• Nenhum resultado encontrado

Percepção da Diretora da SEDIS sobre problemas relacionados aos direitos

A entrevistada, gestora da SEDIS, iniciou apresentando o seu perfil. Destacou que, durante muito tempo foi além de gestora de todos os setores, Coordenadora da Produção do Material Didático. Ela explicou que tem graduação (licenciatura) em Educação Artística – Habilitação em Desenho pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN; mestrado e doutorado em Educação, ambos pela UFRN. Além disso, foi professora do Núcleo de Educação da Infância, do Centro de Educação da UFRN, vice-líder do Grupo de Estudos e Pesquisa de Práticas Educativas em Movimento – GEPEM, atuando principalmente nos seguintes temas: educação infantil, formação de professores, educação continuada e educação a distância.

No contexto da SEDIS, ela explicou que começou a exercer função na Secretaria em meados de 2006, vindo coordenar os laboratórios dos polos e chegou ao cargo de gestão em 2008, no ápice da produção do material didático. Isso possibilitou o desenvolvimento de um projeto gráfico para dar forma aos materiais. De início, a estrutura dos materiais era dividida em fascículos/aulas. Cada aula começava com uma apresentação e os objetivos, passando pela aula propriamente dita, com box de saiba mais e finalizando com resumo e referências. Tal estrutura permanece até os dias atuais. Destacou, ainda, que a SEDIS hoje tem um novo direcionamento, voltado para a produção dos materiais digitais, para cursos da área da saúde (plataforma AVASUS) e, também, para a produção de e-books. Nesse aspecto, percebe-se a diversidade de materiais com que a instituição vem trabalhando, isso implica investimentos para capacitar os colaboradores que já atuam, como também contratação de novos colaboradores, visando atingir as novas metas institucionais.

Com a realização da entrevista, e após os dados transcritos, foi iniciada a primeira fase da análise de conteúdo, a pré-análise, também chamada de leitura flutuante. Com isso, foram escolhidos os índices ou as categorias, fundamentados na

questão norteadora do estudo, como também nas próprias questões da entrevista. Na segunda fase, ou fase de exploração do material, foram escolhidas as unidades de codificação, adotando-se os seguintes procedimentos: codificação, classificação e categorização, o que contribuiu para a escolha da verbalização, que pode ser verificada no Apêndice C.

A terceira fase do processo de análise do conteúdo é denominada tratamento dos resultados – a inferência e a interpretação. Calcado nos resultados brutos, a pesquisadora procurou torná-los significativos e válidos. Essa interpretação geralmente vai além do conteúdo dos documentos, uma vez que interessa à pesquisadora o conteúdo latente, o sentido que se encontra por trás do imediatamente apreendido. Apresentam-se a seguir as análises, com as devidas inferências e interpretações, com base nas verbalizações destacadas no quadro exposto no Apêndice C.

Durante a entrevista, buscou-se averiguar a frequência dos problemas relacionados a direitos autorais. Esse questionamento complementa os dados expostos no Gráfico 18 da pesquisa. Nesse sentido, a entrevistada respondeu que “são bem frequentes os problemas relacionados a direitos autorais, mas os funcionários já sabem como lidar e não deixam chegar até a publicação, que é o maior problema”. Nesse contexto, para a direção, os colaboradores são experientes e estão aptos a lidar com os problemas de direitos autorais. Entretanto, a pesquisa não demonstrou essa segurança, considerando que muitos deles não sabem distinguir o que é direito patrimonial e direito moral, elemento basilar para se entender as demandas do direito autoral.

A gestora também explicou que alguns desses problemas ela considera como comuns, são eles “plágio do texto, figuras sem autoria ou sem autorização para utilizar, falta de referência”. Contudo, mesmo considerados comuns pela entrevistada, ela avaliou como problemas graves que podem ocasionar processos administrativos ou judiciais, considerando a apropriação indevida do material sem citação do autor ou sem autorização para uso. Esse dado é confirmado, por exemplo, no Gráfico 15 quando a maioria dos entrevistados afirmou não saber utilizar a aba de licença de imagem do Google, ferramenta simples que deveria ser prática do dia a dia dos funcionários.

