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Capítulo 3. EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM

3.6. A expansão da 1ª Légua Patrimonial

A intenção de modernizar o espaço urbano durante o ciclo da borracha direcionou os investimentos públicos e privados para as áreas mais centrais, provocando a valorização das terras localizadas nessa parte da cidade e, com isso, o deslocamento da população pobre para áreas mais afastadas do centro.

Esse deslocamento foi orientado pelo vetor criado a partir da linha da Estrada de Ferro Belém-Bragança (ao longo da hoje Avenida Almirante Barroso, prosseguindo pela BR-316), no sentido do município de Ananindeua (Rodrigues, 1996).

O fim do ciclo da borracha e as interrupções nas importações de produtos manufaturados da Europa contribuíram para o desenvolvimento de um pequeno parque industrial no bairro do Reduto. Que visava a atender a demanda interna e o beneficiamento de produtos da região.

Neste período (1920-1930) a cidade estava estruturada como segue: no bairro do Reduto se desenvolviam as atividades industriais; no bairro da Campina as atividades terciárias e nos demais setores o uso residencial. As áreas de baixadas eram destinadas as atividades agrárias e se caracterizavam pelas grandes extensões e baixa densidade. Entre as décadas de 1940 e 1950 a queda das exportações dos produtos associada à recessão provocada pela Primeira e Segunda

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Guerra Mundial, refletiu-se na economia do município por meio de uma crise econômica que provocou sua estagnação e seu esvaziamento parcial. A população da cidade diminuiu, correspondendo a 208.706 habitantes, bem menores que os 236.400 habitantes em 1920.

A atividade comercial desenvolvida no Bairro da Campina era dividida em quatro zonas116:

a. O velho centro, a parte mais antiga onde se localizavam os armarinhos, o comércio de miudezas e alguns escritórios;

b. O Ver-O-Pêso, mercado ao ar livre próximo ao cais do porto, onde se desenvolvia o Mercado da praia;

c. A zona portuária, cais localizado ao norte do Mercado da praia, com armazéns e equipamentos razoáveis e;

d. O novo centro, que se desenvolvia próximo à Avenida 15 de Agosto (atual Presidente Vargas), onde se localizavam os melhores hotéis, escritórios de companhias de navegação, repartições públicas e alguns bares, cafés e restaurantes.

E o setor residencial, era dividido em três áreas distintas:

a. A área residencial elegante era constituída pelos Bairros de Nazaré e São Brás, dispunham de ruas arborizadas e numerosas mansões ao longo das avenidas Nazaré, São Jerônimo (atual Governador José Malcher) e Independência (atual Magalhães Barata);

b. No entorno do Bairro do Comércio se localizava a área residencial modesta ocupada pela classe média, com residências no alinhamento da rua e finalmente;

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PENTEADO, Antonio Rocha (1968). Belém – Estudo de Geografia Urbana – 1º volume. Belém, Universidade Federal do Pará.

c. Os Bairros residenciais pobres que se estendiam pela periferia da cidade e caracterizavam-se por suas habitações de madeiras cobertas com folhas de palmeiras, em alguns casos, edificadas em terrenos úmidos, diretamente assentadas no solo ou elevadas do solo sobre estacas.

Já neste período a pobreza das áreas periféricas despertava a atenção de todos que transitavam pelas referidas áreas, provocada pelas condições como se apresentavam117.

Na década de 1930, Belém atravessou um período de crise econômica, que se estendeu até o início da Segunda Guerra Mundial, em 1940 terminou a influência da borracha na economia do Estado, resultando na estagnação de sua economia. Esses problemas se refletiram na população, por meio de um êxodo, provocou um esvaziamento parcial que a cidade. A população da cidade neste período correspondia a 208.706 habitantes, bem menores que os 236.400 habitantes em 1920.

Durante a década de 1940, Belém beneficiou-se com a instalação de bases militares, inclusive, segundo, alguns autores, norte-americanas. Processo que estaria relacionado à localização que Belém ocupa em relação a outros países e pela comunicação beneficiada por meio de rios e o Oceano Atlântico.

O processo de ocupação da cidade ocorria, inicialmente, pela disponibilidade de terrenos de cotas mais elevadas, localizados antes da 1ª Légua Patrimonial. Contudo, este processo de ocupação, estava predestinado a entrar em crise, quando o aumento da extensão da malha urbana, ultrapassasse os limites das linhas centro-periferia e constituísse deseconomias, em decorrência do aumento das distâncias do centro aos pontos de crescimento da cidade (SUDAM, 1976).

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As doações de terras que iriam constituir o cinturão institucional foram iniciadas entre as décadas de 1930 e 1940. Inicialmente, destinava-se a instalações militares como a base aérea, a base naval, o aeroporto, hospitais militares e centros de formação de marítimos. E baseavam-se no Decreto Federal n.º 3.365, de 21 de junho de 1941, que trata sobre desapropriações de terrenos por utilidade pública em todo território nacional. Concretizou-se entre as décadas de 1940 e 1950, com a doação de grandes extensões de terras a Instituições Públicas Civis COSANPA (15,68 km²), FCAP e EMBRAPA (15,25 km²), UFPA (2,51 km²), ELETRONORTE, Instituições Militares (EXÉRCITO, MARINHA, AERONÁUTICA) e Aeroporto (13,39 km²) (Figura 6).

Figura 6 - A Localização das Áreas Institucionais na Região Metropolitana de Belém

Fonte: Prefeitura Municipal de Belém – Companhia de Desenvolvimento e Administração da Área Metropolitana de Belém (CODEM), 1993.

