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Parte I. O EUSÉBIO DE CONSTANTINO

1. Eusébio de Cesareia – de provável escravo a primeiro historiador cristão

1.5. Eusébio, de orador a quase mártir

Obviamente esse problema chamado Eusébio, para nós, não se reduz em ser interpretado como um apologista religioso, ou seja, um defensor intrépido de suas convicções de fé.

74 BARDY, Gustave. In: Eusèbe de Césarée. Histoire Ecclésiastique..., p. 33 e 34. “Há dúvidas sobre se nesta

ocasião o bispo da cidade ainda era o mesmo, Agápio, que tinha sucedido Teotecno e que provavelmente tinha elevado Eusébio ao sacerdócio, embora muitos admitam isso sem discussão. Mas, ainda que Eusébio não lhe cite, sabemos que em 314 o episcopado de Cesareia foi ocupado por Agricolao que participara enquanto tal, no Concílio de Ancira. Este, porém, parece ter servido por muito pouco tempo nessa função, e antes de 320, talvez mesmo a partir de 315, Eusébio o substituíra, contudo, nenhuma discussão foi levantada sobre o assunto.”

75 BARDY, Gustave. In: Eusèbe de Césarée. Histoire Ecclésiastique..., p. 36.

76 BARDY, Gustave. In: Eusèbe de Césarée. Histoire Ecclésiastique..., p. 41 e 42. Devemos ressaltar, mais uma

vez, que por ciência enquanto interesse de Eusébio, trata-se no máximo da teologia enquanto ciência religiosa. Segundo Bardy, Eusébio “permaneceu como apologista e historiador até sua morte. [...] seus méritos pessoais, seu aprendizado, sua eloquência, ajudaram-no a ter de aparecer em público. [...] A primeira ocasião em que exerceu a sua ação fora da sua diocese, foi na dedicação da catedral de Tiro. Após a paz na Igreja, as cerimônias deste gênero não eram mais incomuns, e muitos bispos passaram a assumir responsabilidades cerimoniais semelhantes. Era normal que Eusébio fosse um dos escolhidos. Inclusive, era o que ele pretendia reproduzir. [...] Seu discurso era um modelo perfeito da eloquência que prevalecia entre tantos retóricos. Apenas as passagens que podem nos interessar hoje são aquelas que descrevem a nova basílica e a sua extensão, que os arquitetos pelo menos são capazes de interpretar corretamente; e as menos desenvolvidas, ao que se pode descobrir, sob o peso das imagens, é o seu pensamento teológico enquanto orador.”

Porém, essa característica, apesar de óbvia, é de suma importância, pois se trata da roupagem de principal destaque na obra eusebiana. Para construir seus discursos, tanto apologéticos como panegiristas, Eusébio faz uso de uma notável eloquência muito comum entre importantes intelectuais cristãos daquele período chamado de Patrística77. Alguns dos importantes padres da igreja – assim são chamados os intelectuais cristãos da Patrística – sempre foram notabilizados pela excelente capacidade retórica, é o caso de Ambrósio de Milão, Agostinho de Hipona, João Crisóstomo e do próprio Eusébio. Resta saber se este foi mais influenciado pela retórica aristotélica ou pela oratória ciceroniana78.

Segundo reproduz Velasco-Delgado, “em 23 de fevereiro de 303 começava em Nicomédia a grande perseguição contra os cristãos. No dia seguinte se promulgava o edito imperial que a legalizava.”79 Em pouco tempo, o número de mártires só crescia, mas nada se

compara à quantidade de cristãos que morreriam durante o reinado de Maximino Daia – ou simplesmente Maximino – o qual se tornara César a partir do ano 30580. Conforme a

perseguição se intensificava, os próprios imperadores favoráveis às perseguições promulgavam os seus editos no intuito de oficializarem aquelas chacinas. Até 304, um ano

