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Fonte: CAPES, 2007.

O documento ainda apresenta dados na área de Química, Educação Física e História, áreas essas em que a mobilidade é expressiva. No gráfico abaixo segue uma demonstração do total de docentes com formação específica para atuarem na Educação Básica no Brasil e a demanda real.

Assim, o governo investe, desde 2008, com a Lei 11.8924, na formação de licenciados, principalmente nas áreas de Química, Física, Matemática e História. A referida lei destina vinte por cento da formação acadêmica para os cursos superiores de Licenciatura. Com isso, atesta que o problema da educação em nível nacional ocorre devido à falta de qualificação profissional. Sabe-se que a questão não é somente essa. O fato é que a profissão de professor não possui “status”, ou seja, não tem o mesmo prestígio social e econômico, como a profissão de médico ou engenheiro, por exemplo. Atribui-se assim, a melhoria na qualidade da educação a um problema pessoal, em que cada indivíduo deve contribuir com sua parcela na formação da sociedade brasileira. Esquece-se que os problemas vão além da qualificação profissional, que seguem para o campo de ordem política, estrutural e social.

Na ótica da teoria da AD o político significa que o sentido é sempre dividido, sendo que esta divisão, afirma Orlandi (1998), “tem uma direção que não é indiferente às injunções das relações de força que derivam da forma da sociedade na história.” (ORLANDI, 1998, p.

4 Lei 11.892 de 29 de dezembro de 2008, disponível em www.mec.gov.br, acessado em 10.03.2013.

0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000

Licenciados em Física Licenciados em Física (1990-2005)

Licenciados em Física atuantes na área

Demanda por professores de Física

Física - Licenciados nos últimos 25 anos

74). Assim, o político é compreendido como divisão entre sujeitos e divisão do sujeito. Orlandi (2012) esclarece que a formação social é dividida e a interpelação do indivíduo em sujeito contribui para produzir uma forma histórica que é a capitalista, resultando em um sujeito dividido, que, ao mesmo tempo em que é determinado, é também determinador. Orlandi (2004), ao apresentar um estudo sobre o funcionamento do político, apresenta um exemplo de um evento em que um administrador reclama o fato de um grupo do povo, ao reivindicar algo para ele, não consegue se expressar de “forma organizada”. Assim, no referido estudo, Orlandi (2004) afirma que “o fato de que, separados pelos diferentes modos de se significar o político, o administrador só entende aquilo que faz parte de seu script, ou seja, de seu programa.” (ORLANDI, 2004, p. 67). Dessa forma, o que não entra no programa político do administrador não significa para ele, independente da real necessidade “daquela gente”, que se expressava de acordo com sua real condição social, “não disciplinada.” Orlandi (2004) atenta para o fato de que faltou “escuta”, isto é, “faltou compreensão, no lugar da interpretação.” Assim, “eles estão em presença, mas o imaginário que os separa, separa a situação concreta do cotidiano da rua de sua configuração enquanto espaço da administração urbana (questão de política pública).” (ORLANDI, 2004, p. 67). Da mesma forma apresentada nos estudos de Orlandi (2004), percebe-se que as políticas públicas para a educação do país são direcionadas por quem detém o poder econômico para tanto.

Partindo desse pressuposto, há muitos fatores que interferem na aprendizagem dos alunos no espaço escolar. As falhas no processo de ensino e aprendizagem podem ser diversas. Umas relacionadas diretamente ao processo de ensino e outras de caráter mais amplo, remetidas ao processo educacional do país, na perspectiva de que o ensino formal segue políticas públicas educacionais no âmbito nacional.

Uma causa relacionada ao processo de ensino pode ser atribuída às práticas políticas pedagógicas. O peso burocrático da rotina escolar implica um professor trabalhando além da carga horária regular, gerando sobrecarga de trabalho e falta de qualidade na realização das atividades. O aluno passa a ser vítima de um processo de ensino e aprendizagem em que o que impera é um sistema de avaliação que valoriza a nota, muito mais do que os conteúdos adquiridos, ou a aquisição das competências profissionais, ou ainda, o desenvolvimento da cidadania. Segundo Foucault ([1975] 1987), a prática de exame valorizado na escola reúne técnicas de hierarquia, que vigia, e de sanção, que normaliza. E ainda estabelece aos indivíduos, uma visibilidade que irá classificá-los e diferenciá-los. Por isso, a importância atribuída em ritualizar esse dispositivo de disciplina, uma vez que “nele vêm-se reunir a cerimônia do poder

e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade.” (FOUCAULT, [1975] 1987, p. 154).

