• Nenhum resultado encontrado

4 Atividade Turística no Parque Estadual de Campos do Jordão e Parque Estadual dos Mananciais de Campos do Jordão – estudo de

4.3 O Meio Biótico e sua relação com a prática do turismo no PE Campos do Jordão e PE dos Mananciais de Campos do Jordão.

4.3.1 Fauna presente no PE Campos do Jordão e PE dos Mananciais de Campos do Jordão

Apesar da existência marcante da espécie invasora de Pinus, especialmente no PEMCJ, a fauna presente nas UCs estudadas é variada, pois dentro da composição identificada são encontradas no PECJ, por exemplo, várias espécies de mamíferos, como a onça suçuarana (de hábitos noturnos), o cateto, o macaco-prego, a capivara, o veado mateiro e o esquilo, além das espécies atualmente ameaçadas de extinção segundo lista do IBAMA, como o papagaio de peito roxo, onça parda e jaguatirica.

Encontramos ainda no PECJ o jacu, gralha, seriema, tico-tico e sabiá-laranjeira. Répteis como jararacas e quebra-quebra também são encontrados por lá, além de uma grande diversidade de espécies de rãs, sapos e pererecas. No total, estão catalogadas mais de 186 espécies de aves no PECJ, segundo a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo.

Dentre as espécies encontradas nas obras consultadas de Barbosa (2008) e Willis e Oniki (1981) destacam-se aves muito procuradas por caçadores como o trinca-ferro (Saltator similis), tiriva (Pyrrhura frontalis), maitaca (Pionus maximiliani), macuco (Tinamus solitarius), jacuguaçu (Penelope obscura bronzina), e capueira (Odontophorus capueira), além pintassilgo (Sporagra magellanica), o canário-da-terra (Sicalis flaveola), além do papagaio-do-peito-roxo (Amazona vinacea), esse último ameaçado de extinção.

Essa diversidade de espécies é dificilmente encontrada em outros lugares, e por isso são valorizadas pelo mercado de caça e atraem um tipo de visitante que podem caso não seja devidamente supervisionado, comprometer o equilíbrio, quantidade e diversidade de aves no local. Por isso, é fundamental que a gestão do PECJ delimite o acesso da visitação pública a locais onde a existência desses pássaros não seja comprometida e evitem o acesso ilegal desses caçadores dentro dos limites do parque.

Por outro lado, essas aves mais difíceis de serem encontradas poderiam estimular a prática do turismo de observação no PECJ, atividade que possui muitos adeptos

em países como Estados Unidos e Canadá, por exemplo, e que demonstra ser bem menos impactante ao ecossistema local quando comparada a atividade de caça, embora nesse caso ainda deva ter uma fiscalização para evitar que os turistas observadores provoquem mudanças nos hábitos das aves, como na sua alimentação, ao colocar alimentos estranhos ao meio na tentativa de chamar a atenção desses pássaros para melhor observá-los.

No caso do PEMCJ, há uma interessante diversidade de avifauna, porém com uma quantidade de espécies menor quando comparado ao PECJ. Isso ocorre em função do território menor do PE dos Mananciais e por conta da inexistência de estudos mais aprofundados sobre esse assunto, tendo em vista a data de criação mais recente dessa UC em comparação a outras Unidades de Conservação, como o próprio PECJ.

PEMCJ é uma unidade de conservação relativamente pequena (~500 ha) e foi criado recentemente (1993). Não existem referências específicas para a avifauna da região, mas a sua proximidade com a sede do município de Campos do Jordão (situado a cerca de 5 km) e do PECJ permitem que os dados secundários levantados para estes dois locais sejam também utilizados para caracterizar, ainda que de modo preliminar, o PEMCJ. (FUNDAÇÃO FLORESTAL, 2015, p. 203)

Ainda que secundários, os dados disponíveis no Plano de Manejo do PEMCJ permitem desde já algumas inferências sobre a avifauna local. Além disso, foram realizados, segundo o mesmo Plano de Manejo (2015), 35 horas de observações sistematizadas sobre o assunto, o que permitiu identificar, segundo o mesmo documento (...) 200 registros de indivíduos pertencentes a 55 espécies de aves, distribuídas em sete (07) ordens e 24 famílias. Segundo o mesmo estudo a família Tyrannidae foi a mais representativa, com nove (09) espécies registradas. De todas as espécies registradas (...) 17 são consideradas endêmicas do bioma da Mata Atlântica e três (03) consideradas ameaçadas de extinção de acordo com as listas estadual, federal e global..