77 Patrística corresponde ao período de composição dos textos primitivos da religião cristã, registrando as

apologias como respostas às primeiras controvérsias teológicas ou às perseguições imperiais, as experiências religiosas dos padres, os ensinamentos eclesiásticos e doutrinários, os ritos e as crenças. Os intelectuais cristãos que escreveram esses textos durante a Patrística eram chamados de Padres da Igreja. Há que se diferenciar as motivações dos Padres ao longo dos séculos I ao século VII. Berthold Altaner e Alfred Stuiber dedicam muitas páginas para falar a respeito dos diferentes períodos da Patrística: os Padres Apostólicos (os escritos mais antigos), os Padres Apologistas gregos do século II, os escritos sobre a vida das comunidades cristãs nos séculos II e III, os escritos anti-heréticos do século II além dos textos gnósticos do mesmo período, a literatura cristã latina do século III e outros escritores ocidentais do mesmo século, escritos provenientes do Oriente grego, historiadores, cronistas e hagiógrafos, a literatura patrística do Concílio de Niceia (325) ao Concílio de Calcedônia (451) e, por fim, os textos que marcam o período de declínio da literatura patrística com escritores que viveram até o século VIII. cf. ALTANER, Berthold; STUIBER, Alfred. Patrologia – vida, obras e doutrina dos Padres da Igreja. 2ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 53 a 529.

78 Para explorar mais essas hipóteses, sugerimos as seguintes leituras: ARISTÓTELES. Retórica. 2 ed. Lisboa,

Portugal: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2005; PAVEZ, Leonardo Acquaviva. Historia Magistra Vitae: História e Oratória em Cícero. 2009. 187 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de História Social, Departamento de Fflch - História, Usp, São Paulo, 2009. Disponível em: <www.teses.usp.br>. Acesso em: 08 jul. 2011; TORRE, Robson Murilo Grando Della. O Discurso de Unidade Cristã nos Textos de Eusébio de Cesareia. Unicamp, Campinas, n., p.1-11, out. 2008. Disponível em: <http://www.ifch.unicamp.br/graduacao/anais/ robson_torre.pdf>. Acesso em: 08 jul. 2011.

79 VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 21.

80Segundo nos informa Frangiotti: “A primeiro de maio de 305, foram anunciadas as abdicações de Diocleciano

e de Maximiano simultaneamente. Este acontecimento [...] provocou confusões em vários sentidos. Até hoje, os historiadores discutem sobre os motivos reais da retirada de Diocleciano. Para substituí-los, Galério e Constâncio Cloro tomaram o título de Augusto, Severo e Maximino Daia receberam o de Césares. Desta vez o império foi dividido: Galério ficou com o Ilírico e a Ásia Menor, e Maximino com o resto do Oriente. Constâncio Cloro reteve para si a Gália e a Bretanha enquanto Severo ficou com a Itália, a Espanha e a África.” cf. FRANGIOTTI, Roque. In: Eusébio, Bispo de Cesareia. História eclesiástica..., p. 421 e 422. Velaco-Delgado confirma que Maximino Daia foi elevado a César em 305, citando um escrito de Eusébio intitulado De martyribus Palestinae, o qual foi conservado através de duas edições, sendo a mais antiga utilizada parcialmente como suplemento no Livro VIII da História eclesiástica. As informações contidas nesse escrito dizem respeito aos martírios efetivados entre 303 e 311.

após a promulgação de perseguição por parte do imperador Diocleciano, já tinham sido assinados quatro editos. Essa perseguição se estenderá até os primeiros três anos da segunda década81.

A pergunta que podemos fazer é: de que maneira Eusébio experimentou aquele período de perseguições? Não é possível saber, já que nem ele próprio registrara o que fizera enquanto a perseguição acontecia. O máximo que o próprio Eusébio informa é que naquele período se ausentara por duas vezes de Cesareia, estando em Tiro presenciando o combate de alguns mártires e na Tebaida, no Egito, onde testemunhara as execuções de vários cristãos ao mesmo tempo, de diferentes maneiras: decapitação, fogueira e até esquartejamento82. É possível que Eusébio tenha permanecido na “Palestina por sete anos de perseguição, sendo o mais provável que a sua estada no Egito não tenha ultrapassado o ano 311”83, conforme Velasco-Delgado

comenta em uma breve nota. A respeito do preparo autônomo de Eusébio em meio a toda essa perseguição da qual ele saíra curiosamente ileso, L. Duchesne nos informa:

