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4 Atividade Turística no Parque Estadual de Campos do Jordão e Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão – estudo de

4.4 Análise da Estrutura para Visitação do PE de Campos do Jordão e PE Mananciais de Campos do Jordão

4.4.1 A Estrutura para visitação turística existente no PE Campos do Jordão

O atual Zoneamento do PECJ, formalizado por meio do seu Plano de Manejo de 2015, divide o território da UC em 07 macrozonas distintas, que foram definidos em função de sua biodiversidade, estado de conservação da vegetação do local, necessidade de recuperação a vegetação original, tendo em vista a existência de espécie exótica, pressão antrópica, limites geográficos identificáveis na paisagem (como rios), acessibilidade e situação fundiária, para que sejam, a partir disso, determinadas as possibilidades e formas de uso e de visitação pública sem prévia autorização.

Um dos principais resultados gerados pelo Plano de Manejo de uma UC é o seu zoneamento. Através da definição de setores ou zonas, o zoneamento estabelece normas e objetivos específicos para cada porção do território da UC, permitindo, assim, que ela cumpra a função para a qual foi criada e continue desempenhando papel de relevo à conservação ambiental. (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2015, p.364)

Para um primeiro momento foram definidas sete macrozonas dentro do PECJ:

Intangível, Primitiva, Uso Extensivo, Uso Intensivo, Patrimônio Histórico Natural e Cultural, Recuperação e Uso Especial. Na Tabela 8 são descritos o tamanho e porcentagem de ocupação do território total do Parque para cada uma dessas áreas existentes.

Zona

Área (ha)

Porcentagem (%)

Intangível 1140,82 14,0 Primitiva 4259,34 52,4 Uso Extensivo 272,69 3,4 Patrimonial 24,15 0,3 Uso Intensivo 187,05 2,3 Uso Especial 24,15 0,3 Recuperação 2250,63 27,7 Total 8.130,31 ha 100,0

Tabela 8 - Zoneamento interno e áreas totais das zonas no PECJ Fonte: Fundação Florestal, 2015

Figura 52 - Zoneamento Interno PECJ – Situação Atual Fonte – Fundação Florestal, 2015

O Plano de Manejo do PECJ, publicado em 2015, prevê a redistribuição dessas áreas tendo em vista a recuperação integral da área de 2250,63 ha (27,7%), o que irá ocorrer a partir da extinção da espécie invasora pinus eliottii. Após a consolidação desse processo, a previsão é que o território do PECJ passe a ser distribuído da seguinte forma:

Zona Área (ha) Porcentagem (%)

Intangível 2279,87 28,04 Primitiva 5098,08 62,70 Uso Extensivo 463,66 5,7 Patrimonial 24,15 0,3 Uso Intensivo 263,63 3,24 Uso Especial 24,15 0,3 Total 8.130,31 ha 100,0

Tabela 9 - Áreas totais das zonas no PECJ – após recuperação de área Fonte: Fundação Florestal, 2015

Para cada uma das áreas definidas há uma possibilidade de uso e ocupação definida pelo próprio Plano de Manejo, conforme é observado abaixo:

Legenda Descrição

Zona Intangível

É aquela onde a primitividade da natureza permanece a mais preservada possível, não tolera quaisquer alterações humanas, representando o mais alto grau de preservação. Funciona como matriz de repovoamento de outras zonas onde já são permitidas atividades humanas regulamentadas.

Zona Primitiva Definida como aquela onde tenha ocorrido pequena ou mínima intervenção humana, contendo espécies da flora e da fauna ou fenômenos naturais de grande valor científico. Possui características de transição entre a Zona Intangível e a Zona de Uso Extensivo. O objetivo geral é a preservação do ambiente natural, de seus elementos e processos, permitindo e facilitando as atividades de pesquisa científica.

Zona de Uso Extensivo

Definida como aquela constituída, em sua maior parte, por áreas naturais, podendo apresentar alguma alteração humana para fins educativos e recreativos. Caracteriza-se como uma zona de transição entre a Zona Primitiva e a Zona de Uso Intensivo. Seu objetivo geral é a manutenção de um ambiente natural com mínimo impacto humano, possibilitando atividades de pesquisa e de educação ambiental voltada à interpretação da natureza.

