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Descrever as etapas de produção do material didático, além de ser um dos objetivos específicos do estudo, é relevante para a pesquisa, uma vez que busca nortear o leitor acerca das fases que envolvem essa construção, como também o quanto os setores são dinâmicos e estão interligados.

Assim, a Coordenadoria de Produção do Material de Didático da SEDIS encontra-se dividida em setores, são eles: Revisão, Editoração, Materiais Interativos, e o de Acessibilidade. Nesse contexto, apresentam-se as etapas de produção de cada setor, como também o fluxograma para melhor compreensão.

O primeiro setor é o de Revisão. Ele é considerado como porta de entrada do material, visto que é nele que acontece o primeiro contato do professor com a SEDIS e, posteriormente, com a equipe de produção do material.

Primeiro, os professores participam de uma reunião e, nela, recebem uma capacitação para adequar seu texto à modalidade aula a distância. Esse gênero apresenta determinados itens obrigatórios, inseridos no projeto gráfico, os quais configuram o gênero discursivo de aula a distância da SEDIS, tais como: objetivos, apresentação, atividades, resumo, saiba mais, leituras complementares, autoavaliação, sendo distribuídos ao longo do conteúdo da aula.

Após o professor escrever a aula, o arquivo é enviado por e-mail para o Fluxo do setor e começa o processo de revisão, que é composto de três etapas, a saber:

a) revisão de linguagem e estrutura, que observa se todos os itens estão presentes na aula, bem como se a linguagem está adequada ao público- alvo;

b) revisão de língua portuguesa, que sugere, altera, questiona, entre outras ações, visando à adequação do texto à norma padrão;

c) revisão de ABNT, que adequa o texto às normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), bem como observa a questão dos direitos autorais do material inserido na aula (imagens, vídeos etc.).

Destaca-se ainda, nesse processo, que o material pode ter idas e vindas, em constante diálogo com o autor, a fim de realizar os devidos ajustes. Esse trabalho dura, em média, três meses. Com o texto pronto, a aula segue para o setor de Editoração, para receber a formatação adequada conforme projeto gráfico.

Figura 9 – Fluxograma da Produção do Material no Setor de Revisão

Fonte: Elaborado pela Pesquisadora.

Cabe destacar que enviar um texto à revisão é submetê-lo a olhares excedentes, a um tratamento a ser dado com apreciação valorativa. Por sua vez, o ato de revisar implica ser um olhar excedente, que visa dar ao texto um acabamento que lhe permita estar mais adequado ao outro, ao seu interlocutor. Nessa tessitura, o revisor vai registrando suas observações no corpo “original” do texto por meio de comentários para o autor. Desse modo, “não impõe ao autor um texto que não é seu,

não o destitui de sua função nem de seus traços idiossincráticos” (SALGADO, 2017, p. 16), mas lhe oferece uma “leitura anotada” que permite ao autor fazer uma leitura distanciada de seu texto-origem de modo a deixar aquele projeto de dizer amadurecer. Ao levar em consideração as questões de direitos autorais, constata-se que pode ser identificada alguma lacuna durante o processo de revisão, fundamentalmente, durante a revisão de ABNT. Mesmo sem haver um programa para detectar plágio, os revisores estão atentos a esta questão e, logo encaminham para o fluxo, que toma as devidas providências junto ao professor autor-conteudista, caso seja detectado algo nesse sentido.

Com isso, é relevante ainda considerar o contexto da GC em destaque no setor, uma vez que a troca de informações durante o processo de revisão é uma constante, podendo-se destacar os modos de conversão do conhecimento. O modo de socialização no setor acontece devido à troca de experiências, como também é nesse momento que se vislumbra a origem das lacunas no processo de revisão. Na externalização, por meio das experiências relatadas, buscam-se criar novos conceitos e definir estratégias para facilitar e agilizar o fluxo. Na combinação, os colaboradores sistematizam os aspectos já socializados e externalizados, por exemplo, definem planilhas ou técnicas para revisar, visando à padronização. Na internalização, procuram, no fazer diário, aprender e apreender se aqueles aspectos são eficazes, se estão realmente sendo concretizados por todos que fazem parte da equipe.

