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Já vimos como este prim eiro livro do Novo Testamento se abre convidativamente e nos leva a explorá-lo mais a fundo. Toda­ via, precisamos manter-nos dentro dos lim ites de nosso livro e va­ mos então apresentar só mais dois capítulos a respeito. Assim sen­ do, nesta revisão oferecemos simplesmente o que julgamos ser uma orientação ú til sobre certos aspectos da narrativa que podem ter deixado alguns leitores perplexos.

O Reino dos Céus

E de máxima im portância saber o significado de “ reino dos céus” , pois trata-se do assunto principal da pregação do Senhor. Existe, infelizmente, m uita confusão a respeito. Julga-se quase sempre tratar-se de um reino espiritual, mais ou menos idêntico à Igreja: confu nd ir porém os dois obscurece uma das distinções mais claras das Escrituras Sagradas.

João e Jesus começaram proclam ando: “ está próxim o o rei­ no dos céus” ; entretanto, nenhum deles explicou o que era o rei­ no. Por quê? Porque seus ouvintes sabiam, sem necessidade de ex­ plicação, que significava o reino messiânico de há m uito prom eti­ do através dos profetas do Velho Testamento. Mas as profecias desse reino vindouro têm qualquer ligação com a igreja? De form a alguma! Consulte algumas delas e verifique.

A previsão refere-se a um reino visível, com o Messias reinan­ do no trono de Davi, sobre Israel e as nações dos gentios reunidas, num império mundial. Aspectos éticos e espirituais são prognosti­ cados, mas o reino em si deve ser visível, messiânico, global — a própria antítese de uma “ igreja” que pelo seu próprio nome, i.e.

ecclesia, é uma m inoria chamada para fora, exclusiva.

Esse reino prom etido fo i anunciado pelo precursor, depois pregado pelo Senhor com credenciais messiânicas evidentes a to ­ dos, exceto para uma geração deliberadamente cega. Para um povo ansioso pelos aspectos materiais do reino há m uito esperado, suas exigências morais eram inaceitáveis. Apesar do entusiasmo popu­ lar despertado pelos seus ensinos e curas, o Senhor viu-se obrigado a dizer: “ O coração deste povo está endurecido” (13.15). O reino fo i rejeitado e o rei crucificado. Uma nova oferta foi feita duran­ te o período de espera coberto pelo livro de Atos, além da tremen­ da e nova mensagem da expiação através do Messias Jesus agora crucificado, ressuscitado e elevado aos céus, e confirm ado por si­ nais e milagres no Pentecostes. Mas houve nova rejeição, prim eiro dos judeus da pátria (A t 2-12), a seguir pelos judeus da Disper­ são (13-28).

O reino é então retirado. “ O seu sangue caia sobre nós e so­ bre nossos filh o s !” gritaram os líderes judeus na manhã da cruci­ ficação. “ Quantas vezes quis eu!... E vós não o quisestes!... Já não...” (M t 23.37, 39). Israel não quis ver e agora não pode ver. “ Veio endurecimento em parte a Israel, até que haja entrado a plenitude dos gentios” (Rm 11.25). A igreja não é o reino; nem esta era presente a era do reino. Quando o anjo anunciou previa­ mente a Maria o nascimento de Jesus, ele disse: “ O Senhor lhe da­ rá o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim ” (Lc 1.32, 33). Dessa form a, o Senhor e o “ reino dos céus” pregado por Ele foram associados imediatamente com o reino messiânico prom etido antes no Velho Testamento. O “ reino de D avi” e a “ casa de Jacó” não devem ser espiritualizados. O Senhor não tomou ainda posse desse tro no de Davi, mas Ele o fará em seu segundo advento. O reino será estabe­ lecido quando o Rei voltar e uma Israel penitente disser: “ Bendito aquele que vem em nome do Senhor!”

Folheie novamente o evangelho de Mateus: veja as muitas re­ ferências ao “ reino dos céus” que falam dele como ainda fu tu ro ,

histórico, visível. Procure depois fazer com que elas signifiquem um reino puramente espiritual identificado com a Igreja — e veja como isso é d ifíc il!

