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Estudos sobre o sofrimento no trabalho

2. A ABORDAGEM DA PSICODINÂMICA DO TRABALHO

2.6 A contribuição de outros autores

2.6.1 Estudos sobre o sofrimento no trabalho

A partir de uma pesquisa epidemiológica, Seligmann-Silva (1992) abordou a temática da inter-relação trabalho-saúde mental, por meio de uma entrevista de relato de experiência denominada uma história de crise de nervos com um mecânico de 55 anos de uma empresa do setor siderúrgico.

O relato, em que às vezes surgem as falas da esposa e das filhas, é pautado pela história, pelo ambiente, pelas más condições e pelas relações de trabalho. Todos esses aspectos são manifestados pelo barulho intenso, pela trepidação, pela exposição prolongada a um tipo determinado de gás, pelo calor e perigo advindo das características da tarefa, pela falta de instrumentos e peças que obriga a realização de consertos rápidos e improvisações para o processo produtivo não parar. Ainda, o relato evidencia as perturbações sentidas e expressas no sono perturbado, na irritação, nas mágoas e emoções reprimidas, advindas do conflito com os superiores hierárquicos, relativas às pressões por produção.

A tudo isso soma-se a falta de reconhecimento pelo trabalho realizado, pelos esforços e superação dos limites, fato que leva o trabalhador ao uso de mecanismos de defesa como forma de autoproteção para dar conta de realizar as tarefas e enfrentar a crise de nervos e os

sufocos (e desmaios). Enfim, o relato é pautado também pela vivência do tempo de trabalho, do tempo de não-trabalho, do tempo de viver e de buscar explicações.

Todo esse quadro revela as implicações que a organização do trabalho exerce, nessa empresa em particular, na determinação do surgimento de sofrimento, pois trata-se de uma organização rígida, em que, a lógica da produção se sobrepõe às necessidades e limites humanos. Nela não há pausas, as refeições são sacrificadas, os ritmos de trabalho são acelerados e a jornada de trabalho é prolongada.

Nessa lógica, os distúrbios ocorridos na saúde do trabalhador são originados nas situações laborais, mas são minimizados e, até mesmo, há evidência de uma estrutura que tenta mediar o restabelecimento da saúde. Porém, nesse estudo, o que se torna evidente é que os aspectos relativos à organização e às condições de trabalho, geradores de sofrimento permanecem inalterados, sugerindo que, nesse contexto, o trabalhador é meramente uma variável de ajuste.

Em face das situações reveladas no relato do trabalhador, Seligmann-Silva (1992) evidencia os sintomas do processo de adoecimento pela vivência de cansaço acumulado, perturbações de sono, dores pelo corpo, perda de apetite, irritabilidade, desânimo, dores de cabeça e outros sintomas que podem ser diagnosticados como síndrome de fadiga patológica.

Para a autora, diante de tamanha complexidade dos distúrbios, a prevenção representa um desafio. E, com base nas idéias de Dejours discute a diversidade das situações de trabalho e as rápidas mudanças tecnológicas e organizacionais dos processos que se inserem na atividade laboral e geram tensão e distúrbios psíquicos.

Nessa mesma direção, um outro importante estudo sobre o sofrimento psíquico foi realizado por Nicole Aubert (1993) denominado A Neurose Profissional e que apresenta três casos clínicos sobre o sofrimento mental.

O estudo está apoiado nas concepções teóricas e empíricas de pesquisadores franceses, dentre eles Dejours, que se inspiraram nos princípios psicanalistas, em torno dos conceitos de desadaptação psíquica do homem no trabalho, de higiene mental no trabalho e da psicopatologia do sofrimento no trabalho. Especificamente, o conceito de neurose profissional está apoiado no trabalho de Le Guillant e Bégoin intitulado Neurose das Telefonistas e cujos achados evidenciaram uma síndrome geral de fadiga nervosa relacionada à condições de trabalho penosas: ritmo acelerado, exigência de rendimento, mecanização dos atos e monotonia, supervisão cerrada, entre outros.

