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4. O Contexto da Pesquisa

4.2. O Local: o Município de São José-SC

O Município de São José se localiza na macrorregião sul do Brasil, no estado de Santa Catarina, e integra a região metropolitana de Florianópolis, a capital do estado (figura 03). Sua localização é privilegiada, tanto no que diz respeito às rotas de conexão viárias do sul do país, como também em relação à região metropolitana: está no caminho das três capitais dos estados do sul e é o município central da região metropolitana.

Figura 3- Esquema de localização do Município de São José - SC.

Fonte: 1) Esquema da América Latina: Data SIO, NOAA, U.S. NAVY, NGA, GEBCO; Tele Atlas (2009), MapLink/Tele Atlas; Europa Technologies. Consultado em 03/04/2009 em Google Earth. Edição própria. 2) Esquema da Região metropolitana retirado de “Região da Grande Florianópolis” cedido por GT CADASTRO. Base Cartográfica: Carta planimétrica digital 1:2000 (1995-2001). Levantamento aerofotogramétrico: 1:8000 (1995-2001) Aeroimagem S.A (2001). Dados temáticos: imagem Landsat TM+, janeiro de 2002, processamento NDVI, vetorização automática e levantamento de campo – LabFSG-UFSC-2003. UTM-SAD69 – Fuso 22S. Datum vertical: Maregrao Imbituba (SC). Edição: 1:50.000 LabFSG -2003.

Seu relevo não é incomum à região litorânea continental da região metropolitana de Florianópolis. Possui uma planície costeira junto à orla e conforme se avança em direção ao continente (direção Oeste) iniciam-se as ondulações pertencentes a Serra do Tabuleiro. Nesse

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Esta síntese foi produzida a partir dos relatórios técnicos elaborados durante a etapa de Leitura da Realidade. Foram utilizados os volumes Coleta de Dados 01 e 02 e o Relatório contendo a síntese da Leitura da Realidade.

Brasil América do Sul América Central

São José

setor está o Morro da Pedra Branca, o ponto mais elevado do município, com 450 metros de altura em relação ao nível do mar.

Os habitantes originais do território eram nômades e há vestígio de sua cultura que datam de 1500 anos atrás. Ainda hoje há sítios arqueológicos remanescentes dessa ocupação. Com a vinda dos açorianos no século XVIII se interrompe o ciclo de ocupação dos povos nômades. Data dessa época o desenvolvimento do motor econômico e de ocupação do território que perdurou até meados do século XIX: a adaptação do território para a agricultura e a comercialização, por via marítima, dos bens produzidos com o distrito sede da capital. Esse modo econômico determinou a forma de ocupação do município que seguiu inicialmente o vale fértil do rio Maruim, ver figura 04. Além disso, houve a pulverização de pequenos povoados agrícolas (arraias) ao longo do território. Ainda no século XIX chegam imigrantes alemães, italianos, espanhóis, franceses e árabes. Em 1856 o povoado ascende à posição de Município.

Figura 4- Estrutura Urbana do Município de São José - SC.

Fonte: GT Cadastro, LabFSG/UFSC

No século XX o modelo econômico e de ocupação do território é substituído paulatinamente por um novo modelo centrado no mercado imobiliário. Isso ocorre também em função da conexão rodoviária criada entre o continente e a ilha de Santa Catarina pela ponte Hercílio Luz em 1926. Com a troca do modelo econômico e de ocupação de território, o antigo centro colonial do Município de São José é praticamente abandonado (ver figura 04, itens 01, 02, 03). Anos mais tarde se cria uma nova centralidade que representa o modelo imobiliário: a construção do empreendimento do Kobrassol no bairro de Campinas, no ano de 1977 (ver figura 04, item 07).

O novo modelo associa o parcelamento de grandes glebas de terra oriundas da agricultura com fins de absorver os fluxos migratórios do século XX, especialmente o fluxo da população que não tem condições de se fixar em Florianópolis. Isso faz com que o município de São José se torne uma periferia da capital. Na década de 60 recebe o fluxo de gaúchos, paranaenses e nordestinos e, posteriormente, nos anos 1980, os do planalto serrano do estado de Santa Catarina. Esse processo de periferização acaba incentivado pelo plano de desenvolvimento integrado elaborado para a região metropolitana, que data de 1975. Nesse plano, a expansão urbana se daria seguindo a BR-101 e o município de São José abrigará o distrito industrial (ver figura 04), o que se deve, em parte, à proximidade da mão de obra de baixa qualificação alocada no Município de São José e, também, à facilidade logística do Município em relação à BR-101. Na década de 90 começa a haver um crescimento da classe média, assim como a verticalização das edificações e a recuperação dos indicadores socioeconômicos do município.

