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Exposição do sistema transcendental de Schelling: para entender a nova composição

CAPÍTULO I: O DEBATE ONTOLÓGICO-METAFÍSICO NA PASSAGEM DO SÉCULO XVIII PARA O

5. Schelling: reformulando a concepção geral Metafísica de Fichte

5.1. Exposição do sistema transcendental de Schelling: para entender a nova composição

A primeira época dessa manifestação histórica da autoconsciência se dá através da intuição. A intuição é o ponto originário de toda a limitação; na medida em que intuímos algo, ou que somos passíveis de intuir algo, já nos colocamos limites. O que intui, nessa época, não intui a si mesmo como intuinte, quer dizer, apenas toma essa separação e limite como coisa real, sem atentar-se, como o filósofo transcendental, que o pôr do limite tem seu fundamento no intuinte, no Eu.

Intuir y limitar son originariamente lo mismo. Pero el Yo no puede a la vez intuir e intuirse como intuyente, luego tampoco como limitante. Por eso, necesariamente, lo intuyente, lo que sólo se busca a sí mismo en lo objetivo, encuentra en ello lo negativo como no puesto por él mismo. (SCHELLING, 1988, p. 209)

Assim, todo o limite, toda a manifestação objetiva se apresenta para o intuinte como algo alheio a ele, como um não-eu. Como o Eu intuinte é produtor, como ele porta a idealidade infinita, toda a limitação então surgida ao intuir carrega a marca da cessão da atividade, a sua negação. Tem-se a sensação, aqui, de que efetivamente o limite, a barreira, o campo objetivo seja algo alheio àquele que intui, já que no pôr o Eu cria o limite para que se manifeste enquanto intuído. Sem a consciência de sua própria produção intuinte, nessa época, ignora-se a dependência geral da matéria limitante com relação ao Eu produtor. O materialismo como consideração autônoma da matéria tem sua primeira fonte aqui, visto que ignora o fato de que toda a sensação e toda a abstração geral de leis e princípios correlatos à natureza são, antes de mais, a apresentação da matéria como espírito; desse modo, não consegue ver jamais que não poderia concordar qualquer saber com o mundo considerado material não fosse a matéria mesmo saber, subjetividade. Na simples existência da intuição, no pôr do limite pelo Eu, cria-se a ilusão geral de uma matéria independente, uma coisa distinta ao Eu produtor.

Vimos anteriormente que toda a limitação posta com a intuição deve ser suprimida, mas, ao mesmo tempo, não pode ser suprimida, haja vista que cessaria o devir reconhecido na existência. Aqui, como segunda etapa nessa primeira época, isso se esclarece. A limitação ou supressão em geral é representada pelo sentir, que num ponto determinado é sobreposto ou ultrapassado pela atividade infinita, desaparecendo enquanto conteúdo (não há algo fixo no

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interior da intuição sensível); em contrapartida, a forma geral de perceber sensivelmente o pôr do mundo pelo Eu é geral e nunca suprimida, quer dizer, não se pode retirar a intuição sensível da limitação imposta ao intuir. A atividade ideal na medida em que põe o intuir (o limite), põe igualmente uma atividade que não é mais a mesma originária ideal, mas uma atividade real, objetiva. Significa que o ato de intuir gerado pela atividade ideal encerra os limites da pura atividade na medida em que oferece uma oposição, uma barreira, tornando-a supressão de limites, logo, atividade real. Desse modo, “com a sensação mesma já está posta uma contradição no Eu. Ele está limitado e ao mesmo tempo aspira a superar o limite.” (SCHELLING, 1988, p. 230). A intuição que gerou a independência da matéria e que trata aqui dos sentidos é uma intuição sensível, como produção do Eu no ato de pôr. No entanto, essa intuição não deixa ainda reconhecer o intuinte como produtor do intuído, mas o coloca como mero reconhecedor, via sensação, de um algo outro, distinto e alheio a ele. A simplicidade das sensações já revelam essa sua relação com a primeira intuição; não podem ser definidas apropriadamente porque na definição figura o caráter sintético que as sensações não possuem, já que são simples e não agregadas. Aquela intuição sensível, distinta da intelectual, que havíamos anteriormente mencionado, encontra seu lugar como o limite geral; como travo sensível a toda atividade ideal do espírito, tornada então atividade real.