Quando as igrejas foram destruídas, os livros sagrados queimados, os cristãos forçados à apostasia, um deles trabalhou em silêncio na clandestinidade, para a compilação da primeira história do cristianismo. Não tinha uma mente superior, mas tinha os seus diferenciais. Ele era um homem paciente, trabalhador, consciente. Por muitos anos, reuniu material para o livro que estava preparando. Com isso, conseguiu salvar documentos e até mesmo definir as obras. Assim, Eusébio de Cesareia tornou-se o pai da história eclesiástica.84

Não há indícios de que Eusébio tenha sido efetivamente preso. No máximo, há um comentário de Fócio de que ele tenha ficado preso, por um tempo, com seu mestre Pânfilo. Para não ser morto, é provável que Eusébio tenha simulado apostasia. O bispo Potamón de

81 VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 21. Velasco-Delgado

nos tem informado que na cidade de Cesareia, apesar das periódicas oscilações que aconteciam, foi durante aquela grande perseguição, “em um desses momentos de recrudescimento, em novembro de 307, que Pânfilo fora detido e encarcerado. Sua execução será cerca de três anos depois, aos 16 de fevereiro de 310, em meio a um novo recrudescimento da perseguição iniciado em 309”, conforme já comentamos ao tratarmos do mestre de Eusébio.

82 cf. H.E. VIII, 9.4.

83 VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 525.

84 DUCHESNE, L. Histoire ancienne de l’Église. tomo I, Paris, 1906, p. 7. Para Lorenzo Perrone, “a importância

histórica de Eusébio consiste em ter dado vida a uma historiografia eclesiástica, fornecendo assim o modelo de um novo gênero literário que permanecerá normativo por longo tempo, e em ter-se posto como porta-voz teológico da visão constantiniana, quanto às relações cada vez mais envolventes entre império e Igreja.” PERRONE, Lorenzo. Eusébio de Cesareia – filologia, história e apologética para um cristianismo triunfante. In: MORESCHINI, Claudio; NORELLI, Enrico. História da literatura cristã antiga grega e latina: I - de Paulo à Era Constantiniana. São Paulo: Edições Loyola, 1996, p. 542. Haverá um novo momento do presente trabalho, quando trataremos propriamente do estilo da História eclesiástica de Eusébio, quando então teremos de nos voltar às colocações de Perrone. Sobre o gênero literário iniciado por Eusébio e sobre a sua condição de porta- voz teológico da visão constantiniana, iremos explorar quando nos concentrarmos nas características de sua

História eclesiástica. Há que se adiantar, pelo menos, que a condição de porta-voz teológico da visão constantiniana é uma das formas que caracterizam o Eusébio de Constantino, ou seja, o Eusébio que corresponde aos interesses do imperador.

Heracléa do Egito e o bispo Atanásio de Alexandria seriam as referências para uma confirmação desta afirmativa. Epifânio (c. 315-403), por exemplo, preserva o protesto de Potamón dirigido a Eusébio numa reunião oficial em Tiro, no ano 335:

Mas dize-me: tu não estavas comigo no cárcere quando da perseguição? Eu perdi um olho, enquanto tu pareces não ter nada arrancado de seu corpo, nem que tenha sofrido martírio; ao contrário, te encontras vivo e sem mutilação alguma. Como escapaste do cárcere, a não ser prometendo aos nossos perseguidores trabalhar para eles?85

Esta repreensão que o bispo Potamón teria dirigido a Eusébio ocorrera no Concílio de Tiro, em 335, portanto, dez anos após o Concílio de Niceia, no qual se reuniram aproximadamente 320 bispos convidados e patrocinados pelo imperador Constantino, para resolverem os problemas da controvérsia ariana. Eusébio, ao lado de Eusébio de Nicomédia, era favorável a Ário, embora em Niceia tenha ao final concordado em assinar a condenação de Ário e o Credo Niceno, o qual, inclusive, derivara da igreja local liderada por Eusébio, mas que em Niceia, com alguns breves acréscimos, sugeria que a cristologia ariana que entendia Jesus Cristo como não divino eternamente era teologicamente equivocada, enquanto a cristologia defendida pelo então bispo de Alexandria chamado Alexandre e por seu secretário e diácono Atanásio era a mais coerente. Curiosamente, os eusebianos foram aqueles que conseguiriam a convocação do Concílio de Tiro, em 33586.

