pelo individualismo, em que se pretende conceber numa evolução política e jurídica uma vertente mais solidária, mais social.

Não se pode perder de vista que o sistema capitalista de produção continua na infra-estrutura, e o qualificativo “social” na superestrutura, em que o Estado se incumbe da tarefa de investir nesse por meio de políticas públicas. Por conseguinte, o “social” integra a instância regional político-jurídica, que é a instância imediatamente superior a infra-estrutura e a que mais influencia esta, mas isso não significa que deixa de ser determinado por essa mesma infra-estrutura.

Expliquemos melhor o que ocorre: o capitalismo, como modo de produção situado na infra-estrutura social, determina o modo de ser de toda a superestrutura, definindo seus limites. E no Estado de bem-estar continua a determinar. Ocorre que no Estado liberal, o capitalismo ficava livre para condicionar toda a vida social da forma que bem lhe entendesse, sem qualquer amarra. Já no Estado-providência, alguns óbices são colocados, a fachada do edifício é alterada, é reformada e tornada mais bonita e isso exige certa adequação na infra- estrutura. Com isso, passa a haver um maior inter-relacionamento entre a instância político-