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2.3. Modelação do Jogo de Futebol

2.3.2. Jogo e Modelação: relação de inter-dependência

Jogo e Modelação, dois conceitos tão específicos e que parecem, em simultâneo, tão distantes. Será que ao invés desta distância existe alguma relação entre eles?

Vários autores têm-se debruçado sobre este aspecto. Por exemplo, Marina (1995, cit. por Garganta, 1997: 113) refere que “Treinar é modelar através dum projecto (9)”, sendo que através do processo de treino podemos intervir ao nível da qualidade de jogo da equipa e mais concretamente dos jogadores (Santos, 2006).

Portanto, Modelar e Treinar parecem ser consideradas como aspectos similares. Assim, tendo noção que existe uma relação de dependência entre treino e competição, Garganta (1997) refere que, o como se quer jogar é o como se deve treinar, daí o processo de treino desportivo ter como objectivo primário desenvolver a prestação desportiva de forma a esta ser aplicada na competição. Competição esta que serve também de avaliação/comparação do processo na sua globalidade.

Teodorescu (1984) refere que o elemento primário de que deriva o Futebol, enquanto jogo desportivo colectivo, é o jogo sendo que este deve constituir, em treino, o núcleo de todo o processo (Queiroz, 1986). A partir destas palavras não é pois de estranhar que Guilherme Oliveira (1991) refira que se o jogo é o espelho exequível do treino então, para o jogo ser JOGO, o treino não pode ser mais nada que não jogo.

Portanto, a ideia de jogo terá um papel importante na forma de treinar e quanto mais coerente for, mais lógica poderá ter o processo de treino (Tavares,

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2003), sendo que o nível de prestação do praticante ou da equipa é o espelho do como se treina (Castelo, 2002).

Assim, de acordo com Garganta (1997), com o treino deverá procurar-se que as transferências das aquisições sejam máximas, sendo que a questão que se coloca é como perspectivar o jogo em situação de treino (Santos, 2006).

Uma possível resposta é nos dada por Guilherme Oliveira (2004), que refere o princípio da especificidade como solução para este tipo de situação. Para o autor, mas em 1991, só se poderá chamar Especificidade à especificidade se existir um conjunto de relações entre várias componentes: táctico-técnicas, psico-cognitivas, físicas e coordenativas.

Desta forma, sendo o Futebol uma modalidade com características muito especificas também a preparação para a competição – entenda-se, o treino – terá de ter essa especificidade (Resende, 2002). No fundo, interligando a especificidade e o “Jogo” que se pretende atingir, este só o consegue ser efectivamente se esta (a Especificidade) estiver presente de forma constante em situação de treino.

Assim, em função destes dados, pensamos poder referir que o “Jogo” tem influência na Modelação, assim como ao invés a Modelação também terá influências no “Jogo” que se pretende criar.

Se a forma como queremos jogar é a forma como devemos treinar então a Modelação terá um papel preponderante nessa construção. Assim, pela especificidade do treino em Futebol, preconiza-se que se treine os aspectos que se reportam directamente ao jogo para que, na competição, estes apareçam como sendo algo que caracterize a forma de jogar da equipa.

Se no jogo há necessidades físicas, técnicas, tácticas, psicológicas, elas são consequência de uma determinada organização de jogo de uma equipa (Faria, 1999) e será em situação de treino que poderão ser exercitadas. Todas e não apenas algumas.

A este respeito, Garganta (1997) acrescenta que, se se pretende que exista uma relação de reciprocidade e de interdependência entre treino e competição, então o centro do treino deverá ser sempre o jogo. Santos (2006) corrobora esta opinião.

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Assim, no sentido de comprovar a importância do jogo para o treino, Teodorescu (1984) afirma que a representação do conteúdo de jogo e do sistema de relação dos elementos que o compõe é extremamente importante uma vez que ao dizer respeito à lógica interior permite o aperfeiçoamento de uma forma constante quer do treino quer do jogo.

Daí que, segundo Garganta (1997), a elevação do jogo a objecto de estudo se constitua como um passo importante, uma vez que o conhecimento da sua lógica terá implicações na forma de o trabalhar, ou seja no treino.

A Figura 2 representa, esquematicamente, a importância de termos o jogo como objecto de estudo.

Figura 2 – O Jogo enquanto objecto de estudo (Retirado de Garganta, 1997)

Pela análise da figura, podemos constatar que o Jogo tem um papel importante na consecução da Modelação. E o inverso será que acontece? A Modelação terá importância na análise e construção de um “jogo” específico?

Tendo por base a opinião de vários autores, (Parlebas, 1976; Deleplace, 1979; Dugrand, 1989; Gréhaigne, 1989; Godik & Popov, 1993; McGarry & Franks, 1995; Hughes, 1996a; Smith et al., 1996) citados por Garganta, em 1997, a resposta é claramente sim, na medida em que a Modelação tem servido fundamentalmente para configurar a lógica interna dos jogos desportivos colectivos com base na organização das acções de jogo.

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Garganta (1997) entende ainda que esta pode ser utilizada para promover a identificação de relações entre os eventos de jogo e os factores que afluem para a efectividade das equipas, ou seja, na configuração de padrões de jogo que estejam associados aos factores de sucesso e insucesso nas equipas.

Assim a modelação do jogo de Futebol de uma equipa, irá condicionar e orientar o processo de planeamento e de periodização (Santos, 2006) no caminho da construção de um “Jogo” para essa equipa. Neste caso, quanto maior for o grau de correspondência entre os modelos utilizados e o “Jogo”, melhores e mais eficazes serão os seus efeitos (Queiroz, 1986).

Face ao exposto, Santos (2006) entende que se torna evidente a necessidade de modelar o jogo, tornando-o único e específico, quando comparado com o de outras equipas. Por conseguinte, perante estes factos, pensamos poder constatar que existe uma relação de interdependência funcional entre Jogo e Modelação na qual uma se constitui como importante na construção da outra (Modelação na construção do Jogo) e outra, na qual o objecto de estudo, o “Jogo”, pode ser estudado através da Modelação.