Possivelmente, se houve algum encarceramento, certamente ocorreu em Cesareia. Todavia, Eusébio não foi torturado, muito menos martirizado87, chegando posteriormente a

85 VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 22.

86 “O pretexto desta convocação foi o de reunir os bispos divergentes, mas na verdade os eusebianos queriam

colocar o bispo Atanásio contra a parede. Este Concílio ficou marcado pela maneira irregular com que foi organizado e pela condenação daquele que era, no momento, o mais capacitado defensor da fé nicena sobre a divindade de Jesus Cristo. Os bispos foram escolhidos a gosto dos eusebianos; se convocaram de todas as partes: do Egito, da Líbia, da Ásia, da Europa e de todas as províncias do Oriente; mas a maioria era composta de arianos. Os mais célebres foram os dois Eusébios, Theognis de Niceia, Maris de Calcedônia, Ursacio, Singidon e Valente de Mursa; também havia alguns bispos que não eram da facção dos eusebianos, como Máximo de Jerusalém, Marcelo de Ancira e Alexandro de Tessalônica. Constantino havia enviado o Conde de Dionís, para manter a ordem; isto é, segundo fizeram os eusebianos para oprimir a liberdade que deveria prevalecer no concílio. Instado Atanásio das ordens e ameaças se viu obrigado a assistir contra seu gosto àquele concílio, levando consigo quarenta e nove bispos do Egito, entre os quais estava Potamón.” cf. PASTOR. Francisco Perez.

Diccionario portátil de los concilios – Tomo II. Madrid: Impressor de Cámara de S. M., 1782, p. 209 a 211.

87 “Talvez não tenha sido por acaso que nem Lactâncio nem Eusébio tenham pessoalmente sofrido muito devido

à perseguição de Diocleciano. Assim como Tácito em relação a Domiciano, expressavam o ressentimento da maioria que havia sobrevivido em temor sem sofrer a dor física. [...] Se houve homens que recomendaram a tolerância e a coexistência pacífica entre cristãos e pagãos, a multidão logo se afastou. Os cristãos estavam dispostos a tomar o Império Romano, como esclareceu Eusébio na introdução da Preparatio evangelica na qual destaca a correlação entre a pax romana e a mensagem cristã: na realidade, a ideia nem sequer era nova. Os cristãos também estavam decididos a impedir o regresso da Igreja às condições de inferioridade e perseguição. Por ora podemos deixar de lado os problemas e os conflitos dentro da Igreja que tudo isso envolvia. A revolução do século IV, que trouxe consigo uma nova historiografia, não é entendida se subestimamos a resolução com que

ser, inclusive, escolhido para suceder seu bispo Agápio, entre 313 e 315.88 Neste sentido, não tanto como defensor de Eusébio, mas para demonstrar que é infundada a acusação que este recebera por simular apostasia, Velasco-Delgado afirma que a eleição ao episcopado de Cesareia

é a melhor prova contra a acusação de Potamón e a favor da conduta de Eusébio durante a perseguição. É pouco provável que, mesmo sabendo da sua culpa ainda que por covardia de Eusébio, os cesarienses o teriam elegido bispo, e que seu prestígio fosse, como de fato foi, só aumentando aos olhos dos fiéis e diante dos seus contemporâneos, incluindo os seus adversários.89

