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2 FORMULAÇÃO DE ESTRATÉGIAS

2.4 Estudos empíricos em formulação de estratégia, utilizando ou não a ECP

Duas das principais pesquisas internacionais efetuadas junto a universidades empregando a ECP como teoria embasadora são a de Jarzabkowiski; Wilson (2002) e a de Woodfield; Kennie (2008).

A primeira analisou os Top Management Teams da Warwick University, da London School of Economics and Political Science e da Universidade de Oxford Brookes, do Reino Unido, visando à obtenção de informações sobre as interações entre eles (TMT), os praticantes, as estruturas coletivas (práticas e demais atores) e as atividades estratégicas (práxis) que executam, bem como da relação entre tais interações e a continuidade ou

Planejamento/Estrategização Acompanhamento Resultados Formulação Dirigente Organização (contexto interno) Ambiente (contexto externo) Estratégia

mudança nos padrões das práticas devido às tipologias aplicadas. Nos estudos de casos foram aplicadas entrevistas, feitas observações, levantados dados etnográficos, documentos e dados de arquivos para o período de 1992 a 1998, sendo que para esse último ano os dados foram obtidos em tempo real. Os resultados obtidos são que o uso de um modelo conceitual do sistema de atividade e das tipologias adotadas de interrelacionamentos entre as partes pode servir de plataforma para aplicações da Teoria da Atividade no estudo de práxis envolvidas na construção da ação estratégica. Além disso, as necessárias interações previstas no modelo para a construção de estratégias compartilhadas realçam contradições que podem ser poderosas fontes de mudança, gerando novos padrões de atividade estratégica.

A pesquisa de Woodfield e Kennie ateve-se à discussão sobre o significado de trabalho em equipe (“teamwork”) nos TMT e relata as decisões para os desafios de seus trabalhos quanto às definições da educação superior. Foram discutidos os seguintes aspectos: terminologias encontradas para definir os TMT, áreas de decisão e tempo dedicado às atividades, estabelecimento da orientação do time e de sua agenda, comportamentos e papéis, desempenho e avaliação do time, localização na estrutura organizacional, suporte logístico e recursos, e desenvolvimento da equipe.

Foi utilizado o Estudo de Caso para 17 instituições de ensino superior do Reino Unido com duração de 9 meses, que utilizou entrevistas semi-estruturadas com os membros dos TMT, feita revisão de literatura e coleta de dados via discussões em workshops. As instituições foram escolhidas a partir de oito critérios (ou tipologias), envolvendo características do tipo tamanho, se realiza pesquisa, relação com comunidade, se multicampi, etc.

A pesquisa enfatiza seis diretrizes, dentre as dezesseis analisadas, como importantes para o trabalho dos TMT:

1. Definir claramente as áreas de tomada de decisão e o gerenciamento de tempo 2. Estabelecer a orientação da equipe e de sua agenda

3. Estabelecer comportamentos e papéis do time

4. Considerar sua localização na estrutura e seus recursos 5. Focar no gerenciamento do desempenho coletivo do time 6. Adotar um programa de desenvolvimento do time

No Brasil, além das pesquisas de Gianotti (2004) que analisa e propõe um modelo de planejamento estratégico para instituições privadas de ensino superior, destaca-se a de Rabelo

et al. (2005), que aplica a Teoria da Complexidade para avaliar três gestões de uma Universidade Federal e propõe um modelo de formulação de estratégias a partir da aplicação daquela teoria.

Mais recentemente, podem-se citar artigos que relatam pesquisas em ECP tanto em instituições empresariais, como em universidades. Nesta última esfera, Baêta, Brito e Souza (2014) realizaram pesquisa sobre o processo de elaboração de planos em uma IFES do sudeste brasileiro, analisando sua etapa de definição de diretrizes, políticas e estratégias sob as lentes da Análise do Discurso. Embasaram-se no enfoque de Estudos Críticos do Discurso (Critical Discourse Studies) de Norman Fairclough11 para analisarem o planejamento estratégico em sua fase inicial, de definições das políticas institucionais. É nesta fase que se definem a missão, a visão e os objetivos institucionais, base de todo o plano. A missão reflete o negócio fundamental, a razão de ser da IFES, enquanto a visão projeta essa sua essência para um futuro projetado.

A premissa da pesquisa é que as políticas organizacionais elaboradas para a implantação do plano podem estar implicitamente eivadas de relações ideológicas e de poder, o que definiu o objetivo de identificarem como as estratégias discursivas podem reforçar, transformar ou tornar natural o discurso hegemônico.

A conclusão da pesquisa aponta para o fato de o governo determinar normas e padrões para a implantação de planos, induzindo o isomorfismo nas mudanças organizacionais que implicam. As práticas discursivas evidenciam a maior presença do papel hegemônico e ideológico, bem como do controle repressivo por parte de órgãos públicos hierarquicamente superiores às IFES.

Josemin (2011) explorou as potencialidades da ECP em pesquisas de estratégias de negócio em uma instituição de ensino superior a partir dos temas recursividade e adaptação e sobre os constructos práxis, práticas e praticantes.

