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JARDIM VIRTUAL: FOLKSONOMIA COMO RECURSO DE INCLUSÃO

VIRTUAL GARDEN: FOLKSONOMY AS A RESOURCE FOR INCLUSION

Luisa Maria Rocha35 Marcos Gonzalez36

Resumo: Este artigo tem por objetivo situar o conceito de folksonomia no cruzamento dos campos da Ciência da Informação e Museologia, com vistas a subsidiar ações de indexação social no projeto “Jardim Virtual” do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, mais especificamente na sua coleção viva virtualizada. A partir da literatura especializada e do relato de experiências de indexação social em coleções de museus internacionais busca-se contribuir para a discussão e o entendimento desta modalidade de indexação no ambiente dos museus virtuais. O foco se direciona para analisar e aproximar as práticas e técnicas tradicionais de organização do conhecimento dos museus e seus sistemas de informação com as práticas sociais de organização distribuída de conteúdo através da etiquetagem nas redes. Busca-se contemplar ações comunicacionais voltadas para propiciar múltiplas interações, complexas e articuladas com o mundo comum em que vivemos e construímos nossos valores e saberes culturais. Assim, a interlocução dos museus com diferentes segmentos da sociedade poderá subsidiar com narrativas plurais os processos de gestão patrimonial museológica.

Palavras-chave: Jardim botânico. Museu virtual. Museologia. Folksonomia.

Abstract: This article aims to situate the concept of folksonomy from the intersection of the fields of Information Science and Museology, in order to subsidize social indexing in “Virtual Garden” Project of Research Institute of the Botanic Garden of Rio de Janeiro, more specifically in its virtualized living collection. From the literature and report of experiences of social indexing collections of international museums we seek to contribute to the discussion and understanding of this type of indexing in the environment of virtual museums. The focus is directed to analyze and approach the traditional practices and technical knowledge organization of museums and their information systems with the social practices of organization distributed content through tagging networks. Seeks to include communication actions aimed to provide multiple interactions, complex and articulated with the common world in which we live and build our cultural values and knowledge. Thus, the dialogue of museums with different segments of society with plural narratives can support the processes of museum property management.

Keywords: Botanical garden, Virtual museum, Museology, Folksonomy.

1 INTRODUÇÃO

Em 2013 foram lançadas as bases do “Jardim Virtual”, projeto do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) que visa, no médio prazo, melhorar a comunicação com seu público visitante. Por seu turno, a instituição quer aumentar o acesso a

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Museu do Meio Ambiente/IPJBRJ e Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro/ UNIRIO, Programa de Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio UNIRIO/MAST.

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notícias e informações sobre sua história, personagens, monumentos, documentos e edificações, mas principalmente sobre as plantas e os animais que as frequentam, ou seja, a biodiversidade que as coleções vivas representam. A produção desse conteúdo interpretativo vem mobilizando dezenas de profissionais do Jardim Botânico, técnicos, tecnologistas e pesquisadores, um grupo que vem envolvendo profissionais das mais diversas áreas do conhecimento, não apenas biólogos, ecólogos, engenheiros florestais e fitossanitaristas, mas também historiadores, educadores, paisagistas, arquitetos, bibliotecários, museólogos, jornalistas, cientistas da informação, designers, profissionais de informática e turismo.

Pretende-se ainda, com a evolução do projeto, não apenas fornecer mas também colher comentários, contribuições e indexações folksonômicas, promovendo assim um diálogo com os usuários do site e o do arboreto. Nesse contexto, estão previstas ações locais, tais como reorientação do Centro de Visitantes e da Escola Nacional de Botânica Tropical, mas também “virtuais”, como a atualização do site institucional vigente e o desenvolvimento de um aplicativo para dispositivos móveis, que poderá ser utilizado dentro do arboreto como apoio à visitação, um recurso que vem sendo utilizado com sucesso em outros jardins botânicos do mundo (WATERSON; SAUNDERS, 2012; TALLON, 2013).