Pensando na sequência dos acontecimentos, ao final de abril de 311, foi promulgado o Edito de Tolerância, oficializado em Nicomédia e assinado por três dos quatro imperadores, pois um deles, Maximino, negava-se a colocá-lo em prática nos territórios do império que estavam sob o seu domínio. Ao mesmo tempo, não significa que ele tenha declarado negligência àquela decisão imperial. O edito concedia uma parcial liberdade religiosa aos cristãos. Aquele edito assinado por Constantino e Licínio e promulgado, sobretudo, pelo imperador Galério que já se encontrava em seus últimos dias de vida, determinava que os cristãos pudessem praticar sua religião, reconstruir seus templos e viver livremente na sociedade. Em contrapartida, eles teriam que oferecer orações a sua divindade pelo restabelecimento da saúde do imperador Galério e pelo crescimento econômico do império que já não se encontrava mais em seus melhores dias.90

os cristãos, quase avidamente, avaliaram e exploraram o milagre que havia transformado Constantino em seguidor, protetor e posteriormente legislador da Igreja cristã.” cf. MOMIGLIANO, Arnaldo. Ensayos de

historiografía antigua y moderna. México: Fondo de Cultura Económica, 1997, p. 95 e 96.

88 Há que se considerar que “depois das pesquisas de Lightfoot e Schwartz, nos cabe admitir que o sucessor

imediato de Agápio foi Agricolao que aparece no concílio de Ancira de 314 como bispo de Cesareia (trata-se, na realidade, de Cesareia da Capadócia) ao que caberia supor que foi Eusébio quem lhe sucedeu, em uma data que pode ser fixada entre 313 e 315.” VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia

eclesiástica..., p. 24.

89 VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 23. Potamón foi mais

um entre os que acusaram Eusébio de apostasia e, possivelmente, de fazer acordos com os perseguidores oficiais, no intuito de preservar sua pele, sem ser nem mesmo torturado.

90 Sobre o Edito de Tolerância, segundo Frangiotti, “o texto original [...] fora conservado por Lactâncio, no De

mortibus persecutorum, 34. Eusébio dá-lhe a tradução grega, mas ele modificou o texto que ainda sofreu numerosas correções. O edito foi publicado em Nicomédia, aos 30 de abril de 311. Galério morreu uma semana depois, aos 5 de maio de 311.” cf. FRANGIOTTI, Roque. In: Eusébio, Bispo de Cesareia. História

eclesiástica..., p. 430. Parte dessas informações é confirmada por Velasco-Delgado: “A enfermidade [de Galério] deve ter começado em abril de 310, uma vez que um ano depois promulgou o edito de tolerância, a 30 de abril de 311. [...] Segundo Lactâncio, Galério publicou o edito em Nicomédia em 30 de abril de 311, morrendo poucos dias depois, aos 5 de maio, em Sárdica. O próprio Lactâncio nos tem conservado o texto latino do edito, sem o cabeçalho que nos fornece Eusébio, ainda que revisado e corrigido.” cf. VELASCO-DELGADO, Argimiro. In: Eusebio de Cesarea. Historia eclesiástica..., p. 548 e 549. A História eclesiástica traz o Edito de Tolerância promulgado por Galério e assinado por este, por Constantino e por Licínio, ao final do Livro VIII (cf. H.E. VIII, 17). Após o registro desse documento imperial, Eusébio fornece, ainda no Livro VIII, seis parágrafos que dão

Segundo Velasco-Delgado “na Palestina, entretanto, já não aconteciam execuções, e em Cesareia o último martírio teria sido em 5 de março de 310.”91 Uma política anti-cristã de

Maximino, oposta à política pró-cristã de Constantino e Licínio, é sinalizada no último bloco da História eclesiástica, composto pelos Livros VIII, IX e X. Isso parece suficiente para demonstrar com certa facilidade o caminho que Eusébio resolveu percorrer enquanto escritor e historiador. De qualquer maneira, fica notável o seu objetivo que, no que se refere à História eclesiástica, era o de escrever uma espécie de continuação de sua Crônica, pois dessa maneira estaria demonstrando que havia uma continuidade dos dados religiosos judaicos na origem da igreja cristã, ou seja, a história cristã seria uma espécie de continuidade da história judaica. Conforme comenta Velasco-Delgado, em Eusébio “a história serve para justificar a doutrina.”92