Zona de Uso Intensivo

Definida como aquela constituída por áreas naturais ou alteradas pelo homem. O ambiente é mantido o mais próximo possível do natural, podendo abrigar: centro de visitantes, museus, dentre outras facilidades e serviços. Seu objetivo geral é promover e facilitar a recreação intensiva e a educação ambiental em harmonia com o ambiente

Zona de Uso Especial

Definida como aquela que contém as áreas necessárias à administração, manutenção e serviços da UC, abrangendo habitações, oficinas e outros. Estas áreas serão escolhidas e controladas de forma a não conflitarem com o caráter natural e devem estar, sempre que possível, na periferia da UC. O objetivo geral desta zona é minimizar o impacto da implantação das estruturas ou os efeitos das obras no ambiente natural ou cultural do parque

Tabela 10 – Definição de uso e ocupação de cada macrozona do PECJ Fonte: Fundação Florestal, 2015

A Zona de Uso Intensivo foi estabelecida como a zona a qual a visitação pública é permitida para fins recreacionais e de educação ambiental. Nesse local, que corresponde a atualmente 2,3 % do total do território (187,05 ha) é onde estão concentrados atualmente todos os equipamentos, instalações e serviços direcionados para melhor receber os visitantes, a qual será descrita e analisada a seguir.

Ao comparar as informações descritas na Tabela 11, extraída do Plano de Manejo do PECJ de 2015, com o que foi constatado nas visitas in loco na UC estudada, foi evidenciado haver um grande distanciamento entre a teoria prevista nesse quadro e a prática constatada enquanto estive presente na UC, especialmente no que refere ao item relacionado às normas e restrições, pois muito do que está previsto nesse item não foi encontrado como forma de aviso em nenhuma placa informativa presente no PECJ. Não foi observada ainda, nenhuma fiscalização para garantir o seu cumprimento, é de conhecimento do visitante ou até mesmo dos próprios funcionários da UC estudada.

Esse distanciamento entre o que se teoriza no Plano de Manejo e o que é evidenciado na prática, fragiliza a proposta de visitação, tendo em vista o fato de tratar de uma Zona que embora preveja a autorização para visitação pública ressalta, por meio do mesmo documento, ser uma Zona com (...) presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, do que diz respeito a sua fauna e com o nível de fragilidade alta a média com relação a sua vegetação, fauna, cursos d´água existentes e patrimônio histórico-cultural material e imaterial.

Dentre as normas e restrições previstas e não respeitadas de fato ou existentes em um número insuficiente para garantir a preservação dos elementos da natureza existentes na Zona de Uso Intensivo estão: a velocidade média muito acima da recomendada pelos veículos que circulam dentro da UC (inclusive dos funcionários); a falta de fiscalização e efetivo monitoramento das trilhas abertas para visitação, a falta de fiscalização suficiente para garantir o combate a caça, pesca, ocupação ilegal, extração vegetal, fogo, visitação irregular e outras atividades danosas; o número de placas de sinalização e estruturas informativas que permitam estabelecer a efetiva comunicação ao turista, a fim de lhe permitir um maior conhecimento, valorização e respeito com relação a fauna e flora visitada além como uma maior conscientização ambiental após visitar a UC; a falta de um estudo efetivo, ou pelo menos a previsão de algo voltado a um plano de risco e contingência de todas as trilhas; nenhuma previsão de construção de pousadas e estrutura de apoio a pesquisadores; inexistência de um programa de coleta seletiva de lixo ou estrutura de esgoto e melhoria das condições de saneamento existente, sem qualquer previsão de instalação de uma melhor estrutura nesse sentido.

Legenda Descrição

Localização

Porção central do PECJ. Estende, a partir da guarita, como um buffer de 1km às margens da estrada Campos para Minas Gerais, até a altura da Trilha da Cachoeira, em aproximadamente 3,5 km de extensão ao longo do Rio Sapucaí. O Bosque Vermelho e o Retiro (área dos fornos) também pertencem a esta zona, acumulando a caracterização de Zona de Patrimônio (ver detalhes no mapa de Zoneamento).

Fragilidade Alta a média.

Vegetação Nas áreas próximas ao centro de convivência e restaurante existe uma coleção de espécies exóticas não invasoras, com destaque para os gêneros Pinus sp e Ácer sp. Há também fragmentos de Floresta Ombrófila Densa Alto Montana, Floresta Ombrófila Mista, Campos Naturais de Altitude e árvores nativas isoladas.

Marcante vegetação ciliar dos córregos Sapucaí-Guaçu, Canhambora e Galharda.

Fauna Presença de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção que possivelmente utilizam a área como corredor ecológico entre as zonas de uso extensiva e primitiva. Destaque para presença de espécies ameaçadas de avifauna, como a Amazona vinacea.

Patrimônio Histórico-

Cultural

Material e Imaterial

Presença de construções que fazem parte do processo histórico de ocupação regional e do parque, tal como a antiga Serraria e demais construções administrativas.