O Uso de Parábolas pelo Senhor

Quantas vezes ouvimos generalizações superficiais de textos cujo propósito é apenas local! Disseram-nos repetidas vezes que Jesus jamais pregou exceto por meio de parábolas, porque Mateus 13.34 declara: “ Todas estas coisas disse Jesus às multidões por parábolas, e sem parábola nada lhes d izia ” . No mais longo discur­ so registrado de Jesus, o Sermão do M onte, não existe porém qual­ quer parábola, o que também acontece com muitas outras partes de seus ensinamentos. Mateus 13.34 refere-se apenas a uma ocasião específica.

O fato do Senhor não ter até então fe ito tanto uso de parábo­ las fica evidente pela surpresa dos discípulos: “ Por que lhes falas por parábolas?” (13.10). Além disso, seu emprego mais repetido de parábolas dali por diante é explicado na resposta que Ele deu: “ Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios (i.e. as verdades até então ocultas) do reino dos céus, mas àqueles (i.e., as m u lti­ dões frívolas) não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem entendem” (13.11-13).

O fato do Senhor mudar para um método parabólico fo i de grande significado. A idéia daquelas pessoas continuarem vendo e ouvindo sem realmente ver e ouvir (i.e. sem reconhecer e respon­ der interiorm ente à verdade claramente exposta) era acrescentar mais e mais à sua responsabilidade e culpabilidade. Por tempo bas­ tante um Céu vigilante suspirara sobre seus pais e eles mesmos: “ Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está lon­ ge de M IM ” (15.8). Mediante um processo sinistro a própria capa­ cidade de reconhecer e atender à verdade tinha sido prejudicada, e o Senhor tristem ente diagnosticou: “ Porque o coração deste povo está endurecido, de mau grado ouviram com seus ouvidos, e fe­ charam os seus olhos; para não suceder que vejam com os olhos, ouçam com os ouvidos, entendam com o coração, se convertam e sejam por mim curados” (13.15).

Trata-se de uma lei da vida: aquilo que não usamos, eventual­ mente perdemos. Era isso que acontecia com Israel; e fo i justamen­ te esse o p rin cípio agora expresso nas palavras do Senhor: “ Pois ao que tem (i.e., ao que recebeu sinceramente a palavra) se lhe da­ rá, e terá em abundância; mas, ao que não tem (i.e., não recebeu sinceramente a palavra) até o que tem lhe será tira d o ” (v. 12). A p artir de então o Senhor ocultaria seus ensinamentos do reino na form a de parábolas. Havia misericórdia nisso, pois poupava o ou­ vinte não receptivo da culpa maior de desprezar a verdade clara­ mente estabelecida. Havia também ju ízo — “ A té o que tem lhe se­ rá tira d o ” .

Todavia, as próprias parábolas que deveriam encobrir a ver­ dade de alguns, revelariam nova verdade aos discípulos sinceros, pois “ ao que tem se lhe dará” . A esta altura, a rejeição im p lícita do reino por parte de Israel fora evidenciada e nessas parábolas de Mateus 13, o Senhor ia revelar verdades até então ocultas sobre o fu tu ro do reino, em conseqüência de sua presente rejeição. Esse é o significado do v. 35: “ A brirei em parábolas a minha boca; pu­ blicarei coisas ocultas desde a criação do mundo (veja também os versos 16, 17). Jesus estava realmente apresentando agora novas verdades sobre os aspectos futuros do reino, depois dele ter sido rejeitado por Israel. E esse fato que nos orienta sobre o seu signi­ ficado.

As Sete Parábolas de Mateus 13

Se quisermos que as sete parábolas de Mateus 13 sejam con­ sistentes, devemos evitar dois extremos opostos de interpretação: prim eiro, espiritualizá-las de form a que se refiram supostamente à igreja e à religião cristã; segundo, manipulá-las de modo a se adequarem a uma teoria dispensacionalista. Os que consideram o reino simplesmente espiritual, irão naturalmente cair no prim eiro erro. Os que sustentam um ponto de vista hiper-dispensacionalista tendem para o segundo. Devemos evitar exigir que cada detalhe de uma parábola signifique algo. São as principais figuras e carac­ terísticas que contêm o paralelo. Os detalhes são muitas vezes sim­ plesmente um cenário acidental.

Qual é então o sentido das sete parábolas em Mateus 13? Em prim eiro lugar, elas não se referem à igreja — pois esta nem sequer

foi ainda mencionada. Cada uma delas, exceto a primeira, começa: “ O reino dos céus é semelhante...” Esse reino não é a igreja.

