• Nenhum resultado encontrado

A fim de continuar com nosso estudo intertestamentário, va­ mos procurar sentir os resultados dá atmosfera política e religiosa durante a época em que o Senhor viveu na Palestina.

O Mundo Romano

O mundo civilizado daqueles dias coexistia com o império ro­ mano. Uma sujeição comum ligava todas as nações ao trono único. Um controle militar comum mantinha a ordem em toda parte com mão de aço. Uma língua comum, i.e., o grego, unia as cidades maiores e os homens cultos num intercâmbio de pensamento uni­ versal jamais conhecido antes. Uma cultura comum, a greco-roma- na, prevalecia praticamente em todas as terras. As famosas estra­ das romanas facilitavam as comunicações por terra e tornaram-se grandes vias comerciais. As rotas marítimas no Mediterrâneo liga­ vam todos os povos, mantendo todos eles em paz uns com os ou­ tros. O comércio florescia por terra e mar. Desse modo, apesar de muitos oficiais facínoras, uma injustiça rústica era mantida em to­ do o mundo conhecido num nível jamais visto antes. A lealdade a Roma obtinha uma clemência correspondente. As religiões e costumes locais eram respeitados e concedia-se às províncias liber­ dade para autogovernar-se até certo ponto, no que dizia respeito a seus assuntos internos. A Palestina fazia parte de uma dessas pro­ víncias romanas (a da Síria) no início de nossa era cristã.

Palestina

A Palestina achava-se nesse período dividida em cinco sub- regiões: judéia, Samaria, Galiléia, Peréia, Traconites. O primeiro Herodes (erradamente chamado de “ Herodes, o Grande” em lugar de Herodes, o Sanguinário!) reinara sobre as cinco, mas por oca­ sião da sua morte (cerca da época em que o Senhor nasceu), o rei­ no fora dividido entre seus três filhos, como disposto em seu testa­ mento. A o mais velho, Arquelau (Mt 2:22), ele legou a Judéia e Samaria. A Herodes Antipas, deixou a Galiléia e a Peréia. A ou­ tro filho, Filipe, deixou Traconites. Dez anos mais tarde, Roma havia retirado a Judéia e Samaria de Arquelau devido ao seu mau governo e nomeou em seu lugar um procurador que passou a ser conhecido como “ Governador da Judéia” . Durante o ministério público do Senhor, o quinto desses procuradores administrava a região, a saber, Pôncio Pilatos. Ele prestava contas ao Legado romano sobre a Síria, que controlava toda a Palestina, e que por sua vez tinha de prestar contas ao imperador. A residência habi­ tual do procurador ficava em Cesaréia e não em Jerusalém, pois a primeira era a cidade de maior importância política para os romanos. Em ocasiões como a festa da Páscoa, entretanto, quando Jerusalém estava repleta e o sentimento nacionalista poderia esti­ mular pensamentos de revolta, o procurador passava a residir tem­ porariamente na capital, o que explica a presença de Pilatos ali quando ocorreu a desordem que ocasionou a crucificação do Senhor.

Nessa época também, Herodes Antipas reinava como Tetrar- ca sobre a Galiléia e a Peréia. Ele era filh o de Herodes o Grande e Maltace, uma samaritana. Meio idumeu e meio samaritano, não havia uma gota de sangue judeu em suas veias: e a “ Galiléia dos Gentios” parecia um dom ínio adequado para tal príncipe. Os evangelhos indicam que era um homem supersticioso, imoral e cruel. Ele também se achava em Jerusalém quando o clamor pela crucificação do Senhor irrompeu. Pilatos, portanto, ao saber que Jesus era da Galiléia enviou-o a Herodes, mas este devolveu a responsabilidade a Pilatos.

Os Judeus da Judéia

No que diz respeito à Judéia desse período, os fariseus, sa­ duceus e herodianos, estavam procurando introduzir seus pontos

de vista, cada um a seu modo. Havia grande atividade nas escolas dos fariseus. Alguns dos mais famosos entre os escribas adorna­ ram a época de Herodes o Grande. De fato, os famosos Hillel e Shammai, os mais renomados dentre todos os escribas judeus desde Esdras, e fundadpres, respectivamente, das escolas rivais de her­ menêutica rabínica na Babilônia e Palestina, estava ambos em seu apogeu£por ocasião do nascimento de Jesus. Os fariseus tinham grande influência sobre o povo e, portanto, Herodes os tratava com cuidadosa tolerância.