A entrevistada ainda explicou como o problema geralmente é resolvido, ao dizer que,

[...] chamamos o autor ou encaminhamos e-mail se for de fora de Natal, e o responsável do setor que detectou o problema faz o encaminhamento explicando como deve ser para evitar problemas com a lei. O autor tem um novo prazo para enviar o material corrigido. Com isto, geralmente o setor envolvido participa da busca da solução, os demais não tomam conhecimento.

Esse procedimento parece ser muito simples, só uma conversa ou um e-mail. Deveria haver um documento (como um registro padrão), no qual se escreve e descreve de fato o que acontece, qual o problema de direito autoral encontrado, como até mesmo opção para adequar aos padrões que infringem a lei. Assim, assegura-se que o autor foi notificado e quais os procedimentos que deverá seguir. Além disso, deve-se deixar claro um novo prazo, considerando que as etapas de produção levam tempo, como descritas anteriormente.

No que se refere ao encorajamento dos participantes para expressar suas ideias nas reuniões e/ou nas discussões a respeito da temática de direitos autorais, a gestora da SEDIS destacou que “dificilmente são discutidos os problemas com direitos autorais nas reuniões, geralmente, a reunião tem um propósito bem claro, e não lembro de fazer reunião com essa finalidade”. Diante da exposição da gestora, percebe-se que mesmo com a ocorrência dos problemas, estes não entram nas pautas de reunião. Esse contexto é contemplado no exposto da Tabela 1, quando os colaboradores destacaram que nas reuniões raramente se discutem esses problemas. Cabe, nesse processo, expor o contexto da comunicação como necessário para evitar que os problemas se repitam. Nessa perspectiva, Santanella (2000) diz que qualquer pensamento é diálogo, crescimento, aprendizagem e vida. Dessa maneira, no local de trabalho, os colaboradores também aprendem na ação, seja ao emitir uma resposta, seja ao perceber consequências da ação (CHARLIER, 2001).

Ao relatar a respeito do uso de exemplos de outras instituições, com a finalidade de evitar ou mesmo de se espelhar nos questionamentos discutidos para, quando da ocorrência de algum problema, saber como lidar, a gestora afirmou: “não lembro de apresentar ou de algum funcionário apresentar durante a reunião algum guia ou regulamentação de outra instituição como exemplo de como evitar os problemas”. Essa assertiva complementa o comentário anterior de que, nas reuniões, não são discutidos os problemas que a SEDIS enfrenta com direitos autorais. Isso

pode ocasionar um ambiente favorável para que os problemas aconteçam e só depois de gerar processos é que chegam ao conhecimento de todos.

É relevante destacar o que diz Pozo (2002), quando explica que a capacidade de aprendizagem vem com a comunicação. Essa capacidade é essencial para uma adaptação razoável ao ambiente. Portanto, sem a comunicação, não há entendimento entre as pessoas, aprendizagem e apreensão de conhecimentos.

Na sequência da entrevista, relatou a respeito de auxiliar os colegas, e assim expôs:

[...] sempre que chega até a direção – porque algumas vezes é resolvido no setor mesmo e a direção não toma conhecimento – procuro auxiliar da melhor maneira possível, indicando até pessoas já vivenciarão o problema para complementar na ajuda [...].

Diante disso, verifica-se a disponibilidade da direção para ajudar o colaborador, mas isso só acontece quando solicitado. Não é uma prática da direção averiguar se existe alguma ocorrência que necessita de ajuda. Talvez isso aconteça devido à grande demanda de trabalho desenvolvido na SEDIS atualmente, o que chega a afastar a direção dos setores, deixando o chefe local à frente das decisões.

Em se tratando da utilização da licença aberta, a gestora explicou que “nem todos os funcionários sabem utilizar as licenças abertas do creative commons” e, ainda complementa “deixamos somente os responsáveis pelo fluxo com essa atividade, no caso aqui é o responsável pelo fluxo da revisão”. Assim, percebe-se a centralização da atividade somente em uma única pessoa. Isso deve ser evitado, pois, em caso de afastamento, por exemplo, a utilização da licença fica esperando o funcionário voltar ao trabalho.

