• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO I: O DEBATE ONTOLÓGICO-METAFÍSICO NA PASSAGEM DO SÉCULO XVIII PARA O

7. Schopenhauer: uma resposta Metafísica singular no século XIX

7.1. O mundo como representação

Schopenhauer faz das formulações gerais de Platão e Kant o ponto de partida de todo o seu filosofar. Partindo da representação, considera-a, em geral, como a consideravam os dois outros filósofos, bem-seja, que o mundo é dado através de limites; que tudo o que é dado conhecer, perceber e sentir é, antes de mais, posto pelo limite que cabe aos seres enquanto seres. Todo ser que “vive e conhece” tem para si seu mundo como representação, embora somente o homem possa chegar à consciência desse passar do mundo por si, desse flagrante limite em sua relação com o mundo e na consideração dele. Alicerce de todo o saber filosófico que se queira válido, essa é a pressuposição filosófica mais eminente e mais verdadeira, na medida em que não se pode ignorar de modo algum que tudo o que é dado perceber, sentir e conhecer só o é dentro dos limites do próprio sujeito, ou seja, unicamente pelo que são.

(...) verdade alguma é, portanto, mais certa, mais independente do que esta: o que existe para o conhecimento, portanto o mundo inteiro, é tão somente objeto em relação ao sujeito, intuição de quem intui, numa palavra, representação. Naturalmente isso vale tanto para o presente quanto para o passado e o futuro, tanto para o próximo quanto para o distante, pois é aplicável até mesmo ao tempo, bem como ao espaço, unicamente nos quais tudo se diferencia. Tudo o que pertence e pode pertencer ao mundo está inevitavelmente investido desse estar-condicionado pelo sujeito, existindo apenas para esta. O mundo é representação. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 43-44)

Nesse mundo concebido como representação, destacamos um primeiro tipo ou classe de representações do sujeito, chamada por Schopenhauer de intuitiva. Essa representação não difere, a princípio, do que havia proposto Kant sob o nome de intuição pura de espaço e tempo. Assim como Kant, Schopenhauer entende que tudo o que é dado ao sujeito é, antes de mais, posto e pressuposto como inserido numa perspectiva espaço-temporal. Espaço e tempo como intuições em geral de todo objeto para o sujeito é a condição de toda a existência da representação. Não é, como Kant mesmo já deixou claro, um reconhecimento do mundo como espaço-temporal, mas o reconhecimento, por parte do sujeito, de que o mundo é dado sob a intuição de espaço e tempo.

Intuição que não é como um fantasma, extraído por repetição da experiência, mas tão independente desta que, ao contrário, a experiência tem antes de ser pensada como dependente dela, visto que as propriedades do espaço e do tempo,

116

conhecidas a priori pela intuição, valem para toda experiência possível como leis com as quais, na experiência, tudo tem que concordar. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 47)

No sujeito, estas representações estão aglutinadas ou reduzidas sob um princípio geral, denominado por Schopenhauer de “princípio de razão do ser”. Esse princípio seria o responsável pelo relacionar, o interligar no universo representativo das dimensões intuitivas de espaço e tempo. O princípio de razão é o reduzir no ser, no sujeito, das intuições de espaço e tempo, de modo a produzirem em geral a forma de uma fazer-efeito, uma disposição do mundo como um vir-a-ser. O tempo é a passagem, a fluidez em geral como o nunca estar, o nunca fixar-se que é, por essência, somente o que em geral nunca é; o espaço é estar ali, o fixar sem alternância, o relacionar mútuo estático, a fixedez em essência. Reduzidos em-si, não compõem isoladamente nada como conhecemos, posto que o tempo é mera fluidez, o nunca estar que não poderia ser retido, e o espaço, o ser fixo, disposição imóvel sem alternância e, portanto, a fixedez que contraria o mundo como vir-a-ser. Reduzidos no princípio de razão do ser, tempo e espaço se tornam o que são como intuição. Esta ligação é o que permite, em verdade, a passagem da intuição ao entendimento, ou melhor, somente quando se reúne no entendimento esse fazer- efeito, essa redução do mundo como vir-a-ser, pode o sentir do corpo e o ver dos olhos serem mais do que mero sentir, podem, então, ser intuição espaço-temporal do mundo como objeto.