Geraldi (2010) critica, na perspectiva da aplicação do exame, que se tem o efeito de que “se o aluno não aprendeu é porque não estudou, não quis aprender, tem deficiências e por isso ele mesmo é o culpado por sua consequente situação social.” (GERALDI, 2010, p. 89). Acrescenta-se que o aluno aprende para ser aprovado, e, por meio de um sistema classificatório excludente, a ele é atribuída uma nota de acordo com o mérito alcançado pelo desempenho na prova.

Outra causa é de ordem estrutural. A escola pública no Brasil ainda segue o padrão do modelo arquitetônico prisional. O modelo do panóptico, umas das principais concepções formuladas por Foucault ([1975] 1987), por meio do relato da ideia de Bentham, em seus escritos sobre o poder, demonstra o acontecimento da passagem da soberania para as tecnologias da disciplina. Segundo Foucault ([1975] 1987):

O Panóptico de Bentham é a figura arquitetural dessa composição. O princípio é conhecido: na periferia uma construção em anel; no centro, uma torre; esta é vazada de largas janelas que se abrem sobre a face interna do anel; a construção periférica é dividida em celas, cada uma atravessando toda a espessura da construção; elas têm duas janelas, uma para o interior, correspondendo às janelas da torre; outra, que dá para o exterior, permite que a luz atravesse a cela de lado a lado. Basta então colocar um vigia na torre central, e em cada cela trancar um louco, um doente, um condenado, um operário ou um escolar. (FOUCAULT, [1975] 1987, p. 165, grifo nosso).

O modelo permite maior eficácia na vigilância, transformando-se em um intensificador do aparelho de poder, assegurando também a economia material, pessoal e de tempo, bem como maior efeito do sistema preventivo. Para Foucault ([1975] 1987), o modelo denota disciplina, esquadrinhamento, que tem como objetivo controlar os indivíduos, transformando-os em seres “dóceis” para o mercado de trabalho, obedecendo às hierarquias.

Esse modelo é criticado nessa pesquisa, que busca romper para novos horizontes por meio da apresentação do Projeto Cambira, pois, comparado a uma prisão, leva o estudante à falta de interesse e comprometimento pelos estudos, cujas tarefas é obrigado a executar por meio de aulas muitas vezes monótonas e descontextualizadas da realidade da vida dele. Assim, a estrutura física escolar passa a ser uma barreira para a aprendizagem. Uma resposta para esse problema pode ser a construção de uma estrutura adequada às necessidades dos educandos, podendo constituir-se em fator motivador de aprendizagem e contribuir para que o aluno aprenda.

muitas propostas de escolarização mantém ainda uma forte estrutura fordista, no sentido de que seu modo de funcionamento se assemelha ao da cadeia de montagem de uma grande fábrica. Assim, os alunos/as se posicionam de forma fixa em sua carteira e diante deles/as vão passando diferentes matérias e professores/as a um determinado ritmo. A única coisa a que os/as estudantes aspiram é acabar quanto antes seus deveres e desse modo conseguir uma recompensa extrínseca, como uma determinada nota ou um determinado conceito. O que tem menos importância nessa situação é o sentido, a utilidade e o domínio real do que devem aprender. (SILVA, 1995, p. 160).

As causas que remetem ao fracasso no processo de ensino e aprendizagem também podem ser de ordem social. Enquanto aos pais das classes médias e baixas é inculcada a culpa do insucesso dos filhos por razões de destino ou de ordem psicológica: “meu filho não nasceu para estudar”, “ele não leva jeito para os estudos”, ou ainda “ele não tem cabeça boa para os estudos”, as contradições da própria sociedade vão proliferando.

Os indicadores sociais impactam diretamente na educação brasileira. O país conta com quase 10% da população analfabeta (9,1%), e especificamente, no ranking sobre a educação, cuja pesquisa foi encomendada pela UNESCO em 2011, o Brasil fica em 88º lugar, entre os de nível médio, atrás de países como a Argentina (38o), Chile (51º), e Uruguai (39o). (Fonte: UOL, 2013)5, conforme gráfico elaborado abaixo. A contradição se instaura: por que um país que está entre as dez maiores economias do mundo apresenta índices de alfabetização e aprendizagem tão baixos?