Elas também não descrevem a cristandade nesta era presente, como afirmam certos dispensacionalistas. Neste ponto, segundo nossa opinião, a Bíblia “ Scofield” comete um erro, propondo uma teoria artificial em que o reino existe na terra hoje numa chamada “ forma misteriosa” . A nota de Scofield sobre Mateus 13.3 compa­ ra esta “ forma misteriosa” do reino com “ a esfera da confissão de fé cristã” , e depois acrescenta, “ É a cristandade” . Tenho prazer em reconhecer que muitas coisas são excelentes nas notas de Scofield, mas esta ficção dispensacionalista, no sentido de que o reino rejeitado existe agora no mundo em “ forma de mistério” , aliás cristandade, é seguramente ridícula. Ponto após ponto, as notas de Scofield contradizem as frases mais claras do Senhor, como alguns exemplos mostrarão. Primeiro:na parábola do joio e do trigo, nosso Mestre diz claramente: “ O campo é o m undo” (v. 38); mas as notas de Scofield, embora comecem reconhecendo isto, mais tarde se desviam dizendo: “ A parábola do joio e do tri­ go não é uma descrição do mundo, mas daquilo que professa ser o reino” . Segundo, na parábola do fermento, nosso Senhor co­ meça nitidamente: “ O reino dos céus é semelhante ao fermento” ; enquanto a nota de Scofield diz que o fermento é “ o princípio da corrupção operando ardilosamente” na forma de “ doutrina perversa” . Uma tal contradição das palavras do Senhor não é uma conjetura estranha?

Qual será então o propósito dessas parábolas? Vamos deixar que sua localização seja nosso guia. Elas ocorrem naquela seção da narrativa que fala das várias reações à mensagem do Senhor (veja a lição número 8). Ele já reprovou as cidades impenitentes da Galiléia; e agora, na parábola do semeador, retrata os resulta­ dos de sua pregação entre as multidões. Só uma fração delas pro­ vara ser um “ solo bom” (veja 13.18-23). As outras seis parábolas são destinadas a revelar, embora parcialmente e de forma sutil, certas verdades de longo alcance até então retidas com relação ao adiamento do reino, em resultado da resistência de Israel.

O Jo io e o Trigo

O Senhor explicou também mais tarde, particularmente, a parábola do joio e do trigo. Confrontada com sua explicação

direta, a teoria de Scofield quanto à existência do reino no mundo hoje na chamada “ forma misteriosa” , parece certamente estranha. O bom semeador é o “ Filho do Homem” . O campo é “ o mundo” . A boa semente é representada pelos “ filhos do reino” . O joio são os “ filhos do maligno” ; e o “ inimigo” que os semeou é o “ diabo” . A ceifa é a “ consumação do século” . Os ceifeiros são os “ anjos” . E a parábola termina. “ E N T Ã O (i.e., no fim dos tempos) os jus­ tos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” .

O envio de anjos quando o Filho do Homem voltar no final da presente era, e o estabelecimento do reino então, é uma idéia muito repetida no Novo Testamento. O próprio Senhor a declara diretamente em seu sermão no Monte das Oliveiras. O reino virá

“ E N T Ã O ” e não antes. _

O que o Senhor não revelou na parábola é que o “ E N T Ã O ” estava bem distante, separado pela presente dispensação da gra­ ça. Isso não poderia ser na verdade revelado, caso contrário a ofer­ ta contínua do reino a Israel pelo Senhor e seus apóstolos se teria transformado em simples faisa, embora fosse perfeitamente genuí­ na. O livre arbítrio da nação foi respeitado e permitido que os acontecimentos tivessem seu curso. E a presciência divina que fala nessas parábolas, divulgando o que deveria acontecer em vista do comportamento já previsto de Israel. O estabelecimento do reino deveria ser adiado.

O detalhe que aparentemente sugere a existência do reino

agora na forma de mistério, como cristandade, é que os “ filhos

(i.e. herdeiros) do reino” e os “ filhos do maligno” crescem jun­ tos até a última ceifa. Nesse ponto a nota de Scofield se desvia do que está realmente escrito e passa para a simples teoria, a sa­ ber: “ A parábola do joio e do trigo não é uma descrição do mun­ do, mas daquilo que professa ser o reino” .

