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2. aplicações de computador

5.2.2 Centro do Prêmio Nobel da Paz (Oslo, Noruega)

5.2.2.3 Exposição Permanente

O fato do acervo ser basicamente composto de textos que apresentam os laureados e suas ações torna-se um desafio para a curadoria do museu. O grande volume de informação textual, pode, se não bem executado, transformar a visita ao museu em uma experiência entediante. Contudo, o museu tira partido de aparatos tecnológicos para tornar a experiência mais aprazível. Duas instalações se destacam: os “Campos de Nobel” e “Papel de Parede”.

Os campos de Nobel (The Nobel Fields)

Com informações sobre todos os contemplados com o Prêmio Nobel da Paz, esta instalação é vista como o coração do museu (FIG. 31). Um jardim executado com cerca de mil hastes com iluminação em fibra ótica ambientam a exibição. Aproximadamente cem pequenas telas apresentam um pequeno texto descritivo e uma imagem de cada um dos ganhadores do prêmio. De maneira conjunta, as telas de LCD (FIG. 32), as hastes e o som reagem à proximidade do visitante, e revelam um dos ganhadores do prêmio. De tempos em tempos, Capítulo 5

os elementos da sala combinam luz, som e imagens, como uma metáfora à vida independente deste lugar.

No vídeo promocional no site do museu, a empresa nova iorquina Small Design, responsável por sua criação, afirma que os Campos de Nobel são um jardim virtual que cresce a partir da atividade do visitante21. Aqui, novamente,

podemos questionar o uso do termo virtual, que neste caso é utilizado para descrever elementos que ora reagem à presença, ora explodem em uma combinação de som, imagem e luz já pré-programados no sistema.

Novamente, esta instalação utilizou, em 2005, tecnologias correntes de maneira inovadora, no sentido de criarem uma ambientação agradável para a apresentação dos premiados. Embora a interação seja meramente reativa, ela instiga o visitante a explorar uma instalação que é, basicamente, formada de apresentações dos laureados e suas filosofias. Embora a exposição seja visualmente leve para o visitante, a disposição dos elementos na instalação não facilita a busca por dados específicos caso o visitante assim deseje, isto porque não há leitura clara de qual é o contemplado que é apresentado em cada tela.

The Nobel Chamber (O cômodo Nobel)

O cômodo contém uma tela, sistema de caixas de som, suporte e um livro que mescla elementos físicos e digitais. Um projetor projeta imagens no livro e Museus Contemporâneos e o Uso das Tecnologias

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21 http://vimeo.com/4664843. Acesso em 13 Mai. 2011

FIGURA 31 – Campos de Nobel Fonte: NOBEL PEACE CENTRE [200-].

FIGURA 32 – Tela de LCD do Nobel Fields Fonte: Autora, 2011.

outro em uma tela fixada à p a r e d e , q u e a p r e s e n t a informações relacionadas ao conteúdo principal. As páginas, todas em branco, são passadas manualmente pelo visitante, e o conteúdo é projetado, sendo formado por textos, imagens e vídeos sobre a vida Alfred Bernhard Nobel (FIG. 33). O aparato que lê o movimento é preso no teto e mapeia a posição da ponta dos dedos para “clicar” e acessar as informações. A instalação combina a utilização de imagens em movimento e som com a leitura linear de um livro, apresentando a possibilidade de criação de hyperlinks e permitindo que a informação seja acessada em diferentes níveis .

Papel de Parede (Wall Paper)

Os chamados “papéis de parede eletrônicos” são constituídos por cinco conjuntos de telas que permitem o acesso a mais de 2800 artigos e 1500 imagens, assim como centenas de vídeos e animações22.

Embora toda a informação seja exibida em meio digital, a forma de acessá-la é totalmente manual, através da manipulação de alavancas (FIG. 34). Essa instalação apresenta uma maneira interessante de explorar informações concentradas em meio digital e permitir o acesso quando desejável, mas vai além do modelo “página de internet”, ao engajar o visitante fisicamente na busca. Uma única ferramenta, uma espécie de

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153 22http://nobelpeacecenter.org/english/?aid=9074346, acesso: 20.02.2011

FIGURA 33 – Visitante acessando as informações no livro da Instalação.