O que o olho, o ouvido e a mão sentem não é intuição; são meros dados. Só quando o entendimento passa do efeito à causa é que o mundo aparece como intuição, estendido no espaço, alterando-se segundo a figura, permanecendo em todo o tempo segundo a matéria, pois o entendimento une espaço e tempo na representação da MATÉRIA, isto é, propriedade de fazer efeito. Este mundo como representação, da mesma forma que se dá apenas pelo entendimento, existe também só para o entendimento. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 54)

É o princípio de razão, o reduzir no ser de tempo e espaço mediante o entendimento que permite a consideração do mundo como matéria, o que, para Schpenhauer, é o mesmo que causalidade e vir-a-ser, ou, como ele denomina, “fazer-efeito”. A matéria é tempo e espaço reunidos, reduzidos no ser, é, assim, a passagem, a alternância e a fluidez do tempo no ser fixo do espaço; é a associação que permite que o tempo se fixe em algo e seja possível então reconhecer sua alternância, sua duração; do mesmo modo, é a associação que permite a fluidez do espaço,

117

sua passagem e relação como transformação no tempo. Assim compreendida, a matéria é causalidade. O entendimento é, aqui, “o correlato subjetivo da matéria”, ou seja, a ligação em geral da ordem causal pelas intuições, ou mediante as intuições, de espaço e tempo. Somente quando se coloca a unidade causal, a ligação como fazer-efeito, a intuição se impõe ao sentir e transmuda-se em condição geral de todo o sentir. Assim:

(...) toda INTUIÇÃO não é somente sensual, mas também intelectual, ou seja, puro CONHECIMENTO PELO ENTENDIMENTO DA CAUSA A PARTIR DO EFEITO, por conseqüência, pressupõe a lei de causalidade, de cujo conhecimento depende toda intuição, logo, toda a experiência segundo sua possibilidade primária e completa. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 53)

Todo sujeito se relaciona com o mundo como seu objeto, como sua representação, e isto se aplica, segundo Schopenhauer, a todo vivente, visto que o fundamento de toda a representação está assentada na Vontade. Os corpos dos seres viventes, como resultados ou manifestações dessa Vontade, são toda a fonte das representações e, portanto, do reconhecimento do mundo como matéria e sua disposição causal numa perspectiva espaço-temporal. O corpo é, por um lado, mero objeto entre objetos, na medida em que é tomado pelo sujeito como uma representação material, espaço-temporal, inserido assim no universo geral causal atribuído ao mundo; por outro, é a condição imediata de todo limite imposto ao sujeito no ato de perceber e conhecer a realidade, logo, é o pressuposto de toda a apreensão e conhecer, inclusive de si como objeto. “Do que foi dito se segue que todos os corpos animais são objetos imediatos, isto é, pontos de partida da intuição do mundo para o sujeito, que tudo conhece e, justamente por isso, nunca é conhecido.” (SCHOPENHAUER, 2005, p. 64) Não conhece porque ao tempo que é imediatamente o conhecedor em geral e a condição de todo o conhecer não pode ultrapassar a si e ver-se para além do que se oferece a si mesmo como representação através dos limites corpóreos. Nesse sentido, temos que o sujeito, enquanto objeto entre objetos, é remetido a uma causa que lhe antecede e que, desse modo, é a condição causal do seu ser. Significa que, como objeto, o sujeito corpóreo é dependente de um nascimento que, por sua vez, pressupõe a existência de um passado antes dele, uma história da natureza como coisa independente, que justificaria e sustentaria, na evolução, o seu surgimento como ser que percebe, sente e conhece. Não obstante, como sujeito, é a condição mesmo de todo esse determinar, é o único a produzir as representações e, desse modo, o mundo só é quando ele é; quando ele sujeito apreende o objeto, o objeto é, e somente quando isso acontece ele mesmo é, posto que de outro modo é completamente desconhecido.

