• Nenhum resultado encontrado

PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO EM MUSEUS E PÚBLICOS

Marília Xavier Cury59

Resumo: O trabalho se propõe a debater sobre programas de educação pelos dados coletados em museus brasileiros para analisar como os setores de educação vêm se organizando para exercer suas funções com o público. A pesquisa qualitativa e exploratória tem dados coletados com coordenadores de equipes de educação em museus, por meio de visitas técnicas e entrevistas realizadas para o preenchimento de um formulário que compreende questões gerais da instituição e dados específicos do setor de educação, visando a um conjunto que informe sobre as ações desenvolvidas e articulações internas do setor. Os dados coletados são sistematizados, visando à construção de modelos educacionais que sustentam uma análise no sentido do entendimento de como são constituídos os programas educacionais em museus brasileiros. Os dados revelam que os programas de educação se organizam tendo prioridades de públicos, tais como o escolar (público organizado) e o espontâneo que, embora generalista, aponta uma preocupação com ações fora do circuito museu-escola. Sob outro ponto de vista, a pesquisa traz a luz do debate uma diversidade de públicos, entendidos nas suas especificidades, assim como diversidade de ações, o que denota preocupação em compor um programa atento à acessibilidade universal. No aspecto da atuação das equipes, constatamos a profissionalização crescente para atender às especificidades inerentes à diversidade, composição interdisciplinar, capacidade criadora, habilidade de produtora de recursos e articuladora com outros setores para o cumprimento de objetivos integrados institucionalmente. Por se tratar de pesquisa qualitativa, a análise gera problematizações, o que colocamos em discussão, para contribuir com uma crítica sobre educação em museus.

Palavras-chave: Museu. Programa de educação museal. Educação em museus. Educador de museus.

Abstract: The aim of this paper is to discuss education programs according to the data collected at Brazilian museums in order to analyze how the different education sectors have been organizing themselves to fulfill their roles with museum audiences. The data for the qualitative and exploratory research have been collected with the coordinators of museum education teams. To that end, technical visits and interviews were made to complete a form consisting of general questions about the institution and specific data about the education sector, aiming at creating a body of learning which provides information about the activities carried out in and the internal connections of the sector. Collected data are systematized to build education models that may support an understanding of how education programs are devised in Brazilian museums. Data show that education programs organize themselves around priority audiences such as school audiences (organized public) and spontaneous audiences, which, although of a general nature, show a concern about actions outside the museum-school circuit. From another viewpoint, the research brings to light a range of different audiences understood according to their distinguishing features, as well as a diversity of initiatives, which shows concern about devising a program in tune with the need for universal accessibility. Regarding the work of the teams, we have found that professionalization has increased to meet the specific needs of diversity, interdisciplinary composition, creation capacity, resource-production skills and ability to establish connections with other sectors to fulfill the purposes that are institutionally integrated. Because research has a qualitative nature, our analysis poses problems, which we put forth for discussion in order to contribute with a piece of criticism about museum education.

59

Key words: Museum.Museum education program. Museum education. Museum educator.

1 INTRODUÇÃO

A educação em museus no Brasil vem sendo discutida no âmbito da educação não formal, o que não significa ausência de forma, mas uma diferente do formato da escolarização, posto que esta se organiza na seriação, cumulação e conteúdo fechado em currículos, no Brasil os PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais. Há anos os educadores de museus travam esta discussão, assim como enfrentam a escolarização dos museus, buscando modelos e metodologias específicas à educação museal. Nesse sentido, muitas estratégias vêm sendo incorporadas, abordagens comunicacionais e/ou educacionais estão em desenvolvimento e novas e ampliadas perspectivas sobre o que se entende como conteúdo estão em elaboração, sempre se levando em conta o que é específico e adequado ao museu e à educação que se espera desta instituição, em particular e essencialmente quanto ao “enfrentamento do objeto” (MENESES, 2000).

Ora como educação museal – problemática histórica, teórica e metodológica (ver CHAGAS, 2004) –, ora no corpo do que foi denominado como educação patrimonial – Heritage Education, metodologia desenvolvida na Inglaterra na década de 1970 voltada para professores, para o uso do objeto como fonte de recurso no ensino, introduzida no Brasil por Maria de Lourdes Parreiras Horta na década de 1980 (ver HORTA; GRUNBERG; QUEIROZ MONTEIRO, 1999) –, a função educacional dos museus vem se realizando não somente mas essencialmente pelo setor de educação. Recai sobre este uma grande responsabilidade certamente, o que tratamos de forma relevante, mas de maneira explícita, levando o nosso olhar e as nossas atenções aos seus objetivos, formas de organização e atuação, em face dos avanços da museologia e da museografia. São muitas as questões que podem ser levantadas, algumas podemos elencar: Quais são as experimentações em realização? Quais são os métodos específicos? O que entendemos como conteúdo? O que são objetivos educacionais? Quais são os avanços do campo educacional dos museus? O que está consolidado? Quais são as contribuições do museu do processo educacional?