A meta primordial dos governos desta era da informação é simplificar a busca por informações. Os esquemas precisam, para tal, ser intuitivos. Desde a década de 1990 a audiência-alvo dos produtos de tecnologia da informação, como constatou Rubin (1994), vinha mudando radicalmente na direção de uma exigência por melhor usabilidade e, com os aplicativos para dispositivos móveis, esse efeito foi multiplicado. Nesses tempos, dirá Nielsen (2000) “o usuário é quem manda”. É preferível, como confirma um documento de Estado, “a linguagem do leigo ao jargão do serviço público ou termos técnicos”, na suposição de que o cidadão não tem “conhecimento prévio das responsabilidades de cada nível ou órgão governamental” e a procura pela independência em relação à estrutura governamental, “devendo sobreviver às mudanças de estruturas e organogramas” (BRASIL, 2011).

No site anterior do Jardim Botânico, observava-se uma tendência a representar “o modelo de negócios da organização na home page” (AGNER, 2009, p.62), o que podia ser atestado pela referência a unidades do organograma da instituição e o uso de “siglas incompreensíveis” (Jabot, Reflora, Probio II). Temos aí alguns sintomas que sugerem que a publicação não era centrada no usuário comum, mas no que a literatura chama de “usuário avançado”, isto é, aquele que está familiarizado com termos científicos, acadêmicos, administrativos ou jurídicos, tais como cientistas, alunos, professores ou jornalistas, por exemplo, para quem as siglas são compreensíveis.

Usuários avançados e inexperientes têm necessidades distintas (SHNEIDERMAN, 1998) e, com efeito, estatísticas com base nas palavras-chave revelam algumas diferenças entre as buscas ao site realizadas pelos dois perfis. Os primeiros, em geral, pesquisam informações sobre plantas a partir de seus nomes científicos (Pilocarpus giganteus, Crescentia cujete ou Erythroxylon coca, só para citar alguns casos reais) ou termos técnicos (“espécies endêmicas”, “pioneiras”, “exóticas”, “suculentas”, “mudanças climáticas”), enquanto que os “usuários comuns” costumam pesquisar sobre plantas a partir de seus nomes vulgares (“ipê rosa”, “cabeludinha”, “jabuticaba de cipó”), demonstrando maior interesse pelas plantas úteis, particularmente por aquelas com propriedades medicinais (“cânfora”, “canela”, “pata de vaca”, “plantas repelentes de insetos”), ornamentais ou frutíferas. Mesmo quando o “usuário comum” busca informações próprias aos “usuários avançados”, os termos que utiliza demonstram seu modo menos racional de planejar a pesquisa (ex.: “planta terrestre primitiva que não possui flores nem sementes”, uma referência às briófitas e pteridófitas).

Neste artigo, buscamos reunir alguns apontamentos sobre etiquetagem social e folksonomia com destaque para os museus virtuais e suas coleções digitalizadas, de forma a subsidiar a proposta de utilização deste recurso tecnológico e linguístico no Jardim Virtual, que tem como princípio e fundamento o foco no usuário, potencial e virtual. Nossa atenção será direcionada para etiquetagem das espécies, especialmente ao nome que os usuários comuns dão a elas, que em última instância é uma manifestação de um sistema “vulgar” e socialmente construído para a classificação das plantas.

Para tal, utilizamos a abordagem hermenêutica e dialética de análise e discussão sobre a temática, a partir de pesquisas bibliográficas e documentais, nacionais e internacionais, voltadas para as relações entre o digital e o social tanto no âmbito dos museus quanto na produção, organização e recuperação da informação, característica da Ciência da Informação. É importante destacar que esta análise insere-se nas discussões sobre o direito de alteridade no campo da antropologia, da museologia e da comunicação, para as quais as diferentes formas de vida, através do uso de recursos tecnológicos, podem ter voz e representação, ações importantes para o fortalecimento das suas expressões culturais.

A análise das ações de indexação social colaborativa nas redes envolve os campos da Museologia e da Ciência da Informação que, na atualidade, têm como desafio a aproximação das práticas e técnicas tradicionais de organização do conhecimento dos museus e seus sistemas de informação, agora virtualizadas, das práticas sociais de organização distribuída de conteúdo através da etiquetagem nas redes.