Aubert (1993), por sua vez, indica a existência de uma neurose profissional, que considera como uma afecção psicogênica persistente, na qual os sintomas são a expressão simbólica de um conflito psíquico. O desenvolvimento desse conflito está vinculado a uma situação organizacional, não sendo, por isso mesmo, uma reatualização de um conflito psíquico infantil. Outro conceito trabalhado pela autora é o de psiconeurose profissional que tem relação com a revivência pelo indivíduo de um conflito infantil por intermédio de uma situação organizacional ou profissional, de um conflito infantil.

Aubert ilustra o conceito de neurose profissional a partir de três casos clínicos. O primeiro descreve o distúrbio que acomete uma enfermeira no serviço de reanimação, ou seja, uma neurose profissional denominada pela autora neurose profissional traumática. O relato evidencia a vivência de sofrimento em virtude da carga psíquica decorrente do confronto com a morte. Diante da impotência de não poder dominar a morte, os profissionais, freqüentemente, se deparam com o fantasma da sua própria morte e a emergência de sentimento de culpa por não terem feito além do possível para impedir o falecimento do doente. Os sintomas são manifestados por meio da insônia, da ruminação solitária dos acontecimentos do dia, do afastamento dos relacionamentos afetivo e profissional e da indisposição para com o mundo exterior.

O segundo caso apresentado, que Aubert chama de psiconeurose profissional , mostra como a relação psíquica mantida por certos indivíduos com a organização do trabalho apresenta, às vezes, uma semelhança com certas relações conflitantes provenientes da infância. Uma situação de trabalho com nível alto de estresse coletivo desencadeia, em nível coletivo, reações agressivas entre as pessoas, um absenteísmo cada vez mais acentuado e rotatividade de mão-de-obra; em nível individual, são manifestados os sintomas de fadiga excessiva, distúrbios digestivos, angústias, insônias e outros.

O terceiro caso exemplifica o que a autora denomina de neurose de excelência. Certas organizações de trabalho provocam, em alguns tipos de personalidade que buscam um ideal profissional elevado, o que é denominado de doença da idealização. O ideal profissional, comparado com o termo psicanalítico de Ego-Ideal, leva ao alto investimento na instituição sob a forma de necessidade de trabalhar energicamente, de envidar cada vez mais esforços de desempenho para o alcance de maior sucesso. Nesse tipo de organização de trabalho, a pessoa encontra-se presa em uma espiral infernal, vê-se obrigada a correr cada vez mais depressa em um contexto no qual tudo muda rapidamente e em que não resta nada mais de estável para se agarrar, para retomar o fôlego. Esse fenômeno ocorre nas organizações que praticam a denominada administração por excelência. Nesse tipo de organização, os trabalhadores são obrigados a buscar uma imagem de si em conformidade com os padrões de excelência da empresa e com isso abrem espaço para que o processo neurótico se instale.

As conseqüências da neurose de excelência poderão ser manifestadas na queimadura interna (burn out) termo que designa o processo em que a pessoa se sente brutalmente tragada. Esse tipo de esgotamento psicológico atinge as pessoas que nutrem o ideal profissional elevado e se sentem super identificadas com a organização. Esse estado constitui

o elevado custo do sucesso decorrente da luta constante para manter e satisfazer os ideais de excelência. Freqüentemente, poderá haver manifestação de frustração em relação à organização tão amada, causada pela desilusão, pelo não reconhecimento do investimento. À queimadura interna segue-se então a depressão.

Esses três casos relatados por Aubert (1993) deixam claro algumas questões colocadas por Dejours, como o impacto que a organização do trabalho tem sobre o psiquismo do trabalhador e a importância da dinâmica do reconhecimento na manutenção ou não da saúde, seja pelos pares, pelos usuários/clientes ou pela chefia. O reconhecimento pelo trabalho realizado, não apenas na forma material, mas principalmente simbólica, propicia a construção de uma identidade profissional que é fonte de equilíbrio e saúde.

Glina et al.(2001), mediante pesquisa empírica, buscam estabelecer uma relação entre as situações de trabalho e os distúrbios psíquicos denominada Saúde Mental e Trabalho: uma reflexão sobre o nexo com o trabalho e o diagnóstico com base na prática. A pesquisa foi realizada no Centro de Referência de Saúde do Trabalhador de Santo Amaro (SP) e no Centro de Referência de Saúde do Trabalhador André Gabois (SP), com pessoas atendidas em razão de distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho e trabalhadores portadores de LER/DORT .

