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(1) OS ESCRIBAS

Quem e o que eram os “ escribas” , esses personagens pouco atraentes que aparecem com tanta freqüência nas narrativas do evangelho? O fato de serem uma classe influente fica eviden­ ciado e é necessário que os conheçamos um pouco, à medida que viajamos através do Novo Testamento.

Lemos a respeito dos escribas nos tempos do Velho Testa­ mento, mas eles elevem ser distingüidos daquela outra ordem que se desenvolveu durante o período intertestamentário e adquirira uma posição importante nos dias do Senhor.

Os escribas que encontramos nas narrativas do evangelho são uma classe de peritos profissionais na interpretação e aplicação da Lei e outras Escrituras do Velho Testamento. Se lhe dermos o seu nome hebraico, eram os sopherim (im é o plural em hebraico), do verbo hebraico saphar, que significa escrever, colocar em ordem, contar. No grego do Novo Testamento, seu título usual é o plural,

grammateis, traduzido uniformemente como “ escribas” . Com me­

nor freqüência são chamados de “ intérprete da lei” (nom ikoi), co­ mo em Lucas 7.30.

A Origem como uma Classe

Quanto à sua origem como classe, quase o mesmo que foi di­ to sobre a sinagoga também pode ser dito a respeito deles. Quais­

quer que tenham sido as funções e características dos escribas is­ raelitas nos tempos do Velho Testamento, e qualquer que tenha sido o tipo de associação de copistas patrocinado pelo rei Eze- quias cerca de um século antes do exílio babilónico, não pode haver dúvida de que a partir desse exílio desenvolveu-se uma nova linhagem de escribas que não era composta apenas de copis­ tas, registradores, transcritores, secretários, mas um novo grupo ou corpo de homens que se tornaram os guardiães, expositores, os doutores da Lei e de outras Escrituras, para toda a nação, e cujo poder como classe aumentou com a passagem do tempo. Eles não eram apenas escribas no sentido antigo, mas “ os escri­ bas” como uma ordem especialmente distinta na nação.

A transição deveu-se a cinco fatores: (1) a conversão do po­ vo judeu na metade do exílio, saindo da idolatria para uma nova e ardente fé em sua religião e na Escritura; (2) a necessidade de pro­ fessores especiais, sentida então pelos exilados, devido à separa­ ção de sua pátria, da capital e do templo; (3) a mudança do hebrai­ co, como linguagem falada, para o aramaico, exigindo uma nova espécie de especialista no estudo e exposição das sagradas Escri­ turas; (4) o aparecimento e difusão da sinagoga durante e depois do exílio na Babilônia; (5) a interrupção da viva voz da profecia, com Malaquias, e o acentuado interesse na palavra escrita da ins­ piração i.e., as Escrituras, provocado por esse fato.

Não é d ifícil ver como esta nova ordem de escribas, uma vez introduzida, obteve rapidamente grande poder. A própria nature­ za do judaísmo tornou tal coisa praticamente inevitável, pois al­ guém observou com acerto, “ O alvo e tendência do judaísmo era tornar cada judeu pessoalmente responsável pelo cumprimento de toda a Le i” ; e portanto uma “ regra definitiva” precisava ser de alguma forma extraída da Lei para cobrir praticamente toda ativi­ dade da vida diária. Este empenho em fazer da Lei um código tão detalhado, criou um problema complexo e por vezes agudo. De um outro modo a Lei precisava ser normativa mesmo em circuns­ tâncias em que não tivesse aplicação específica; e quando um re­ quisito parecia ser contrariado por outro, alguma harmonia oculta ou outra explicação adequada tinha de ser descoberta. Como acres­ centa o Dr. John Skinner: “ Manter-se fiel à aliança de Deus em tais condições tornou-se uma séria dificuldade teórica, vencida ape­ nas pelos esforços contínuos de um grupo de peritos treinados,

que fizeram do estudo da Lei o alvo de suas vidas” . O que isto veio a significar numa sociedade em que a lei civil e religiosa era uma só pode ser facilmente imaginado.