O poder dos saduceus tinha sido grandemente enfraqueci­ do com o assassinato de 45 de seus líderes no princípio do reina­ do de Herodes. Este também abolira o sacerdócio hereditário — outro golpe contra os saduceus. Não obstante, os saduceus perma­ neceram influentes nos círculos mais elevados, As famílias sacer­ dotais hereditárias continuavam sendo a aristocracia nativa da ter­ ra. Em seus escalões mais altos eles eram ainda motivados por ob­ jetivos políticos e não espirituais. Se Herodes não tivesse mostra­ do tanta selvageria em relação a eles no começo de seu reinado pelo fato de apoiarem o sumo sacerdócio hasmoneu, teriam cer­ tamente tido maior boa vontade do que os fariseus em aceitar sua autoridade e as inovações helenistas; mas eles agora partilhavam do ódio fariseu contra o regime de Herodes. Sua influência sobre o sumo sacerdócio e o Sinédrio ainda se mantinha firme. Tanto no final dos Evangelhos como no início do livro de Atos, o sumo sa­ cerdote e os principais sacerdotes eram saduceus, com bastante in­ fluência no Sindédrio (veja A t 4:6, 5:17, etc.).

Os herodianos, como faziam os nazistas, se misturavam com

o povo; com mais cautela, porém, desde que o filho de Herodes fora substituído por um procurador na judéia. Eles tinham o mes­ mo ressentimento que os fariseus em relação a esse oficial, mas não o seu ódio judeu contra Roma. Não se envergonhavam de usar tá­ ticas de espionagem e sempre faziam jogo duplo. Para os herodia­ nos, mostravam-se aliados fiéis e ao “ Governador” romano, davam ares de defensores leais do dom ínio romano, do qual Herodes de­ rivava a sua autoridade.

Eles desprezavam cinicamente a esperança messiânica dos pie- titas judeus, mas ficaram alertas quando surgiu o grande movimen­ to a respeito de Jesus ser o esperado Rei dos Judeus, com supostas reivindicações sobre o trono da Judéia. Sua hostilidade foi imedia-

ta. Ele era perigoso e deveria ser entregue ao governador para ser silenciado (Lc 20:20).

Não há dúvida que sua organização de espiões era conhecida. Lemos em Marcos 3:6: “ Retirando-se os fariseus, conspiravam lo­

go com os herodianos, contra ele, em como lhe tirariam a vida” .

Suas manobras ocultas contra o Senhor são expostas em Lucas 20:20 (que Mateus 22:16 aplica a eles): “ Observando-o, suborna­ ram emissários que se fingiam justos para verem se o apanhavam em alguma palavra, a fim de entregá-lo à jurisdição e à autorida­

de do governador” .

Um Triângulo Perverso

Os fariseus, saduceus e herodianos achavam-se todos na Ju­ déia naquela ocasião. Cada grupo odiava os outros com um senti­ mento de despeito maldoso e desprezo. Todavia, nesse estranho frenesi de ódio que a verdadeira bondade desperta involuntaria­ mente na mente dos que praticam o mal, os três grupos se uniram em sua oposição assassina contra o Deus-Homem inocente que era “ manso e suave de coração” .

/

Jerusalém Naquela Epoca

Não podemos talvez deixar este retrato dos judeus da Pales­ tina nos dias do Senhor sem ter um vislumbre da cidade de Jeru­ salém propriamente dita, no seguinte parágrafo escrito pelo Dr. Alfred Edersheim.

“ Existem dois mundos lado a lado em Jerusalém. Um deles representado pelo helenismo com seu teatro e anfiteatro; estran­ geiros congestionando a corte e a cidade; tendências e costumes estrangeiros, desde o rei de outras terras, etc. O outro era o velho mundo judeu, tornando-se agora estabelecido e estruturado nas es­ colas de Hillel e Shammai, à sombra do templo e da sinagoga. Ca­ da um seguindo seu curso ao lado do outro... Se o grego era a lín­ gua da corte e do arraial, sendo de fato compreendido e falado pe­ la maioria na nação, a linguagem do povo, empregada também por Cristo e seus apóstolos, era um dialeto do hebraico antigo, o ara- maico ocidental ou palestino... Tratava-se na verdade de uma mis­ tura peculiar de dois mundos em Jerusalém, não só dos gregos e judeus, mas também da piedade e mundanismo.”

