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3 ESTUDOS DE CASO: ANÁLISE DAS GESTÕES

3.4 Episódios de Práxis Estratégicas das Gestões

3.4.1 Análise de um resultado expressivo de cada gestão

3.4.1.1 Gestão 1992 – 1996

Conforme mencionado pelo próprio reitor em sua entrevista, o resultado que marcou sua administração foi a construção da Biblioteca Comunitária no câmpus de São Carlos, a primeira da América Latina.

Em 1992, edifício da Biblioteca Central da UFSCar encontrava-se com sérios problemas estruturais, uma vez que não havia sido projetado para esta finalidade, cujo uso

Ambi ent e (co nte xt o ex ter no ) Planejamento/Estrategização Formulação Acompanhamento Estratégia s Organização (contexto interno) Dirigente (Praticante) Resultados P la no

exige fundações específicas para suportar o peso do acervo existente. O prédio havia sido projetado para abrigar departamentos acadêmicos e administrativos, salas de docentes e de aulas e já haviam sido implantados macacos hidráulicos em parte de sua estrutura, na tentativa de sanar rachaduras em suas paredes e afundamento de salas, cujas portas não mais se moviam. À época da posse do reitor, a universidade recebeu a visita do Ministro da Educação, Murilio Hingel, a quem tal situação foi apresentada (in loco). Foram-lhe solicitados, pelo reitor, recursos para a construção de uma nova biblioteca.

O ministro o informou sobre a ausência de recursos na SESu (Secretaria da Educação Superior do MEC), dizendo-lhe, porém, que havia disponibilidade orçamentária no FNDE (Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação do MEC), cujos recursos se destinavam a projetos de melhoria das condições e qualidade de ensino de escolas de primeiro e segundo graus, o que determinou o caráter comunitário da pretendida biblioteca. Nota-se, aqui, que mesmo sob um contexto contrário ao financiamento do ensino público superior reinante à época, a atuação (práxis) do reitor junto ao FNDE e ao MEC garantiu o financiamento necessário do projeto. Uma primeira parcela dos recursos foi disponibilizada pelo FNDE, possibilitando a licitação e a implantação da estrutura do edifício e da infraestrutura de seu entorno, como o estacionamento previsto. Paralelamente, foram feitas inúmeras visitas ao MEC e suas unidades internas, realizados telefonemas, enviados documentos, etc., com o intuito de sensibilizar cada gestor daquele ministério sobre a importância do térmimo da construção da nova biblioteca comunitária, o que propiciou novo aporte de recurso, suficientes para a finalização do projeto.

Para viabilizar este objetivo, o reitor incumbiu o Escritório de Desenvolvimento Físico de elaborar os projetos físico e arquitetônico da Biblioteca Comunitária, considerando a necessidade de ser totalmente informatizada e pertencente à rede que se havia instalado em toda a universidade. Neste mesmo projeto, previu-se a construção de um teatro para 400 lugares.

Novo processo licitatório ocorreu para o término da obra. Durante toda a licitação e a construção, o reitor foi informado de cada passo executado e seus resultados, pois a intenção era de inaugurar a nova bilbioteca ainda na gestão do Ministro Hingel, tendo-o presente. A fim de que as aquisições necessárias à bilioteca (mobiliário, computadores, instalação de rede lógica, etc.) não concorressem com outras de menor prioridade, o reitor acionou a Pró- Reitoria de Administração, a Secretaria Geral de Apoio Acadêmico (a quem a Biblioteca era vinculada) e a Diretoria da Biblioteca, para a introdução de procedimentos especiais (e temporários) que as priorizassem sobre as demais. Esta sua práxis e a nova prática adotada

propiciaram maior agilidade das compras de serviços e materiais permanentes e de consumo para o projeto ‘BCo - Biblioteca Comunitária’.

A principal prática instituída voltada ao acompanhamento do projeto foi a realização de rápidas reuniões semanais entre o reitor e os gestores envolvidos, momento em que eram efetuados relatos sobre o andamento da obra e das demais atividades relativas à inauguração e funcionamento da futura biblioteca. O reitor os analisava e decidia sobre possíveis intervenções no processo.

Estas foram suas práxis: a busca de oportunidades, a delegação de atividades e a atuação imediata em processos e procedimentos que não se mostravam eficazes.

