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Devemos porém apresentar nossos critérios sobre “ idéias” e o Novo Testamento sob um novo aspecto. Ouvimos algumas vezes a advertência para remover toda idéia preconcebida ao chegar ao Novo Testamento, deixando que ele fale às nossas mentes comple­ tamente abertas, como se estivesse sendo colocado em nossas mãos pela primeira vez. Talvez esse conselho seja valioso, especial­

mente quando dado a céticos ou incrédulos, a maioria dos quais parece temerosa de dar ao livro pelo menos uma oportunidade justa; mas quanto aos outros a recomendação precisa ser estuda­ da.

Nós que estamos fazendo estes estudos já damos valor às páginas preciosas do Novo Testamento e desejamos apreender seus significados mais significativamente. Queremos com certe­ za pôr de lado quaisquer idéias erradas e lê-lo com a “ mente aber­ ta” por completo. Todavia, uma mente “ aberta” não é necessa­ riamente uma mente vazia. Poderemos perder muita coisa se nos aproximarmos do Novo Testamento sem algumas idéias corretas.

Vamos mencionar aqui apenas uma que, se preservada desde o início, irá conferir brilho e entusiasmo à nossa pesquisa do co­ meço ao fim. A idéia é esta: O conceito característico que domi­ na todos os escritos do Novo Testamento é o de C U M P R IM E N T O .

Mateus, logo no início, estabelece este ponto e, para enfati­ zá-lo, inclui doze vezes a frase: “ Para que se cumprisse” (1:22; 2:15, 17, 23; 4:14; 8:17; 12:17; 13:35; 21:4; 26:56; 27:9, 35). Imediatamente, da primeira vez que registra um discurso público do Senhor, ele relata como ponto-chave do mesmo: “ Vim... para cumprir” . Mateus não é porém o único a dar esta ênfase. Qual foi a primeira palavra dita pelo Senhor ao dar início a seu ministério público? Segundo Mateus foi isto que disse: “ Porque assim nos convém C U M P R IR ” (3:15). Marcos registra: “ O tempo está C U M PR ID O e o reino de Deus está próxim o” (1:15). Segundo Lucas, lemos: "Hoje se C U M P R IU a Escritura que acabais de ou­ vir” (4:21). João, como sempre acontece, contraria os outros três evangelhos e em lugar de apresentar-nos a primeira declara­ ção do Senhor, oferece uma reação dos que primeiro o “ recebe­ ram” - “ A C H A M O S !” (1:41). “ A C H A M O S !” (1:45). Depois disso, mais de sete vezes, ele repete a nota-chave de Mateus: “ Para que se C U M P R A ” (12:38; 13:18; 15:25; 17:12; 19:24, 28,36).

Vemos isso de várias maneiras e em diversas frases através de todo o livro de Atos e das Epístolas. O Novo Testamento é o cumprimento do Velho; ou, para ser mais preciso, o C R IS TO do Novo Testamento é o cumprimento. Ele é o cumprimento de tu­ do que os profetas viram, que os salmistas cantaram e os corações piedosos esperaram.

O Novo Testamento é a RESPOSTA do Velho. Sem ele o Ve­ lho é como um rio que se perde na areia. Seria revelação sem des­ tino: algo previsto, mas nunca concretizado; promessa sem cum­ primento; preparo sem consumação. Se o Novo Testamento não for a resposta do Velho, então este jamais teve uma resposta e nunca poderá tê-la. Mas o Novo Testamento E a resposta. Ele é

A resposta. Ele é o V E R D A D E IR O , C L A R O E G LO R IO SO C U M ­

PRIM EN TO.