Poderia se objetar aqui, de acordo com a visão fichteana, que o princípio geral acaba de ser contradito, na medida em que como ilimitado, apresenta-se agora como limitado. Na verdade, essa é, para Fichte, a única necessidade de se colocar uma pura atividade independente no Eu absoluto. Em Schelling, por outro lado, isso não constitui necessariamente um problema, porque a atividade ilimitada da autoconsciência não é aqui contraposta, nunca foi. A atividade real e a passividade como sua contradição são a esfera de uma intuição que toma o intuído como coisa independente, alheia ao intuinte, ou seja, está reduzida essa oposição à colocação do intuído como coisa em si distinta do intuinte, ignorando assim o caráter produtivo da intuição. Não há propriamente uma contradição porque nunca se opôs nada ao intuinte ilimitado, mas somente ao intuído como coisa alheia.

Podría surgir aquí mismo la pregunta de cómo esa actividad ideal, puesta como absolutamente ilimitable, puede ser fijada y con ello limitada. La respuesta es que esta actividad no es limitada como intuyente o como actividad del Yo, pues al ser limitada deja de ser también actividad del Yo y se transforma en la cosa en

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sí. Esta actividad intuyente es ahora ella misma algo intuido y, por eso, ya no intuyente. Mas sólo la intuyente en cuanto tal es ilimitable. (SCHELLING, 1988, p. 234)

O caminho que sai do mero intuir sensível para a intuição produtiva passa pela criação do limite e, com ele, de uma atividade real, distinta da ideal, na medida em que é posta como limitável e como contínuo transpor dos limites. O Eu como inteligência se manifesta justamente nessa idealidade e realidade posta no primeiro intuir, haja vista que se tornou há um tempo limitado pela intuição e para além do limite na intuição. A inteligência é exatamente isso, o choque entre a esfera ideal e real, a contraposição sintetizada do pôr do limite primeiro sensível, gerando, por sua vez, a superação do próprio limite pela transposição do ideal no real. A oposição de uma idealidade e de uma coisa em si real é mediada e sintetizada pela inteligência, produzida cegamente pelo processo de realização da autoconsciência.

Toda a atividade é, segundo essa filosofia transcendental, originária da autoconsciência em seu ato de pôr. A atividade no limite é a atividade real, considerada pela superação da barreira como devir infinito. Não obstante, a atividade real, reconhecida no mundo não é, ela mesma, mais do que a atividade ideal reconhecida na limitação. Assim, toda a atividade que se possa atribuir ao mundo mesmo, posto como autônomo pela intuição sensível, não é senão o reflexo dessa atividade posta no pôr da autoconsciência. Toda a atividade é tributária, portanto, da ideal e mesmo aquela que reconhecemos na consagração da matéria apenas reflete no plano da intuição sensível, na consideração de uma matéria autônoma, o que se dá como atividade ideal da autoconsciência. Aqui se torna ainda mais clara a proposta filosófica de Schelling, o sentido sistemático de seu idealismo transcendental. Se seu sistema deve mesmo comportar na sua realização a composição histórica, temporo-espacial, da autoconsciência infinita, então a própria materialidade como produto dessa limitação no intuir deve, considerada como autônoma na intuição sensível, refletir as mesmas fases e objetivar aquilo que se propôs em termos gerais como realização da autoconsciência. Aquilo que idealmente se compôs como fases da realização da autoconsciência segundo o modo e não pelo tempo, deve também aparecer como forma geral de consideração da matéria, se é certa a explicação filosófica de Schelling de que o sistema todo é só a manifestação histórica da autoconsciência. Ideal e real devem assim concordar, e, em um primeiro sentido, a oposição e contradição geral imposta pelo intuir deve também ser notada na materialidade tomada pela intuição sensível como independente.

