• Nenhum resultado encontrado

ESTRATÉGIA 1 PARA AVALIAÇÃO DO MODELO CONCEITUAL PARA GOVERNANÇA EM BPM: ESTUDO DE CASO

É importante ressaltar que o estudo de caso conduzido neste trabalho foi realizado como parte da abordagem de pesquisa-design apresentada na seção anterior, e não como um estudo à parte. Isso é congruente com o que apresentam Pries-Heje, Baskerville e Venable (2008) quando elencam o estudo de caso como uma das estratégias recomendáveis para avaliação de trabalhos com abordagem de pesquisa-design. Esses autores classificam o estudo de caso como um método naturalista, isto é, um método que é conduzido em um ambiente real, o que lhe confere a virtude de poder aprofundar a avaliação do objeto de estudo (no caso, o modelo conceitual para governança em BPM proposto nessa tese) numa realidade concreta.

De forma semelhante, Runeson e Höst (2008), descrevem um estudo de caso como um método empírico voltado para investigar um fenômeno atual em seu próprio contexto. Citando vários autores Runeson e Höst chamam a atenção para algumas características que justificam a adoção dessa estratégia na presente pesquisa, em consonância com os objetivos da pesquisa:

 Permite um alto grau de aproximação com a realidade, na medida em que é conduzido em um contexto real;

 Pode comportar objetivos de natureza exploratória, descritiva e de melhoria do contexto pesquisado. Quando há objetivos de melhoria de aspectos do próprio contexto estudado um estudo de caso traz semelhança com a pesquisa-ação;

 Ele comporta o uso conjugado de elementos de diferentes métodos (ex: pesquisa bibliográfica, survey, métodos etnográficos como entrevistas e observações), o que está alinhado com a natureza pragmática dessa pesquisa.

Runeson e Höst (2008) propõem que a realização de um estudo de caso em geral envolve cinco etapas principais:

 Planejamento do estudo de caso: envolve a definição de objetivos, delineamento do caso (sujeitos e unidade de análise), teoria referencial, questões de pesquisa, métodos de coleta, estratégia de seleção.

 Preparação para a coleta de dados: procedimentos, protocolos para coleta de dados e tratamento para a implicação de aspectos éticos da pesquisa são definidos.

 Coleta de evidências: a execução da coleta de dados sobre o caso estudado.  Análise dos dados coletados: permite a obtenção dos achados da pesquisa.

 Relato do estudo de caso: comunica os achados da pesquisa e como ela foi realizada (descrição das etapas anteriores).

O estudo de caso previsto como parte desta tese foi realizado numa organização pública onde o modelo conceitual para governança em BPM foi implementado, avaliado e melhorado sob a forma de um protótipo de um sistema de informação nomeado “Catálogo BPMG”.

3.4.1 Objetivos do Estudo de Caso

Conforme Runeson e Höst (2008), um estudo de caso pode apoiar uma pesquisa satisfazendo os seguintes objetivos:

 Exploratório: objetiva descobrir o que está acontecendo, buscando novos conhecimentos e gerando ideias e hipóteses para novas pesquisas;

 Descritivo: retratando uma situação ou fenômeno;

 Explicativo: procura explicações de uma situação ou um problema, principalmente, mas não necessariamente, na forma de relações causais;

 Melhoria: tenta melhorar um determinado aspecto do fenômeno estudado.

O estudo de caso implementado neste trabalho, conforme narrado no Capítulo 6, teve caráter descritivo visando retratar como os participantes avaliavam o modelo conceitual BPMG sob critérios de clareza de entendimento, utilidade, esforço de operacionalização e abrangência conceitual das dimensões de informação do modelo. O estudo teve também um caráter de melhoria do próprio modelo conceitual proposto.

Tabela 3.2 Desdobramento do objetivo do estudo de caso numa abordagem de pesquisa-design, conforme Wieringa (2009)

Definição do Problema Prático Objetivo Prático Como proporcionar ao escritório de processos e

patrocinadores da iniciativa de BPM da organização um meio eficiente de gestão da informação para a governança das ações de BPM da organização? Quais são as dimensões de informação a serem consideradas?

Aplicar o modelo conceitual BPMG para construção de um catálogo eletrônico de informações voltadas para a promoção da governança em BPM na organização.

Definição do Problema de Conhecimento Objetivo de Conhecimento Quais são e como se relacionam os elementos

conceituais de um modelo de governança em BPM?

Avaliar a clareza de entendimento, utilidade e abrangência das dimensões conceituais de informação do Modelo BPMG.

O objetivo do estudo de caso, no contexto de uma abordagem pesquisa-design, pode ser ainda desdobrado em Objetivo de Conhecimento e Objetivo Prático, conforme Wieringa

(2009). A Tabela 3.2 apresenta esse desdobramento. A contextualização detalhada do estudo de caso é apresentada no Capítulo 6.

3.4.2 Unidade de Análise e Sujeitos da Pesquisa

A unidade de análise da pesquisa foi a organização estudada. Os sujeitos da pesquisa que, de acordo com Runeson e Höst (2008) são aqueles que fornecem as informações do caso, foram participantes da organização que estavam conduzindo iniciativas de implantação de BPM na organização.

Assim como o caso em si, o critério de escolha dos sujeitos foi intencional, o que nos termos definidos por Merriam (1998), é compatível com pesquisas de natureza qualitativa, visando a seleção de fontes de informação que sejam significativas para o fenômeno estudado.