Podemos dizer que a nova ordem de escribas originou-se com o grande Esdras, embora este não possa ser associado às elaboradas

deturpações que se desenvolveram mais tarde. Em 458 a.C., cerca

de 80 anos depois do remanescente judeu ter deixado a Babilônia para voltar a estabelecer-se na Judéia, Esdras seguiu para lá com seu contingente menor, de duas mil e poucas pessoas. Ele é descri­ to com ênfase acentuada como “ escriba versado na lei de Moisés” e “ escriba das palavras dos mandamentos e dos estatutos do Se­ nhor sobre Israel” (Ed 7.6, 11). Mesmo no decreto de Artaxerxes ele é chamado de “ escriba da lei do Deus dos céus” (Ed 7.21). F i­ ca claro que com Esdras o cargo de escriba alcançou uma nova dignidade. Em Neemias 8.1-8, vemos Esdras em um púlpito ele­ vado, lendo, expondo e aplicando a Lei e, juntamente com auxi­ liares levitas, dando explicações “ de maneira que entendessem (o povo) o que se lia” (agora que o hebraico não era mais a lín­ gua falada por eles). A partir dessa época desenvolveu-se gradual­ mente uma classe de especialistas que dedicou-se às Escrituras he­ braicas e procurou aplicá-las como uma norma para tudo, até mes­ mo nos detalhes. Eles sem dúvida prestaram inicialmente um gran­ de serviço; enquanto a voz viva da profecia continuou, diante da qual toda Israel se curvava, a subordinação deles preservou sua utilidade.

Desvio Subseqüente

Nas palavras do falecido Dr. William Milligan: “ Só depois de cessada a inspiração profética do período e de completado o câ­ non, é que devemos observar a degeneração de seu espírito e o au­ mento do seu poder. Em meio às múltiplas influências estranhas que, desde essa época até o início da era cristã, estavam sempre ameaçando a existência de tudo o que era mais característico do povo escolhido, a Lei precisava ser preservada com o maior zelo possível. Ela tinha de ser ao mesmo tempo estudada e seus pre­ ceitos aplicados às circunstâncias em contínua mutação da vida e condição do povo. Esta aplicação da Lei, porém, não era feita esclarecendo o seu espírito, mas através de prescrições positivas

— prescrições que apenas professavam explicá-la e, fazendo isto de maneira concisa, sentenciosa e autoritária, nada deixando ao julgamento dos ouvintes, não podiam deixar de investir as regras assim dadas com uma autoridade quase comparável à dos próprios escritos inspirados... Assim sendo, foi praticamente impossível evi­ tar o que veio a constituir os dois princípios fundamentais dos es­ cribas: primeiro, a multiplicação das tradições orais; e, segundo, a introdução de um sistema de interpretação e exposição das Es­ crituras que destruiu completamente o seu significado e, sob a pre­ tensão de honrá-las, na realidade usurpou seu lugar” .

No curso do tempo este corpo de tradição oral transmitida sempre crescente passou a ser considerado como superando até mes­ mo a Lei em si. ‘Passo a passo os escribas foram levados a conclu­ sões que, segundo acreditamos, teriam horrorizado os primeiros representantes da ordem. As decisões sobre novos assuntos foram acumuladas em um complexo sistema de casuísmo. Os novos pre­ ceitos, ainda transmitidos oralmente, adequando-se mais precisa­ mente às circunstâncias humanas do que os antigos, passaram pra­ ticamente a substitui-los. A relação correta entre a lei moral e ce­ rimonial não foi só esquecida, mas absolutamente invertida.” O estudo das Escrituras em si tornou-se uma obsessão para com as minúcias, uma concentração em significados supostamente ocultos até nas sílabas e letras, uma absorção na simples “ letra” da Pala­ vra, até que a idolatria da letra destruísse a própria reverência em que ela tivera origem e a verdadeira instrução espiritual acabou por extingüir-se praticamente. Não é de se admirar que o povo ficasse surpreendido com o contraste entre os ensinos diretos de Jesus e o dos escribas (Mt 7.28, 29); nem é de surpreender que nosso Senhor condenasse essa super-veneração da “ tradição dos ho­ mens” (Mc 7.7, 8), ou que os escribas, decididos a manter sua po­ sição, se opusessem determinadamente ao Senhor e seus ensinos.

