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Evolução da avaliação observacional do risco de LMEMSLT

3. Identificação e avaliação do risco de LMEMSLT

3.1. Evolução da avaliação observacional do risco de LMEMSLT

Os métodos de avaliação observacional do risco de LMEMSLT são utilizados há algumas décadas (Corlett; Madeley; Manenica, 1979) considerando-se importante elencar alguns dos aspectos que estiveram na sua génese.

As primeiras referências dos métodos observacionais de registo postural remontam aos anos de 1970 altura em que foram particularmente desenvolvidos. O registo das posturas passou a ser efectuado com o auxílio de desenhos, fotografias e outros métodos descritivos (Gil; Tunes, 1989).

Identificação do critério (factores de risco) na

análise ergonómica (diagnóstico)

Identificação dos métodos

de avaliação do risco que integram o critério identificado (factor de risco)

Selecção e aplicação do método;

Análise dos resultados (classificações do risco) Validação do processo de selecção Decisão sobre a necessidade de intervenção (hierarquização do risco) Intervenção e avaliação da efectividade Validação do processo de avaliação Validação da identificação do critério

Um dos primeiros métodos observacionais que surgiu foi o método de Priel (Priel, 1974). Envolvia a utilização de uma grelha designada Posturograma. O observador tinha de visualizar o trabalhador, seleccionar as posturas observadas de acordo com as possibilidades de registo e, seguidamente, esboçar a postura de interesse (de risco) categorizando-a em 14 posições diferentes e isto em três eixos distintos relativamente, aos membros superiores e inferiores. Estavam, deste modo, consubstanciados os elementos necessários para a avaliação postural de um posto de trabalho. Apesar disso, o processo era lento e, com frequência, dificultado ou até não adequado para actividades dinâmicas com posturas extremamente variáveis.

Alguns anos mais tarde surgiu mais uma técnica de registo, a Ovaco Working

Posture Analysing System (OWAS), desenvolvida pela Ovako Oyl Steel Co. na

Finlândia (Karhu; Kansi; Kuorinka, 1977). Este método definiu os movimentos corporais em quatro grandes tipologias, com base na coluna dorso-lombar, na articulação do ombro e nos membros inferiores, utilizando as definições de localização, inclinação, rotação e elevação. Na utilização do método, o observador analisava a actividade, avaliando a postura mais incómoda e a de maior repetitividade ou a mantida por um maior período de tempo. Registava um código de 4 algarismos que representava as posturas identificadas a nível da coluna vertebral (4 escolhas possíveis), dos braços (3 escolhas possíveis), dos membros inferiores (7 escolhas possíveis) e da força exercida. A classificação necessitava apenas de alguns minutos de observação e poderia ser constituída por vários registos, cujo objectivo passava pela descrição detalhada e efectiva das posturas naquele local de trabalho. Esta forma de classificação estava relacionada com uma determinação do risco, todavia menos precisa (Keyserling, 1986).

Outro método, conhecido como “Alvo postural”, foi desenvolvido por Corlett durante os anos de 1970 (Corlett; Madeley; Manenica, 1979). Neste método o observador registava a postura da cabeça, do tronco, dos membros superiores e inferiores, num esquema corporal representado por um conjunto de diagramas de círculos concêntricos segmentares, semelhante a alvos. Os alvos estão adjacentes a cada zona corporal e são constituídos por quatro círculos concêntricos, representando as diferentes possibilidades de movimento em graus. Cada registo necessitava de pelo menos 30 segundos, e sugeria-se a sua utilização em actividades predominantemente estáticas (Corlett; Madeley; Manenica, 1979).

Mais tarde, em 1987, Drury elaborou um método para avaliação biomecânica das patologias relacionadas com movimentos repetitivos e focou a atenção em três factores de risco: força, frequência e postura. Este método avaliava e descrevia, através de quantificação, o número diário de movimentos (gestos) com risco, particularmente para o punho/mão (Drury, 1987).

Silverstein e outros (Silverstein; Fine; Armstrong, 1986, 1987) enfatizaram, pela primeira vez, a relação entre a repetitividade e a aplicação de força como factores de risco para o aparecimento e desenvolvimento das LMEMSLT, particularmente na síndrome do túnel cárpico (STC). Realçaram, igualmente, a existência de um mecanismo sinérgico entre estes dois factores que deveria

ser considerado na concepção dos instrumentos de avaliação do risco destas lesões.

Em 1993 um grupo de trabalho sobre LMELT da International Comission on

Occupational Health (ICOH, 1992) apresentou, pela primeira vez um modelo

conceptual para a interpretação e a avaliação das LMEMSLT que era aplicado com o auxílio de um método observacional (Armstrong et al., 1993).

A definição de linhas de orientação a utilizar por peritos na análise e avaliação de tarefas repetitivas a nível do membro superior foi pela primeira vez elaborada por Kilbon (Kilbon, 1994a). Tratou-se de um documento de revisão bibliográfica de extrema importância onde se descreviam particularmente as principais definições das tarefas repetitivas e a classificação dos vários elementos a considerar durante a análise do trabalho. A frequência de movimentos foi referida como tendo elevado relevo na caracterização do risco. A repetitividade da acção, perante a existência de outros factores de risco (trabalho muscular dinâmico e/ou estático, elevada velocidade/aceleração do gesto elevadas, posturas articulares extremas ou fora da zona de conforto articular, intensidade da exposição) foi considerada como um elemento amplificador do nível de risco. Para cada região do membro superior (mão, punho, cotovelo e ombro) foram apresentadas definições relativas aos valores limite angulares admissíveis em movimentos repetitivos, tendo-se demonstrado um risco elevado de LMEMSLT quando esses valores foram ultrapassados. Em 1995 a contribuição de um painel de peritos (Hagberg et al., 1995) permitiu reunir parte substancial do conhecimento existente sobre LMELT. Através de uma análise dos estudos relevantes nesta área, principalmente estudos de base epidemiológica, analisaram-se os principais factores de risco e particularmente os de origem ocupacional, apresentaram-se as possíveis relações causais que podem estar na origem de várias patologias do membro superior e descreveram-se os principais métodos de análise e avaliação indicados perante as particularidades de cada local de trabalho.

Por último, em 2001 o NRC/IOM produziu um documento de referência sobre as LMELT, ainda decisivo, quer na elaboração de qualquer instrumento de avaliação do risco, quer na conceptualização destas patologias.

A compreensão dos elementos utilizados na elaboração dos diversos métodos de avaliação do risco de LMEMSLT passa por uma descrição dos factores de risco e da sua relação com a génese destas lesões.