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Schelling demonstra então como a colocação de toda oposição pelo pôr do limite no intuir está em pleno acordo com o que seria o primeiro momento de construção da matéria: o magnetismo. O magnetismo representa a ligação em único ponto de toda a oposição, justamente o que acontece com o intuir, que faz emergir de um único ponto o ativo e o passivo, o positivo e o negativo.

A partir de esta deducción, por ejemplo, se pone en claro que en los fenómenos magnéticos vemos la materia aún en el primer momento de su construcción, donde ambas fuerzas opuestas se unen en uno y el mismo punto; que, en consecuencia, el magnetismo no es la función de una materia particular sino una función de la materia en general y, por tanto, una verdadera categoría de la física… (SCHELLING, 1988, p. 249)

Se ainda isso é acertado, então ficou provado, tendo em vista que a única fonte de toda a atividade é a ideal, que o pólo negativo encontra sua atividade no positivo, o que seria impossível saber somente pela experiência.

Sólo hago notar aún que esta deducción nos proporciona también una explicación sobre la física del magnetismo que quizás no habría podido encontrarse jamás por experimentos, a saber, que el polo positivo (más arriba el punto C) es la sede de ambas fuerzas. (SCHELLING, 1988, p. 249)

Ainda nessa consideração da matéria autônoma para a intuição sensível, vemos concordar o segundo momento nessa primeira época com a eletricidade. A dualidade criada na representação pela colocação do limite está associada com a manifestação dos polos opostos na eletricidade. “Este momento que representa as duas forças opostas como completamente externas uma à outra e separadas pelo limite, é o segundo na construção da matéria e o mesmo que na natureza está representado pela eletricidade” (SCHELLING, 1988, p. 249, trad. nossa). Por fim, assim como a inteligência aparece como a síntese geral entre as esferas ideal e real e como conformador de toda oposição e contradição, aparecerá na matéria, como terceiro momento de sua criação, a composição química dos elementos, sua ligação geral numa substância.

Este tercer momento de la construcción está indicado en la naturaleza mediante el proceso químico. En efecto, que por medio de los dos cuerpos se represente en el proceso químico sólo la oposición originaria de ambas fuerzas es evidente porque ellos se penetran mutuamente, lo cual sólo se puede pensar con respecto a fuerzas. Pero que por ambos cuerpos se represente la oposición originaria no es

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asimismo pensable sin que en todo cuerpo una de las dos fuerzas logre el predominio absoluto. (SCHELLING, 1988, p.251)

Devemos reter aqui o que é central na exposição: a mudança geral com relação à proposta de Fichte. A conformação da matéria considerada autonomamente pela intuição sensível mostrou corresponder exatamente às etapas atribuídas à manifestação da autoconsciência. Quer dizer em geral que Schelling começa a fundamentar sua compreensão sistemática e legitimar seu argumento de que não deve haver uma exclusão do termo primeiro da ordem das representações e das contradições que lhe são inerentes, ao contrário, deve-se mostrar como a contradição em geral nunca diz respeito à autoconsciência mesma, mas somente representa o processo histórico, temporo-espacial, de sua atividade ilimitada. Nas palavras do próprio Schelling:

El resultado de la comparación establecida hasta ahora es que los tres momentos en la construcción de la materia realmente se corresponden con los tres actos de la inteligencia. Por tanto, si esos tres momentos de la naturaleza son propiamente tres momentos en la historia de la autoconciencia, entonces es bastante manifiesto que realmente todas las fuerzas del universo en última instancia se retrotraen a fuerzas representativas; una proposición sobre la cual se basa el idealismo leibniziano, que debidamente entendido no es de hecho distinto del trascendental. (…) De hecho, la materia no es otra cosa que el espíritu intuido en el equilibrio de sus actividades. No se necesita mostrar detalladamente cómo por esta supresión de todo dualismo o de toda oposición real entre espíritu y materia, al ser ésta misma sólo espíritu apagado o, a la inversa, éste la materia vista sólo en devenir, se pone término a una cantidad de investigaciones desorientadoras sobre la relación entre ambos.

