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3 ESTUDOS DE CASO: ANÁLISE DAS GESTÕES

3.4 Episódios de Práxis Estratégicas das Gestões

3.4.1 Análise de um resultado expressivo de cada gestão

3.4.1.3 Gestão 2000 – 2004

A construção de uma unidade de saúde que viabilizasse o ensino, a pesquisa e a extensão indissociavelmente era um sonho de vários anos na UFSCar. Objetivava-se a criação de tal unidade para que estudantes, docentes e técnicos atuassem e propiciassem o aprendizado por meio de atividades extensionistas que alimentariam pesquisas geradoras de conhecimentos a partir da prática na área.

Este projeto foi resgatado e seus resultados tornaram-se uma das marcas da gestão. Em 2000, o reitor, por julgar oportuna a proposição de tal projeto ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Educação, decidiu instituir uma Comissão para a elaboração do projeto de concepção e criação da Unidade Saúde-Escola da UFSCar (USE) e, para presidi-la, convidou a então diretora do Núcleo UFSCar-Saúde da Pró-Reitoria de Extensão, professora doutora Cláudia Martinez, do Departamento de Terapia Ocupacional.

No plano municipal, havia tomado posse como prefeito o professor doutor Newton Lima Neto, ex-reitor da UFSCar e incentivador de projetos anteriores de construção da USE, que convidou para assumir a Secretaria Municipal de Saúde uma ex-professora da universidade, a qual havia ocupado a diretoria do Núcleo UFSCar-Saúde. Com isso, foi facilitada a atuação conjunta das duas instituições. Uniram-se, assim, forças políticas para a atuação junto aos ministérios e na esfera municipal.

Dado que projetos anteriores de criação da USE já haviam sido feitos e não obtido êxito, havia entre os docentes e técnicos da área da Saúde um grande descrédito a esse respeito, o que dificultou a própria montagem da Comissão. Sua presidente, então, passou a

convencê-los que um novo cenário se apresentava e que a reitoria estava, de fato, convencida de que o projeto poderia ser viabilizado junto àqueles ministérios.

Para sua elaboração, foram analisadas as demais versões existentes do projeto e realizadas reuniões com os departamentos envolvidos, tanto do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, como do Centro de Educação e Ciências Humanas, buscando-se subsídios e necessidades gerais e específicas que auxiliassem na definição do papel e das funções da futura unidade. Participaram deste processo os departamentos de Enfermagem, Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Educação Física e Motricidade Humana, Morfologia e Patologia e Psicologia. Os demais Centros não se opuseram ao projeto e à criação da USE na UFSCar.

É importante frizar que docentes da universidade já atuavam junto ao Município de São Carlos e a outras instituições da área da Saúde por meio de suas pesquisas e projetos de extensão, porém não havia um projeto institucional único que abarcasse todas as atividades de modo sistemático, orgânico, que possibilitasse o atingimento dos objetivos de um melhor ensino de graduação, vinculado a projetos de pesquisa e extensão. A construção da USE tornou-se, portanto, aceita e ansiada por praticamente todos os docentes da área da Saúde na universidade.

As práticas adotadas pelo reitor foram, principalmente, a instituição da Comissão de Concepção da USE e a realização de reuniões com seus membros e com o pró-reitor de Extensão para acompanhar o desenvolvimento dos trabalhos, tomar ciência das necessidades existentes e tomar as decisões a partir de então.

Suas práxis foram a de vislumbrar oportunidades, realizar aliança com o município, delegar competência, possibilitar a busca de conhecimentos específicos, seja promovendo a vinda de especialistas na área da Saúde e de normas e processos ministeriais, e atuar na esfera federal em busca da aprovação do projeto, conforme descrito abaixo.

Durante a elaboração do projeto, o reitor realizou contatos com o Ministério da Saúde – MS e viabilizou a vinda para São Carlos de especialistas para analisarem e apontarem aspectos positivos e negativos da proposta que estava sendo gerada e, com isso, teria aumentada a chance de sua aprovação, dada a compreensão que tais técnicos iriam ter a respeito dos objetivos pretendidos e da capacidade já existente na UFSCar. Tais especialistas analisaram profundamente tanto a proposta, como a documentação sobre as atividades que os docentes e técnicos já vinham realizando e os agendamentos e atendimentos realizados por eles junto à população. Com tal visão, puderam opinar sobre o montante de recursos necessários e proporem adequações que julgaram pertinentes. Tanto o fato de terem se disponibilizado a virem à UFSCar para analisar o projeto, como as propostas de ajustes que

fizeram, demonstraram sua aceitação pelo ministério, uma vez que o tornaria sem restrições técnicas e, portante, exequível, sob o ponto de vista do Ministério da Saúde.