118

Essa contradição, segundo Schopenhauer, é a contradição em geral da separação de sujeito e objeto. O problema consiste no fato de o sujeito tomar o mundo e ele mesmo como matéria, ou seja, como sequência causal no espaço-tempo, que, entretanto, é só o seu próprio limite de consideração do mundo. O limite assim revelado introduz um passado a si mesmo, posto que está inserido como objeto, como matéria entre matérias. A resposta é justamente a supressão do limite, posto que a coisa nela mesma, ou a coisa-em-si, não é espaço- temporalmente, logo, não apresenta sequência causal alguma e, assim, qualquer contradição que implica o nascimento do homem por um passado é dado somente pela consideração de sua representação como coisa verdadeira, imputando a si um nascimento e um passado que, entretanto, nunca de fato ocorre na coisa mesma. Isso somente será compreendido de maneira clara quando entendermos o que significa o corpo para Schopenhauer e qual a sua relação com a Vontade. No entanto, por agora, basta que tenhamos reconhecido esse caráter geral de apreensão do mundo mediante os limites corpóreos, quer dizer, que são eles os responsáveis imediatos pela representação, uma vez que o entendimento e a intuição nascem justamente dos limites que eles impõem; e, igualmente, a mútua dependência entre sujeito e objeto.

Tendo isso em consideração, tanto as explicações e doutrinas filosóficas que partem do objeto como produtor do sujeito, como as que partem do sujeito como produtor do objeto (notadamente a filosofia de Fichte), esbarram no fato de admitirem o encadeamento do princípio de razão, que só está reduzido à representação, como guia para se chegar a coisa nela mesma, ao em-si. Dessa maneira é que no materialismo o sujeito é produzido pelo encadeamento material, e, no idealismo, o objeto é produzido pelo encadeamento do sujeito. Schopenhauer destaca que a esfera Crítica de Kant parte do sujeito para expor o equívoco, até então vigente, de tomar o objeto ou o conceito como coisa em si, mas, de fato, não assume a via contrária, que seria tomar o objeto como “produto” do sujeito. O que Kant faz é estabelecer a forma geral de todo o mundo para o sujeito ser representação e, nesse sentido, não se poder atribuir ao princípio de razão, que encadeia o mundo da representação, o caminho da verdade, pois está reduzido ao caráter Crítico do limite. Segundo Schopenhauer (2005): “O princípio de razão, pois, nada mais é senão a forma universal do objeto enquanto tal, portanto já pressupõe o objeto, logo, não vale antes e exteriormente a ele, como se pudesse produzi-lo e engendrá-lo segundo a sua legalidade.” (p. 80).

Na representação até aqui exposta, chamada então intuitiva, o homem partilha com o animal a mesma consideração da matéria, variando somente em grau a maneira pela qual

119

apreende e articula causalmente na intuição espaço-temporal o conjunto da representação. Entretanto, uma outra classe de representações singulares se associa ao homem e, nesse sentido, se articula com tudo o que intuitivamente toma como representação espaço-temporal. Essa classe de representações se denomina abstrata, reflexiva ou simplesmente razão, que distingue o homem de todo ser na face da Terra. Quando essa representação entra em jogo no homem, a harmonia precisa que existia entre a representação e o mundo se desfaz; aquela ligação geral que une o animal à natureza é corrompida com a introdução da razão, como o tomar da representação por uma nova representação, tornada então uma representação duplicada ou, o que significa precisamente o termo, uma reflexão. Aquela matéria em geral da intuição, da representação que partilha com os animais, é submetida e colocada sob nova representação; o homem abstrai a relação que vivencia como ser material na natureza e, nesse abstrair, vislumbra em conceitos, em figuras reproduzidas abstratamente, aquilo que deveria ser a amarração necessária de si com o conjunto da representação material. De partida, expande seu poder sobre tudo, posto que se apropria conscientemente de todo objetivo e vê pairar diante dele a regra geral a que todos estão submetidos. Tem assim previsão, pode abstratamente supor, inferir, pela consideração abstrata da causalidade, como e de que maneira o animal entrará na sua armadilha, criando instrumentos, artefatos, que mediam a relação entre si e o que então objetiva. Pode em geral ter objetivo, posto que cria, da sequência que experimenta intuitivamente, uma concepção abstrata de tempo, de espaço. O tempo do homem não é, como no animal absorto em sua materialidade, um eterno presente, ao contrário, no homem está disposto o passado, o presente e o futuro, que são exclusivamente conceitos, figuras abstratas da intuição da matéria, ou seja, de tempo e espaço. Assim, pode o homem projetar, prever e programar o que então se sucederá; toma conta e vive uma vida que, de fato, ainda não vive, a não ser como representação de suas representações intuitivas, ou seja, como abstração.