A resposta Ontológico-Metafísica de Schelling começa a se justificar pelo conteúdo da exposição do sistema. Como ainda veremos no capítulo seguinte, a visão da mônada leibniziana é extremamente apropriada, levando em conta que não pode nada de exterior lhe impor alterações e que o conjunto de seus desdobramentos e manifestações não é mais do que o resultado da potência primeira estendida, expandida na configuração de uma organização geral, sistemática. Com Schelling dá-se o mesmo, nada de exterior interfere na autoconsciência, ao contrário, as aparentes contradições e todo o jogo dinâmico que lhe envolve é já sua manifestação, sua objetivação geral sistemática. Evidente que a diferença com relação à proposta leibniziana é justamente consideração crítica da autoconsciência como ponto de partida, o que de modo algum acontece com a definição de mônada, nesse sentido considerada e posta dogmaticamente por Leibniz e seus seguidores (em especial Wolff).

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A segunda época da história da autoconsciência, ou sua manifestação sistemática é justamente a maneira pela qual se torna essa autoconsciência mesma objetivada, presente no interior do sistema. De maneira geral, a segunda época corresponde à passagem da intuição produtiva para a consciência do Eu com relação ao seu caráter de produtor. A intuição produtiva, ainda posta de maneira cega na produção de um devir, de uma extensão do finito em uma supressão ao infinito, deve dar lugar à tomada consciente dessa produção pelo Eu. O primeiro passo na efetivação desse processo é dado quando o Eu produtor se intui como algo determinado, pois há nesse momento uma contradição, uma oposição da sua posição passiva determinada com relação à sua determinação ou produção ativa. Vimos que toda a produção, efetivamente, é ideal, somente se manifestando como real ou limitada na apresentação sistemática da autoconsciência. Na consideração do Eu, a intuição produtiva não pode pô-lo como reconhecedor de seu caráter produtivo porque está dado cegamente como determinação da atividade real no plano sistemático. Entretanto, nesse pôr mesmo cria-se um limite, em que o Eu em sua determinação apresenta-se como ideal e real, unificados sob a inteligência. Ainda que unificados os termos, essa síntese não comporta ainda a consciência de si, haja vista que apenas sintetiza a determinação da contradição. O começo do caminho para a objetivação da autoconsciência no interior do sistema passa necessariamente por uma nova cisão disso que havia sido integrado e sintetizado mediante a inteligência, trata-se de uma divisão entre sentido interno e sentido externo.

Como a atividade em sua determinação no sistema é também a produtora dos sentidos, a oposição geral criada entre aquilo que se dá idealmente (simples) e aquilo que se dá realmente (composto) no interior dessa síntese no Eu inteligente deve encontrar também uma divisão, resultando portanto nas duas espécies de sentido mencionadas. Trata-se de duas formas diferenciadas de intuição determinadas: a interna, como simples, não-composta, que mantém o Eu no seu próprio limite, já que o ideal, o simples, é justamente essa auto-suficiência do Eu; e a externa, composta, que lança para fora do eu, como resultado da determinação autônoma da matéria posta pela intuição sensível, por isso essa intuição externa se desprende, no plano sistemático, para fora do Eu. Devemos ter claro, nessa perspectiva, que o sentido externo não é mais do que a apresentação limitada do interno, do ideal, posto que, sempre no sistema transcendental de Schelling, o composto, o limite, deriva do simples, do ideal.

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Todo esse caminho foi necessário na determinação da autoconsciência, pois só agora aquela separação ideal/real objetivada e sintetizada na inteligência pode chegar a ser um sensório consciente.