Nesse estudo foram selecionados sete casos dos 150 atendimentos de distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho e também com trabalhadores portadores de LER/DORT. Nos casos escolhidos foram feitas análises temáticas das anamneses e dos prontuários. Como os objetivos do estudo eram os de caracterizar as situações de trabalho relacionadas aos distúrbios psíquicos dos pacientes e discutir o estabelecimento do nexo causal com o trabalho, foram enfocados os seguintes temas: identificação, história de trabalho e relações com o desenvolvimento dos sinais e sintomas, quadro clínico e discussão do nexo causal com o trabalho, diagnóstico segundo o CID 10. Participaram do estudo motoristas, encarregados de linha de montagem, dedetizadores, agentes de segurança, caixas de banco e gerentes de produção.

Os autores afirmam que a não caracterização do papel atribuído ao trabalho como agente agravante ou desencadeante de distúrbios psíquicos tem ocasionado prejuízos tanto à qualidade e eficácia do tratamento quanto ao acesso aos direitos legais, deixando o trabalhador de usufruir os benefícios previdenciários. Assim, ainda persiste uma grande dificuldade de reconhecer, diagnosticar e estabelecer o nexo causal dos transtornos mentais com o trabalho.

Os resultados apontaram para a existência de condições de trabalho físicas, químicas ou biológicas que podiam causar danos à saúde física e/ou mental do trabalhador. Tais condições podiam ocorrer concomitantemente a problemas relacionados à organização do trabalho e às condições de vida do trabalhador. A análise revela que há indicações de dificuldades concernentes ao estabelecimento de diagnóstico, em virtude da vinculação entre os quadros clínicos e o trabalho. Outra dificuldade refere-se à ausência, na classificação internacional de doenças, de um grupo de diagnósticos de distúrbios psíquicos relacionados ao trabalho.

Os diagnósticos foram variados dos sete casos analisados. Em três casos, os distúrbios psíquicos estavam relacionados com a síndrome pós- traumática decorrentes de assaltos; em outros dois casos, os distúrbios referiam-se a casos psicóticos orgânicos ligados a acidente ou à exposição a produtos químicos. Também foram analisados um caso com quadro de fadiga e outro ligado à depressão, paranóia e transtornos de adaptação.

Quanto ao nexo causal entre doença e trabalho, foi possível encontrar a relação entre as condições física, química ou biológica de trabalho e os danos causados à saúde física e/ou mental dos trabalhadores. Também foi possível encontrar problemas relacionados à organização do trabalho. Desse modo, acredita-se que vários aspectos da situação de trabalho e de extra trabalho podem atuar de forma conjunta no desencadeamento de transtornos mentais.

Os autores afirmam que existem dificuldades para a vinculação entre os quadros clínicos e o trabalho. Uma primeira dificuldade reside no fato de não haver um consenso, entre os estudiosos, que permita uma classificação dos distúrbios psíquicos vinculados ao trabalho. Embora haja uma concordância sobre a importância etiológica do trabalho, ainda não está suficientemente claro o modo como é exercida essa conexão trabalho/psiquismo para estabelecimento de um quadro teórico. Outra dificuldade apontada no estudo é a ausência, na Classificação Internacional das Doenças, de um grupo de diagnósticos de distúrbios psíquicos relacionados com o trabalho.

Enfim, para os autores, ainda é um desafio o estabelecimento do nexo entre adoecimento e a situação de trabalho, dificuldade que permanece porque cada processo é específico para cada indivíduo, envolvendo sua história de vida e de trabalho. Ainda, o nexo causal passa por uma descrição detalhada da situação e do ambiente de trabalho, da organização e da percepção da influência do trabalho no processo de adoecimento. O reconhecimento também passa pela emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT)

que deve ser emitida sempre que o diagnóstico evidenciar o papel da situação de trabalho como desencadeante ou agravante do adoecimento.