Vejamos como isso acontece.

x A S IN FO N IA IN A C A B A D A

Tente imaginar-se lendo ou estudando o Velho Testamento pela primeira vez. Vamos supor que você tenha um amigo judeu que lhe diga: “ Nossas Escrituras hebraicas são maravilhosas; você deve lê-las” . E você responde: “ Suponho que quer dizer a B íb lia ” . Ele replica: “ Não, a Bíblia é composta do Velho e Novo Testa­ mentos. Nós judeus acreditamos apenas no Velho. Essa é a nossa Escritura. Não se preocupe com o que esses cristãos chamam de Novo Testamento. Leia o Veiho Testamento e não apenas uma vez; ele é maravilhoso demais” .

Você lê então o Velho Testamento uma vez e, naturalmen­ te, a primeira seção que percorre é a Torá ou Lei — o “ Pentateu- co” . A coisa que mais prende sua atenção é a predominância do sacrifício de animais. Ele começa bem cedo em Gênesis 4, ocor­ rendo de novo nos capítulos 9, 12 e 22. Apresenta-se mais clara­ mente em Êxodo, até que em Levítico surge toda uma organiza­ ção de sacrifícios, ofertas, rituais e cerimônias. Em toda parte perdura a impressão que esses sacrifícios e cerimônias de algum modo indicam realidades além de si mesmos, embora isto não se­ ja em ponto algum explicado claramente. Todavia, você continua lendo os demais livros, esperando encontrar uma explicação. Vo­ cê viaja através dos livros históricos (Josué a Ester), os de filoso­ fia (Jó a Cantares de Salomão) e os proféticos (Isaías a Malaquias); mas apesar dos sacrifícios e cerimônias da Lei serem mencionados repetidamente, você chega ao final do Velho Testamento sem ob­ ter o esclarecimento que precisa e tem uma sensação decepcionan­ te de que o Velho Testamento é um livro de C ER IM Ô N IAS IN EX PLIC AD A S.

Mesmo assim, você concluiu que o Velho Testamento é na verdade o livro mais maravilhoso que já leu e que os judeus são uma raça notável. Será verdade que os judeus são o “ povo escolhi­ d o” de Deus, com um elevado propósito e destino? Você deve en­ tão lê-lo totalmente de novo. Começa outra vez em Gênesis. Obser­ va a aniquilação da civilização antidiluviana e a aliança de Deus com Noé, prometendo que a raça humana jamais seria destrufda de novo pelas águas. A seguir encontra a aliança de longo alcance fei­ ta com Abraão em Gênesis 12, 15, 17, 22, renovada mais tarde com Isaque e Jacó. A seguir aprende como as doze tribos foram libertadas do cativeiro no Egito pelo braço estendido do Senhor, fundidas em uma nação no Sinai, recebendo uma Lei e ordenan­ ças e constituindo uma teocracia. Você observa o povo da aliança invadir e ocupar Canaã: o futuro está repleto de oportunidades. Mas, lamentavelmente, segue-se o Livro de Juizes com suas sórdi­ das decadências e servidões. O Primeiro Livro de Samuel recapitu­ la a mudança de teocracia para monarquia. 1 Reis mostra a divi­ são do reino em dois. 2 Reis termina com a ida de ambos os rei­ nos para o exílio. 1 e 2 Crônicas narram a trágica história. Em Es- dras, Neemias e Ester, um remanescente volta para a Judéia; mas trata-se apenas de um remanescente. Os muros de Jerusalém são reconstruídos, mas o trono davídico não mais existe. Os judeus são uma minoria dependente na Judéia; fora dela eles foram dis­ persados nos quatro cantos da terra. Você continua lendo os li­ vros de filosofia, mas eles nada falam a respeito disso; os profetas também não fazem qualquer menção sobre os mesmos, exceto o úl­ timo trio, Ageu, Zacarias e Malaquias, onde as coisas não vão nada bem com o remanescente que voltou. Você termina assim sua segunda leitura do Velho Testamento com um triste suspiro, achan­ do que é um livro de PROPÓSITOS INATINGIDOS.