Fonte: Autora, 2011

FIGURA 34 – Informações de Liu Xiaobo acessadas no Papel de Parede

alavanca deslizante, permite a navegação e determina a língua na qual o material será mostrado, i.e. inglês ou norueguês. Pode-se acessar o conteúdo por diversos critérios, como por exemplo ano de premiação e ordem alfabética. Depois de selecionado o metagrupo, então pode-se selecionar um laureado, e a partir daí, diversos tópicos relacionados a cada um deles. A interação do visitante com a obra exposta é somente reativa, mas o acesso à informação é claro e criativo, relacionando de forma interessante o analógico e o digital. Em uma situação, em que a instituição tem que lidar com um acervo composto de uma quantidade imensa de informação em duas dimensões, montar uma exposição que seja interessante e não cansativa visualmente é tarefa difícil e se relaciona principalmente com a estratégia curatorial.

Museu Topografia do Terror (Berlim, Alemanha): caso comparativo

O museu Topografia do Terror (Topographie des Terrors) em Berlim, por exemplo, seguiu uma linha curatorial diferente, expondo grande parte do seu material impresso em grandes painéis em a l e m ã o e I n g l ê s . A n t e s d a construção do seu edifício sede, a exposição se encontrava nos escombros de diversas centrais nazistas, como a SS e a GESTAPO (FIG. 35). A exposição se encontra na sede desde a sua inauguração, em outubro de 2010 (FIG. 36). Grande parte da informação é apresentada impressa no centro de documentação. Outras formas de mídia como os vídeos da época são Museus Contemporâneos e o Uso das Tecnologias

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FIGURA 35 – Exposição Topografia do Terror antes da construção da sede

Fonte: TOPOGRAPHIE DES TERRORS [n.d.]

FIGURA 36 – Edifício sede do Centro de Documentação Topographie des Terrors

exibidos em totens que também p e r m i t e m q u e o s o m s e j a individualizado por fones de ouvido.

No caso do Topografia do Terror, o conteúdo impresso associado à arquitetura agradável garantem uma ambiência visualmente interessante mas, muitas vezes, as imagens ficaram muito pixeladas, pela baixa qualidade do arquivo original. O texto, por sua vez, é longo por ser apresentado em inglês e alemão.

A leitura geral do museu é explorada por totens laranjas que apresentam os grandes temas (FIG 37). Mas como todos os textos são apresentados em sua totalidade, é difícil para o visitante decidir em que se concentrar. Para aprofundar em determinado assunto, o visitante deve percorrer grande parte do percurso e ler um volume considerável de textos para localizar o que deseja. A visita dessa forma, torna-se mais longa e exaustiva.

Ao comparar a estratégia do Centro Nobel da Paz e a do Topografia do Terror, concluo que, em termos de conteúdo, ambas as instituições tem que lidar com a quantidade excessiva de informação visual que demandam a concentração do visitante. O conteúdo exposto em ambos poderia, desta forma, ser disponibilizado em outras mídias sem grande prejuízo de informação (como o seria, se estivéssemos falando de museus de arte, por exemplo).

Existe, inclusive, no caso do Topografia do Terror, um livro à venda que contém grande parte da informação impressa no centro. Neste caso, o diferencial da visita está no lugar em que o Centro de Documentação foi implantado, porque este contém uma carga histórica grande e foi contemplado com uma arquitetura agradável e bonita. No centro Nobel da Paz, por outro lado, a experiência do acesso e contato com a informação é muito mais intensa. A Capítulo 5

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FIGURA 37 –Totens laranjas garantem a leitura geral no Topographie des Terrors

maneira como foi disposta convida o participante a engajar seu corpo no processo de investigação.

O Centro Nobel da Paz, que lida com conteúdos de caráter global, poderia estar localizado em qualquer lugar. O Topografia do Terror, por outro lado, possui fortes laços históricos com o sítio. A maneira como a informação foi tratada nestas duas instituições inverte esta mesma relação da informação com o lugar, enfraquecendo-a no caso do Topografia do Terror, e fortalecendo-a no Centro Nobel da Paz.