O setor seguinte desta análise é o de Editoração, responsável pela inserção do material revisado no formato gráfico adequado para cada projeto com o qual a SEDIS tem contrato, podendo ser material didático, livro, e-book, periódico, cartilha, folheto etc. O trabalho inicia-se com a chegada do material do setor de revisão. Logo que recebe o material, a Editoração realiza a revisão tipográfica (RT01). Nessa etapa, o profissional responsável analisa o material e verifica se há alguma lacuna referente à revisão; caso identifique, o material retorna ao setor de Revisão. Não existindo problemas de revisão, o material é encaminhado para o fluxo, para definição do projeto gráfico e, posteriormente, para o profissional de design que ficará responsável pela edição do material.

Finalizando essa etapa, o material é encaminhado para o fluxo para realização da segunda revisão tipográfica (RT02), havendo lacuna – como, por exemplo, quebra de linhas e falta de alguma palavra –, retorna para o designer. Não sendo encontradas mais lacunas, o material é encaminhado para validação do autor, que também pode

ou não encontrar lacunas no material. Ao ser validado o material, é elaborada a ficha catalográfica (setor de revisão) e solicitado, no caso de livros, o International Standard Book Number (ISBN), para então encaminhar para gráfica e/ou repositório para ser publicado. Com relação ao tempo, considerando as idas e vindas do material, essa etapa pode durar até três meses para sua conclusão.

No fluxograma a seguir (Figura 10) podem ser constatadas todas as etapas descritas.

Figura 10 – Fluxograma da Produção do Material no Setor de Editoração

Nessa perspectiva, é relevante destacar no âmbito da edição de textos que, algumas vezes:

Os profissionais do texto são admitidos (sem contratos) como freelancers, que atuam remotamente, por meio de uma conta [na] plataforma, após serem selecionados por meio de testes também a distância. Pela plataforma, esses redatores e revisores selecionam tarefas a fazer, recebem pautas, prazos, orientações, escrevem, submetem, acompanham a revisão de seus trabalhos, comentários dos demandantes e são pagos. Esse tipo de processo, de certa maneira, reintroduz profissionais redatores, preparadores e revisores de textos no mundo do trabalho [...], sob demandas ainda em consolidação, mas que podem ser consideradas bastante precarizadas quanto às condições de trabalho (RIBEIRO, 2017, p. 47).

Esse problema de contratação será mais bem destacado na seção a seguir que trata do perfil dos colaboradores. Entretanto, cabe expor as tarefas desenvolvidas no setor de Editoração, com vista a deixar o material adequado ao aluno-leitor, facilitando o seu processo de aprendizagem. Nesse aspecto, também, pode ser visualizada alguma lacuna de direito autoral, fundamentalmente, nas imagens e ilustrações (não detectada no setor de Revisão, primeiro setor e entrada de material na SEDIS) utilizadas pelos autores, mas identificado pelo designer.

Cabe ainda destacar os modos de conversão do conhecimento, que podem auxiliar no processo de aquisição de conhecimentos específicos de direitos autorais, uma vez que sua aplicação contribuirá para o funcionamento eficaz do setor. No setor de Editoração, os modos de conversão podem auxiliar no fazer laboral dos colaboradores, na medida em que, ao identificar as lacunas de direito autoral na sua origem, como figuras não permitidas, por exemplo, eles podem definir com os demais funcionários estratégias e criar padronizações. Além disso, relacionam, numa lista, autores de imagens que já cederam ou podem ceder os direitos para uso pela SEDIS/UFRN e deixam esse arquivo para que os demais ilustradores tomem ciência e possam atualizar conforme a necessidade do setor. Identificam, ainda, no setor, a diversidade de projetos gráficos e, por meio de análises e discussões adequam à necessidade do material.

Ainda destacando os setores que compõem a Coordenadoria, vislumbra-se a seguir o Setor de Interativos da SEDIS. Esse setor realiza atividades relacionadas à criação de jogos, aplicativos, ambientes virtuais de interação, vídeos etc.