A avaliação da avifauna do PEMCJ, mesmo que preliminar, demonstra desde já um grande potencial turístico para o turismo de observação, o que pode ser ampliado quando houver pesquisas mais amplas por meio de trabalhos científicos com técnicas investigativas mais apuradas, que tendem a identificar um número ainda maior de espécies de aves que habitam ou transitam esse local, o que certamente motivará o aumento da visitação por aqueles que procuram os locais que detém espécies exóticas de pássaros para contemplar, observar e fotografar, a exemplo do que foi identificado e proposto para o PECJ.

Com relação aos animais de grande, médio e pequeno porte presentes no PECJ, o que foi observado, segundo o mais recente Plano de Manejo da UC, de 2015, é uma incerteza de quais animais são de fato encontrados ou podem ser considerados endêmicos na área do Parque, pois há diferenças de registros entre os dados provenientes de estudos

já publicados a respeito (dados secundários) e amostras coletadas nos últimos anos para subsidiar as informações disponibilizadas no próprio Plano de Manejo (dados primários).

Optou então por considerar nesse trabalho apenas aqueles animais efetivamente observados na coleta de amostragem para compor o Plano de Manejo do PECJ de 2015, quando foram identificados e catalogados, segundo o próprio documento: sessenta e três espécies de mamíferos no PECJ e em seu entorno. Entre as espécies de mamíferos cuja presença foi evidenciada no PECJ e em seu entorno estão dezesseis espécies consideradas atualmente sob algum grau de risco de extinção nos estados de Minas Gerais (onze espécies), São Paulo (quinze espécies), nacionalmente (quatro espécies) ou em nível global (duas espécies). Dentre as espécies ameaçadas há um predomínio de mamíferos de médio e grande porte, com destaque para quatro membros da família Felidae (Leopardus pardalis, Leopardus tigrinus, Leopardus wiedii e Puma concolor). No caso do PEMCJ, foram identificados, segundo seu Plano de Manejo de 2015, dezesseis espécies da mastofauna que podem ser enquadradas atualmente sob algum grau de risco de extinção, nos estados de Minas Gerais (onze espécies) e/ou São Paulo (quinze espécies), Brasil (quatro espécies) e duas espécies pela IUCN.

Apesar de não haver um dado mais preciso sobre quais animais de fato são encontrados ou quais espécies podem ser consideradas endêmicas nas áreas do PECJ e, sobretudo no PEMCJ, há de considerar que as UCs estudadas possuem um número expressivo e diversificado de animais dos mais variados portes, muitos dos quais ameaçados de extinção quando comparados ao que existe no Estado de São Paulo, Minas Gerais, Brasil e até mesmo no mundo. Isso ocorre em função da diversidade de tipos de vegetação existentes nas UCs estudadas, o que favorece, em especial, a conservação de pequenos mamíferos. Por essa razão, a existência nessas UCs de áreas com alto grau de preservação como as Florestas Ombrófilas, Campos de Altitude e FOD é decisivo para a continuidade da fauna identificada nessas UCs.

Figura 48 - Espécies Ameaçadas encontradas nas trilhas do PECJ Fonte – Fundação Florestal, 2015

A prática do turismo, de forma planejada, direcionada e, portanto, controlada nesses locais, poderá colaborar para a valorização e por consequência, manutenção da fauna e flora local, por meio de ações, ainda inexistentes, que poderiam fazer do visitante um defensor ativo desses elementos, desde que esse visitante conheça e entenda a importância, diversidade e até mesmo raridade de elementos de flora e fauna que pode encontrar quando visita o PECJ ou quando visitará o PEMCJ.

Vale ressaltar ainda que os elementos da fauna e flora considerados como espécies bandeiras52 pelo Plano de Manejo dos Parques estudados, como a Araucária angustifólia – considerada hoje como símbolo do PECJ, e o Papagaio de Peito Roxo (Amazona vinacea), atualmente ameaçado de extinção, poderiam ser transformados em personagens vinculados á imagem dessas UCs, o que certamente favoreceria o posicionamento dos Parques frente aos seus visitantes, seja na percepção da importância da sobrevivência dessas espécies, práticas de educação ambiental frente aos estudantes do ensino fundamental e médio, conscientização dos visitantes sobre o patrimônio natural existente e até mesmo como elementos utilizados na comercialização de souvenires produzidos a partir de materiais disponíveis no entorno por meio da comunidade que vive no entorno, obtendo assim uma fonte de renda alternativa para essa comunidade associada a uma imagem estabelecida a partir desses elementos típicos do flora e fauna do PECJ e PEMCJ.

