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Os projetos urbanos como mecanismo da

valorização do solo em Belém

Como avaliar o processo de valorização imobiliária nas cidades, já que estas apresentam aspectos tão diversificados dos modelos anteriores? Alguns questionariam a validade de continuar analisando os atuais problemas relacionados ao solo urbano129 à luz de antigos paradigmas.

A formação do processo cognitivo ocorre pela apreensão da produção literária que precederam as análises contemporâneas. Ou seja, as raízes do conhecimento de qualquer disciplina se fundamentam em estudos que a precederam, e não tem como desprezar os esforços iniciais de compreender a formação de uma teoria. Neste caso, a da renda fundiária que tem origem em autores como Marx, Ricardo, Adam Smith ou Von Thünen e pelos que os sucederam como é caso da Escola de Chicago ou da Escola Neoclássica, que procuraram compreender a formação da estrutura urbana e das rendas do solo.

Logo, a contemporaneidade de uma análise que tem como finalidade a avaliação do valor imobiliário, não pode desprender-se do conhecimento e da aplicação das teorias que a sustentam, por mais que se pretenda realizar uma análise contemporânea. Neste caso, as inovações estarão presentes pelo acréscimo de novos elementos que contribuam para uma análise dos preços das edificações inseridas espaço urbano e que influenciam na avaliação imobiliária nas cidades da atualidade. Pois, na atual fase em que a economia capitalista se apresenta, a globalização130, os processos de mudanças no interior das cidades ocorrem a uma velocidade vertiginosa.

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Para Rossi (1985), solo urbano é o local no qual se manifestam os fatos urbanos, a área na qual é possível detectá-los. Mas, pode-se compreendê-lo como um dado natural, também como uma obra civil e parte substancial da arquitetura e parte da cidade, podendo-se ver, ainda, essa área em seu conjunto, e então ela se constitui a projeção da forma da cidade, um plano horizontal, ou de partes específicas (p.62).

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Margareth Pereira in “Dos conceitos de cidade ou pequenos manifestos em favor de objetos múltiplos, indecisos e fluidos”, fornece algumas reflexões sobre o tema relacionado à história da forma de apreender e conceituar as cidades. Neste estudo a autora afirma que ao levar em conta as temporalidades nos estudos urbanos, impõe-se que a “globalização” é um processo antigo que se

Nesta pesquisa optou-se por uma análise da ação dos agentes que produzem o espaço público e privado, e que tem interferido na transformação das cidades tradicionais em cidades globais, tão ou mais perversas como essas o foram no início do capitalismo. Portanto, vai estar centrada nas ações do Poder Público, ou seja, nas intervenções urbanas que produzem e adaptam o espaço urbano as novas necessidades requeridas pelo capital.

As intervenções urbanas alteram não só a morfologia das cidades, mas também os usos, os valores do solo, as densidades e as características sociais, resultando na alteração, em muitos casos, da identidade cultural. Tais como os processos de transformação que tem ocorrido nas cidades atuais, quando se verifica a extinção da identidade local, pois o Poder Público busca equipar seus espaços para inserir as cidades nos ditos mercados globais, dificultando uma distinção dos lugares, pois os mesmos se assemelham.

Defende-se a hipótese, como já citado, de que a política urbana – concretizada nas ações do Poder Público através da revitalização de áreas “degradadas”, localizadas em áreas com boa acessibilidade – atua como mecanismo para o desenvolvimento de rendas que estimulam a valorização do solo.

Deste modo, as revitalizações urbanas além de estimularem a valorização do solo, agravam o quadro de exclusão e a segregação sócio-espacial, pois no cerne das ações, as aplicações dos projetos são geridas pelos imperativos do mercado. De acordo com Santos é através do processo de produção que o homem transforma a natureza a fim de garantir sua sobrevivência ou de aumentar sua riqueza.

confunde com a própria construção da “cidade” e das “idéias de cidade”. Ou seja, “a globalização” é a face de um mesmo processo de expansão e reconstrução das redes de intercâmbio e trocas e de macro regulações que tem a cidade como um dos seus pilares e mobiliza diferentes tipos de “capital”. Em conseqüência, ela não só não é um fato novo, como possui uma história, que, no entanto, não se declina no singular.

A política urbana é apreendida, em conformidade com Lojkine (1997), como exercendo um papel fundamental para o desenvolvimento das contradições capital / trabalho, trabalho morto / trabalho vivo131.

Lojkine (1997) contesta que a política urbana remeta a um recorte ideológico que reduz o campo urbano a um domínio acessório da política estatal, logo exterior ao objetivo principal das sociedades capitalistas, que buscam o progresso

econômico e a acumulação de capital [grifo do autor]. Para este autor a urbanização

além de uma forma desenvolvida da divisão social do trabalho é um dos determinantes fundamentais do trabalho. Logo, o urbano mais que de um campo de aplicação da política urbana seria o componente-chave para sua análise.

É factual que a segregação sócio-espacial se manifesta nos primeiros estágios da aplicação de um projeto urbano. Ou seja, primeiro, na seleção dos espaços “degradados” que sofrerão intervenção urbanística; em seguida, na elaboração do projeto e; posteriormente, na execução, concretizada no remanejamento de residentes que possuem suas moradias localizadas em área de interesse para a realização de projetos. E, cristalizam-se em estágio posterior à conclusão das obras, quando os espaços saneados e, então, providos de infra- estrutura, passam a compor um estoque para o mercado imobiliário. O que decorre desse processo é a expansão das classes altas para espaços até, então, ocupados pelas classes de menor poder aquisitivo, fato que se visualiza nas cidades da atualidade em vias de expansão.

A lógica aplicada no processo de remanejamento em Belém segue dois percursos: o primeiro por meio de indenizações aos antigos moradores e o segundo

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