Existe, porém, um outro aspecto muito importante daqueles judeus da antigüidade que não devemos de forma alguma negligen­ ciar. Uma nação não é apenas composta de cortes, escolas, líderes e partidos, mas dos milhares e milhares conhecidos e coletivamen­ te como “ o povo comum” . As páginas do historiador os deixam necessariamente desconhecidos e obscuros. Todavia, eles são tão humanos e tão pessoalmente preciosos para Deus, como os persona­ gens de renome. São eles que em seu vasto total e continuidade procriativa, constituem o corpo vivo da nação e da raça. São eles o verdadeiro objeto da história. Os poucos que se destacam, só o fazem pelo seu impacto sobre eles. Assim sendo, em tempos remo­ tos na Judéia, quando os anos a.C. deram lugar aos A.D., foram os homens e mulheres comuns que constituíram a vida da comuni­ dade sempre em movimento. Cada um deles tinha seus peque­ nos mundos pessoais de interesses e preocupações, prazeres e des­ gostos, alegrias e tristezas. Eles cresceram, envelheceram, trabalha­ ram, divertiram-se, riram e choraram, cantaram e suspiraram, tive­ ram esperança e temor, viveram e morreram.

O que dizer deles, naqueles dias? Alexander Maclaren assevera que “ os períodos mais negros não foram tão maus na realidade quanto parecem na história” . Jamais houve um período mais som­ brio na história de Israel antes do exílio, do que o dos Juizes. Fo­ ram dias negros de apostasia religiosa e desordem civil; e o livro trágico termina com um suspiro final: “ Naqueles dias não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto” (Jz 21:25). Todavia, logo após essa última sentença do Livro dos Juizes ini­ cia-se o pequeno e precioso Livro de Rute, com as palavras: “Nos

dias em que julgavam os ju izes”, lembrando-nos imediatamente

que mesmo naquele período terrível existiam pessoas de bom ca­ ráter, crentes fiéis e corações nobres. Isso aconteceu na Judéia à medida que os judeus emergiram daqueles séculos traiçoeiros e torturantes do período intertestamentário para entrar nos dias do Evangelho.

Havia amor sincero, retidão santa, aspiração piedosa, em es­ pírito de oração: e muitos estavam aguardando ansiosamente o “ Sol da Justiça” trazendo “ salvação nas suas asas” . “ Então os que temiam o Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ou­ via”

(Ml 3:16).

No carpinteiro de Nazaré e

sua

esposa virgem; nos pais de João Batista, nos pastores dos campos de Belém, no peque­

no grupo de santos que se reuniu à volta do recém-nascido Salva­ dor no templo, reconhecemos os humildes representantes do mais puro tipo de piedade judaica. Homens e mulheres como esses vive­ ram e morreram em Israel durante todos aqueles séculos. Bem dis­ tante da pompa das cortes terrenas e da luta de facções, da atmos­ fera conflitante do fanatismo político e religioso, eles haviam espe­ rado pelo consolo de Israel. E agora, finalmente, a pessoas como essas o há muito esperado Messias tinha sido revelado. Na hora da mais profunda degradação de Israel, quando o reino de Herodes parecia zombar das aspirações de todos os israelitas fiéis com sua aparência simulada de glória messiânica, os olhos deles contempla­ vam o Ungido do Senhor, o verdadeiro Rei do reino de Deus, “ cu­ jas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternida­ de” (Mq 5.2).

AS SEITAS

É notável ver como aquelas seitas judaicas da antigüidade res­ surgem e se apresentam como novas em cada geração. Ninguém se engane, elas vivem de novo hoje, usando roupas atuais e agindo en­ tre os modernos cristãos.

Em tempos idos, os essênios e os zelotes se mantinham lon­ ge do caminho do Senhor. Ele era demasiado popular para os es­ sênios e manso demais para os zelotes. Os essênios se mantinham afastados em sua solidão monástica e os zelotes nos seus esconde­ rijos nas colinas. O Senhor não levou qualquer mensagem aos es­ sênios, nem pediu ajuda aos zelotes.

Mas os fariseus, saduceus e herodianos estavam ali mesmo em oposição ativa a ele todo o tempo. Quanta ironia! Em seu orgulho cego eles estavam resistindo justamente àquilo que era suposta­ mente razão de sua existência. Observe-os cuidadosamente, pois trata-se de tipos altamente significativos. Os fariseus eram os anti­ gos ritualistas, os saduceus, os velhos racionalistas. Enquanto os

herodianos representavam os secular istas da antigüidade.