O aumento do número de placas de informação no decorrer das trilhas pode melhorar a percepção e conhecimento do visitante com relação à flora e fauna encontrada no PECJ e deve ser algo imprescindível no planejamento e preparação das trilhas do PEMCJ, sem que para isso necessite de um alto investimento ou contratação e qualificação de pessoal. Essas novas placas, produzidas com material e layout contextualizados ao local, poderiam trazer informações de rápida leitura, mas que ao mesmo tempo sejam extremamente úteis ao visitante, com dados, por exemplo, como o nome a árvore que está sendo vista (com nome científico e popular), idade estimada e alguma curiosidade sobre o seus hábitos de vida.

Da mesma forma, poderiam ser colocadas placas com imagens, nomes (científico e popular) e hábitos alimentares dos animais presentes no PECJ e PEMCJ e que foram vistos ao no decorrer ou próximos às trilhas existentes.

52 As espécies bandeiras foram escolhidas em função da sua vulnerabilidade, atratividade, representatividade e, principalmente, pelo seu carisma junto ao público visitante e residente em Campos do Jordão/SP, de acordo com o Plano de Manejo do PECJ (2015)

Figura 49 - Exemplo de Sinalização Proposta para as trilhas do PECJ e PEMCJ Fonte: Trabalho de campo, 2018. Autor da foto: Pozati

Conforme abordado anteriormente, a tecnologia da informação atualmente disponível no mercado pode servir como importante aliado frente à conscientização e valorização dos visitantes com relação à flora e fauna local. Nesse sentido, pode ser oferecida ao visitante a possibilidade de baixar em seu celular faixas de áudio ou podcasts disponíveis no site oficial do PECJ e PEMCJ com curiosidades sobre a fauna e flora local, as quais poderiam ser ouvidas de seus smartphones enquanto percorre as trilhas, tornando sua experiência muito mais marcante e enriquecedora para seu conhecimento sobre o local visitado.

Vale destacar ainda que o PECJ conta espaços já construídos e disponíveis para os visitantes, como o Centro de Exposições e Espaço Araucária, mas que estão atualmente subaproveitados, o que os leva a uma baixa frequência ou até mesmo desconhecimento por parte dos visitantes, que em grande parte não são motivados a conhecer esses locais, pois não há atrativos nesses espaços suficientes para atraí-los.

O que é observado atualmente nesses locais são exposições estáticas, desatualizadas e sem nenhuma instalação e uso de recursos multimídia para interagir com os visitantes, como o que normalmente ocorre em exposições ou locais destacados em função do sucesso de público e crítica.

Figura 50 - Espaço Araucária - PECJ

Fonte: Trabalho de campo, 2018. Autor da foto: Pozati

Embora o acervo desses locais seja importante para a exposição de trabalhos de educação ambiental ou recebimento de excursões de estudantes para esse fim (Centro de Exposições) ou para expor informações sobre a Araucária, seu fruto, composição, aplicações e processo reprodutivo (Espaço Araucária), não há nada que envolva o visitante e faça da experiência de visita a esses espaços algo interessante ou que estimule esse visitante a divulgar sobre esses locais em suas redes sociais, por exemplo, recomendando a experiência para seus amigos e parentes.

Esses espaços poderiam ser utilizados para atraentes exposições itinerantes atualizadas pelo menos a cada três meses. Essas exposições seriam compostas, por exemplo, com mostras de fotos e vídeos produzidos pelos próprios visitantes e monitores quando percorrem as trilhas, além de curiosidades sobre a fauna e flora local, resultados de pesquisas produzidas ou até mesmo workshops (planejados e divulgados com antecedência) de biólogos, ambientalistas, ornitólogos, veterinários, historiadores ou geógrafos sobre algumas peculariedades do PECJ ligadas a suas respectivas áreas.

Poderia ainda pensar em produzir um vídeo institucional, exibido a cada trinta minutos, em um desses locais que fosse capaz de estimular o visitante a conhecer o Parque por meio das visitas monitoradas com pessoas da localidade devidamente preparadas para tal fim, o que certamente iria ampliar o nível de conhecimento, entendimento e valorização do visitante com relação à Unidade de Conservação e otimizaria a ocupação do Centro de Exposições e Espaço Araucária.

Figura 51 - Centro de Exposições - PECJ Fonte: Trabalho de campo, 2018. Autor da foto: Pozati

Infelizmente, o subaproveitamento de locais como o Centro de Exposições e Espaço Araucária não é uma exceção ao que pode ser entendido como oferta turística do Parque Estadual de Campos do Jordão, como é mais bem analisada no tópico a seguir, que aborda especificamente esse assunto.

4.4 Análise da Estrutura para Visitação do PE de Campos do Jordão e PE