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Gestão da informação e as coleções de Ciência e Tecnologia

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.2 Gestão da informação e as coleções de Ciência e Tecnologia

A finalidade de se investigar a gestão da informação e as coleções musealizadas de ciência e tecnologia é buscar responder a questões relacionadas às estratégias de mediação científica. Como a gestão da informação em coleções musealizadas de ciência e tecnologia interfere nas estratégias de mediação científica no âmbito dos museus detentores de acervo de instrumentos científicos e tecnológicos?

Os museus buscam minimizar as dificuldades da gestão do conhecimento gerado acerca das coleções científicas e tecnológicas para o público em geral. Nesse sentido cabe abordar, no campo teórico metodológico de nossa análise os estudos de cultura material, que abarcam conceitos de objeto museológico.

A inserção do objeto no museu permite que seu significado fique em evidência, que

sua trajetória esteja representada. Renata Baracho e Cátia Barbosa, no artigo intitulado “O objeto museal em diferentes

contextos e mídias” indicam um dos maiores desafios da comunicação museológica.

Um dos maiores desafios da comunicação do objeto museal é estabelecer um contato com o visitante-usuário receptor da informação semântica e cultural-estética dos discursos e das imagens do próprio objeto museal, recontextualizadas pelos profissionais de museus e de áreas afins, de modo a desvendar, a revelar seus quadros compartilhados de interpretação, considerando a temporalidade, no sentido aqui apresentado, onde se constrói os vínculos simbólicos relacionais com a memória. (BARACHO; BARBOSA, 2011, p. 200)

No âmbito dessa discussão podemos refletir acerca da fruição e mediação científica a partir dos artefatos de um museu. Essa circulação de ideias e conhecimentos valoriza e aguça a necessidade de estudos da cultura material.

O colecionismo é um dos principais fatores da reunião desses objetos e seu ingresso nos museus; podemos dizer que essa prática está vinculada à necessidade do homem primitivo de agrupar objetos utilitários. Discorrendo brevemente acerca do ato de colecionar, entendemos que a seleção, agrupamento, organização e guarda de objetos são características de ações de colecionismo. Nesse sentido é possível considerar que os museus entre os séculos XVIII e XIX formalizaram um modelo institucional organizado a partir da relação entre o edifício e suas técnicas museológicas, pesquisa científica, salvaguarda e comunicação.

A partir desses conjuntos inicia-se a troca e a exibição dos mesmos, agregando valor à sua significação. Sobre o colecionismo, sua origem sempre remeteu à ideia de posse e a posse se tornou uma manifestação do poder. São as coleções que muitas vezes vão dar origem a museus e, por outro lado, às vezes, coleções inteiras são incorporadas a essas instituições. Passam então a ser reconhecidas como parte do acervo museológico, aquele pertencente ou sob guarda dos museus e, por isso, condicionado a uma série de procedimentos e valoração específicos a esse espaço simbólico. (GRANATO; SANTOS, 2008).

Os objetos dentro de um museu não são apenas peças expostas em circuitos museográficos com o intuito de ilustrar uma narrativa. Esses artefatos passam por um longo processo de seleção, classificação, conservação e documentação, transformando-se em fontes de pesquisa e dessa forma em suporte informacional. Entretanto eles conformam o discurso, já que são a instancia narrativa em si mesma, no que se refere às estratégias de comunicação do objeto musealizado.

O planejamento das estratégias de apropriação da informação revela-se fundamental para a comunicação do objeto musealizado, uma vez que a construção da comunicação e apropriação da informação em diferentes contextos e mídias, no que tange o objeto museal requer a organização de estratégias comunicacionais capazes não só de gerenciar e disponibilizar a informação em diferentes suportes, mas, sobretudo, de estabelecer relações entre áreas do conhecimento envolvidas, no sentido de apresentar estratégias museográficas e recontextualizar o objeto museal nas exposições. (BARACHO; BARBOSA, 2011 p. 197)

Para os Museus de Ciência e Tecnologia a comunicação e divulgação do conhecimento é um desafio. Transformar a informação sobre os instrumentos científicos e utilizar esses instrumentos em uma narrativa museológica, tendo em vista que dessa forma possamos divulgar o conhecimento produzido, é, em nossa opinião, a principal questão que as pesquisas acerca desse acervo buscam responder.

