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Evolução psicoemocional

No documento CURSO DE PSICANÁLISE TEORIA PSICANALÍTICA (páginas 54-58)

A visão sobre a evolução psicoemocional do indivíduo começa com sua concepção e, principalmente, gestação, segundo Cichoski (2001). O indivíduo ocupa um primeiro

‘lócus’ que é o ambiente intrauterino. Em relação a tal ambiente podem ser considerados os diferentes estímulos a que está submetido o feto, postulando, é claro, diferenças em relação à fase da gestação e a maturação do Sistema Nervoso Central – SNC, com uma evolutiva capacidade discriminativa. No ambiente intrauterino quais seriam os diferentes estímulos do bebê? Os odoríferos, os visuais, os táteis, os gustativos e os sonoros? Com esse grau de estimulação como deve sentir-se o feto?

Nessa visão de início de vida do bebê, Melanie Klein propõe, a partir da análise com crianças pequenas, conceitos sobre o desenvolvimento emocional infantil, bem como, mecanismos defensivos mais primitivos. Diferentes autores fazem alusão sobre o nascimento do bebê, como vivência referencial para o indivíduo ao longo de sua vida: “na situação intrauterina, como efeito, o que é externo é desprazeroso e o que é interno é prazeroso. Após o nascimento, quando a criança tem fome e necessidade do mundo externo, o que é externo se transformou em prazeroso e o que é interno é tornado desprazeroso.” Para Klein, o nascimento se constitui na “primeira causa externa de angústia”, enquanto que Freud sugere que no homem “o nascimento proporciona uma experiência prototípica desse tipo” e segue o autor afirmando que “ficamos inclinados, portanto, a considerar os estados de ansiedade como uma reprodução do trauma do nascimento”.

Bion, em relação a estes dois momentos da vida fetal é um autor que apresenta os conceitos conforme segue:

a) O ambiente intrauterino vai caracterizar uma:

Relação de Continente e ausência de desprazer ou Angústia não aniquiladora (angústia que o ego é capaz de suportar).

Este seria o referencial de busca do indivíduo durante toda a vida, o retorno ao ambiente ideal, Continente de Angústia não aniquiladora, ou o Nirvana.

b) A experiência de nascimento transmuta esta situação para uma:

Relação Não Continente e o aparecimento do desprazer ou Angústia Aniquiladora (angústia que o ego não é capaz de suportar).

Afiguram-se assim, como os objetivos do ego:

a) Afastar-se da “angústia aniquiladora”, capaz de destruir o ego, associada ao nascimento, representante de todas as relações “não continentes”, conforme a conceituação freudiana de “experiência de dor” (Projeto Para uma Psicologia Cientifica, Freud, 1895), de acordo com o princípio do prazer/desprazer. A experiência do nascimento se constitui na referência para todas as vivências posteriores onde o ego identificar a presença de angústia (aniquiladora).

b) Procurar por relações “continentes” (Nirvana), capazes de gerar a vivência da

“angústia não aniquiladora”, conforme a conceituação freudiana de “experiência inicial de satisfação” (Projeto...), de acordo com o princípio de prazer/desprazer. A vivência intrauterina se mantém como referência para todas as vivências posteriores onde o ego identifica segurança (Nirvana*).

Pode ser observado que as situações criadas são:

COMPLEMENTARES e INVERSAS

Dentro desta concepção teórica kleiniana -, a perda da situação continente / angústia não-aniquiladora, obriga o ego a procurar pelo restabelecimento da situação “prazerosa”, e nesta tentativa, o ego infantil pode assumir algumas posições, dentro da conceituação de Melanie Klein:

ESQUIZO-PARANÓIDE e DEPRESSIVA

Estas posições são vivenciadas de forma conjunta e alternante de acordo com as experiências do bebê. Interessante lembrar neste ponto os conceitos da introdução relativos a: Significante, Significado, Signo/Sinal e Estrutura:

SIGNO = SIGNIFICANTE (SOM) + SIGNIFICADO (OBJETO)

Neurofisiologicamente, segundo Cichoski, parece estar falando de uma “memória de sons” e de uma “memória de objetos”, as quais se alojam em endereços cerebrais distintos, porém mantendo conexões.

ESTRUTURA = SIGNO a: (significante a + significado a) +

SIGNO a’: (significante a’+ significado a’)

Onde o signo a e signo a’ guardam entre si uma relação Complementar e Inversa.

Como integrar estes dados com nossa tarefa anamnésica/semiológica?