Algumas Distinções Necessárias

Os escribas devem ser cuidadosamente distinguidos dos sa­

cerdotes. Talvez possa parecer estranho que a ocupação de expor

e aplicar as Escrituras não se identificasse desde o início com o sacerdócio em Israel, mas isso, na verdade, não é estranho. A fun­ ção do sacerdote estava ligada inteiramente com as cerimônias ofi­

ciais e deveres da adoração do templo. Como é natural, o indiví­ duo podia ser sacerdote e mesmo assim dedicar seu tempo livre ao estudo da Lei e demais Escrituras, tornando-se assim tanto sacer­ dote como escriba (como aconteceu com o renomado Esdras: veja Ed 7.1-11), e sem dúvida muitos sacerdotes fizeram isso: mas as duas atividades sempre foram reconhecidas como completamen­ te distintas. Várias vezes nos evangelhos encontramos os escribas e sacerdotes reunidos, indicando estarem cônscios da relação íntima no sistema religioso único. Não obstante isto, porém, as funções de ambos eram separadas. A maioria dos primeiros escri­ bas eram homens leigos que, através do estudo concentrado, ha­ viam adquirido conhecimento das Escrituras e da Lei Oral, segun­ do os padrões exigidos; mais tarde, entretanto, em muitos casos, foi feito um curso na escola de algum rabino em Jerusalém.

Os escribas deveriam ser também distingüidos dos fariseus. Repetidas vezes nos evangelhos eles são mencionados em conjunto com os fariseus (Mt 5:20; 12:38; 15:1; 23:2; Mc 2:16; Lc 5:21, 30, etc.), mas embora isto revele afinidade não implica em identi­ dade. Os fariseus constituíam um partido eclesiástico, unido pelos seus objetivos e pontos de vista peculiares, enquanto os escribas compunham um grupo de peritos no sentido escolástico ou aca­ dêmico. O indivíduo poderia ser certamente tanto um fariseu co­ mo escriba: e o fato que praticamente todos os escribas eram fari­ seus em sua perspectiva e associação, d aí serem eles tantas vezes mencionados juntamente com os fariseus; as duas fraternidades no entanto diferiam. Os escribas não podiam ser considerados co­ mo uma espécie de seção do partido farisaico: eles eram indepen­ dentes e são mencionados separadamente em vários pontos (Mt 7.29; 17:10; Mc 9:11, 14, 16, etc.). O homem poderia mesmo ser as três coisas — sacerdote, fariseu e escriba — todavia essas três liga­ ções abrangiam áreas distintas de sua vida: a primeira relacionada com a ocupação diária, a segunda com a convicção religiosa, a ter­ ceira com a vocação especial. Do mesmo modo, ele poderia ser sa­ cerdote, escriba e saduceu, embora não haja evidência clara de que qualquer escriba fosse saduceu, cuja situação seja talvez devi­ da à atitude racionalista do partido saduceu.

Não podemos nomear e descrever aqui as várias partes que compunham a chamada Lei Oral e que eventualmente (no segundo século A.D.) foram fixadas em forma escrita. Iremos referir-nos a

isso num adendo sobre o Talmude judaico.

Havia muito de verdade na acusação de haver muita corrup­ ção por trás da santidade exterior dos escribas e o Senhor denun­ ciou-a severamente (Mt 23:13-28). Todavia, não deve ser suposto que todos os escribas agissem desse modo. Os nomes de homens como Nicodemos, Gamaliel e o renomado Hillel provam o contrá­ rio. O Senhor disse certa vez a um escriba anônimo: “ Não estás longe do reino de Deus” . Foi dito com verdade, porém, que geral­ mente “ constituíam uma casta marcada não só pelo pior tipo de farisaísmo, mas também pelo mais alto grau do mesmo. A tendên­ cia geral de seu espírito e instruções, como consta em todos os re­ gistros do Talmude nesse aspecto, era exatamente o oposto do evangelho de Cristo. D aí a severidade das censuras do Senhor e a justiça das maldições que Ele pronunciou contra os mesmos” .

(2) OS FA R IS E U S

Por mais que nos desagradem as características dos fariseus como apresentados nas narrativas do evangelho, não podemos dei­ xar de sentir que coletivamente tratava-se de uma seita poderosa e extraordinária. O Senhor disse essas coisas a respeito deles e pa­ ra eles; e sua forte oposição teve consecjüências tão fatais que deve­ mos saber quem eram e o que eram.