Essa nova consciência, extremamente poderosa, reflexo abstrato de todo intuitivo em conceitos não intuitivos da razão, é a única coisa que confere ao homem aquela clareza de consciência que tão decisivamente diferencia a sua consciência do animal e faz o seu modo de vida tão diferente do de seus irmãos irracionais. De imediato o homem os supera em poder e sofrimento. Os animais vivem exclusivamente no presente; já ele vive ao mesmo tempo no futuro e no passado. Eles satisfazem as necessidades do momento; já ele cuida com preparativos artificiais do seu futuro, sim, cuida do tempo em que ainda não vive. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 82-83)

120

A abstração que surge no homem é, portanto, a tomada em geral do particular; é isso em verdade que consiste o refletir da razão, bem seja, retirar da particularidade o universal, capaz de agrupar sob um conceito o que na intuição é mero singular. Os conceitos estão assim postos em esferas de abrangência, no qual agrupam uma série de outros conceitos e, também, em muitos aspectos, se diferenciam um dos outros. A faculdade de julgar é, desse modo, a capacidade de relacionar esferas de conceitos distintas ou com alguma distinção, de maneira a ligá-las numa correspondência entre sujeito (semântico) e predicado. O conhecimento abstrato é produzido relacionando esferas de conceitos e permitindo uma composição geral, uma lei que vale para todos os particulares reunidos no conceito. As leis e regras são assim as determinações universais mediante conceitos, que se recorre abstratamente ao invés de recorrer imediatamente a cada particular. A ciência é um universo de leis e regras reunidas em torno de determinados conceitos que, por sua vez, retratam pelo caminho abstrato a relação de particulares dados na representação intuitiva.

Cada ciência consiste num sistema de verdades gerais, por conseguinte abstratas: leis e regras em referência a alguma classe de objetos. O caso particular que depois se acrescenta a essas leis é, a cada vez, determinado em conformidade com aquele saber geral, que vale sempre, visto que o emprego do universal é infinitamente mais fácil do que investigar sempre o começo de cada caso particular quando este ocorre. Em verdade, o conhecimento abstrato e geral, uma vez adquirido, sempre está mais à mão do que a investigação empírica do caso particular. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 92)

A ciência é, pois, o resultado da razão humana, de sua forma de representar abstrata, que não pode, desse modo, ser atribuída a qualquer outro ser, embora animais complexos tenham também consciência, posto que possuem um universo em geral de representações, só que intuitivas. Distinta então da representação intuitiva é a abstrata; as duas estão interligadas no homem, confluindo e agindo na produção de seu mundo como representação. Nessa esfera da abstração, na formulação dos conceitos está, pois, assentada a definição geral de “saber”, concebido então como esse tomar dos particulares da representação intuitiva da matéria pelo universal do conceito.

Podemos ver claramente assim que a reflexão encadeia abstratamente e apresenta de forma conceitual o que se dá naturalmente no entendimento como ligação causal da matéria.