“Assim será construído um código afetivo-objetal biuniversal que será anterior e que servirá de ancoragem para o código informativo utilizado pelo paciente para nomear suas relações objetais. O código afetivo-objetal terá como significantes (pré-consciente) as relações objetais e como significados (inconscientes) as angústias”. (CICHOSKI, 2001). O que de certa forma lembra a posição freudiana, onde os afetos são recalcados e

‘desaparecem’. E segue o autor, dizendo que “O código informativo, ao contrário, terá como significantes (pré-conscientes) as palavras que servem para o paciente nomear suas relações objetais e como significados (inconsciente) as relações objetais propriamente ditas”.

Em outras palavras, o psicanalista na “escuta” de seu paciente deverá estar atento ao “relato verbal” da história deste – “código informativo” -, cujo conteúdo manifesto –

“significante” - indica aquilo que o paciente sabe sobre si mesmo. Estes dados estão relacionados com aquilo que o paciente “não” sabe sobre si mesmo –“significado” - que é seu conteúdo inconsciente.

O ensinamento de Gere (1981) é de que cabe ao analista a função de traduzir o conteúdo consciente que é ‘manifesto’ em seu correlato inconsciente que é ‘latente’. De

acordo com Gear e Liendo (1976), uma associação com os conceitos linguísticos e psicanalíticos, seria:

SIGNIFICANTE – código informativo (sintomas) / relações objetais – Pcs/Cs

SIGNIFICADO – código afetivo (angústia) / fato psíquico – Ics

Assim, tem-se dois conjuntos de dados inter-relacionados (em lógica, CLASSES, entendida como o conjunto de objetos, indivíduos, sinais etc. de um dado universo que apresentam um conjunto determinado de características em comum), a saber:

A todo o dado expresso/conhecido pelo paciente (Pcs/Cs), existe um outro dado não expresso/desconhecido (Ics). Tal conhecimento permite uma primeira conclusão que deve nortear o trabalho durante as sessões, conforme sugere Cichoski (2001) que: “a ideia de que o essencial da semiotização, do ponto de vista psicanalítico, reside nas relações que unem o universo das angústias – ou universo significado -, ao universo das relações objetais – ou universo significante”.

SEMIOTIZAÇÃO PSICANALÍTICA BÁSICA

SIGNIFICANTE - relações objetais – (consciente, verbalizado, som)

Exemplo: Continente (amada), Não continente (não amada) SIGNIFICADO - angústias – (inconsciente, sentido, não sabido, objeto referido)

Exemplo: angústia não aniquiladora (prazer), angústia aniquiladora (dor)

Relato Factual Vivência afetiva

Relação Objetal Angústia

Significante Significado

Manifesto Latente

Signos/Sinais Mensagens

Pcs/Cs Ics

Conclusão: deve ser determinada em cada relato do paciente qual a relação objetal em evidência – sabida - (significante/Pcs/Cs) para poder inferir sobre a angústia relacionada, não sabida (significado/Ics).

O conhecido conceito psicanalítico da TRANSFERÊNCIA, como a repetição de uma relação do passado no presente, encontra respaldo no conceito semiológico da COMUTAÇÃO, ou seja, o “processo semiótico teria continuidade por comutações” o que quer dizer “por substituições de fatos concretos iniciais por outros” e assim “por meio dos quais o ego observará se a relação inicial se mantém ou não, para confirmar ou invalidar a hipótese semiótica que ordena os universos em classes.”

A partir deste conceito Comutação/Transferência o nascimento como perda de relação objetal continente, pode ser considerado como fato inicial de referência para todas as vivências desencadeantes de desprazer/dor, ou seja, angústia aniquiladora.

Unindo os conceitos psicanalíticos de representação (de “coisa” e de “palavra”) com os conceitos linguísticos de signo/sinal (significante + significado) na concepção semiológica, temos que uma posição básica no entendimento das relações entre as

“representações de palavras” (enquanto significante/Pcs-Cs) e as “representações de coisas” (enquanto significado/Ics) é a de que “guardam entre elas uma relação perturbada de simetria invertida”. Isto para “evitar o experimentar, em um plano secundário de codificação afetiva, a classe dos significados afetivos com coloração de desprazer e angústia, que resultam de uma utilização correta desse código informativo.”

O paciente se vale de uma relação invertida na tentativa de não deparar-se com o desprazer do significado inconsciente, habitualmente recalcado. Ocorre, segundo Cichoski, a formação de uma “estrutura” com sinais significantes conscientes contrários (invertidos) aos significados inconscientes. Tal situação nos permite antever/deduzir a “estrutura inconsciente ‘inobservável’”.

No documento CURSO DE PSICANÁLISE TEORIA PSICANALÍTICA (páginas 54-58)