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Etapa da Leitura da Realidade no Primeiro Evento Municipal

5. Método Participativo para Etapa de Leitura da Realidade

5.2. Etapa da Leitura da Realidade no Primeiro Evento Municipal

A Leitura da Realidade Local foi composta pelo Primeiro Evento Municipal e pelos eventos comunitários e pelo evento setorial.

O Primeiro Evento Municipal faz parte de um conjunto de quatro eventos previstos no método de participação popular para revisão do plano diretor sob a orientação da equipe de mobilização social composta por membros do Núcleo de Estudos de Serviço Social e Organização Popular (NESSOP). Todos os eventos possuem um caráter geral de apresentação, consulta e/ou validação dos trabalhos realizados, mas com especificidades inerentes a cada uma das etapas às quais se vinculavam.

O Primeiro Evento tem como particularidade principiar, ou seja, dar oficialmente ciência aos cidadãos do município de São José do início do processo participativo para a revisão do Plano Diretor, e dos Códigos de Obra, de Posturas e de Meio Ambiente de sua municipalidade (esses últimos não são de interesse dessa tese).

O Evento se volta, também, à fase de sensibilização e mobilização da participação popular com o intuito de construir um processo participativo que garanta a gestão democrática segundo os moldes previstos no Estatuto da Cidade (BRASIL, LEI 10.257/01). O Evento é visto como uma oportunidade de envolver o conjunto da sociedade pela primeira vez. Assim a sensibilização e a mobilização têm como público alvo tanto os representantes das organizações sociais do município de São José, quanto os representantes do poder legislativo e executivo e demais atores.

A equipe de mobilização social detalhou um método para atender às fases participativas propostas para o processo (Anexo 4). Segundo esse método, a etapa de Leitura da Realidade Municipal envolvia um processo de coleta de dados. Durante o processo já se começava a sensibilizar a população para o tema. Isso era feito a partir do contato inicial, com a finalidade de atualizar o cadastro das organizações sociais, bem como de criar banco de dados municipal dessas organizações.

Essa etapa preparatória inclui ainda uma divisão territorial do município segundo as comunidades que o compõem. Portanto, o Primeiro Evento envolvia um início oficial, mas na prática dava continuidade ao processo participativo. Assim, sua programação básica envolveu o lançamento oficial dos trabalhos e a apresentação de todo o processo de planejamento proposto (inclusive a validação da divisão territorial comunitária, do banco de dados e das etapas do processo, além de outros temas).

Por fim, nele se anuncia, e o institui como foro legítimo, para discussão da matéria, o grupo de trabalho formado por uma equipe da Prefeitura, coordenada pela Secretaria de Desenvolvimento Urbana (SDU), e por outra da Universidade Federal de Santa Catarina, sob responsabilidade do GT Cadastro. O resultado do evento pode ser visto em uma ata (Anexo 5).

Esta ata não exprime, porém, a dinâmica do Evento, especialmente em termos de utilização do tempo disponível. Para este pesquisador os principais problemas do evento foram: dimensionamento temporal inadequado dos tópicos; sobreposição dos tempos dos tópicos previstos na estrutura do Evento; sobreposição dos discursos dos especialistas; perda de foco sobre os assuntos programados por parte dos apresentadores; desconsideração do contexto (especialmente o político, essa reunião coletiva ocorreu em época de campanha eleitoral); perda de controle sobre a dinâmica do processo; inexistência de uma alternativa para situações inesperadas.

A partir da experiência do Primeiro Evento e com o início próximo das reuniões comunitárias e setorial, o corpo técnico da equipe da Universidade Federal de Santa Catarina inicia um intenso esforço com a finalidade de sistematizar métodos e técnicas de participação popular para o planejamento urbano. Esse foi o contexto que motivou o presente pesquisador a contribuir com a adaptação do método de Kvale (1996) para o processo participativo.

Um primeiro procedimento adotado foi o do estudo de como se poderia organizar o Primeiro Evento Municipal segundo os estágios do método de Kvale. O segundo procedimento foi o de aplicar essa adaptação do método nos eventos comunitários e setorial. As técnicas e os processos propostos pela equipe da Universidade Federal de Santa Catarina foram sendo incorporados gradualmente ao método.

Antes de passar à descrição do método faz-se necessário enfatizar uma experiência bem sucedida no Primeiro Evento Municipal.

Uma das atividades previstas no Primeiro Evento Municipal dizia respeito à apresentação da forma de condução desenvolvida para a elaboração do plano diretor participativo do município de São José – SC. Nessa oportunidade foi exposto, inclusive, o método geral proposto pelo NESSOP para participação popular no planejamento urbano. Uma das partes desse método trazia um mapa contendo a divisão do município em áreas, segundo critérios técnicos dos assistentes sociais do NESSOP e da Prefeitura Municipal. Essas seriam as áreas onde se desenvolveriam os eventos comunitários da participação popular. O mapa temático que contém essa informação foi editado no LabFSG da Universidade Federal de Santa Catarina pelo GT Cadastro e pode ser visto na figura 6.

Figura 6 – Mapa Temático com as áreas propostas para a Realização dos Eventos Comunitários.

Fonte: GT Cadastro, LabFSG-UFSC

Nesse mapa há oito áreas para realização dos eventos comunitários. O bairro foi a unidade territorial utilizada para a divisão de áreas. Há, no entanto, uma única exceção: uma dessas unidades territoriais não era bairro, mas sim um distrito, o distrito industrial. Com base nesse mapa, a divisão territorial proposta foi apresentada ao público, bem como se explicou em que consistiriam os eventos comunitários e setorial.

Diante do mapa e das divisões propostas o público participante se manifestou apontando modificações que serviam para aprimorar essa distribuição de áreas. O público expôs relações comunitárias específicas, não detectáveis à priori, e, por muitas vezes, apropriou-se dos critérios técnicos utilizados para divisão das áreas a fim de argumentar em favor de uma nova divisão.

Uma nova divisão territorial foi acordada naquele momento: nove áreas foram definidas. Ela foi aprovada por técnicos e pelo público e resultou no mapa que pode ser visto na figura 7.

Figura 7 – Mapa Temático com as áreas para a realização de eventos comunitários.

Fonte: GT Cadastro, LabFSG-UFSC

Essa experiência foi central ao desenvolvimento da participação popular. O momento era crítico, ali se estabeleceria ou não a confiança do público nos técnicos. A utilização de um mapa com boa qualidade cartográfica e com informações de fácil leitura permitiu que, a despeito das dificuldades relatadas, se estabelecesse a confiança.