A partir de 2000, como já dito, a UFSCar passou a ter assento no Conselho Municipal de Saúde a convite da Prefeitura Municipal, fato esse que as aproximou no sentido da prestação de serviços, tanto na Santa Casa de Misericórdia da cidade, como em outras organizações filantrópicas, ou mesmo em laboratórios da UFSCar. A universidade assinou, também, convênio com a DIR-VII, Divisão Regional de Saúde do Estado de São Paulo (sede em Araraquara) e, posteriormente, com a Secretaria Municipal de Saúde. Os convênios viabilizavam o atendimento da população da região pela universidade, via Sistema Único de Saúde – SUS.

O projeto previa a construção de um edifício próprio para a USE e, dado o volume de recursos necessários de aproximadamente R$3.600.000,00, optou-se pela sua modularização. Para que fossem utilizados conhecimentos e técnicas adequadas a um ambiente de atenção à saúde, o reitor convidou o arquiteto João Filgueiras Lima, o Lelé, um dos maiores expoentes brasileiros na área construtiva na área da Saúde para assessorar a Comissão (prática da instituição de assessoria externa). Durante sua palestra e reuniões com a equipe da UFSCar, fez alertas sobre importantes aspectos a serem considerados desde a fase de definição da arquitetura do edifício, como contaminação cruzada e aspectos legais da construção de equipamentos de saúde, e orientou arquitetos e engenheiros do EDF na concepção do que deveria ser a USE. Sua experiência não se limitava apenas à questão arquitetônica, mas era também uma visão humanitária sobre o tema, o que influenciou a todos.

Para que a proposta considerasse aspectos do dia a dia de uma unidade de saúde conforme pretendida, foram viabilizadas várias visitas técnicas (práxis) ao Centro Saúde- Escola da UNESP de Botucatu/SP, tida como modelo à época. Internamente, técnicos do EDF tiveram participação importante, pois participaram de todas as atividades de cada etapa de construção do projeto, internalizando a importância de cada detalhe, como o porquê de cada barra de apoio, de sua altura, localização, etc.

Uma vez aprovado o projeto, no valor de R$1.600.000,00, os recursos foram liberados em parcelas, de acordo com a fase em execução. A primeira parcela, de R$400.000,00, foi empregada na construção do primeiro módulo. À medida que o Ministério da Saúde verificou que o projeto estava de fato caminhando adequadamente, liberou os recursos conforme aprovação inicial. O módulo 2 foi construído a partir da liberação de R$800.000,00 e se destinava à reabilitação física e ao acolhimento das emergências, fundamentais para o início do funcionamento. O terceiro módulo teve caráter administrativo e foi voltado também ao

atendimento psicossocial. Todos os módulos previstos foram implantados, muito embora o último deles (Unidade da Criança) tenha ocorrido com a USE em funcionamento, implantando-se barreiras físicas de isolamento para que tal fosse possível.

Este projeto mobilizou muitos setores da universidade. Quando empresas contratadas para a execução de obras ou para o fornecimento de material não cumpriam seus prazos, os atrasos decorrentes implicavam em sério descompasso, prejudicando a todos os envolvidos, fossem eles estudantes, docentes, técnicos, ou pacientes.

Nesse aspecto, a Prefeitura Universitária exerceu papel fundamental, pois era a responsável pelo acompanhamento das obras, pelo cumprimento dos prazos contratados, pela segurança, paisagismo e obras do entorno, de acesso de pacientes, etc.. Durante todo o projeto, trabalhou em conjunto com o EDF e com a Comissão. Enquanto fiscalizadora das obras, sempre que notou alguma ocorrência não conforme, atuou de imediato, seja junto às empresas responsáveis, contactando-as e promovendo reuniões em busca de soluções juridicamente adequadas, seja pela atuação direta de seus funcionários. Assim, para a realização de suas práxis, como realizar as medições das obras, preencher relatórios de acompanhamento e liberação de pagamentos face à execução parcial ou total das obras, adotou práticas como planilhas de acompanhamento das obras vis à vis o projeto, métodos de medições e legislação e aspectos jurídicos envolvidos, entre outros.

Ao EDF coube a importante atribuição de elaborar os projetos arquitetônicos e de engenharia, que foram a base dos processos licitatórios para a execução de cada módulo, tendo como práticas os métodos de cálculos estruturais, planilhas de custos, softwares do tipo CAD por exemplo, observando a legislação pertinente à construção de ambientes de saúde e de segurança. Para tanto, suas práxis foram principalmente aquelas voltadas à definição de aspectos arquitetônicos, de segurança e utilização de espaços e equipamentos de saúde, respeitando as necessidades e especificidades dos usuários do ambiente e suas aplicações (docentes, estudantes e pacientes com diferentes dificuldades).