Três fatores principais se opõem decisivamente contra a idéia de Scofield:

(1) Embora o Senhor dissesse que os “ filhos” ou herdeiros do reino já se achavam no mundo e deveriam continuar nele, com o joio, até a consumação do século, Ele foi igualmente definido ao declarar que o reino em si não viria até “ então", i.e., até o fim dos tempos; é portanto absolutamente errado por parte de Scofield afirmar que esta presença dos “ filhos” na terra antecipadamente é o próprio reino, já aqui de “ forma misteriosa” , como a cristandade!

(2) No sentido histórico, o fato decisivo é que desde 70 A.D., quando os romanos destruíram Jerusalém e dispersaram os judeus da Judéia, o “ reino dos céus” não foi mais oferecido aos judeus. O que está sendo pregado nesta dispensação, aos gentios e judeus igualmente, é a salvação pessoal através do Salvador cuja morte no Calvário fez expiação por toda a humanidade.

(3) Desde que o Senhor afirmou ser Ele o bom Semeador, a semeadura não pareceria referir-se ao ministério do Senhor então em lugar de algo que tem lugar agora, na sua ausência física? Ou- trossim, já que o Senhor como o Semeador toma o título messiâ­ nico de “ Filho do Homem” , isso não seria uma referência a Israel em vez da igreja ou cristandade?

A idéia de que nesta presente dispensação os “ filhos do rei­ no” são os cristãos regenerados deve ser rejeitada. Os membros do corpo de Cristo nascidos do Espírito são bem superiores aos “ f i­ lhos do reino” segundo o significado do Senhor. Quando o reino vier, eles entrarão nele, não apenas como súditos, mas para reinar

com Cristo (como mostram outras passagens).

Se alguém dissesse que os “ filhos do reino” devem estar em algum lugar da terra hoje porque lhes cabe crescer juntamente com o joio até a “ consumação do século” , respondemos que o fi­ nal dessa era veio há muito tempo, quando o temível juízo do ano 70 A.D. acabou com a nação judaica e trouxe “ grande tribula­ ção” como jamais fora vista antes. Até essa ocasião o reino fora oferecido aos judeus, primeiro pelo Senhor em pessoa (nos evan­ gelhos), depois através dos apóstolos (em Atos); mas a dupla recu­ sa de Israel se solidificara agora inexoravelmente. O juízo caiu; essa era terminou; o reino foi removido; houve uma interrupção; e agora, enquanto isso, surge o novo propósito de Deus, o mara­ vilhoso movimento através da Igreja, nesta presente dispensação da graça.

Se fosse objetado que anjos não foram enviados então, como o Senhor previra, e que portanto o juízo do ano 70 A.D. não po­ deria ser o que Ele indicara por “ consumação do século” , nossa resposta, de conformidade com seus outros pronunciamentos so­ bre este assunto, é que existe tanto um primeiro como um cum­ primento final desta parábola resultante da suspensão que se se­ guiu à recusa por parte de Israel. Em Mateus 24.34 nosso Senhor diz: “ Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça” (veja

nota no final da lição) e sabemos que todos os acontecimentos pre­ ditos se realizaram naquela geração, exceto a volta visível do Senhor com os anjos ceifeiros para estabelecer o seu reino — e o próprio Senhor fez disso a grande exceção, pois Ele declarou: “ Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão somente o Pai” (24.36).

Este mesmo fenômeno de cumprimentos novos e mais próxi­ mos, com a interferência da presente suspensão, aparece outra vez em profecias ligadas com o reino. Por exemplo, o Senhor disse (veja M t 11.14) que João Batista era um cumprimento da profecia em Malaquias 4.5: “ Eis que eu vos enviarei o profeta...” Depois da morte de João, porém, Ele afirmou que Elias ainda estava para vir, significando a vinda prevista de Elias no final desta era presente (ve­ ja a excelente nota de Scofield sobre M t 17.10,11). Do mesmo mo­ do, a “ ira vindoura” pregada por João teve um terrível primeiro cumprimento em 70 A.D.; mas o cumprimento final, como mos­ tra a epístola, será no final desta era: veja Apocalipse 6.17 — “ Por­ que chegou o grande dia da ira deles, e quem é que pode sus­ ter-se” ?