Uma coisa porém se destaca agora com poder cativante: em seus asDectos esDirituais o Velho Testamento é certamente incom­ parável e você pode entender muito bem porque os judeus se orgu­ lham dele. Na verdade vai ter de fazer nova leitura pois aqui, com certeza, o Deus verdadeiro é revelado, assim como o caminho para descobri-IO! Você começa outra vez em Gênesis. Este é com cer­ teza o mais confiável e sublime relato das origens jamais escrito! Você examina de novo Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Esta é verdadeiramente a Lei mais maravilhosa que já foi dada!

Mas o seu interesse especial está agora concentrado nos livros filo­

sóficos do grupo poético, de Jó a Cantares de Salomão, pois são

eles que tratam dos problemas dolorosos e pessoais do coração humano. Irá sem dúvida encontrar neles a solução! Mas, isso acon­ tece? Não. Embora sejam realmente esclarecedores, penetrantes, práticos, cheios de conselhos, lições e promessas consoladoras, de certa forma não contêm soluções claras ou finais para os terrí­ veis problemas do pecado, do sofrimento, da morte e do além. Você continua gemendo com Jó: “ Ah! se eu soubesse onde en­ contrá-Lo!’ Nos escritos dos profetas que se seguem você encon­ tra os mais elevados pontos de ética e as mais surpreendentes pre­ dições, mas eles não resolvem sua busca espiritual; e você termina sua terceira leitura do Velho Testamento percebendo igualmente ser ele um livro de ANSEIOS INSATISFEITOS.

Entretanto, mesmo agora, você não pode finalmente esque­ cer-se de suas páginas, pois ao lê-lo tornou-se também interessado na busca da realidade e, além disso, descobriu nele um certo fenô­ meno surpreendente que não se encontra em nenhuma outra reli­ gião ou filosofia debaixo do sol. Este aspecto singular impressio­ nou você cada vez mais à medida que releu o livro. Trata-se da ma­ ravilha da profecia do Velho Testamento, especialmente a profecia no sentido de predição, Não pode haver qualquer dúvida sobre a sua autenticidade. Previsões traçadas com ousadia, estendendo-se sobre o tempo, notavelmente detalhadas, a respeito do Egito, As­ síria, Babilônia e outros grandes poderes foram expostas e depois cumpridas com tanta exatidão que qualquer investigador sincero precisa concordar, “ Este é o selo do Deus vivo sobre essas Escri­ turas” . Além disso, o cumprimento das profecias garante a consu­ mação similar de muitas outras que se projetam para um futuro ainda mais distante. O corpo central da profecia do Velho Testa­ mento fala sobre o futuro como nenhuma outra literatura jamais o fez e o guarnece com a reparação mais compensadora e final. Tudo se concentra na idéia de que A L G U É M ESTÁ C H EG A N D O , e será a resposta de Deus ao clamor das eras. Muito antes, em Gêne­ sis 3.15 o “ descendente da mulher” deve “ ferir a cabeça” da ser­ pente. A promessa deste “ descendente” é renovada a Abraão, Isaque e Jacó, nos capítulos 12, 17, 22, 26, 49. Existem traços dela em todos os rolos sucessivos do Velho Testamento até que em Isaías e seus companheiros, o fluxo de profecia messiânica

chega ao ponto mais alto. Todavia, ao chegar a Malaquias, embora impérios tenham perecido, séculos marchado para a antigüidade e os videntes jazam em suas sepulturas, o Prometido não veio. “ Eis que Ele virá!” exclama Malaquias enquanto também ele, o último dos profetas, desaparece por trás da cortina nevoenta do passado; mas é preciso que se retire, e você termina o Velho Testamento compreendendo que é um livro de PR O FE C IA S NÃO C U M P R I­ DAS.

O Velho Testamento então, em seus quatro compartimentos sucessivos, i.e., o organizacional, o histórico, o filosófico e o pro­ fético, é um livro de (1) C ER IM Ô N IA S IN EX PLIC A D A S , (2) PROPÓSITOS N A O ATINGIDOS, (3) ANSEIOS INSATISFEI­ TOS, (4) PR O FE C IA S N ÃO CUM PRIDAS.