Internamente à universidade e mesmo em parcela da população da cidade, mormente daquela vinculada a outras instituições de ensino superior, o projeto de instalação de uma biblioteca comunitária na UFSCar não era visto com bons olhos, pois tal caráter não seria condizente com o objetivo maior de uma biblioteca universitária: ambiente voltado exclusivamente a estudos para discentes e docentes do ensino superior. No entanto, outra parcela da comunidade interna a julgava positivamente, uma vez que apoiava o exercício do papel social da universidade, disponibilizando acervo específico para docentes e alunos dos ensinos fundamental e médio, que também aplaudiram tal iniciativa.

A Biblioteca Comunitária do câmpus de São Carlos da UFSCar foi inaugurada no prazo previsto, em agosto de 1995, com a presença do ministro Hingel, da Educação, tornando-se um ícone da universidade. Com ela, novos projetos educativos e culturais tiveram início à época, como a instituição da ‘Hora do Conto’, onde contadores de estórias se reunião com crianças e lhes propiciavam ouvir e analisar contos. A implantação do serviço de leitura para deficientes visuais também ocorreu, beneficiando dezenas deles por meio de um projeto inexistente na região.

A análise que se pode fazer é que características do reitor como a capacidade de visualizar oportunidades e de contornar ameaças e dificuldades que lhes foram impostas, perseverança na busca de objetivos e metas, bem como a de manter rigidamente o controle sobre as atividades delegadas (práxis), viabilizaram a implantação da BCo. Assim, além de obter uma nova e ampla biblioteca, deu também passos em direção à pretendida integração da UFSCar com a municipalidade, ampliando pontes para o fortalecimento da Educação e a Cultura locais, outra meta constante do plano de sua gestão e buscada também por outros meios (Núcleos de Extensão, por exemplo). Neste mesmo cenário, bastante provável que reitores com características muito distintas não teriam obtido estes resultados.

As práticas empregadas no processo de formulação e acompanhamento do plano da gestão já foram descritas. Neste caso específico, a implantação das atividades voltadas à construção e disponibilização da Biblioteca Comunitária contou também com a participação de engenheiros e arquitetos da Prefeitura Universitária e do Escritório de Desenvolvimento Físico, do Secretário Geral de Apoio Acadêmico e da Diretora da Biblioteca Central durante a fase de sua concepção (física, arquitetônica e organizativa). Práticas relativas à elaboração do projeto físico e arquitetônico, como planilhas de custos, fórmulas para cálculos estruturais, software do tipo CAD, ploteres, etc., foram empregadas.

Posteriormente, foram incorporados representantes da Pró-Reitoria de Administração e, especificamente, do Departamento de Compras, cujas práticas relacionaram-se ao procedimento de compras em si, que englobava leis e normas internas que se destinavam à determinação de datas-limite para a emissão de requisições de compras de obras, equipamentos, materiais de consumo e serviços, normas de priorização (primeiro a entrar, primeiro a sair), fluxos internos e interdepartamentais, etc. Em função de sua aplicação para a realização das compras, notou-se a necessidade de nelas serem introduzidas alterações, instituindo-se afrouxamento das datas-limite para emissão das requisições relativas ao projeto da Biblioteca Comunitária, nova sistemática de priorização de suas requisições e instituição da necessidade de haver adequada e imediata comunicação entre as unidades envolvidas, visando à transmissão de informações, objetivos, detalhes técnicos etc., de modo claro e compreensível para todos os envolvidos e, com isso, buscar a redução do tempo decorrido entre a constatação de um problema, por exemplo, e sua devida comunicação e solução. Os resultados intermediários foram atingidos em tempos adequados, sempre com o menor atraso possível, pois ações corretivas ou mesmo de continuidade (práxis) nas interfaces dos processos/unidades foram executadas de modo célere a partir da introdução dos novos procedimentos de comunicação. Foi instituída uma comissão temporária para realizar tais adequações, dela participando o Secretário Geral de Apoio Acadêmico, que a presidiu, o Pró- Reitor de Administração e Planejamento (ProAP à época), a Diretora da Biblioteca, o Diretor do Escritório de Desenvolvimento Físico, o Prefeito Universitário e o Chefe do Departamento de Compras.