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Capítulo 3. EVOLUÇÃO URBANA DA CIDADE DE BELÉM

3.10. O Planejamento Urbano em Belém

A criação da Região Metropolitana de Belém, por meio da Lei Complementar nº 14/ 1973 (Lima et al., 2005, p.106 apud Moura et al., 2004, p. 2), foi caracterizada como uma decisão geopolítica de desenvolvimento na Região Norte do país.

Segundo pesquisa realizada pelo NAEA em 1973, Belém era considerada como o pólo das redes de cidades existentes na região. Que envolvia a calha do rio Amazonas até Tefé (AM) na direção oeste, a calha do Rio Tocantins até Tucuruí (PA) ao sul, até Macapá (AP) ao norte, e toda a costa Atlântica do Pará, somada à pequena porção do Estado do Maranhão (Lima et al., 2005; p. 106 apud Ferreira et al., 1977) a leste.

Em Belém não ocorreu a criação de um órgão de coordenação metropolitana, a CODEM (Companhia de desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém) criada pela Lei Municipal nº 6.795, de 24/ 5/ 1970, foi o órgão que assumiu a dimensão metropolitana, como escala obrigatória para solucionar problemas do município.

O Governo do Estado, a partir de um caráter político centralizador, assumiu o sistema de gestão do espaço metropolitano, com uma perspectiva institucional, nem sempre relacionado às demandas sociais. (op. cit., p. 107)

Foi criado um Conselho deliberativo constituído pelo representante do Governo do Estado (Governador), um representante da capital (escolhido por uma lista tríplice submetida ao Governador) e por um representante dos demais municípios, neste caso, o município de Ananindeua (indicado pela comunidade) e da sociedade civil (na pessoa de um militar) (op. cit., p. 107).

Apesar do Conselho não trabalhar regularmente, a aprovação dos estudos e projetos metropolitanos estava condicionado a sua aprovação. O Conselho Consultivo era composto por três membros, que não tinham direito de voto, nem

tampouco existia articulação entre os diversos segmentos das políticas públicas para a proposição de estratégias de ação baseadas na experiência e realidades locais (CAL, 2005).

A falta de regularidades nas reuniões e o “descompasso entre ações planejadas intersetorialmente, nas esferas estadual e municipal, e as diretrizes de estruturação metropolitana” (Lima et al., 2005; p. 108 apud Fernandes Junior, 2001; p. 24) resultava na não implementação de planos ou mesmo proposições de ações articuladas a serem desenvolvidas pelo Município.

Neste período, existia uma política de desenvolvimento nacional orientadora da questão metropolitana, que definia linhas gerais, mas não atendia as especificidades relativas à região. As políticas estaduais visavam a preencher as lacunas deixadas pelos programas federais standards, que ao serem implementadas no norte não contemplavam as dinâmicas locais (Lima et al., 2005; p. 108).

Até a década de 1980 não foi possível estabelecer uma política de desenvolvimento que viabilizasse o avanço do planejamento em relação ao atendimento emergencial de problemas ou que garantisse a articulação de políticas setoriais propostas no âmbito federal.

O que ocorria na ação “espontânea” e contínua do setor privado e a ação fragmentada do setor público.

Ações realizadas no período: Elaboração do Plano Diretor da Grande Belém de 1975 (CODEM, 1975) e o Plano de Estruturação Metropolitana de 1980 (GEOTÉCNICA, 1980). O acesso aos recursos do Fundo Metropolitano mantido pelo Governo Federal, impulsionava os governos estaduais a atuarem na Região Metropolitana que dependiam do cumprimento de suas metas programáticas estaduais e da cobrança da consecução daquelas que dependiam de parceiros

(empresas públicas, poder local e setor privado), imprimindo um ritmo regular de obras e provisão de serviços.

A função dos planos diretores metropolitanos era o controle do uso e ocupação do solo para Belém e Ananindeua concebidos no período de 1975 a 1980.

Para Fernandes Junior o Sistema Gestor Metropolitano, proposto em 1995, não difere do modelo de 1973, pois não incluem instrumentos de gestão preconizados na Constituição de 1988. Em decorrência da falta de competência no âmbito da administração para proporcionar uma aplicação eficiente dos instrumentos disponíveis.

O Plano Diretor Urbano do Município de Belém, Lei nº 7603 de 13 de janeiro de 1993, foi criado com bases nos trabalhos de elaboração das Constituições Federal e Estadual e da Lei Orgânica do Município de Belém. Construído em um contexto favorável à reforma urbana, instituiu um variado conjunto de instrumentos importantes na gestão urbana, dentre os quais IPTU Progressivo no Tempo e Outorga Onerosa do Direito de Construir.