Drenagem Presença de cursos d’água, como o Rio Sapucaí-Guaçu, o Córrego da Galharda, o Córrego do Canhambora e outros afluentes destes.

Uso consolidado Área com grande parte da cobertura natural bem conservada, geralmente de alta declividade, cortada por estradas e trilhas de manejo e fiscalização, além de uso público em trilhas específicas (Canhambora e dos Campos).

Normas e Restrições Não são permitidas espécies exóticas na recuperação/restauração ambiental;

Não são permitidos o uso de buzinas e a emissão de sons acima do estabelecido pela legislação em vigor;

Não são permitidos o acampamento e o uso de fogueiras; trânsito de veículos deverá ser devidamente sinalizado, com velocidade máxima de 40 km;

Realizar fiscalização constante, visando combater caça, pesca, ocupação ilegal, extração vegetal, fogo, visitação irregular e outras atividades danosas;

Implantar e manter sinalização, estruturas informativas e outras formas de comunicação ao turista. Os materiais utilizados para a sinalização e comunicação devem ter sua procedência comprovada (ex.: madeira certificada), serem ambientalmente adequados e não poluentes;

Garantir a manutenção dos acessos e trilhas, de maneira que essas ofereçam boa trafegabilidade e segurança aos usuários, sempre em acordo com a legislação ambiental e especificidades da UC;

Realizar estudos voltados a um plano de risco e contingência de todas as trilhas;

Definir e estabelecer, gradativamente, a capacidade de suporte das estruturas e espaços voltados aos usos que partem ou estão instalados nesta zona, com destaque para as trilhas abertas à visitação;

Estudar a possibilidade de fechamento temporário da Trilha da Cachoeira para a adoção de medidas de restauração ecológica, segurança e pesquisa de nova espécie de ictiofauna não descrita pela ciência – fomentar possíveis parcerias com o Instituto de Pesca- APTA para pesquisa dessa espécie;

Reformar, adequar e/ou manter as estruturas voltadas ao uso apontadas pelo Programa de Gestão Organizacional; Reformar, adequar e/ou criar pousadas e estrutura de apoio a pesquisadores na área do Retiro; Garantir a harmonia das construções e reformas com o ambiente;

Os materiais para a construção/reforma de estruturas não devem fomentar a exploração dos recursos naturais da UC; Avaliar a implantação de estruturas educativas, como o “museu a céu aberto”;

As atividades previstas devem levar o visitante a entender a filosofia, as práticas de conservação da natureza e do patrimônio histórico-cultural, e, os tipos de uso associados a este contexto. Atividades recreacionais como caminhada, banhos de cachoeira e ciclismo, podem servir neste sentido;

Realizar coleta seletiva do lixo produzido no parque;

Implantar estrutura de tratamento de esgoto gerado na UC e aprimorar medidas de saneamento básico, utilizando técnicas sustentáveis; Permitir a coleta de sementes vinculada a projetos de recuperação ambiental, mediante à concordância com a legislação vigente, à apresentação de um projeto de manejo e à aprovação pela gestão da UC;

Realizar o monitoramento da área e o enriquecimento da flora e fauna;

Adotar medidas para conter e corrigir os impactos causados pela presença humana (ex.: contenção de talude);

Tabela 11 – Zona de Uso Intensivo do PECJ - Descrição Fonte: Fundação Florestal, 2015

Além dessas fragilidades apontadas, há ainda: a total ausência de um programa com a perspectiva de levar o visitante a entender a filosofia, as práticas de conservação da natureza e do patrimônio histórico-cultural quando estiver visitando a UC pesquisada, o que poderia ocorrer por meio de atividades recreacionais como caminhada, banhos de cachoeira e ciclismo monitorados por profissionais capacitados, algo que alinharia essas atividades aos princípios de educação ambiental, por exemplo.

Na verdade, os poucos monitores são raramente acionados pelos visitantes que circulam por sua vez pela Zona de Uso Intensivo sem qualquer monitoramento que garanta sua segurança nas trilhas ou o seu respeito com relação à fauna e flora visitada nem tão pouco seu melhor entendimento sobre o que significa de fato visitar uma Unidade de Conservação e a importância de tê-la em nossa vida.

Na Zona de Uso Intensivo do PECJ, destinada a pratica do turismo e atividades recreacionais, estão diversos equipamentos de apoio à visitação. Alguns desses equipamentos são gerenciados pela própria administração do Parque enquanto que outros são administrados e comercializados por permissionários, os quais detém a concessão de exploração de produtos e serviços dentro do PECJ, por contratos estabelecidos com a gestão do Parque Estadual de Campos do Jordão.

