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Teoria da seleção de grupos neuronais

1.6. Criatividade e cognição

1.6.4. Teoria da seleção de grupos neuronais

Edelman (1992) argumenta que a memória é um processo que emergiu apenas quando a vida e a evolução ocorreram e deram origem aos sistemas descritos pelas ciências do re- conhecimento. A sua teoria da seleção de grupos neuronais (TNGS, Theory of Neural

Group Selection), também conhecida por Darwinismo Neuronal, constitui uma expli-

cação biológica para o desenvolvimento da mente baseada no conceito de seleção natu- ral (Edelman, 1992) e poderá ser a ponte entre a fisiologia e a psicologia. Esta teoria ba- seia-se em três princípios:

1. Seleção durante o desenvolvimento 2. Seleção experiencial

3. Sinalização reentrante

A primeira fase de seleção ocorre durante o desenvolvimento pré-natal do cére- bro. A genética tem influência na estrutura neuronal, mas outros fatores contribuem também para o desenvolvimento das ligações neuronais. Aos grupos neuronais que se estabelecem nesta fase, Edelman chama "reportórios primários".

A seleção experiencial não é propriamente uma fase, pois acontece ao longo de toda a vida do indivíduo. É caracterizada pela alteração seletiva das ligações (sinapses) entre neurónios, que é determinada pelo comportamento do indivíduo, ou seja, pela inte- ração com o seu meio ambiente. Estas alterações não são propriamente anatómicas, mas antes alterações na intensidade das ligações entre neurónios. As ligações são reforçadas com a experiência continuada, propiciando maior probabilidade a ativações futuras. Aos grupos neuronais que se formam de acordo com a experiência do indivíduo, Edelman chama "reportórios secundários".

A sinalização reentrante é o mecanismo fundamental da TNGS e constitui uma ponte possível entre a fisiologia e a psicologia, e consequentemente uma forma de con- ciliar as posições opostas do eterno debate entre capacidades inatas e adquiridas (Edel- man, 2003). A interligação dos grupos neuronais dos reportórios secundários, tanto entre si como com outros grupos neuronais, formam aquilo a que se chama "mapas neuro- nais". Estes mapas correspondem a categorizações de eventos e objetos, que o indivíduo

construiu através de repetidas interações com o meio ambiente. Existe entre estes mapas neuronais uma rede massiva de ligações paralelas e recíprocas, de modo que, quando grupos de neurónios de um dos mapas são ativados, outros grupos de neurónios (perten- centes a outros mapas, mas a ele ligados através de ligações reentrantes) são ativados em simultâneo.

Figura 4: Os três princípios da TNGS (adaptado de Edelman, 1992).

A formação do mapa depende das conexões físicas que crescem durante o desen- volvimento do cérebro, incluindo, é claro, ligações físicas aos órgãos sensoriais e mús- culos, e a relação com outros processos de mapeamento. Em particular, a segregação

funcional surge através de conexões locais, tanto quanto através de aprendizagem por categorização. Não ocorre primeiro o estímulo e depois a resposta, mas sim um único circuito de ativações que ocorrem em simultâneo. Assim, a memória é uma propriedade do sistema como um todo, e não um sítio em que as coisas são armazenadas.

A sinalização reentrante explica como "áreas do cérebro que emergem pela evo- lução são capazes de se coordenar umas com as outras por forma a produzir novas funções" (Edelman, 1992, p. 85) durante o tempo de vida de um indivíduo. Este meca- nismo viabiliza o processo de conceptualização, que se constitui como a categorização de mapas globais. Os conceitos podem ser vistos como categorizações das coordenações de perceções multimodais e ações ao longo do tempo. Tal como com toda a atividade neuronal, a conceptualização ocorre em simultâneo com os outros processos. Ou seja, a conceptualização ocorre como parte integrante de uma sequência contínua de coorde- nações sensoriomotoras. A perceção, significação e atuação surgem juntas sob a forma de acoplamentos de estruturas neuronais através da sinalização reentrante. A perceção não é um scanner que fornece input a um dispositivo de deteção de padrões que selecio- na descrições e programas armazenados numa memória (Clancey, 1997).

O mecanismo da sinalização reentrante poderá constituir uma explicação para o raciocínio analógico, que corresponderá assim ao próprio mecanismo elementar da con- ceptualização: estabelecer uma analogia será o processo de estabelecer ligações entre mapas reentrantes, que precede e forma a base necessária à descrição da própria analo- gia. A experiência da perceção e a consciência da perceção precedem o processo intera- tivo de teorização descritiva. Concebem-se relações antes de se poder articular um modelo. Mas este fenómeno também funciona no sentido inverso: descrever relações é uma forma de criar novas conceptualizações (Clancey, 1997).

A partir do momento em que o processamento conceptual e linguístico se torna parte da organização do cérebro, a organização percetual vai passar a ser influenciada pelas organizações conceptuais e linguísticas prévias. Ou seja, a organização percetual e a inferência operada sobre modelos descritivos verbalizáveis do conhecimento intera- gem no raciocínio humano. É devido a esta interação e ao seu poder formativo que não é possível ignorar as experiências anteriores, assim como não é possível ignorar a pintu-

ra naturalista quando se contempla a Natureza. Esta interação é uma explicação para os efeitos de priming e garante a relevância do modelo sistémico da criatividade para os processos criativos individuais.

Capítulo 2

Metodologia projetual e criatividade

no domínio do design

Each design-project has an individual history which is peculiarly its own. Nonetheless, as a project is initiated and developed, a sequence of events unfolds in a chronological order forming a pattern which, by and large, is common to all projects. We wish to examine this pattern, and to bring into sight the methodology of design by which ideas about needs are projected creatively into ideas about things; and which in turn are translated into engineering prescriptions for transforming suitable resources into useful, physical objects.

Asimow, 1962, p. 11

(…) There is a near-universal fear and loathing of

methodology, and methodologists are reviled as

impoverished creatures who merely study, rather than practise, a particular art or science. Voltaire said 'Theology is to religion what poison is to food', and there are many who would draw the same parallel between methodology and design. (…)

2.1. Introdução

Obje%vos deste capítulo

Pretende-se neste capítulo identificar e analisar os principais contributos para a metodo- logia do design que têm sido apresentados ao longo dos tempos. O conteúdo deste capí- tulo estabelece o pano de fundo sobre o qual será no sub-capítulo 4.2 (pág.191-203) de- senvolvido um modelo descritivo do processo criativo dos designers.

Resumo introdutório

As diferenças entre modelos descritivos e modelos prescritivos são apresentadas, sendo estabelecidas as condições necessárias e suficientes para uma definição precisa do con- ceito de "método" tal como será utilizado ao longo do presente trabalho.

Os contributos prévios para a metodologia do design são revistos, sendo apre- sentados não só os métodos de design mas também alguns dos esforços desenvolvidos até à data por vários investigadores no sentido de caracterizar os métodos de design existentes.

A especificidade das atividades projetuais é analisada e apresentada como um fa- tor crucial para a compreensão das limitações e, em última análise, do fracasso dos mé- todos sistemáticos do design, conhecidos pela designação Design methods.

Considerando que o produto da criatividade, para ser tomado como tal, deve evi- denciar um caráter de novidade, afirma-se que um produto criativo deve por um lado evidenciar atributos que o permitam enquadrar-se dentro de um determinada categoria e, ao mesmo tempo, apresentar atributos que o distingam dos outros elementos da mesma categoria. Estando estes atributos intimamente relacionadas com os conceitos de autoria e originalidade, são também neste capítulo analisadas as relações mútuas entre uns e outros.