A marca do fariseu — o ritualista — é que ele está sempre

acrescentando.Ele não se conterita com a Palavra escrita de Deus

e com a verdade clara do evangelho, com a fé uma vez entregue aos santos. Sente necessidade de acrescentar suas próprias idéias e

ordenanças, até que a religião e a salvação se tornem algo muito complexo. Foi isso que os fariseus fizeram até que, devido ao peso acumulado de suas cerimônias e observâncias, tornaram a religião um fardo pesado demais para os homens carregarem.

Por outro lado, a marca do saduceu — o racionalista — é que ele está sempre subtraindo. Ele não pode aceitar a Palavra escrita de Deus em sua integridade, nem a verdade do evangelho como ela é; também não pode aceitar, sem omissões drásticas, a fé uma vez entregue aos santos. Tudo precisa ser julgado no tribunal da razão humana. Isto, aquilo e aquiloutro precisam ser cortados para tornar a fé racional e convincente. Foi esta justamente a atitude do saduceu. Ele não podia, ou antes, não queria, acreditar seja em an­ jos ou demônios, seja na ressurreição dos mortos ou em qualquer outro milagre.

Quanto aos herodianos — os secularistas — não se importa­ vam em somar ou subtrair. Do mesmo modo que o descuidado Gálio, não se importavam “ com nenhuma dessas coisas” . A pala­ vra escrita de Deus, a mensagem do evangelho, a fé uma vez entre­ gue aos santos, não eram a sua primeira preocupação. Seu interes­ se estava na vida de hoje. O que importa se um Herodes pagão reina sobre um trono manchado de sangue, desde que os interesses materiais estejam sendo atendidos? Enquanto o fariseu ritualista se ocupava em acrescentar e o saduceu racionalista incredulamente

subtraía, o herodiano secular negligentemente passava por cima.

Ritualista, Racionalista, Secularista

Temos conosco hoje esses três grupos. O fariseu — o ritualis­ ta — é o moderno eclesiástico “ superior” , o anglo-católico, o cató- lico-romano. Ele não se satisfaz com a Palavra escrita de Deus, a verdade clara do evangelho com suas boas novas da salvação só pe­

la graça da parte de Deus e só pela fé da nossa parte; também não se contenta com a fé uma vez entregue aos santos. Nada disso. Ele precisa acrescentar a elas os seus paramentos, velas, imagens, sacramentos, confessionários, penitências, cerimônias, e todos os outros enganosos adornos de sua hiper-religiosidade.

Por outro lado, o saduceu — o racionalista — é o moderno cé­ tico religioso, o modernista, o eclesiástico “ liberal” — e ele é tão liberal que algumas vezes não se pode dizer onde sua teologia co-

meça ou termina. Ele se alegra mais em contar o que não pode ou não quer acreditar do que em declarar aquilo que realmente

crê. Fiel à sua linhagem de saduceus, ele está sempre subtraindo.

Não pode aceitar a íntegra da Palavra de Deus, nem a verdade do evangelho como ela é; nem pode aceitar, sem cancelamentos drás­ ticos, a fé uma vez entregue aos santos. Isto, aquilo e aquiloutro precisa ser retirado. Ele não pode crer em Moisés, Isaías, Daniel. Grande parte da história e doutrina bíblicas é mística e imper­ feita. O próprio Cristo é falível. O milagroso e o sobrenatural de­ vem ser eliminados até que o único milagre restante seja a infali­ bilidade miraculosa da moderna erudição!

No que diz respeito ao herodiano, ele é o homem secular moderno. Assim como seu antigo protótipo teria “ helenizado” e “ herodiziado” a sociedade judaica (tudo em nome do progresso, naturalmente!), assim também o antítipo do século vinte quer su­ primir o que julga serem desgastados temores, escrúpulos ou sofis­ mas religiosos. Com a maior tranqüilidade, e em nome do chama­ do “ progresso” , ele esmagaria sob os pés a santidade do Dia do Senhor, profanando o mesmo com diversões seculares, sob rótu­ los piedosos tais como “ Domingos Mais Alegres para o Povo”.

Os Três Grandes Inimigos

Esses três — o fariseu, o saduceu e o herodiano, ou seja, o moderno ritualista, o racionalista e o secular ou mundano — são os três grandes inimigos do verdadeiro cristianismo evangélico de hoje. Para o ritualista, o foco do combate é a Mesa do Senhor — será uma mesa ou um altarl Para o racionalista, é a Bíblia — será a Palavra de Deus ou apenas do homem? Para o mundano, o cen­ tro é o domingo — será um dia santo ou apenas um dia de des­

canso ?