Terminada a Obra-Prima

Vamos supor agora que tendo lido o Velho Testamento você encontre um amigo cristão que o persuade a ler o Novo Testamen­ to. O que descobre? Você o lê uma vez, duas, três, e todo o tempo descobre um livro de cumprimentos correspondentes. O primeiro capítulo de Mateus faz soar o refrão que logo se torna habitual, “ para que se cumprisse...” O Jesus que deve “ salvar o povo dos pe­ cados deles” tem sua linha genealógica traçada diretamente até o rei Davi e o patriarca Abraão, através de quem as duas grandes “ alianças com promessa” de Deus foram feitas com Israel. O seu nascimento de uma virgem revela imediatamente o segredo de Isaías 7:14: “ Portanto o Senhor mesmo dará sinal: Eis que a vir­ gem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel”

j|U significa “ Deus conosco” .

Depois disso você lê sobre o Jesus do Novo Testamento, cu­ jo nascimento, vida, morte, ressurreição e ascensão são registra­

dos historicamente nos evangelhos, interpretados espiritualmente

em Atos e nas Epístolas, e consumados por antecipação em Apo­ calipse.

Em Sua morte vicária e auto-sacrifício expiatório, Sua ressur­ reição e ascensão, Seu sumo sacerdócio presente nos céus, e Sua volta prometida, você observa as cerimônias inexplicadas da Lei ganharem repentinamente novo significado. Todas elas apontam

O NOVO E O VELHO TESTAMENTOS

para E LE — como por exemplo as cinco espécies diferentes de ofertas em Levítico, as ordenanças do tabernáculo, a entrada anual do sumo sacerdote no Santo dos Santos para aspergir o sangue da aliança, e o fato dele sair mais tarde em suas vestes gloriosas para abençoar o povo.

Ao ler sobre o nascimento do Salvador e ouvir o anjo anun­ ciar: “ Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai...” , você compreende que as histórias não cumpridas do Velho Testamento estão sendo reto­ madas e encontrando cumprimento nELE.

Quando lê os ensinamentos de Jesus sobre o amor e paterni­ dade de Deus; ao ouvi-lo dizer “ Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” ; ao vê-IO não ape­ nas subindo aos céus mas enviando o Espírito Santo e vindo assim a habitar no coração de seu povo remido — você testemunha os

anseios insatisfeitos dos livros de filosofia do Velho Testamento

encontrando plena realização.

Quanto às profecias não-cumpridas da Cristologia do Velho Testamento, desde o dia de seu nascimento milagroso em Belém até o apogeu de sua ascensão miraculosa no monte das Oliveiras, Ele está cumprindo essas predições da antiga dispensação. Ele

alega ser o seu cumprimento — como quando diz na sinagoga:

“ Hoje se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir” (Lc 4:21). Ele

prova ser o seu cumprimento pela sua vida sem pecado e ministé­

rio confirmado por milagres e, mais ainda, em sua morte no Cal­ vário. Sobre quem passagens como Isaías 53 poderiam ser escri­ tas senão a respeito dEle a quem João Batista apontou, exclaman­ do: “ Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!” ?

O Jesus do Novo Testamento é realmente o cumprimento da cerimônia, história, filosofia e profecia do Velho Testamento. No Velho Ele está vindo. No Evangelho Ele veio em humanidade vi­ sível. Nas Epístolas Ele chegou através do Espírito Santo invisível. No Apocalipse Ele volta na glória do império mundial. Os cumpri­ mentos de seu primeiro advento provam a divindade da profecia do Velho Testamento e eles garantem que o que resta a ser cum­ prido, tanto no Velho como no Novo Testamentos, irá certamente ocorrer quando chegar a hora predestinada.

Louvemos ao Deus de luz Cuja revelação pura

Faz cessar a noite sombria da superstição Pela verdade divina e segura;

Cuja graça auto-manifestada, Iniciada através dos patriarcas, Brilha aaora em toda plenitude.

O NOVO TESTA M E N T O COMO UM TODO