Finalmente, não devemos ver problema no fato do Senhor ter dito que os “ filhos do reino” deveriam estar no mundo “até” o “ fim da era” , mesmo que tivesse indicado esta era presente. O Senhor diz que eles são os "justos”. Tanto os “ filhos do reino” (i. e. os penitentes, retos, piedosos, crentes) como os “ filhos do ma­ ligno” estão no mundo através de toda esta era presente; e os primeiros — sempre uma minoria — serão com certeza os herdeiros do reino prometido quando ele vier.

Devemos porém compreender claramente que o “ reino do céu” ainda não veio, nem está aqui sob qualquer “ forma misterio­ sa” , identificando-se com a “ cristandade” ou “ a esfera da profis­ são cristã” .

A Semente de Mostarda e o Fermento

A terceira e quarta parábolas (semente de mostarda e fermen­ to) ilustram o fato do reino estar agora oculto mas que será gran­ dioso no final. Como excelentes expositores podem transformara belíssima descrição de Jesus acerca da árvore de mostrarda em todo o seu esplendor no “ crescimento insubstancial” do reino em

suposta “forma misteriosa” (veja a nota de Scofield) e depois ensinar (como alguns fazem) que “ as aves do céu” que alegre­ mente se “ aninham em seus ramos” são os falsos mestres e hi­ pócritas que exploram o reino na sua "form a misteriosa” , é pa­ ra nós triste e d ifícil de acreditar.

É mais lamentável ainda que embora o Senhor diga clara­ mente, “O reino dos céus é semelhante ao fermento” , eles insis­ tam em que o reino não é o fermento mas a massa, e o fermen­ to a falsa doutrina. A nota de Scofield não só explica o fermen­ to como “ o princípio de corrupção” ou “ falsa doutrina” , mas até identifica a mulher na parábola como a “ igreja apóstata” !

E realmente patético ver como a influência das teorias pode desviar os expositores bem-intencionados! Pelo fato da Escritura usar o fermento de maneira desfavorável, seria inconcebível pensar que o Senhor fizesse uso dele aqui positivamente? Adão é apresen­ tado tanto como um tipo perverso como um tipo de Cristo. Em Apocalipse 17, uma mulher simboliza o mal em sua forma mais ampla; entretanto, no capítulo 12, uma mulher representa o povo da aliança. Em Mateus 13 a palavra “ aves” ilustra a atividade sa­ tânica, todavia no capítulo 6.26 e em outros pontos elas são men­ cionadas positivamente. Até mesmo a serpente, empregada repeti­ damente num sentido maligno, e como um nome para Satanás, é também mencionada como um tipo do Senhor (veja Jo 3.14). Em Números 6, lemos que quando alguém fazia um voto de nazireado, qualquer coisa “ que se faz da vinha, desde as sementes até às cas­ cas” o contaminaria; todavia, quantas vezes em outros pontos a vinha é usada num bom sentido! (Jo 15, etc.). Mesmo assim, o fer­ mento era utilizado em toda casa; e o Senhor que gostava de ilus­ trar suas palavras com as coisas comuns do lar e da natureza, en­ controu nele justamente o exemplo que desejava.

Seja o que possa ser dito contra o fermento, não é possível ignorar o sentido das palavras do Senhor: “ O reino dos céus é se­

melhante ao fermento". Na semente de mostarda e no fermento

— a primeira enterrada no solo todavia, eventualmente, uma ár­ vore enorme, o outro oculto na farinha mas, eventualmente, leve­ dando toda a massa — o Senhor certamente retrata o reino então rejeitado como estando agora oculto, ou longe da vista, mas rea­ parecendo no final em toda a sua amplitude e grandeza. Em lu­ gar de uma suposta “ forma misteriosa” do reino agora na terra,

devemos compreender que ele está presentemente suspenso, e que quando o Senhor voltar, todas essas parábolas irão “ reviver” em toda a sua atividade e serão vistas em seu verdadeiro cumprimento.

O Tesouro Oculto e o Negociante de Pérolas

Nas duas curtas parábolas do tesouro oculto e do negociante de pérolas, o reino é novamente representado como estando ocul­ to, mas sob o novo aspecto de ser, não obstante, a “ descoberta” suprema para aqueles que estão procurando o melhor. Em lugar de publicidade e oferta comum, o que se vê agora é segredo e des­ coberta individual; notamos “ busca” e “ descoberta” e uma avalia­