Em 2000 o município possuía uma população de 173.500 habitantes distribuídos de forma irregular por 114,79 km2 (IBGE, 2000). Isso resulta em uma densidade líquida média de 58 habitantes por hectare, o que está longe de representar a disparidade da distribuição da população pelo território: há áreas pulverizadas com picos de mais de 1500 habitantes por hectare e vastas superfícies com até 10 habitantes por hectare, ou mesmo não ocupadas. Seus dados demográficos e socioeconômicos apontam para um município que, estrito senso, está acima dos indicadores nacionais e regionais. Isso não significa que esteja livre dos problemas crônicos em que vivem os municípios brasileiros como a falta de segurança, crescimento acelerado da população urbana, sem a contrapartida da infra-estrutura, poluição dos mananciais de água, ocupação irregular ou ilegal de áreas de preservação, entre outros.

No censo demográfico de 2000 sua taxa de crescimento foi de 3,8 ao ano, proporcionalmente foi o maior crescimento da região metropolitana. Até o ano de 2003 as séries históricas dos dados de crescimento indicavam uma tendência de manutenção do aumento

populacional. Essa alta taxa populacional se somava a uma taxa elevada de atratividade de migrações que vinha se mantendo nos últimos anos. Assim, em relação à região no ano de 2000, seu índice de atração de migração só perdeu para a capital, Florianópolis, que absorveu 13,6 contra os 5,3 do município de São José. Isso ainda pode ser descrito como um resquício do processo histórico de periferização.

O crescimento populacional impacta sobre as poucas áreas realmente aptas à ocupação antrópica no Município. Nessa data, as áreas disponíveis eram de aproximadamente 33% da superfície do município de São José. Contudo, essas não se distribuíam de modo uniforme pela superfície do município. A isso se soma que a população residente é 98,7% urbana. O que leva a um impacto extraordinário sobre os sistemas urbanos, especialmente sobre a infra-estrutura urbana, bem como sobre o mercado imobiliário, o sistema social do município e o meio- ambiente.

A urbanização do município foi orientada pelo processo histórico descrito. Como resultado, hoje, o município se encontra cortado por rodovias federais e estaduais, seus morros e áreas ambientalmente frágeis ocupadas por um processo de invasão paulatino que obedece a lógica de valorização imobiliária e segregação sócio-espacial. Esse processo também explica a forma de expansão da malha, que ocorre principalmente via a criação de loteamentos legais, ilegais ou irregulares distantes das áreas limítrofes ao território já ocupado: o perímetro urbano é aproximadamente duas vezes maior que a superfície da área urbana consolidada. Assim, grosso modo, há concentrações de densidade construtiva e habitacional no espaço recortado pelas rodovias e próximas ao mar, de ocupação mais antiga. Ao mesmo tempo no restante da área urbana há uma expansão dispersa ocasionada pelos loteamentos, muitas vezes sem infra- estrutura.

Naquela ocasião a estrutura social do município se compunha por uma série de organizações sociais: entidades comunitárias, instituições de ensino, grupos de idosos, rádios e jornais, secretarias de estado, sindicatos e pelos vereadores do poder legislativo. Apesar dessa estrutura, na data da elaboração do plano diretor participativo, a participação popular não possuía uma tradição, muito menos em um processo de abrangência municipal.

Seu Plano Diretor estava defasado e com toda sorte de alterações desde sua promulgação em 1985. No ano de 2003 o processo de planejamento urbano inicia-se. Nesta data o Ministério das Cidades havia sido recém-criado e não havia uma orientação quanto a métodos ou processos de participação, apesar da obrigatoriedade imposta pelo Estatuto da Cidade para elaboração de Planos Diretores Participativos em municípios com certas características especiais, como ter

mais de 20.000 habitantes. Materiais com maiores orientações só aparecem mais tarde como o guia Plano Diretor Participativo: Guia para a Elaboração pelos Municípios e Cidadãos (ROLNIK E PINHEIRO, 2004), bem como o Conselho das Cidades e sua resolução 25 que versa sobre a participação popular, de 2005. Assim, o planejamento urbano do município de São José possui um pioneirismo ímpar em Santa Catarina, constituindo-se como um dos primeiros exemplares pós-Estatuto da Cidade em Santa Catarina.