No que se refere à pesquisa acadêmica voltada à educação em museus, esta é bastante significativa, muito embora desconheçamos um levantamento, para uma possível análise de seus caminhos teóricos, conceituais e metodológicos e lugares acadêmicos de desenvolvimento, o que não nos impede de afirmar que há diversas dissertações e teses que, certamente, ajudam a compor e a fortalecer um quadro do campo pedagógico para os museus. A criação de cursos de mestrado e doutorado em museologia irá intensificar esse cenário,

entendendo estes cursos como lugares metodológicos importantes para o entendimento de como os museus atuam, o que passa pela educação que ocorre em seus espaços, com o peso da museologia, sem prejuízo à contribuição relevante de outras áreas. Nesse sentido, temos questões a responder, algumas delas: Em que medida estamos construindo uma teoria educacional e uma pedagogia específica para os museus? Temos uma teoria do conhecimento para a educação em museus? Em que teorias do ensino e da aprendizagem estamos nos apoiando? Há políticas educacionais para os museus?

A bibliografia internacional é vasta, diversificada e importante. Podemos destacar a produção do Comitê de Educação e Ação Cultural do Conselho Internacional de Museus (siglas em inglês CECA-ICOM), na qual há presença marcante brasileira, cujos títulos deverão subsidiar outras etapas da presente pesquisa.

No aspecto da gestão em museus, vivemos o momento da implantação da Política Nacional de Museus e a da adoção de novas normativas para a consolidação desse setor no Brasil, o que implica em crescente profissionalização das instituições e dos quadros que a compõem. Nesse sentido, há uma conjuntura que impacta as instituições: em 2004 é instituído o Sistema Brasileiro de Museus (Decreto n° 5.264), em 2006 a Portaria Normativa n° 1 dispõe sobre a elaboração do Plano Museológico (PM), em 2009 a Lei Federal 11.904 define prazos para a implantação do Plano Museológico em museus brasileiros. A elaboração do PM prevê três partes subsequentes: diagnóstico, missão e programas. São estes os programas: institucional, gestão de pessoas, acervos, exposições, educativo e cultural, pesquisa, arquitetônico e urbanístico, segurança, financiamento e fomento, comunicação e sócio ambiental.

São muitas as questões que os profissionais de museus têm no momento sobre o PM. Uma que recorre com frequência é: como adaptar um modelo europeu para os contextos diversos e adversos brasileiros? Outras questões: Como articular os programas? Quais são os benefícios do PM? Quais seriam os impactos advindos da implantação do PM? No que se refere ao setor de educação, por que precisamos do PM se já temos o conceito de programa? Em que o PM colabora para o desenvolvimento do setor de educação? O PM como modelo de gestão interfere de que maneira nos programas educacionais? Como a gestão pode promover os museus, sem interferir negativamente no processo curatorial? Todas estas questões são motivadoras, como é o contexto no qual estamos inseridos e que gera estas e outras indagações. Referimo-nos à atual política pública para os museus, reflexo de uma recente política cultural mais ampla, que intervém nas práticas museais (SANTOS, 2011). É esse contexto que gera influencias que alcança os setores de educação museais, são as práticas

museais que fazem parte do âmago deste trabalho e que tratamos mesmo que inicialmente e parcialmente.

Todas as questões levantadas nos inquietam, embora não tenhamos como objetivo respondê-las nesta etapa da pesquisa intitulada Análise de Narrativas Educativas em Museus (com financiamento do CNPq), cujos dados apresentamos parcialmente. A pesquisa tem como objetivo geral desenvolver ações investigativas que integrem a compreensão sobre as formas de uso do museu pelo público às condições de produção determinadas pelo museu, focalizando os processos educacionais. Como resultado, espera-se construir modelos de análise de ações e estratégias educativas e maior clareza sobre como a educação vem sendo estruturada nos museus. Considerando o diálogo necessário entre produção e recepção, esta pesquisa visa a levantar pontos para o exercício de crítica, aspecto relevante que corroboraria com o aperfeiçoamento dos processos educacionais museais e com a produção de conhecimento (metodológico sustentado pela práxis) desse campo não formal. O trabalho que ora apresentamos é um recorte que tem como objetivos específicos levantar as formas como os setores educacionais realizam seus programas a partir de um conjunto de ações, assim como estabelecer relações com as equipes (constituição e formação) na práxis da instituição e na particularidade do setor.

2 DESENVOLVIMENTO