O Cinturão Institucional possui extensão de 52,90 km² e está localizado no limite da 1ª Légua Patrimonial. Desde sua implantação constituiu-se em um

obstáculo para a expansão natural da cidade e aumentou as distâncias entre o centro e a Periferia.

A fase de continentalização, que teve início a partir do século XIX, durante o ciclo da borracha, consolidou-se após a implantação do CI com a ocupação das baixadas. A implantação do CI na década de 1950 contribuiu para a ruptura na tendência natural de expansão da malha urbana de Belém, que até a década de 1960 se processava a partir da ocupação das terras altas, localizadas no entorno do espigão central (as vias Almirante Barroso e seu prolongamento a Br-316).

Com base em estudos realizados pela CODEM118 (1986) observou-se que a implantação do cinturão institucional associado ao crescimento demográfico propiciou o desenvolvimento de cinco formas de ocupação do espaço urbano em Belém:

a) a verticalização das áreas localizadas antes da Primeira Légua Patrimonial; b) a ocupação dos miolos de quadras por meio da propagação de vilas119 e passagens120;

c) a substituição das áreas verdes por edificações, em decorrência do aumento de densidade dos terraços (terras altas);

d) a ocupação das áreas localizadas após o cinturão institucional por meio de conjuntos habitacionais, industria e de habitações periféricas (áreas de invasões) de baixo padrão construtivo;

e) a ocupação das baixadas121.

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Companhia de Desenvolvimento e Administração de Áreas Metropolitanas de Belém.

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É o conjunto de pequenas habitações independentes, em geral idênticas ou de mesmo padrão habitacional e disposta de modo a formar rua ou praça no interior da quadra (CODEM, 1994).

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Denominação aplicada a vias com largura compreendida entre quatro e oito metros (CODEM, 1994).

Neste contexto a cidade passou a ser estruturada a partir de quatro áreas: a área central (1ª Légua Patrimonial), a área de transição (no limite da 1ª Légua Patrimonial, inclui o cinturão institucional), a área de expansão (após o cinturão institucional) e o Conjunto de Ilhas.

A área central localiza-se dentro do limite da 1ª Légua Patrimonial122 envolvendo a parte mais antiga da cidade. Neste espaço se concentra a melhor infra-estrutura, os serviços urbanos, os locais de trabalho, comércio e lazer, por conseguinte, apresenta intensa verticalização e valorização dos terrenos e concentra os maiores níveis de renda. Encontram-se, ainda, neste espaço as baixadas localizadas, principalmente, nos bairros do Guamá, Condor, Pedreira e Jurunas.

Grande percentual da área de transição é ocupada pelo cinturão

institucional123. Em decorrência da presença dos conjuntos residenciais para funcionários públicos do Estado e as vilas militares, predominam nessa área o nível de renda médio. Esse espaço é constituído, ainda, por um significativo número de invasões, localizados em terrenos públicos (institucionais), que ocuparam essa área a partir da década de 1980, nesses locais o nível de renda da população e a qualidade de vida são baixos, mas a acessibilidade é boa, pois estão próximos ao centro. Nesta área, estão sendo aplicados projetos de macrodrenagem e reurbanização desde a década de 1990.

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PEREIRA, I. & LIMA, P (2007). Reurbanização e Legalização Projetos que Contribuem para a Valorização das Baixadas de Belém. In: XII ENCONTRO NACIONAL DA ANPUR: BELÉM-PA.

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Área de terra de aproximadamente uma légua, que foi cedida pela Coroa Portuguesa ao Conselho Municipal de Belém por meio de Carta de Doação de Sesmaria, no dia 1º de setembro de 1627, no governo do capitão-geral do Estado do Maranhão e Grão Pará, ficando a partir desse momento, sob

Jus Domini do Governo desse Município. O limite dessa légua localiza-se no atual Bairro do Marco,

assim denominado por ter sido aí fixado o marco desse limite.

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Conjunto formado por grandes extensões de áreas institucionais, localizadas na primeira légua patrimonial, doadas à instituições públicas civis e militares entre as década de 1940 e 1950, por meio de decretos estaduais e municipais. Que se constituiu em uma barreira à contigüidade da malha urbana de Belém.

A área de expansão constitui a periferia da cidade, está localizada após o

cinturão institucional, contribuindo para aumentar a distância física com a área

central. A expansão da cidade foi estimulada para esta área desde a década de 1960, com a implantação de indústrias e conjuntos habitacionais para a baixa renda e funcionários estaduais. Tinha por finalidade a descentralização das atividades do centro, que já se encontrava congestionado.

Do conjunto analisado, a área de expansão é a que apresenta maior e extensão e maior crescimento populacional, concentrando mais de 60% da população da cidade. Predomina em seu núcleo as áreas ocupadas pelas classes pobres, residentes das áreas de invasões, conjuntos habitacionais e bairros para a baixa renda. Porém, está se cristalizando, neste espaço, a presença de condomínios para classe de maior poder aquisitivo, por conseguinte, já começou a se desenvolver nesta área, um centro de comércio e serviços dispondo de universidades, órgãos públicos municipais, dentre outros, contribuindo para que este espaço se caracterize como um sub-centro de Belém. A expansão da cidade para esta área não foge a especificidade das demais cidades da atualidade, pois a área de expansão, localizada após o cinturão institucional, se caracteriza pela predominância de condomínios verticais e horizontais e pelo desenvolvimento de áreas de invasão em suas franjas, que se expandem para os outros municípios que constituem a RMB.