Maroevic distingue os períodos da museologia e aborda o objeto de museu:

(...) a fase inicial do pensamento museológico, que se estenderia até 1900; a fase protocientífica, que compreende o período de 1900 a 1934; a fase empírico-descritiva, de 1934 a 1976; e, e por fim, a atual fase teórica-sintética, que teria seu início em 1976 com o reconhecimento do objeto de museu como documento e de seu valor informativo. Na condição de documento da realidade, o objeto de museu “introduz uma nova dimensão em todo o processo analítico e sintético de estudo da realidade”. (MAROEVIC, 1998 apud LOUREIRO, 2009, p.85)

Na última passagem dessa citação o autor aborda o reconhecimento do objeto de museu como documento e seu importante valor informativo. Os dados acumulados e armazenados sobre os artefatos são lidos e comunicados por meio de novos processos museológicos, como a exposição, a documentação museológica e a pesquisa.

Os museus são espaços responsáveis pela divulgação e popularização da ciência. Suas obrigações, entretanto, não se limitam às de mero transmissor e intermediário, com a função de apenas reproduzir conhecimento estudado e aplicado em outras esferas. Estes, ao longo do tempo, vêm atuando ativamente na produção de informação científica, e tem como agente principal a gestão da informação nas coleções. As instituições museológicas não sobrevivem apenas em função dos objetos que elas abrigam e sim da significação que esses objetos ajudam a transmitir. Maria Cristina Bruno complementa:

De certa forma, a preocupação em valorizar, decodificar e preservar os artefatos e as coleções e a partir deles dar a conhecer as formas de humanidade, pode ser considerada como razão especial para que ainda hoje novas instituições sejam criadas em função dos mais diferenciados enfoques temáticos e argumentos culturais (BRUNO, 2009, p.18).

Nesse sentido, é importante uma eficiente gestão da informação nas instituições que trabalham com essas coleções, sobretudo no que tange à recuperação da informação para que assim possa melhorar o processo de mediação e de comunicação do objeto musealizado. Essas informações estão relacionadas à memória da cultura material.

Os instrumentos científicos são objetos complexos por envolverem campos interdisciplinares de alguns ramos das ciências. Quando inseridos em um espaço museológico ou em um circuito expositivo, a complexidade de apresentação desses objetos aumenta. Extrair informações de objetos como esses e decodificar em linguagem expositiva, para se tornarem transmissores do conhecimento científico, é um desafio.

Por meio de um instrumento científico podemos obter informação sobre o seu período de fabricação, quando analisado seu suporte, intrínseco ao objeto, por exemplo. O uso de alguns metais específicos como o latão é comum na fabricação desses artefatos e a ausência de elementos decorativos remete a um período de recessão no século da fabricação desses objetos. Esses são apenas exemplos que ilustram informações relevantes e atentam para o fato e a importância do processamento técnico das coleções de instrumentos científicos.

Essa pesquisa busca alinhar o espaço percorrido pelo objeto e consequentemente a informação documentada sobre ele, ao longo de décadas. Todavia a pesquisa visa também a organização e gestão do conhecimento e da informação gerada por meio do processamento técnico e analítico das coleções, se transformando em um vetor ágil de recuperação da informação.

E sendo estes os objetos peças centrais da cultura dos museus e, também da cultura material da ciência, estudar a “vida” destes objetos torna-se uma poderosa ferramenta para o entendimento de uma série de questões, como, utilizando o exemplo do próprio Bennett, ao analisarmos a trajetória dos objetos de ciência de uma determinada coleção de um museu podemos

entender as suposições, ambições e crenças que o museu personifica e de que maneiras as mesmas mudam no decorrer do tempo. (GRANATO et al, 2007, p. 8)

Nesse sentido o objeto dentro de um museu clássico ganha o aspecto de ator principal. Sua história contada através da narrativa museológica deve ser refletida e apropriada pelo público visitante que também adquire o caráter de personagem principal. Afinal, o motivo pelo qual se preserva, pesquisa e comunica o patrimônio cultural musealizado está relacionado com a difusão para que se atinja amplamente a sociedade. Sendo assim o presente trabalho apresenta a seguir a aplicação de uma metodologia que poderá proporcionar a análise de categorias de informação acerca dos objetos que compõe a coleção investigada.