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“O que nos ocupa aqui não tem a ver com a justaposição de

«factores» disciplinarmente isolados, mas com a interacção destes no seio de um sistema global homo, constituído precisamente por essas próprias interacções.”

Morin (2002: 27, cit. por Freitas, 2005)

A procura da vitória pelas duas equipas em confronto, num jogo de futebol, acontece em todas as modalidades de índole colectiva. Nesse sentido, o jogo de Futebol caracteriza-se por considerar em si características muito especiais. Neste, por exemplo, uma equipa pode dispor de muitos indicadores positivos (como oportunidades de golo, posse de bola, entre outros) e não ganhar e ao invés a equipa com muito menor índice de indicadores positivos pode ganhar (Lago & Martín, 2007). Portanto, estamos perante uma característica que não é comum a muitos outros desportos.

A vitória é o grande objectivo do desporto, de uma forma geral, e o Futebol não é excepção, independentemente desta ser alcançada, ou não, em função de maior ou menor posse de bola ou oportunidades de golo. Devido à especificidade da modalidade (Savelsbergh & van der Kamp, 2005; Garganta & Pinto, 1998), esta comporta factores de rendimento que terão cota parte de importância no sucesso competitivo de uma equipa (Garganta, 1997).

De acordo com Garganta (1997), embora os factores de rendimento estejam sempre presentes, alguns têm maior preponderância em detrimento de outros.

Tendo por base a literatura referente à teoria do treino desportivo, geralmente são considerados quatro os factores/dimensões de rendimento: físicos, técnicos, tácticos e psicológicos (Garganta, 1997; Castelo, 2002).

Contudo, vários autores citados por Santos (2006) referem-se a outros factores de rendimento: cognitiva e sociopsicológica (Schoch, 1987); teórica e moral (Teodorescu, 2003); sócio/psicológica (Bangsbo, 2004); estratégia e conhecimentos teóricos sobre o jogo (Castelo, 2006a).

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Para o nosso estudo, a opinião de Garganta (1997) e Castelo (2002) parece ser a mais adequada e lógica, apesar de facilmente podermos concordar que factores como os morais, sociológicos, teóricos, entre outros poderão também influenciar o rendimento de uma equipa. No entanto, neste trabalho quando nos referirmos a factores/dimensões do rendimento estaremos a reportar-nos a factores tácticos, técnicos, físicos e psicológicos.

Nesta ordem de ideias, parece-nos que mais importante que denominações deveremos procurar reflectir acerca da forma como eles se articulam. Reparemos na opinião dos autores consultados.

De acordo com Tavares (1994), na Formação de jovens atletas, a presença destes quatro factores, parece ser determinante, mas considera que o mais é importante é conotá-los e considerá-los sempre como uma globalidade.

Queiroz (1986) confirma isso mesmo, sustentando que deverá existir sempre uma indivisibilidade das componentes (entenda-se factores/dimensões) de rendimento desportivo.

No entanto, apesar de se encontrarem opiniões reconhecendo que as dimensões do rendimento desportivo devem estar interligadas, estas parecem ser constantemente separadas. Por exemplo a dimensão técnica parece ser uma das esquecidas, de acordo com Raya Pugnaire e Roales Nieto (2002).

Wrzos (1984) entende que estas se encontram interligadas uma vez que considera, por exemplo, que a táctica subsiste sempre considerando uma determinada estratégia sendo que a técnica intervém de forma a interligar estes dois aspectos. Ou seja, utilizando apenas a dimensão táctica e a técnica, este autor refere a importância de não as dissociarmos, uma vez que de uma está intimamente dependente a outra.

Por exemplo, Tani (2001) remete-nos para outro prisma, afirmando que no desporto de rendimento está enraizada a crença de que a excelência no desempenho desportivo pode ser obtida mediante a melhoria na condição física, crença essa sustentada na Fisiologia do Exercício. Não se constituindo como a sua opinião acerca destes factos, constitui-se como uma conclusão retirada dos seus estudos.

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Contrapondo um pouco esta ideia Prieto (2001) afirma que um bom jogador de futebol é muito mais que um bom atleta, enquanto Guilherme Oliveira (1991: 32), corrobora da mesma opinião do autor referido acima, ao levantar um conjunto de questões: “Será que no futebol ganha quem salta mais? Quem corre durante mais tempo? Quem é mais rápido? Ou será que normalmente ganha quem joga melhor futebol e quem marca mais golos?”.

O mesmo autor, e de forma a responder a este conjunto de questões, entende que os factores/dimensões do rendimento desportivo devem ser consideradas em conjunto, não se negligenciando nenhum deles, mas que contudo a dimensão táctica, terá uma preponderância maior relativamente às demais. Resende (2002) assume uma postura parecida, e refere que uma concepção metodológica não pode separar a componente táctica das restantes componentes, embora se constitua como globalizante destas.

Opinião concordante tem ainda Garganta (1997) para o qual a dimensão táctica funciona como um pólo de atracção, isto apesar de referir que em termos de investigação e produção bibliografia os factores energéticos, biomecânicos e as características fisiológicas dos jogadores têm tido preponderância em termos de volume de investigações.

Teodorescu (1984) considera os jogos desportivos colectivos como desportos de preponderância táctica e Freitas (2005) refere que a dimensão táctica se assume como coordenadora de todo o processo de treino. Portanto, opiniões em consonância com as anteriores.

Garganta, Marques e Maia (2002) partem do mesmo pressuposto, afirmando que apesar do rendimento desportivo ser multidimensional, a dimensão táctica, no deporto em geral mas no futebol em particular, parece condicionar bastante a prestação de jogadores e das respectivas equipas.

Parece-nos pois, por demais evidente, a importância que tem sido dada à componente táctica no futebol actual, e por isso no nosso estudo tentaremos comprovar se esta, de facto, se constitui como a mais importante das quatro dimensões do rendimento desportivo.

Assim, entendendo que o todo não é igual à soma das partes que o constituem (Morin, 1991; Capra, 1996), mais importante que técnicas ou

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tácticas estereotipadas é definir princípios de acção ou regras de funcionamento e este facto, na opinião de Garganta e Pinto (1998), reporta-nos para a Modelação do Jogo de Futebol.

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