Sua origem como um movimento pode ser comparada a um rio que corre debaixo da terra por algum tempo antes de surgir à superfície e continuar correndo visivelmente daí por diante. O espírito e atitudes típicos do farisaísmo já estavam presentes nos judeus do pós-exílio antes que o grupo tomasse sua forma históri­ ca sob o nome de “ fariseus” .

Fatores Causais: ( 1 ) 0 Separatismo Baseado na Lei

Para a protogênese do movimento farisaico, devemos repor­ tar-nos ao início do período intertestamentário. Quando o Rema­ nescente voltou à Judéia depois do Exílio, seu objetivo era recons­ truir a comunidade judaica repatriada como uma nação dedicada ao Senhor, separada de todas as outras pela mais escrupulosa ob­ servância da sua lei. A integração desta idéia na nova organização

social e através dela mostrou-se muito mais problemática na prá­ tica do que na teoria e surgiram inúmeras dificuldades; mas o ideal não desapareceu, especialmente entre os mais piedosos.

Como dissemos, quando Esdras e seu novo “ remanescente” de cerca de duas mil pessoas chegou a Jerusalém oitenta anos de­ pois do grupo principal ter-se estabelecido ali, ele encabeçou uma reforma que já se fizera necessária — em que o primeiro ideal de separação tornou-se novamente supremo. Por consentimento co­ mum foram dissolvidos todos os casamentos mistos e corrigidas outras irregularidades. Numa reunião coletiva e através de acordo escrito, o livro da Lei foi aclamado como o padrão aceito tanto pelo estado como pelo indivíduo. A separação para o Senhor era o ideal dominante.

Fatores Causais: (2) A Influência Crescente do Sumo Sacerdote

A partir dessa épocà (aprox. 458-445 a.C.), durante o perío­ do comparativamente calmo da soberania persa (536-333 a.C.), a importância e prestígio do sumo sacerdócio cresceram cada vez mais. Isso não é de surpreender. Por manter, como direito de he­ rança, o supremo o fíc io sagrado num estado onde não havia rei senão Deus, era certo que exerceria uma influência especial desde o início. A autoridade sagrada e civil fundiu-se cada vez mais na figura única até que, em lugar de nomear governadores civis se­ parados, o governo persa concedeu ao sumo sacerdote judeu a completa responsabilidade por toda a administração civil e cobran­ ça de impostos para a Pérsia.

Houve também outros aspectos que não surpreendem tanto, sendo a natureza humana como é. O sumo sacerdócio tornou-se

um cargo ambicionado por eclesiásticos que pensavam mais em

suas vantagens políticas do que em suas responsabilidades espiri­ tuais. Não é também de se admirar que isto tivesse levado mais tarde à falta de escrúpulos, criminalidade e degradação do cargo, que veio a prejudicar o curso da história da nação. Seria igualmen­ te de se esperar que contra esse estado de coisas surgisse um mo­

vimento acentuadamente rígido, defendendo a estrita obediência d Lei nacional dada por Deus e aos primeiros ideais do judaísmo.

Fatores Causais: (3) O Aparecimento de Dois Grupos Opostos

Os primeiros sinais dos dois principais grupos opostos na na­ ção são encontrados bem cedo no período intertestamentário. O Dr. Skinner diz: “ Logo no início surgiram duas classes governan­ tes na Judéia, cada uma aspirando à influência suprema segundo seus moldes — os sacerdotes com base em sua posição oficial e os escribas na autoridade da Lei.

“ Vale a pena notar que de todos os círculos da sociedade ju­ daica, as fileiras superiores do sacerdócio foram as menos influen­ ciadas pelo espírito teocrático, as mais suscetíveis às influências estrangeiras e as mais prontas em momentos de tentação a aban­ donarem os princípios fundamentais de sua religião... Os escribas, pelo contrário, foram os zelosos campeões da integridade da Lei e defensores de tudo o que era característico do judaísmo. Eles fo ­ ram a vida e a alma da resistência popular ao paganismo, que trans­ portou a nação com segurança através dos perigos do período gre­ go, apesar da apostasia dos principais sacerdotes.”

No decorrer do período persa (536-333 a.C.), foi através dos escribas que “ os grandes princípios da santidade por meio de sepa­ ração se gravaram profundamente na consciência da comunidade e o caráter judeu adquiriu gradualmente a austera exclusividade e devoção às formas externas da religião que desde então desperta­ ram a antipatia do mundo gentio” .