O aspecto mais triste no comportamento desses fariseus, sa­ duceus e herodianos da antigüidade, talvez seja o fato de terem se unido numa causa comum contra E L E , apesar de se odiarem e es­ tarem sempre em luta uns contra os outros. O que pode surpreen­ der-nos mais do que a leitura, bem no início do ministério do Se­ nhor: “ Retirando-se os fariseus, conspiravam logo com os herodia­ nos, contra ele, em como lhe tirariam a vida” (Mc 3.6)? Como era intenso o ódio que os fez rebaixar-se tanto! Não surpreende tam-

bém ler pouco depois: “ Aproximando-se os fariseus e saduceus, tentando-o” (Mt 16.1). Não havia também algo de sinistramente estranho na maneira em que os três grupos se reuniram contra Ele (Mt 22.15, 16, 23) num esforço conjunto e final para destruí-IO?

Não queremos parecer rudes, mas temos de estabelecer clara­ mente nossa opinião de que os ritualistas, modernistas e seculares de hoje rejeitam o Cristo dos evangelhos, tão real e falsamente quanto os fariseus, saduceus e herodianos. O Cristo dos evangelhos não é aceitável — como Eie realmente é — ao eclesiástico “ supe­ rior” , ao eclesiástico liberal, ou ao mundano. Eles podem parecer, respectivamente, “ tão espirituais” , “ tão intelectuais” ou “ tão ca­ ridosos” , mas se tocarem o seu nervo sensível, imediatamente dei­ xam transparecer sua aversão profunda pelo verdadeiro Cristo e pelo evangelho autêntico. O ritualista não aceita Cristo e o evange­ lho em sua simplicidade. O modernista não os aceita em sua infa­

libilidade divina. O secular não pode suportá-los com sua ênfase

“ rude” sobre a salvaçao pelo sangue.

Esses grupos diferem sensivelmente uns dos outros; todavia, farão causa comum contra o cristianismo evangélico — que pede apenas que o próprio Cristo e a Palavra de Deus escrita sejam a única corte de apelação! Quantas vezes em dias recentes a igreja ritualista de Roma juntou-se às autoridades seculares ímpias a fim de suprimir evangélicos protestantes cuja única ofensa fora pregar Cristo e o evangelho estritamente segundo as Escrituras! No ecu­ menismo que está se desenvolvendo agora, representado pelo Con­ cílio Mundial de Igrejas, os saduceus modernistas irão patrocinar idéias socialistas ou até mesmo comunistas, irão relacionar-se ami­ gavelmente com os fariseus de aparência venerável da Igreja Grega Ortodoxa, e receber os elaborados dignatários do Papado de Ro­ ma. Todavia, eles se zangam com aqueles que insistem em man­ ter-se apegados ao Cristo dos evangelhos e às Escrituras como a Palavra de Deus, inspirada e cheia de autoridade. Abstemo-nos de acrescentar qualquer outra coisa, mas se alguns que pertencem aos grupos acima mencionados vierem a ler estas linhas e se sentirem irados, advertimos: “ Examinai-vos a vós mesmos se realmente es­ tais na fé” (2 Co 13.5); “ ... examinando as Escrituras... para ver se as coisas eram de fato assim” (At 17.10).

Relevâncias Espirituais

Essas extintas seitas judaicas continuam falando entre nós também através de outros meios. Existe um “ meio dourado” de verdade que, quando seguido, gera nos homens uma santidade sa- diajmas quando os homens e os movimentos se desviam dele, tor­ nam-se proporcionalmente desequilibrados e sujeitos a extremos pouco sólidos. Vemos isto objetivado nos fariseus, saduceus, essê­ nios, zelotes e herodianos. Façamos um retrospecto. Os fariseus eram extremamente escrupulosos sobre a letra da lei e tornaram- se /7/per-espirituais. Os saduceus bifurcavam-se em sentido contrá­ rio, recusando a Palavra, exceto com significados limitados, e tor­ naram-se //7/ra-espirituais. Os essênios liam muito mais nas “ entre­ linhas” do que nas próprias linhas, convencidos que por meio de percepção peculiar tinham conseguido alcançar a realidade mais profunda de todas e se tornaram ultra-espirituais. Os zelotes, im­ pacientemente se afastaram em outra direção, argumentando que