É relevante destacar o que Lemos (2005) explica ao dizer que são muitos os documentos que podem ser licenciados pelo creative commons, desde filmes, textos, fotos, músicas, entre outros, que sejam passíveis de proteção do direito autoral. Nesse contexto, Kleinman (2008) salienta que, por ser um recurso que professores, estudantes, pesquisadores e funcionários podem utilizar devido ao seu fácil manuseio para buscar conteúdos gratuitos que podem ser reutilizados, o creative commons apresenta a segurança de não violação dos direitos do autor.

Ao relacionar os níveis de conhecimento, a entrevistada destacou a respeito do conhecimento das resoluções da UFRN, “não conheço se os funcionários

conhecem as resoluções e não tenho como afirmar que os setores conhecem”. Entretanto, “acho importante que seja divulgado e que todos tomem conhecimento, isso pode fazer com que os problemas diminuam”. Esse discurso corrobora o que apresenta o Gráfico 9 exposto anteriormente. Conhecer os documentos da instituição é elemento básico para se compreender o que já existe a respeito da temática do direito autoral. Além disso, a gestora afirmou que “nos setores, principalmente na revisão, têm funcionários para fazer a função de conhecer os documentos a respeito dos direitos autorais”. Entretanto, no questionário, isso não ficou evidenciado, o que indica a necessidade de capacitação.

A esse respeito, Nonaka e Takeuchi (1997) destacam que quando existe a interação entre o conhecimento tácito e o explícito e vice e versa, surge a criação do conhecimento, ou seja, a inovação. Assim, a interação deve ser contínua e dinâmica, além de moldada nos modos de conversão da espiral (SECI).

A respeito da existência de algum manual de boas práticas, ela assim destacou:

[...] já existiu algumas tentativas de construção de um documento para auxiliar os novos funcionários, que buscasse englobar todos os setores da Coordenadoria, e que auxiliasse também, no que se refere às questões de direito autoral, mas nunca se chegou a concluir.

Tal fato é explicitado pela gestora ao explicar que isso pode estar acontecendo devido às demandas diárias que impedem a exclusividade para construção do manual. Na SEDIS, são muitos os materiais e com demandas bem variadas, seja para o impresso, seja para o digital. Isso faz com que as equipes não tenham tempo para construir um manual eficaz, visando diminuir os problemas com direitos autorais, por exemplo. Além disso, a gestora explicou que, com a existência de um manual, os treinamentos poderiam ser reduzidos, uma vez que o manual contemplaria diversas dúvidas do novo funcionário, quando da ocorrência de contratações.

A gestora, ao responder sobre os cursos e as capacitações, afirmou que “na instituição não existem treinamentos permanentes que têm relação com os direitos autorais”. É importante destacar que nos Gráficos 9, 15, 16 e 17, e também na Tabela 1, visualizou-se a necessidade de treinamentos constantes e, por que não dizer, permanentes, para novos e antigos colaboradores, possibilitando atualização do nível de conhecimento a respeito dos direitos autorais. Nesse caso, a gestora explicou que

“já aconteceu uma oficina há um tempo atrás, por volta de 2007, mas é necessária a atualização dos funcionários, considerando que hoje utilizamos os REA com frequência”.

Ela ainda destacou que “quando um funcionário solicita, fazemos o possível para que faça o treinamento ou a capacitação, só não ocorre quando o orçamento da SEDIS/UFRN não permite”. Nesse contexto, pode-se verificar que a instituição busca contribuir para capacitar o funcionário. Além disso, a entrevistada informou que os treinamentos acontecem “na medida do possível, [...], busco incentivar os funcionários a se capacitar”. A diminuição dos orçamentos pode causar a redução dos treinamentos e das capacitações, visto que são onerosos e, muitas vezes, não ocorre o retorno necessário para a instituição, como, por exemplo, o repasse aos colegas do que foi discutido no curso.

Diante disso, a assertiva descrita pela direção ajuda a compreender os questionamentos destacados pelos colaborados no questionário de pesquisa, especificamente, na Tabela 1 da análise. Nesse sentido, Popper (1975, p. 76) acrescenta que: “todo o crescimento do conhecimento consiste no aprimoramento do conhecimento existente, que é mudado com a esperança de chegar mais perto da verdade”. Todo o conhecimento adquirido ou aprendido foi revalidado por novas formas de conhecimentos frente à práxis dos indivíduos.