3.4.3 Etapas de Operacionalização, Procedimentos de Coleta e de Análise

de Dados

Alinhada com a estratégia de pesquisa-design, a operacionalização do estudo de caso foi conduzida de acordo com as iterações e procedimentos mostrados na Tabela 3.3. A descrição detalhada das etapas com respectivos resultados é mostrada no Capítulo 6.

Vale esclarecer que a avaliação referente à 2ª iteração na Tabela 3.3 não fez parte propriamente do estudo de caso referido nesta Seção, pois foi realizada junto a especialistas externos sem relação com a organização estudada. Todavia, optou-se por listá-la na tabela para compor o conjunto de iterações que caracterizaram a pesquisa-design como um todo. Esta etapa de avaliação com especialistas é detalhada na Seção3.4 deste capítulo e seu resultado é descrito no Capítulo 6.

A seguir são apresentadas as razões para escolha dos procedimentos de coleta e análise de dados obtidos no estudo. O procedimento de coleta de pesquisa documental (Bowen, 2009) usado na 1ª iteração, caracteriza-se pela análise de documentos e outros artefatos utilizados no fenômeno estudado. Esse procedimento foi selecionado para aplicação neste trabalho em razão de seu potencial de fornecer evidências de como elementos que compõem a governança em BPM estavam sendo utilizados na organização investigada. A pesquisa documental apoiou também a seleção de quais elementos conceituais definidos no Capítulo 5 foram usados para construção da ferramenta “Catálogo BPMG”, disponibilizada para a organização.

A coleta de dados por meio de questionário foi usada em todas as demais iterações exceto a primeira. Um questionário caracteriza-se pela aplicação de um conjunto de perguntas

ordenadas de acordo com um critério predeterminado, que deve ser respondido sem a presença do entrevistador (Marconi e Lakatos,1999) e que tem por objetivo coletar dados de um grupo de respondentes. Nesta pesquisa, esse procedimento de coleta foi selecionado por sua praticidade e flexibilidade de uso. Os questionários foram aplicados via Internet e tiveram questões fechadas e abertas, voltadas para avaliar a clareza de entendimento, utilidade e abrangência das dimensões conceituais de informação da ferramenta Catálogo BPMG.

Tabela 3.3 Etapas da Pesquisa-Design para Construção e Avaliação do Modelo BPMG, destacando procedimentos de coleta e análise dos dados

Itera

ção Etapa de Operacionalização

do Estudo de Caso Procedimentos de Coleta X Procedimentos de Análise

An áli se d e co nt eú do An áli se Qu an tit ati va An áli se Do cu m en tal 1 Construção inicial do

Catálogo BPMG. Pesquisa documental em artefatos gerados na organização T. X Entrevistas semiestruturadas com questões abertas. X

Avaliação do Catálogo BPMG junto a integrantes do EPROC da organização.

Questionário (sujeitos: integrantes do EPROC). X Entrevistas semiestruturadas com questões abertas (sujeitos: integrantes do EPROC). X

2

Construção (atualização) do

Catálogo BPMG. Com base na análise dos dados da etapa anterior. Avaliação do Catálogo BPMG

junto a:

 Participantes do EPROC;  Especialistas Externos.

Questionário (sujeitos: Participantes do EPROC; Especialistas Externos).

X X

3

Construção (atualização) do

Catálogo BPMG. Com base na análise dos dados da etapa anterior. Avaliação do Modelo BPMG

em grupo focal. Discussão em grupo focal (sujeitos: integrantes e parceiros do EPROC). X 4 Construção (atualização) do Catálogo BPMG. Com base na análise dos dados da etapa anterior.

A entrevista semiestruturada (Marconi e Lakatos, 2004) com questões abertas (Mattos, 2005) caracteriza-se por permitir a exploração das respostas dos entrevistados em profundidade sem classificação prévia de alternativas fechadas. Esse tipo de entrevista permite também o aprofundamento do fenômeno estudado junto aos entrevistados através de questões emergentes no momento da entrevista. Esse procedimento foi usado para esclarecer e aprofundar respostas abertas que constavam nos questionários. A entrevista semiestruturada foi também usada em etapas preliminares de preparação do estudo de caso para definir os objetivos do estudo e o contexto da organização.

O procedimento de coleta de discussão em grupo focal (Onwuegbuzie et al., 2009) caracteriza-se por coletar informações em meio a uma conversação coletiva semiestruturada de um grupo em torno de questões centrais de um fenômeno estudado. Isso permite que os membros sejam estimulados a debaterem em torno do objeto de estudo fornecendo informações que talvez não emergissem numa entrevista individual ou questionário. Esse procedimento foi aplicado na 3ª iteração para obtenção de dados complementares como técnica de triangulação de métodos de coleta de dados de avaliação do Catálogo BPMG.

O método de análise de conteúdo (Franco, 2005) (Freitas e Janissek, 2000) permite observar motivos de satisfação, insatisfação ou opiniões subentendidas e natureza dos problemas relatados pelos pesquisados. O método pressupõe que uma parte importante do comportamento, opiniões ou ideias de pessoas se exprime sob a forma verbal. De acordo com Perrien, Chérron e Zins citados por Freitas e Janissek (2000), “a análise de conteúdo torna possível analisar as entrelinhas das opiniões das pessoas, não se restringindo unicamente às palavras expressas diretamente, mas também àquelas subentendidas no discurso”. Esse método foi usado para avaliação dos dados obtidos em entrevistas e questões semiestruturadas dos questionários. O método de análise quantitativa foi usado sobre as questões fechadas do questionário com respostas baseadas em escala de valores. Os resultados do estudo de caso são descritos no Capítulo 6.

3.5 ESTRATÉGIA 2 PARA AVALIAÇÃO DO MODELO CONCEITUAL