Segundo o autor, os estrategistas têm que conciliar as necessidades de mudança e estabilidade, trabalhando a tensão entre as formas de ação estratégica de recursividade e adaptação. Tal tensão pode ser compreendida ao se analisar o emprego das práticas na estrategização: seu uso sistemático leva a um aprendizado de ciclo simples (single loop) e,

11Norman Fairclough foi professor emérito de linguística na Universidade de Lancaster e um dos fundadores da

Análise Crítica do Discurso ACD. Estuda o discurso como um elemento chave de transformações sociais, influenciou e foi influenciado pelos estudos culturais britânicos.

considerando-se que esse uso rotineiro se dá por meio da interação do praticante com estruturas que fortalecem ou restringem a ação, habilitam a persistência da ordem vigente.

Como as estratégias são direcionadas para um futuro pretendido, o agora e o ‘vir a ser’, o potencial e a atualidade, são inseparáveis, uma vez que essas duas ‘realidades’ estão em constante feedback, para viabilizar o ‘vir a ser’, implicando em mudanças, ou adaptações.

No estudo de caso realizado em uma IES da região Sul do Brasil que possui vários câmpus, foram utilizados e analisados dados coletados por meio de entrevistas com gestores administrativos e acadêmicos em 2006 por uma pesquisa que avaliou o alinhamento entre estratégias de negócios e de sistemas de informação e algumas de suas evidências. Trata-se, pois, de uma releitura dos dados sob novo foco, o da ECP.

Foram selecionadas evidências a respeito dos atributos estratégicos de negócios “agressividade”, “comportamento analítico”, “defensividade” e “proatividade” obtidas na pesquisa de 2006 para serem analisadas sob o foco da ECP, a fim de nelas identificar os aspectos recursividade e adaptação e os elementos práxis, práticas e praticantes.

Os resultados obtidos apontam que a aplicação da ECP permitiu novas luzes sobre as estratégias de negócio da universidade, no concernente aos elementos estudados: recursividade, adaptação, práxis, práticas e praticantes.

Na esfera empresarial, tem-se a pesquisa de Maia (2010), cujo objetivo foi o de identificar e comparar como as empresas brasileiras praticam suas estratégias competitivas, e como esta prática se alinha com diferentes variáveis intrínsicas a elas e aos ambientes competitivos. Para tanto, buscou compreender suas práxis estratégicas, identificar como as práticas estratégicas são utilizadas e, por fim, compreender o praticante da estratégia, sejam internos ou externos às empresas.

Maia (2010) realizou um survey, utilizando a internet com empresas listadas na bolsa de valores brasileira para obter uma visão global da prática da estratégia competitiva nas mesmas e, após selecionar algumas delas, utilizou o estudo de casos para maior aprofundamento nas questões.

Sua prospecção teórica sobre diferentes visões de estratégia foi feita com base em cinco correntes do pensamento: Organização Industrial, a Visão Austríaca, a Visão Baseada em Recursos, a Visão Baseada em Conhecimento e as Capacidades Dinâmicas. Com elas, analisou as práxis, as práticas e os praticantes.

Os resultados que obteve, em número de quatorze, foram:

 Os focos interno e externos não são excludentes no que tange à origem das vantagens competitivas para as estratégias das empresas.

 A dinamicidade está presente mesmo em setores que seriam, a priori, considerados menos dinâmicos.

 Setores se encontravam protegidos da entrada de novos concorrentes, por meio de expressivas barreiras de entrada e saída.

 As empresas tendem a estar mais focadas na inovação em processos do que em produtos.

 Relevância estratégica de recursos e competências que não estão puramente localizados dentro da empresa, mas sim espalhados ao longo da rede de fornecedores e clientes da firma.

 Baixa relevância atribuída pelas empresas para a questão do conhecimento como base para as estratégias.

 O ciclo anual de planejamento é presente na maioria das empresas dos estudos de caso. Contudo, o foco dos mesmos recai fortemente sobre o planejamento da estratégia e estes carregam, em alguma medida, a percepção de serem estáticos e com dificuldades de adaptação a ambientes de ampla mudança.

 Workshops de Planejamento e Reuniões Periódicas são os eventos mais frequentemente utilizados.

 As ferramentas pe foram percebidas (1) como de alta eficácia, (2) escolhidas por meio de combinação de fatores racionais e culturais, sociais e político e (3) principalmente voltadas para a estruturação factual da análise e garantia de implementação das estratégias.

 Ocorrência de uma estrutura organizacional com papel relevante na estratégia das empresas: um departamento, instituído com nível diretivo ou gerencial, de planejamento estratégico.

 Massiva predominância de pessoas com perfil fortemente analítico.

 Trajetória do executivo sênior indica que este desenvolveu sua carreira eminentemente na empresa ou em outras empresas pertencentes ao mesmo setor.  As consultorias são bastante utilizadas nas estratégias das companhias.

 A imprensa de negócios foi qualificada como de baixa relevância para a estratégia das companhias.

Como se pode notar, não há coincidências entre os estudos realizados nacional e internacionalmente e o proposto nesta tese, em que são analisados os processos de estrategização ocorridos em quatro gestões consecutivas de uma Universidade Federal

multicampus, visando à elaboração de uma proposta de método para a concepção e o acompanhamento de planos estratégicos para as IFES.