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2.3. Modelação do Jogo de Futebol

2.3.3. Modelação Táctica do Jogo de Futebol

2.3.3.1. Futebol: Sistema que engloba muitos outros Sistemas

De acordo com Queiroz (1986) a abordagem do jogo deverá basear-se na simplificação da sua estrutura complexa.

Uma forma proposta por Garganta e Gréhaigne (1999), para atingir esse fim, é a abordagem sistémica. Esta, segundo os dois autores, é referente ao processo de treino em futebol e oferece a possibilidade de identificar, avaliar e regular acções/sequências de jogo que se afiguram representativas da

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dinâmica dos jogos pelo que constitui uma referência a considerar na construção e controlo dos exercícios que visam o ensino e treino do Futebol.

Guilherme Oliveira (2004) acrescenta que esta abordagem tem como intuito analisar o fenómeno na sua globalidade, procurando perceber as interacções que evidencia, os conhecimentos que promove, como organizá-los, direccioná- los e desenvolvê-los, percebendo a sua dinâmica e complexidade.

De acordo com o autor, o Futebol é um fenómeno complexo e importa, na nossa opinião, tentar perceber o que sustenta essa complexidade. Portanto, será que o pensamento sistémico poderá auxiliar estes intentos?

Observemos a opinião de diversos autores a este respeito. De acordo com Capra (1996) a palavra “sistémico”, remete para a palavra “sistema”, que deriva do grego synhistanai (“colocar junto”).

Na tentativa de distinguir dois conceitos emergentes deste tipo de pensamento, sistema e “sistémico”, Bertrand e Guillement (1994: 46) considera que sistema é “(9) um todo dinâmico cujos elementos estão ligados entre si e que tem interacções.”.

Moriello (2003), a este propósito, refere que um sistema é algo mais que a soma dos elementos que o constituem.

Já em relação à abordagem sistémica, Bertrand e Guillement (1994), caracteriza-a como sendo uma modelização sistémica, que fundamenta a sua acção na fabricação de modelos e na resolução de problemas, utilizando como instrumentos os sistemas.

Os mesmos autores acrescentam que esta assenta na noção de isomorfia, de semelhança, ou seja, que esta assenta a sua acção na construção de representações ou retratos que se assemelhem à realidade. Portanto, consideram que a abordagem sistémica consiste na produção de modelos de realidade organizacional.

Assim, de acordo com considerações de Bertrand e Guillement (1994), a abordagem sistémica actuará sobre os sistemas como um todo, contrariando a abordagem analítica que isola e decompõe um sistema, analisando as suas partes, uma de cada vez.

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Relacionando com o Futebol, Guilherme Oliveira (2004), considera uma equipa como um sistema que se pretende globalizante, considera que o ser humano, uma sociedade, mas também uma equipa, um jogador ou até mesmo um jogo de futebol podem ser considerados sistemas.

Gréhaigne e Godbout (1995) padecem de opinião idêntica afirmando que tanto um jogo de futebol, como uma equipa ou um jogador podem ser considerados sistemas.

Davids, Araújo e Shuttleworth (2005) concordam que uma equipa pode ser considerada um sistema e referem que este é um sistema dinâmico, no qual interagem vários aspectos, desde jogadores de ambas as equipas, bola, árbitros, adeptos.

Já Tamarit (2007) acrescenta que uma equipa de futebol é considerada um sistema aberto, adaptativo e homeoestático, na medida em que se auto-ajusta de forma interna em função do contexto existente.

Concordamos com estas perspectivas, uma vez que um sistema engloba isso mesmo: interacções, abertura para com o meio, organização. Portanto visões como a de Davids et al. (2005), Guilherme Oliveira (2004) e Tamarit (2007) parecem comprovar esse aspecto, e a este propósito, depreendemos que se uma equipa é considerada um sistema, a abordagem sistémica aparenta ser a melhor solução para a modelar. Isto porque, desta forma se considerará sempre como um todo, mantendo as suas características funcionais.

Baseando a nossa opinião nos autores referidos acima, uma equipa é considerada um sistema com organização própria e cada uma é considerada diferente das demais. Poderemos, portanto, afirmar que um jogo de futebol também poderá ser considerado um sistema?

Para Garganta (1996) podemos, até porque cada equipa tem a sua lógica de funcionamento e, nesse sentido, representa um sistema em confronto com um outro sistema independente.

Segundo Júlio e Araújo (2005) é importante considerar o jogo de futebol como um sistema dinâmico onde decorrem padrões de acção distintos, os

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quais são diferentes dos considerados pelo comportamento individual de cada jogador.

No fundo, estas ideias vêm dar alento à nossa inquietação, sendo que Garganta e Grégaigne (1999) vão ainda mais longe e entendem que um jogo de Futebol é mais do que um sistema, podendo ser conotado como um macro- sistema, que engloba vários sistemas em interacção conjunta (jogadores, equipas, adeptos, entre outros).

No fundo e concluindo, no Futebol, coexistem vários sistemas em interacção uns com os outros – equipas, jogadores dentro da equipa, adeptos, equipa de arbitragem – sendo que condição imprescindível para cada um ter esta denominação será padecer de organização (Morin, 1982, cit. por Garganta, 1996).

Garganta (1996) acrescenta que é este carácter organizacional que produz a globalidade do sistema transformando-o, relacionando-o e produzindo-o de forma a conceder características próprias à totalidade sistémica. Neste caso específico, entendamos o sistema como dizendo respeito ao “Jogo” que se pretende atingir para uma determinada equipa, assim como essa mesma equipa, os jogadores e até o treino.

Portanto, estamos de acordo com Garganta (2005) quando refere que uma equipa é um sistema dinâmico que vive da sua organização.

Assim, no próximo subcapítulo iremos abordar a importância da organização de jogo no entendimento do Jogo a que os treinadores aspiram, uma vez que é ela que produz a unidade global do sistema, transformando-o, produzindo-o e relacionando-o com outros.

2.3.3.2. Organização do Jogo: condição essencial na