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3.2. Enquadramento metodológico

3.2.2. Estudo preliminar

Caracterização da amostra do estudo preliminar

O estudo preliminar consistiu num conjunto de entrevistas exploratórias semiestrutura- das, dirigidas a uma amostra de conveniência constituída por quinze designers, dos quais foram obtidas respostas completas de sete designers seniores, oriundos da Austrá- lia, Portugal e EUA, todos eles com dez a vinte e cinco anos de experiência profissional, quatro do sexo feminino e três do sexo masculino, sendo cinco freelancers e dois traba- lhadores por conta de outrem.35As entrevistas tiveram lugar entre Janeiro e Fevereiro de

2014 e foram conduzidas remotamente através de sistemas de comunicação diferida, tais como o email ou diversos sistemas de instant message. Ao momento das entrevistas, a atividade profissional de todos os inquiridos centrava-se no design gráfico, e nenhum dos inquiridos desenvolvia outra atividade profissional paralela.36

Instrumento e procedimentos

As entrevistas do estudo preliminar utilizaram como ponto de partida um questionário. As perguntas deste questionário tentam obter informação sobre a relação entre o desig- ner e a criatividade, e sobre o exercício da criatividade na prática do dia-a-dia. O ques- tionário base é composto pelas seguintes perguntas:

1. How would you discribe your creative process? Does it go through specific

steps in a specific order, is it chaotic, is it iterative?

2. How do you go about creating new ideas? Do you have specific creative

strategies or tricks to be more creative?

35. Dados aferidos ao momento das entrevistas.

36. Para os devidos efeitos, tanto nas entrevistas como no inquérito, define-se "atividade profissional" como qualquer tipo de atividade geradora de rendimentos praticada pelo sujeito com regularidade.

3. Do you reuse and repurpose stuff?

4. Think about your daily work routine. How much of your time is spent doing:

a. Nothing, or totally unrelated stuff;

b. Searching for new ideas / solutions for a particular job;

c. Developing new stuff just because you feel like it;

d. Doing repetitive tasks / copy & paste / reusing stuff;

5. What are your main sources of inspiration? Do you actively search for new

sources of inspiration?

6. What type of work do you do? Is it more print, web?

7. Do you work alone, or do you get feedback from other people (wife, kids,

colleagues, neighbors)?

8. What would you say is the weight of hand-drawing/sketching in your work?

And how frequent is it?

Em alguns casos, outras perguntas foram colocadas com o objetivo de obter mais informação sobre aspetos focados em algumas das respostas, nomeadamente em relação aos seguintes tópicos:

– Relação entre a utilização do desenho à mão livre versus utilização do computador

– Considerações sobre estilo: se o inquirido considera que desenvolveu um estilo próprio, e em caso afirmativo, em que medida é o seu estilo fruto da sua criati- vidade ou das suas fontes de inspiração; e se tentou imitar ou exercitar diferen- tes estilos.

Conclusões do estudo preliminar

As principais conclusões do estudo preliminar foram as seguintes:

1. O processo criativo dos designers é geralmente composto por fases distintas, das quais se podem destacar três:

a) Fase de pesquisa;

b) Fase de produção de ideias;

c) Fase de avaliação das ideias produzidas.

2. O processo criativo é extremamente dinâmico e iterativo: as fases, apesar de distintas, podem repetir-se inúmeras vezes e em qualquer ordem, com ex- ceção de uma fase de pesquisa inicial que ocorre sempre (cf. ponto 4 abaixo).

3. Apesar de existir um número considerável de técnicas formais específicas para a produção de ideias novas e para a potenciação da criatividade, a maio- ria dos designers desconhece-as ou não as utiliza, recorrendo a um processo informal e intuitivo de geração de ideias.

4. Os designers recorrem invariavelmente a fontes de inspiração, pelo menos numa fase inicial do projeto, seja qual for o tipo de projeto.

5. A maioria dos designers tem um conjunto restrito de fontes de inspiração e não procura deliberadamente novas fontes.

6. O conceito de incubação cunhado por Wallas (Wallas, 1926) continua a ser válido, pois descreve uma etapa do processo criativo de alguns dos designers entrevistados.

7. Muitos designers passam quase metade do seu dia de trabalho a executar ta- refas repetitivas ou a reaproveitar soluções prévias.

8. Há uma tendência para a digitalização da "matéria prima" da criatividade: a maioria das fontes de inspiração existe no computador, seja online ou offline, e o processo criativo decorre quase exclusivamente no computador.

9. Há uma tendência para a digitalização do próprio processo criativo, que pas- sou a ser desenvolvido quase exclusivamente dentro do computador. O desenho à mão é um recurso utilizado muito raramente e só em trabalhos muito específicos, tais como a ilustração e o desenvolvimento de marcas grá- ficas e logotipos.

10. A maioria dos designers afirma ter desenvolvido um estilo gráfico próprio e reconhecível por terceiros, sejam seus pares ou sejam leigos.

11. A maior parte do trabalho criativo é desenvolvido de forma solitária, mesmo para muitos dos designers que trabalham em empresas com outros designers, ou que integram equipas multidisciplinares.

12. Não obstante o referido no ponto anterior, todos os trabalhos criativos têm uma componente colaborativa, quanto mais não seja por via do diálogo e aprovação final por parte do cliente ou dos seus representantes. Esta compo- nente colaborativa assume mais os contornos do design by committee, em que entram em jogo interesses e opiniões divergentes e relações de poder in- ternas (entre designers, copywriters, diretores criativos e accounts) e exter- nas (clientes e parceiros), resultando muitas vezes em soluções de compromisso.

Os resultados do estudo preliminar, para além do seu valor intrínseco, serviram para estruturar o instrumento do estudo principal, discutido em seguida.