ADMINISTRAÇÃO PECJ ADMINISTRAÇÃO POR CONCESSÃO

Centro de Visitantes. Serraria - Desativada

Três áreas para prática de pic nic. Capela.

Parque infantil (playground) Centro de Monitores

Hospedaria – Apenas pesquisadores Centro de Lazer – Desativado

Churrasqueiras Viveiro de Plantas 04 Trilhas Espaço Araucária Guarita de segurança

Equipamentos de tirolesa e arvorismo Loja de souvenires/artesanato.

Loja para comercialização de práticas de tirolesa, arvorismo e aluguel de bicicletas Passeio de Trenzinho (30 minutos de duração).

Restaurante. Cafeteria

Tabela 12 – Instalações, Equipamentos e Serviços disponíveis no PECJ. Fonte: Fundação Florestal, 2015.

Figura 53 - Instalações e equipamentos disponíveis aos visitantes - Zona de Uso Intensivo do PECJ Fonte: Trabalho de campo, 2018. Autor da foto: Pozati

Figura 54 - Instalações e equipamentos disponíveis aos visitantes - Zona de Uso Intensivo do PECJ (2) Fonte: Trabalho de campo, 2018. Autor da foto: Pozati

Apesar da diversidade, muitos dos serviços e instalações de entretenimento são cobrados a parte, especialmente quando são gerenciados por permissionários (iniciativa privada), e que nesse caso não foi verificada nenhuma política de preços diferenciados para a comunidade que vive no entorno das UCs.

Os preços dos ingressos e serviços são cotados em função do poder aquisitivo da demanda que frequenta o parque, em sua maioria de alto poder aquisitivo, tendo em vista o perfil do turista que frequenta Campos do Jordão, o que leva essa comunidade a raramente ter condições financeiras para usufruir desses serviços e instalações, mesmo tratando de um espaço público.

Tal fato desestimula a comunidade que vive no entorno a frequentar o PECJ, por ser excluída do local por razões financeiras decorrentes da mercantilização da natureza pela iniciativa privada, mesmo considerando tratar de um local não foi idealizado para esse fim.

Serviço Valor (R$) Administração

Trilhas Gratuito Pública/Gestão PECJ

Café R$ 4,00 – xícara Privada/Concessão

Aluguel Bicicleta (Hora - Adultos)

R$ 35,00 (1ª hora) e R$ 20,00 (demais horas)

Privada/Concessão

Arborismo R$ 40,00 Privada/Concessão

Tirolesa (Trilha do Rio Sapucaí)

R$ 60,00 Privada/Concessão

Passeio de Trenzinho R$ 15,00 (adulto) / R$ 12,00 (mais 60 anos) e R$ 10,00 (Crianças até 12 anos)

Privada/Concessão

Ingresso Parque R$ 15,0053 Pública/Gestão PECJ

Almoço (Gasto Médio por pessoa/adulto)

R$ 70,00 Privada/Concessão

Aluguel de Churrasqueira R$ 30,00 por quiosque Pública/Gestão PECJ Visita Centro de Visitantes Gratuito Pública/Gestão PECJ

Visita Espaço Araucária Gratuito Pública/Gestão PECJ

Playground Gratuito Pública/Gestão PECJ

Espaço para pic nic Gratuito Pública/Gestão PECJ

Tabela 13 – Composição dos preços dos serviços e equipamentos do PECJ Fonte – Fábio Pozati, 2019

Essa questão se agrava quando é observada uma evidente diferença entre o estado de conservação e disponibilidade para uso pelos visitantes das instalações e equipamentos administrados pelo poder público em relação àqueles de responsabilidade da iniciativa privada. Enquanto há diversos equipamentos públicos em péssimo estado de conservação, os equipamentos mantidos pelos permissionários, que possuem uma boa situação financeira graças aos lucros decorrentes dos seus altos preços praticados (e

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Valor do ingresso: R$15,00 por pessoa (estudante paga metade com apresentação da carteirinha). Automóvel, idosos e crianças de até 12 anos são isentos de pagamentos.

inviáveis para grande parte da comunidade local), conseguem manter seu patrimônio em bom estado de conservação e renovados, na medida em que surgem novos modelos disponíveis no mercado ou quando preço cobrado pelo o conserto do patrimônio atual é mais alto ou similar ao de aquisição de um novo equipamento.

EQUIPAMENTO/INSTALAÇÃO ESTADO DE

CONSERVAÇÃO

DISPONIBILIDADE PARA