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3 Atividade Turística em Unidades de Conservação

3.1 Influência dos meios de transportes e tecnologia da informação na atividade turística em Unidades de Conservação

3.1.1 A evolução dos meios de transportes e sua influência na atividade turística em UCs

A evolução dos sistemas de transportes sempre influenciou diretamente o fluxo de viajantes em todo o mundo e contribuiu sensivelmente para o que o número de turistas chegasse aos valores aqui apresentados. A diferença no decorrer do tempo foi o meio de transporte mais utilizado pelos viajantes, pois enquanto os trens britânicos foram decisivos para o sucesso de Thomas Cook na organização de viagens terrestres de curta e média distância no século XIX, os navios transportando viajantes a partir da Europa para o oriente e continente americano contribuíram para o aumento de viagens internacionais no mesmo período, mas quando a Segunda Guerra Mundial termina inicia uma mudança significativa dos modais utilizados pelos viajantes, que para curtas e médias distâncias passam do ferroviário para o rodoviário e, para as longas distâncias, passam do marítimo (longas distâncias) para o aéreo.

Os trens, em especial no Brasil, deixaram de ser utilizados para fins de deslocamento de passageiros a partir da década de 1950 por conta da vinda da indústria automobilística brasileira, para tornarem modais utilizados apenas para pequenos deslocamentos visando estritamente o lazer, entretenimento e contemplação da paisagem ou até mesmo como uma forma de resgate histórico. Em Campos do Jordão, por exemplo, onde estão localizados os Parques Estaduais de Campos do Jordão - PECJ e Parque dos Mananciais de Campos do Jordão - PEMCJ, há a oferta desse tipo de serviço por meio da Estrada de Ferro de Campos do Jordão17.

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O mesmo processo ocorre com os navios, que deixaram de deslocar passageiros de um continente a outro para virarem resorts flutuantes, onde um navio de mais de 140 mil toneladas e capacidade para mais de 5.000 passageiros oferece tamanha diversidade de equipamentos de lazer, como piscinas, toboáguas, pista de patinação no gelo, shows, festas, cassinos, boates, cinema além de uma gastronomia farta e de alto padrão de qualidade, o que o aproxima muito mais a um tipo de resort do que um meio de transporte propriamente dito. Nesse caso, os destinos percorridos por esses navios são meros coadjuvantes de um show estrelado pelo próprio navio em si, cada vez maior e com mais atrativos voltados não mais a um turista de alto poder aquisitivo, mas ao turista de classe média, principalmente aquele vindo dos Estados Unidos com destino às praias caribenhas.

A mudança entre os modais utilizados a partir da Segunda Guerra Mundial foi essencial para que o turismo se transformasse de uma atividade elitizada para uma atividade massificada, onde a maior parte da população mundial passou a ter acesso às viagens de lazer, muito em função do aumento da redução do tempo de deslocamento entre o lugar de origem e destino, aumento da segurança dos meios de transporte utilizados e principalmente, pelo barateamento dos valores das passagens, que em muitos casos é o item onde se gasta mais em uma viagem. É como se o mundo ficasse menor e mais acessível aos humanos a cada novo avanço dos modais aéreo e rodoviário.

Associado a esses elementos observa-se ainda a melhoria significativa dos terminais aeroportuários, que passam a oferecer uma estrutura de serviços e conveniência aos seus usuários similar a de um grande shopping center e a exemplo desses shoppings, a consumir um volume de alimentos, energia e por consequência produção de lixo similares a cidades de 10 mil habitantes. A ampliação e sofisticação dos aeroportos vieram para atender uma demanda crescente de voos, destinos e pessoas impulsionadas pelo aumento crescente da segurança de voo, maior rapidez e preços mais acessíveis em função da sua evolução tecnológica das aeronaves, cada vez mais rápidas e econômicas, além da melhor capacidade de gestão das empresas aéreas ao longo do tempo, contribuindo assim para o barateamento das passagens aéreas tornando-as acessíveis a um número maior de pessoas em todo o mundo.

No transporte rodoviário, ocorreu nos últimos 50 anos uma melhoria significativa da segurança dos automóveis, cada vez mais equipados com equipamentos que garantam ao mesmo tempo um maior conforto de seus passageiros e segurança a bordo, principalmente com relação da instituição e obrigatoriedade de equipamentos para prevenir ou para atenuar o choque físico em caso de um acidente.

Tal melhoria ocorreu em função de um mercado mais competitivo entre as diferentes montadoras de automóveis, o que levou a um consumidor mais exigente, e

principalmente em função de uma política governamental que obrigou as empresas automobilísticas de muitos países, como o Brasil, por exemplo, a equipar seus automóveis com equipamentos como airbag (bolsas infláveis acionadas em caso de impacto do veículo) e Antilock Braking System - ABS (Sistema de frenagem à prova de travamento das rodas) desde 201418.

Além dos veículos em si, a revisão da legislação associada ao transito em muitos países, como o Brasil, por exemplo, estimulou a conscientização dos motoristas sobre a responsabilidade de dirigir e os riscos que podem estar associados a essa pratica. Dentre as decisões tomadas pelos governos na promulgação do novo Código de Trânsito destacam-se as multas mais onerosas ao motorista, impedimento de dirigir após ingerir bebidas alcoólicas com possibilidade de suspensão da carteira de motorista e ampliação do treinamento e exigência para obter a autorização para poder dirigir veículos automotores. A legislação mais rigorosa associada à intensificação da fiscalização de seu cumprimento pelas autoridades governamentais contribui assim para um aumento da confiança em viajar por meio de automóveis e ônibus em todo o mundo.

A ampliação e aprimoramento da malha rodoviária também contribuem para o estimulo do número de viagens. Países ou estados onde as estradas existentes contam com pavimentação em bom ou excelente estado de conservação costumam observar um número maior de visitantes em seus destinos comparado a regiões onde as estradas estão em péssimas condições de conservação. Um exemplo é o o Estado de São Paulo, que embora possua um número menor de localidades de interesse turístico comparado ao que se encontra no Estado de Minas Gerais, apresenta, dente os destinos paulistas, como Campos do Jordão, um número de visitas por ano muito maior em comparação aos destinos mineiros, como Monte Verde, por exemplo, de acordo com os dados do Ministério do Turismo (2019). Pode-se associar esse fato a sensível diferença de condições de acesso existentes entre esses Estados, considerando o acesso da capital aos principais destinos turísticos dos respectivos estados.

A qualidade do acesso influencia a decisão do viajante, que não quer se deslocar por um caminho que irá lhe gerar, para ele e sua família quando for o caso, transtornos e insegurança. Isso significa dizer também que quando um destino ou uma Unidade de Conservação aprimora seu acesso abre-se um precedente para um maior número de pessoas visitá-los, o que necessariamente não é algo favorável para esse destino ou UC, já que o acesso facilitado pode atrair um número de turistas que vai além da capacidade de carga desses lugares, comprometendo assim a capacidade de manutenção ou até mesmo existência de sua natureza ou cultura.

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Em Campos do Jordão, a facilidade de acesso ao município e aos Parques estudados (desde o centro do Município) constituem em um importante fator de estímulo para que os turistas visitem o PECJ e certamente será assim quando o PEMCJ for aberto para visitação, já que a UC potencial está ainda mais próxima e com melhor estrada de acesso desde o centro do Município de Campos de Jordão, quando comparado ao próprio PECJ19.