121

Tudo o que se conhece da natureza é, assim, antes um conhecer intuitivo e imediato do entendimento, abstraído na reflexão, na exposição das leis e regras (cadeias abstratas da ligação apresentada na representação intuitiva) que, de fato, não definem o maior ou menor conhecimento, mas somente a capacidade de transmitir e teorizar sobre aquilo que imediatamente pelo entendimento já se sabe. Desse modo, quando jogamos uma pedra para o alto e a vemos cair, não é nada senão o entendimento e a intuição do objeto no subir e descer encadeados que nos leva a conhecer o movimento que essa pedra faz; não precisamos formular e expor abstratamente a força de gravidade para saber disso, para termos esse conhecimento que já possuímos de maneira imediata pela intuição e sua concatenação no entendimento.

Por conseguinte, todas as grandes descobertas são, semelhantes à intuição e à exteriorização do entendimento, um apperçu, uma ocorrência, não o produto de longas cadeias dedutivas in abstracto. Estas últimas, ao contrário, servem para a razão fixar em conceitos abstratos o conhecimento imediato do entendimento, isto é, torná-lo claro, vale dizer, pô-lo na condição de outros interpretarem e descobrirem o seu sentido. (SCHOPENHAUER, 2005, p. 65)

No entanto, o conhecimento abstrato é extramente valoroso em termos práticos e na reprodução artificial abstrata das articulações e disposições gerais da intuição. O princípio de razão, que guia em sucessão, em vir-a-ser, em fazer-efeito a representação intuitiva, articula agora os conceitos, cópias das representações da intuição. Essa representação duplicada, articulada sob o princípio de razão, exprime uma sequência de atribuições entre conceitos, de modo a produzir regras, fazendo sempre referência a um princípio, ou seja, reproduzindo inversamente, na atribuição do conceito, uma origem, um fundamento igualmente abstrato, chamado então de pressuposto. Por esse pressuposto pode-se planificar, projetar toda a série de ocorrências mediante a regra geral estabelecida pelos conceitos, quer dizer, pode controlar e mobilizar todo o particular abstraído, uma vez que se chegou à sua representação geral sem precisar, caso a caso, reinventar novos modos de conhecer e operar com a matéria (representação intuitiva). É a expansão do poder humano sobre toda a natureza, como anunciamos anteriormente. Visto de outro modo, constitui-se aqui, também, um limite do universo das representações. O primeiro deles, nos fala Schopenhauer, é que o fundamento de toda a relação não é explicável nele mesmo, mas apenas posto em geral, quer dizer, o princípio de razão do ser, segundo o qual toda a representação intuitiva se transmuda em entendimento e, também, segundo

122

a qual toda a representação abstrata oferece um encadeamento em leis e regras, não pode ser explicado, somente reconhecido enquanto tal. O segundo limite diz respeito à submissão geral ao princípio de razão, posto que não podemos, seja nas representações intuitivas, seja no encadeamento conceitual das representações abstratas, chegar à coisa nela mesma, visto que a sequência não culmina, no entendimento e na razão exposta enquanto ciência, naquilo que deveria ser a coisa em-si ou a essência da realidade.

Nessa dificuldade geral, a Filosofia encontra o seu lugar, é ela que recusa para si mesma o princípio de razão, questionando-o, não se entregando a ele pura e simplesmente, como acontece no entendimento e na razão científica. Ali onde a ciência encontra seu limite, bem seja, nos pressupostos que sustentam a amarração das regras e o encadeamento dos conceitos, principia o saber filosófico; a Filosofia se remete, assim, ao fundamento de toda a diversidade e de toda a unidade sem se abandonar às sequências. Não deve a Filosofia perguntar de onde veio e nem o para que é o mundo, antes disso, deve tomar todo o produzido e todo o identificável pelo entendimento e pela razão na identificação do que é essa realidade. Trata-se assim de uma insuperável necessidade de exposição Ontológico-Metafísica, justamente essa identificação do que é a realidade, a essência revelada a partir do mundo tal qual é sentido, vivido e pensado. Aqui Schpenhauer estabelece seu sistema sobre o conceito de Vontade.