De forma geral, esse estudo pontua as dificuldades que os trabalhadores enfrentam para terem reconhecidos os danos e/ou distúrbios físicos e psíquicos que sofrem e que estão relacionados com as situações de trabalho. O modelo médico tradicional que transforma a situação coletiva de trabalho em casos particulares, ou seja, que promove a individualização do coletivo, impede a visão do lado social do desencadeamento da doença. O que se constata, a partir do relato dos casos estudados, é a subnotificação dos casos de adoecimento, ou seja, na maioria dos casos não houve emissão da CAT pelas empresas empregadoras. Esse fato, além de dificultar o nexo causal com o trabalho impede aos trabalhadores o acesso aos benefícios previdenciários, como o auxílio-doença.

Todo esse quadro é agravado pela falta de políticas das empresas para realizar o processo de readaptação dos trabalhadores, fato que quase sempre resulta no agravamento das doenças e, com certeza, em um novo afastamento. Diante desse cenário, conclui-se que um longo caminho ainda deverá ser percorrido para a obtenção do nexo entre o adoecimento e a situação de trabalho.

Ainda sobre o tema sobre sofrimento psíquico, Palácios et al. (2002), em pesquisa empírica, analisam a contribuição do trabalho na produção de sofrimento dos caixas em um banco estatal. O ponto de partida desse estudo foram as dificuldades para realização das tarefas, das relações estruturais de trabalho e das contingências entre o trabalho prescrito e o real: o efetivamente realizado, com suas variabilidades, e as questões que vão determinar as situações produtoras de sofrimento.

O estudo está apoiado nos princípios da Psicodinâmica do Trabalho (Dejours, 1993; 1994), que articula trabalho, sofrimento e reconhecimento. Para a Psicodinâmica do Trabalho, a construção do sentido do trabalho pelo reconhecimento gratifica o sujeito em relação às suas expectativas diante da realização de si (construção da identidade no campo social) e pode transformar o sofrimento em prazer.

Ainda, o desenho dessa investigação se aproximou da Análise Ergonômica do Trabalho e procurou compreender como o trabalho é realizado e quais são os seus determinantes, a partir da observação da atividade e da construção compartilhada das situações de trabalho. Para esse fim, foram realizadas a contextualização da empresa no mercado, a caracterização do grupo de trabalho e do posto de trabalho, a política de recursos

humanos e o funcionamento das duas agências participantes da pesquisa. Ainda, recorreu-se aos documentos oficiais dessa instituição.

O roteiro da entrevista foi elaborado a partir dos dados obtidos nas observações do desenvolvimento das atividades de caixa. As entrevistas foram realizadas com os gerentes intermediários, com diversos funcionários e com caixas. O objetivo das entrevistas foi buscar compreender e conhecer como o trabalho é realizado em todos os seus detalhes e como ocorrem as relações entre colegas, com os clientes e com a hierarquia. As observações consistiram em acompanhar o trabalho do caixa durante a jornada de trabalho.

Os resultados da pesquisa apontaram para grandes transformações tecnológicas e organizacionais motivadas pela competição interbancária, expressa na adoção de investimentos na automação e na diversificação dos produtos, na maior flexibilidade de funções e no novo desenho de agências.

Constatou-se que com essas mudanças os caixas foram os mais atingidos, visto que suas atividades estão sendo substituídas pelas máquinas, os caixas eletrônicos, fato que tem transformado continuamente o seu cotidiano de trabalho. O estudo também revelou as preocupações inerentes a esses trabalhadores, como a diferença de caixa e as agressões dos clientes . A diferença é tida como um erro que, via de regra, é atribuído ao caixa, acarretando-lhe prejuízo financeiro. Essas diferenças, ou erros, usualmente ocorrem com mais freqüência no momento do fechamento do dia , na hora de classificar o papel recebido, no pagamento de cheque contra-ordenado ou cuja assinatura não confere. As conseqüências dessas falhas são sentidas tanto no orçamento mensal do trabalhador quanto na sua saúde mental.