O município encontra-se instrumentalizado com as seguintes normas: Plano Diretor Municipal; Lei do Desenvolvimento Urbano; Lei Complementar de Controle urbanístico; Código de Edificações e Obras e; Normas de Proteção Ambiental.

Quanto à evolução da cidade, o que pode ser apreendido tanto a partir da convivência na cidade, como das avaliações fundamentadas nas análises relacionadas à fundação do núcleo urbano. É que, inicialmente, a cidade se desenvolveu às margens do restante do Brasil, resultante das distâncias e da dificuldade de acesso, decorrente da extensão do território brasileiro.

Esses fatores foram determinantes para que a produção do espaço urbano e as obras arquitetônicas se consolidarem sob as influências da urbanística e da

arquitetura européia, principalmente, Portugal e França, contida na própria designação de termos como “boulevard”. O bairro Cidade Velha se caracteriza como um exemplo da urbanística portuguesa, que predominou na cidade desde o século XVII.

Desta forma, a cidade estabeleceu um vínculo não somente cultural, mas também econômico, com países europeus e, até com o norte-americano, durante o ciclo da borracha, inclusive, quando a crise política foi acentuada no Estado em decorrência “Pinheirismo128”, tornou-se corrente entre “os mais distinctos representantes dos principaes grupos da sociedade”, a idéia de entregar o domínio do Estado para os Estados Unidos (ANDRADE, 1913, p.18-20). Nas palavras do autor:

“[...] quando recentemente, o Pinheirismo quis provocar, no Pará uma intervenção armada das forças federaes, para esmagar o grande Estado do Norte e entregal-o humilhado ao Lemismo, o enervamento da população paraense chegou a tal ponto que degenerou um verdadeiro estado de morbidez, um estado neurastheneiforme capaz de a levar ás mais graves consequencias. N’esses de exaltação, já positivamente doentia, era corrente a opinião de ser preferivel ‘se entregar o Pará ao protectorado Norte Americano’ do que ficar pertencendo a uma União que pretendia abusar de sua força para insultar e humilhar a quem só deseja paz para progredir pelo trabalho, a quem alimenta apenas o desejo de ver respeitada a sua autonomia política e soberania de sua vontade” (ANDDRADE, Valente, 1913, p. 18).

Em período posterior, durante a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos estabeleceu um intenso vínculo com a região, inclusive, participando na fundação de cidades (Fordlândia) e em apoio financeiros a projetos de melhoria urbana, como o caso das obras de saneamento de baixadas e construção de diques ao longo da Baía do Guajará e do Rio Guamá.

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Pinheiro Machado foi Senador no Governo do Presidente Marechal Hermes da Fonseca, que mantinha um poder oligárquico sobre o Brasil, com influências em diversas regiões do País. Na região, seu apoio era dirigido para membros de seu partido como Antonio José Lemos, Intendente Municipal de Belém, no período compreendido entre 1897 a 1912.

De certo modo, o afastamento do Estado em relação as demais regiões o Brasil, favorecia para que o Estado, mantivesse uma certa autonomia econômica, com o desenvolvimento de um campo industrial incipiente e economia voltada para o abastecimento das demais cidades da região norte, favorecendo para a vitalidade de seu porto e lhe valendo o título da Metrópole da Amazônia.

Com a inauguração da rodovia Belém-Brasília, que visava a integrar as diversas regiões do país, o Estado perdeu muito de sua primazia no aspecto econômico, decorrente da entrada de produtos oriundos de outras regiões do Brasil, o reflexo dessa fase para o Estado, foi o retrocesso no desenvolvimento da economia local, com o desmantelamento da industrialização incipiente e da agricultura local que não podiam competir com produtos oriundos de outros locais do país.

Neste período ocorreu um agravamento no quadro urbano de Belém, em decorrência da migração de populações oriundas de outras partes do estado e do país para a cidade, em busca de melhores condições de vida. Teve início, a partir de então, a ocupação das baixadas e, posteriormente, a proliferação de invasão, na área central da cidade. Caracterizando-se pela baixa qualidade de vida e condições de habitabilidade da população residente. É neste contexto que o poder público local passou a intervir, visando a garantir melhores condições de vida para a população dos alagados, mas essas intervenções resultaram na valorização do espaço e no deslocamento da população, substituídas por novos empreendimentos para a classe média e alta.