A atividade do setor inicia-se com a reunião da equipe com o autor. Nessa etapa, é definido qual projeto gráfico será utilizado. Em seguida, o material é dividido

entre o designer gráfico e o designer instrucional. Cada equipe irá realizar atividades distintas. Na sequência realiza-se a programação e/ou a aplicação virtual, conforme a necessidade do material, para ser encaminhada para validação do autor. Caso se constate alguma lacuna, verifica-se o tipo e volta para o designer responsável. Se não houver, segue para publicação. A atividade deste setor tem duração de aproximadamente 3 meses. O fluxograma a seguir (Figura 11) apresenta as etapas com detalhes.

Figura 11 – Fluxograma da Produção do Material no Setor de Interativos

Considerando a importância do setor de interativos, Silva (2009) explica que a utilização das ferramentas interativas na EaD ocorre quando se enfatiza que o essencial não é a tecnologia, mas um novo estilo de pedagogia sustentado por uma modalidade comunicacional que supõe interatividade, isto é, participação, cooperação, bidirecionalidade e multiplicidade de conexões entre informações e atores envolvidos. Portanto, criar conteúdo que apresenta interatividade para EaD não é uma tarefa simples, demanda conhecimento da área e necessita ter conhecimento das ferramentas disponíveis para produção e gerenciamento.

No contexto do direito autoral, quando relacionado à produção do material interativo, na maioria das vezes, não se percebe o problema, considerando que os materiais são produzidos pela SEDIS. Nesse setor, percebe-se a questão de deslocamento dos colaboradores de uma função para outra sem a mudança nos contratos. Isso pode ocasionar questionamentos quanto aos direitos do material produzido. Esse questionamento será mais bem explicado na próxima seção da pesquisa. No contexto da GC verifica-se a grande possibilidade de troca de conhecimentos entre os colaboradores e, ainda, da criação de manuais para ajudar no desenvolvimento das atividades.

Por fim, apresenta-se o Setor de Acessibilidade, concebido com o intuito de promover a acessibilidade do material didático produzido pela SEDIS para os alunos com deficiência e matriculados nos cursos da modalidade a distância da UFRN. Sua atividade principal é adaptar o material didático dos cursos a distância de acordo com as necessidades dos alunos com deficiência. Alguns desses recursos são: a ampliação da fonte do material impresso e a adaptação do livro digital com recurso de audiodescrição. Além disso, o setor inclui recursos de legendagem, audiodescrição e/ou tradução em Libras dos vídeos produzidos pela SEDIS.

As atividades no setor iniciam-se com a pré-produção. Nessa etapa, é recebido o original e encaminhado para o fluxo do setor, que vai verificar se já existe material pronto ou se será preciso definir o tipo de adaptação. Posteriormente, é feita a produção, ou seja, a adaptação propriamente dita do material. Em seguida, é encaminhado para revisão e consultoria, caso seja necessário e, por fim, para validação e pós-produção, que é a edição. Esse tipo de atividade de adaptação do material tem duração de aproximadamente 3 meses. No fluxograma a seguir, podem ser constatadas todas as etapas descritas (Figura 12).

Figura 12 – Fluxograma da Produção do Material no Setor de Acessibilidade

Fonte: Elaborado pela Pesquisadora.

As atividades do setor de Acessibilidade, conforme explica Manoel (2008, p. 113), buscam

[...] promover o acesso aos recursos didáticos facilitando o processo de aprendizagem [...]. Respeitando as suas limitações, os recursos físicos e

virtuais [...] assumem como missão auxiliar o educando com deficiência a realizar sua aprendizagem.

O principal quesito encontrado no setor a respeito das questões de direitos autorais volta-se para o desconhecimento dos servidores quanto à utilização da lei, pois destacam que não conhecem ao certo do que ela trata. Por isso, é pertinente deixar claro os pontos da lei que tratam da utilização de materiais acessíveis aos alunos.

No contexto da GC, verifica-se a presença constante dos modos de conversão. Nesse processo, percebe-se a presença da externalização, da combinação e da internalização, visto que na busca por solucionar as dificuldades do setor, realizam-se reuniões constantes, nas quais ocorre a troca de conhecimentos, possibilitando o desenvolvimento de instrumentos, como manuais, na perspectiva de diminuir os questionamentos dos antigos e novos colaboradores. Na sequência da pesquisa e respondendo ao objetivo específico proposto pelo estudo, apresentam-se os atores envolvidos na produção do material didático da SEDIS.