Como estratégias de defesa para evitar a ocorrência de erros, os caixas citam a necessidade de se terem rotinas e não sair delas para lidar com as dificuldades do trabalho. Essa estratégia reforça o sentido individual, a culpa do erro e possivelmente poderá gerar sintomas psicoemocionais. Trata-se de estratégias individuais que dificultam o desenvolvimento de estratégias coletivas, pois as primeiras são úteis no processo de competição instaurado pelo medo de perder o emprego. Para os autores, o sentido individual atribuído ao erro está vinculado também ao contexto no qual está inserido o banco, que promove o achatamento salarial. O estímulo à competição entre os caixas e o medo de perder o emprego gera a quebra de coesão entre as equipes, acrescentada à falta de espaço para discussão, leva os caixas ao isolamento e à culpabilização individual dos erros, mesmo que racionalmente aceitem que errar é humano .

Ainda, as análises dos resultados apontam para uma situação de trabalho conformada pela articulação de diversos elementos que são capazes tanto de produzir sofrimento quanto prazer. Apontam para as mazelas da organização do trabalho repetitiva, como a de caixa, e entre elas estão: a falta de espaço de discussão, a intensificação do ritmo de trabalho, a autoculpabilização pelos erros e a quebra da coesão e da solidariedade entre os pares, todos fatores geradores de agravos à saúde mental no trabalho.

Como foi discutido nesse trabalho de Palácios et al. (2002) e também por (Jinkings,1996; Laranjeira, 1997, SegninI, 1999), a reestruturação produtiva dos bancos causou uma revolução no trabalho bancário, especificamente na função de caixa. Os resultados desse estudo evidenciam também que a fragilidade do coletivo e a falta de luta contra o sofrimento estão enraizadas no medo da demissão e da precarização. O medo gera condutas de obediência e submissão, fato que impossibilita mudanças na situação de trabalho. Assim, o banco acaba por se beneficiar do medo, do sofrimento e das atitudes individuais dos caixas, conforme ficou claro com os bancários pesquisados.

Um importante estudo sobre o sofrimento psíquico no trabalho foi realizado por Heloani e Capitão (2003). Mediante incursões teóricas e análises sociopsicológicas, os autores discutem a forma como o trabalho está organizado e as repercussões psíquicas provocadas pelo trabalho sem sentido.

Inicialmente, Heloani e Capitão esclarecem que, recentemente, a ênfase à saúde mental deslocou-se das doenças ou de sua prevenção para a saúde, com recursos que visam a melhoria das condições de saúde física e mental. Elas tomaram como objetivo do estudo explorar as condições de milhares de pessoas sem imunidade que, embora suportem as pressões, conseguem de alguma forma escapar de um transtorno psicótico severo e se mantêm no campo da normalidade.

Conforme afirma Dejours (1999), se a organização do trabalho não traz doenças mentais específicas, o efeito crônico de uma vida mental sem saída mantido pela organização do trabalho tem conseqüências que favorecem as descompensações psicossomáticas.

Em uma análise geral sobre o contexto do trabalho, Heloani e Capitão evidenciam a pressão constante sobre os trabalhadores e as ameaças freqüentes de demissões que trazem conseqüências drásticas para todos aqueles que têm em seu trabalho sua única fonte de sobrevivência. A essas situações acrescentam-se as contínuas exigências de qualificação especial, até mesmo para apertar um simples botão.

Para os autores essa realidade adentra e fere o psiquismo humano e deixa nas pessoas o sentimento de impotência e de desvalorização. Para uma melhor compreensão dessa situação, eles analisaram as seguintes categorias: paradoxos do trabalho, a qualidade de vida e sofrimento do trabalho.

Quanto aos paradoxos do trabalho, Heloani e Capitão evidenciam as últimas transformações promovidas pelo capital, que levaram à desumanização das relações humanas e se surpreendem com a forma e a fôrma pelas quais o homem atual vai se colocando. Por meio do trabalho, o capitalismo estrutura o mundo. Ao adotar o modelo de flexibilização da produção, da estrutura e da função, as empresas podem mudar de cidade, de nome, de país, de ramo e de atividade, deixando seus trabalhadores na incerteza, sem identificação com a prática diária e, até mesmo, sem identificação com a instituição para a qual trabalham. Nesse