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2 OS ESTUDOS DE VISITATE NA MUSEOLOGIA

Os estudos de visitantes nascem no início do século XX com investigações e trabalhos de avaliação sobre diferentes tipos de museus e exposições, sendo tais investigações utilizadas como instrumentos para auxiliar a gestão dos museus e tomada de decisões sobre a elaboração e o desenho de exposições. A preocupação com o público dos museus, que se verifica no

início do séc. XX, deve-se aos questionamentos pelos quais passam os museus ao longo do séc. XIX. Neste momento os museus buscam se adaptar aos novos tempos e começam a se preocupar mais com o público. Se antes os museus orientavam-se para as coleções, como um local para guardar e preservar os acervos, agora o foco desloca-se para o público (HOPPER-GREENHILL, 1998).

Antes de apresentarmos um breve histórico sobre os estudos de visitantes, tem-se a conceituação de tais estudos.

Podem ser considerados, portanto, um instrumento de gestão de políticas gerais do museu e uma ferramenta de tomada de decisões na elaboração e desenho das exposições, ao mesmo tempo em que se realizam estudos experimentais sobre os processos implicados na interação entre o visitante e o contexto museal (PÉREZ SANTOS, 2000, p. 224).

Os primeiros estudos, até a década de 1920, podem ser caracterizados como estudos de observação do comportamento do visitante. Investigadores que se destacam neste primeiro momento são Francis Galton, que seguia os visitantes pelos corredores dos museus, e Benjamim Ives Gilman, que investigava problemas físicos associados às exposições, a chamada ‘fadiga no museu’. A partir da década de 1920 são realizadas investigações mais rigorosas, como o trabalho que Robinson publica em 1928. O estudioso investigou sistematicamente o comportamento dos visitantes a partir de quatro aspectos: duração da visita, número de salas visitadas, número de obras visitadas em casa sala e tempo de parada em cada obra (PÉREZ SANTOS, 2000).

Se até este momento os estudos eram realizados apenas com observação, em 1925, Gibson utiliza questionários em sua investigação, que visava comprovar a eficácia de um curso educativo no Museu de Arte de Cleveland. A partir deste momento surgem outras investigações que também se voltam para a dimensão educativa dos museus, inclusive comparando a visita ao museu com educação formal (PÉREZ SANTOS, 2000). A partir da década de 1930 são realizadas inúmeras investigações sobre o perfil dos visitantes, incluindo aspectos como a ocupação do visitante, lugar de residência, motivo da visita, grau de satisfação e etc. Pesquisadores que se destacam neste momento são Rea e Powell. Uma importante mudança nos estudos acontece pouco antes da Segunda Guerra Mundial: antes os estudos eram focados no comportamento do público, depois o foco passou a ser a análise da exposição e de seu impacto sobre o visitante. Surgem estudos, por exemplo, que investigam se a mensagem que se deseja transmitir na exposição é compreendida pelo visitante. E é na década de 1940 que surgem os primeiros estudos sobre a utilização de folhetos e também sobre tipologia de visitantes (ex: se fazem visita completa ou apenas parcial).

Na década de 1960 os estudos centram-se nos aspectos educativos dos museus. Destaque para investigações de Shettel e Screven, nas décadas de 1960 e 1970, que se interessam pela transmissão das mensagens e buscaram verificar se os objetivos de aprendizagem e pedagógicos pretendidos pelos museus foram alcançados, incluindo nos estudos aspectos cognitivos e afetivos. Ainda na década de 1960, na Europa pós Segunda Guerra Mundial, Bourdieu e Darbel realizam uma grande investigação internacional, caracterizando o público dos principais museus europeus no intuito de demonstrar a influência dos níveis de instrução e socioeconômico como fatores determinantes para as visitas. É também nesta década, no Canadá, que surgem os primeiros estudos relacionando estudos de visitante e marketing de museus. Muitas das investigações neste momento foram utilizadas no intuito de gerar grandes estatísticas e generalizações sobre visitantes de museus. É neste período, também, que Shettel reforça a crítica já feita por outros pesquisadores do campo em relação à falta de metodologias adequadas para os estudos de visitantes (PÉREZ SANTOS, 2000).

Nas décadas de 1970 e 80 muitas investigações começam a ser desenvolvidas a partir de perspectivas cognitivistas. Araújo (2013) destaca os autores Eason, Friedman, Borun, Card, Moran e Newell, que investigaram a experiência de visitação dos museus a partir de conceitos de memória, aprendizagem e percepção, e McManus com a Teoria dos filtros que investiga os fatores sociais relacionados à visita a partir de uma base construtivista.

Se os estudos que antecedem a década de 1990 adotavam, em grande maioria, enfoque comportamental ou a influência da psicologia e psicologia cognitiva, os estudos posteriores começam a ser desenvolvidos sob a orientação de outras perspectivas. Hooper-Greenhill (1998), que foca a dimensão comunicacional da experiência museal. O modelo de Uzzel, orientado por perspectiva sociocognitiva, visa verificar a influência das interações sociais na visita ao museu. E o modelo de experiência museal interativa de Falk e Dierking, segundo Almeida (2005), defende que a experiência de visita é uma interseção que envolve os contextos pessoal, físico e sociocultural. O contexto pessoal inclui todo o conhecimento, crenças e motivações do sujeito durante a visita. Já o contexto físico refere-se à exposição, ao prédio do museu e todo o ambiente no qual ocorre a interação entre visitante e museu. E o contexto sociocultural envolve “todos os contatos que o indivíduo mantém durante a visita ao museu, seja com o grupo no qual está integrado, seja com os indivíduos de outros grupos, com os servidores da instituição ou quaisquer outras pessoas” (ALMEIDA, 2005, p. 33).

Como pode ser percebido nesta breve explanação da evolução histórica, existem várias formas de se estudar a experiência de visitação ao museu. As investigações podem ser

realizadas conforme orientação de qualquer uma das perspectivas que discutimos: estudos de observação do comportamento, do percurso físico do visitante pelo museu; estudos realizados por viés psicológico; estudos que enfocando a dimensão de aprendizagem; estudos que enfocam as dimensões emocionais e cognitivas; estudos que enfocam a dimensão contextual; ou estudos que enfocam a dimensão comunicacional.

Porém, a abordagem sociocultural dos estudos de usuários da informação, especialmente base teórica oriunda do conceito de práticas informacionais, têm muito a contribuir para com o campo de estudos de visitantes de museus, como discutido na seção seguinte.