Não havia possibilidade de transpor a brecha aberta entre o grupo de sacerdotes e o dos escribas. Ela se alargou cada vez mais até cristalizar-se em dois grupos distintos, os “ saduceus” e os “ fa­ riseus” , sempre em oposição.

Características Históricas: (1) A Primeira Menção pelo Nome

Assim, tendo em mente esta idéia das duas atitudes, grupos e tendências opostas no pequeno estado judeu, viajemos em pen­ samento para além do período persa, atravessando o período gre­ go (333-323 a.C.); ao egípcio, quando a Palestina fazia parte do império dos Ptolomeus (323-204 a.C.), do sírio (204-165 a.C.) e entremos no período macabeu (165-63 a.C.).

Depois da heróica resistência dos macabeus (165-135 a.C.) e devido à decadência do poder sírio, o estado judeu obteve um curto período de independência (depois de quatro séculos e meio

de sujeição a outros poderes). Isto se deu entre 135 a.C. e 63 a.C., data da conquista romana. João Hircano tornou-se sumo sacerdo­ te e embora jamais assumisse o título de rei, reinou como tal, dan­ do começo àquilo que foi chamada de dinastia hasmoneana. (“ Has- moneu” era o nome de família herdado por Matatias, pai de Ju­ das Macabeu e seus irmãos, e avô de João Hircano).

Este João Hircano recapturou a maior parte do território que pertencera muito antes a Israel. Nenhum rei judeu dominara uma área tão vasta desde a separação das dez tribos após a morte do rei Salomão. E nos dias de João Hircano que vemos também a primei­ ra aparição em cena dos fariseus, já com esse nome, como um mo­ vimento histórico.

* Como dissemos, os fariseus representam e dão continuidade àquela subdivisão dos líderes e do povo judeu para quem a leal­ dade à Lei e à religião de Jeová, assim como a dedicação aos pri­ meiros ideais do judaísmo representava tudo; porém, se não se po­ de deixar de presumir que a essa altura uma quantidade considerá­ vel de lei oral se acumulara, com múltiplas observâncias religiosas externas. Mais imediatamente, os fariseus eram os sucessores espi­ rituais dos Hasidim, i.e., “ Os Piedosos” , que trinta ou quarenta anos antes, se haviam agrupado em uma liga secreta a fim de pre­ servar a fé judaica quando o enlouquecido A ntíoco Epifânio pro­ curava exterminá-la mediante terríveis atrocidades. Esses Hasidim viviam de modo tão rígido e literal “ segundo a Lei” que muitos preferiam morrer do que levantar a mão para defender-se no sába­ do santo. Quando Judas Macabeu começou sua luta de libertação, os Hasidim se uniram a ele em grande número.

São esses, então, os antecedentes e surgimento histórico dos fariseus. O nome fariseu significa “ Separatistas” ; e não é imprová­ vel que seus inimigos lhes tenham assim chamado por causa de sua exclusividade piedosa, mas orgulhosa e por vezes mesquinha. Eles prefeririam ter-se mantido à distância dos assuntos políticos, mas as questões religiosas estavam sendo sempre envolvidas, o que os levou a um partidarismo ardente. A separação era o aspecto predo­ minante e a principal virtude no conceito fariseu de religião. Alia­ do a este achava-se a obediência fanática à letra da Lei.

Características Históricas: (2) A s Tendências Inevitáveis

Era inevitável que os fariseus tivessem muitos pontos em co­ mum com os escribas, os especialistas na Lei Escrita e na sempre crescente Lei Oral. De fato, como mencionamos antes, a maior parte dos escribas por vocação seria farisaica por convicção. Tan­ to para os escribas como para os fariseus, a separação e a santida­ de pelo cumprimento estrito da lei escrita e oral, era o objetivo supremo.

Por outro lado, uma propensão infeliz dos fariseus era um desprezo beato pelo povo comum que não tinha a menor possibili­ dade, e sabia disso, de vir a cumprir um dia os requisitos comple­ xos do código dos escribas.

Uma outra armadilha era sua facilidade em cair na hipocrisia. A princípio se esforçavam solenemente para desempenharem to­ dos os deveres prescritos pelos escribas; a seguir, fracassando nisto,