El resultado de la relación admitida hipotéticamente sería, por un lado, el objeto sensible (separado de la intuición como acto), y el sentido interno, por el otro. Ambos juntos constituyen el Yo que siente con conciencia. En efecto, lo que denominamos sentido interno no es sino lo sintiente con conciencia en el Yo. En el acto originario de la sensación el Yo era sintiente sin serlo para sí mismo, es decir, era sintiente sin conciencia. Mediante el acto ahora derivado, del cual, por razones indicadas, no puede quedar, sin embargo, en el Yo nada más que el objeto sensible, por un lado, y el sentido interno, por otro, se muestra que el Yo a través de la intuición productiva llega a ser sintiente con conciencia. (SCHELLING, 1988, p. 263-264)

A tarefa a partir daqui é explicar como o próprio Eu se torna objeto para si, quer dizer, torna-se objeto para o Eu sensível com consciência. Devemos considerar, nesse sentido, que na ligação entre a sensação e a consciência, estabelecida aqui, se objetiva a distinção entre tempo e espaço. Isso acontece porque a intuição se torna objeto, se objetiva, diferenciando-se para a consciência de acordo com o sentido do qual deriva esta objetivação. Como queremos compreender como o ser sensório com consciência se torna objeto para si mesmo, temos que considerar a distinção entre as intuições de tempo e espaço. Ora, se a “intuição pela qual o sentido interno se torna objeto é o tempo” (p. 268), e como ao Eu corresponde a intuição do sentido interno como produtor, então o Eu (nesse momento considerado como consciência sensível) se torna objeto para si (intuição interna) mediante criação do tempo. Somente com o tempo, na tomada pelo sentido interno de toda a objetivação pode o Eu se tornar objeto para si mesmo. Em contrapartida, na mera oposição da intuição interna, estabelecida pelo pôr do sensório com consciência, se objetiva também o sentido externo. Como a “intuição pela qual o sentido externo se torna objeto é o espaço” (p. 268), então todo o objeto que não seja ele mesmo dado pelo sentido interno o será mediante a intuição do espaço.

Aqui Schelling expõe a mesma distinção apresentada por Kant na Crítica da Razão Pura só que mediante a exposição sistemática da história da autoconsciência, oferecendo uma gênese e uma representação produtiva daquilo que na esfera Crítica apenas se podia atribuir como a priori universal, sem em nenhum momento expor ou exprimir o que seria e por que seria um a priori.

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Como objetivação sistemática da autoconsciência como história, sentido interno e sentido externo se limitam mutuamente, afinal trata-se do mesmo expresso como limitação, logo, a unidade geral entre ambos se manifesta como oposição no plano sistemático e, como haveria de ser, estão conectados justamente onde se limitam, não podendo um ser posto sem que seu contrário também o seja. Isso explica porque as intuições de tempo e espaço aparecem como mutuamente dependentes e interligadas na objetivação sistemática da autoconsciência. Como as intuições do sentido interno e externo tornadas objetos são tempo e espaço respectivamente, e como não se pode excluir no interior do sistema o sentido externo quando posto o interno, e vice- versa, temos que a consideração de espaço e tempo em conjunto é a condição geral de todo objeto posto no e pelo ser sensório com consciência. Da mesma forma, intensidade e extensão, acidente e substância, dizem respeito às formas pelas quais os objetos dados no tempo e no espaço penetram na consciência. Substância é o que é excluído do tempo, como mera extensão sem variação, sem nascer ou perecer. Doutra feita, acidente é todo o transformar, a variação contingente à extensão, logo dada pela tomada do tempo. Causa e efeito representam a cisão espaço temporal expressa na relação entre substância e acidente, compreendendo o objeto como o manter e o transformar, ou seja, como alteração acidental de uma substância enquanto extensão objetiva. A relação causal que envolve essa apropriação dos objetos enquanto espaço e tempo na consciência define o fato de atribuirmos ao objeto causalidade e de reconhecermos no mundo todo uma relação determinística no tempo e no espaço. O tempo possui uma só dimensão no Eu consciente, de modo que a colocação espontânea dessa relação se dá no sentido de estabelecer uma causa no tempo que seja condição de um efeito no tempo seguinte. A ideia de sucessão em uma única dimensão de tempo impõe essa perspectiva causal linear, em que a causa é o determinante geral do efeito, este aparecendo como resultado determinado do primeiro. Não obstante, a oposição estabelecida entre causa e efeito é acompanhada do princípio de ação recíproca, já que as substâncias, o extenso, devem ser consideradas em acordo na ligação suposta