A gestora respondeu, ainda, a respeito da necessidade de o setor conhecer o problema, como mostrou também o Gráfico 19, que “geralmente os setores não conhecem os problemas com direitos autorais uns dos outros, fica só no setor aonde aconteceu o problema”. Talvez seja necessário repassar e fazer com os setores conheçam os problemas que a instituição enfrenta, para que sigam como exemplo para evitar que se repitam.

A entrevistada explicou também que os problemas só são expostos para todos “quando já é um material publicado, que se torna até exemplo para todos os setores”. Deveria não chegar à publicação para servir como exemplo e ser publicizado para todos os setores da coordenação. Mas, sim, a busca deve ser sempre para evitar que os problemas possam acontecer, fundamentalmente, por meio de processos.

Quando questionada a respeito de punição a algum funcionário, ela explicou “não lembro de nenhum caso de punição, no máximo, o funcionário é chamado junto com o restante do setor para conversar a respeito do acontecido, para que não volte a acontecer novamente”. As punições estão previstas na Resolução n. 157/2013-

CONSEPE que regula a proteção aos direitos autorais, e seria uma possibilidade de evitar que os problemas de direitos autorais possam se repetir. Vejamos o que diz a resolução:

Art. 25. No caso da comprovação da violação de direitos autorais, nos termos

do Capítulo VI do Regimento Geral desta Universidade, serão aplicadas as seguintes medidas disciplinares, sempre observando a gravidade da violação de modo progressivo:

§ 1o Aos servidores docentes e técnico-administrativos, com base nos arts.

198, I e II, e 199, XV, do referido Regimento: I – advertência;

II – suspensão, para o caso de reincidência.

§ 2o Aos discentes, com base no art. 214, I, do citado Regimento:

I – repreensão;

II – suspensão ou exclusão, a depender da gravidade da violação, para o caso de reincidência (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE, 2013, p. [4]).

Diante dos resultados obtidos, verificou-se que estes propiciaram a elaboração de recomendações e sugestões de ações pertinentes a garantias dos direitos autorais dos materiais produzidos na SEDIS, focalizados na Gestão do Conhecimento, especificamente nos modos de conversão do conhecimento (SECI), que serão demonstrados na próxima seção.

7 RECOMENDAÇÕES E SUGESTÕES

O percurso metodológico adotado neste estudo encerra-se com as recomendações e sugestões, também chamada de proposta de intervenção, relacionada ao objetivo geral. Desse modo, busca-se analisar que tipo de ações pode contribuir para melhorar o conhecimento organizacional sobre os direitos de autor, visando evitar violações e conflitos na produção do material para Educação a Distância no âmbito da SEDIS-UFRN.

Nesse processo, visando amenizar os entraves encontrados a respeito da temática do direito autoral na SEDIS, este estudo tem por fundamentação teórica a Gestão do Conhecimento, especificamente a Teoria da Criação de Conhecimento, de Nonaka e Takeuchi (1997), utilizando as estratégias de socialização, externalização, combinação e internalização. Com isso, destacaram-se três dimensões adotadas na elaboração dos instrumentos de coleta, que propiciaram definir variáveis importantes para entender a problemática e propor as recomendações embasadas nas respostas dos instrumentos, a saber:

 conhecimento pertinente ao direito autoral: relaciona-se com a familiaridade dos termos, noções, conteúdos, legislação e novas tendências do direito autoral;

 aplicação dos conhecimentos nas práticas profissionais: busca-se identificar o conhecimento acerca dos termos, noções e conteúdo do direito autoral nas práticas e atividades profissionais;

 gestão laboral de direitos autorais: definem-se aspectos referentes a posicionamentos da direção quando da ocorrência de problemas com direitos autorais.

Diante das informações apresentadas nas análises dos resultados e embasadas nas dimensões ora expostas, a seguir, vislumbram-se as propostas de sugestões para melhoria na Coordenadoria de Produção do Material Didático da SEDIS.