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“Não concebo a modificação de um comportamento por magia. Tem de

ser com o treino. E quando digo treino quero dizer treinos.”

Mourinho (2006, cit. por Oliveira, Amieiro, Resende & Barreto, 2006)

Todos os assuntos abordados atrás permitiram fundamentar este último ponto, uma vez que em todos eles o único aspecto comum, foi a constante preocupação com o processo de Treino.

O Treino parece constituir-se como a melhor “ferramenta” para conciliar todos as vertentes da preparação desportiva e parece acarretar em si uma imprescindibilidade enorme junto dos treinadores e respectivos jogadores.

De acordo com Garganta (2004) para se ser um jogador de alto nível, não basta nascer-se com talento, é necessário muito treino.

Vingada (1989, cit. por Santos, 2006) concorda, afirmando que o Futebol ensina-se mas sobretudo aprende-se, sustentando então a opinião de Garganta (1997) para o qual os comportamentos que os jogadores exteriorizam durante o jogo resultam das adaptações provocadas anteriormente pelo processo de treino.

De acordo com o mesmo autor, apesar da imprevisibilidade e aleatoriedade (já faladas em capítulos anteriores) a interacção entre duas equipas não se restringe somente a aspectos como a sorte ou azar, sendo possível através do treino tentar “combater” isso mesmo, preparando melhor a equipa para esses momentos.

Portanto concordamos com Meinberg (2002) que refere que o treino é um fenómeno complexo que é conotado como uma forma especial de ensino, que pressupõe instrução e didáctica.

Frade (1985) vai mais longe e refere que treinar é lapidar. Para o autor, treinar é como que pegar numa pedra e trabalha-la até esta se constituir como arte, sendo que para isso acontecer exigirá um conjunto de implicações. Uma dessas implicações diz respeito ao que deverá estar na base de estruturação deste processo.

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De acordo com Lucas e Garganta (2002) o processo de treino deverá ter sustentação no Modelo de Jogo e num modelo de jogador resultante deste primeiro. Para Garganta (2003) este é o orientador de todo o processo de treino.

Castelo (2006) considera que treinar, sem um referencial ao nível do jogo, terá como resultado a impossibilidade de afirmação de uma equipa, assim como treinar todos os cenários possíveis se afigura como um erro.

De acordo com Garganta (2005), considerando que o processo de treino visa induzir alterações positivas, observáveis numa equipa através da performance dos seus jogadores, a orientação do processo de treino deverá ser baseada e regulada através da informação que é recolhida no jogo.

Portanto, este conjunto de autores referenciam o treino tendo este como base o “jogo” da equipa. No fundo, consideram que o treino deverá sustentar a sua acção, fundamentalmente, no Modelo de Jogo Adoptado.

Assim, para Oliveira Silva (2006) é injustificável que se altere o Modelo de Jogo em função de se jogar contra um qualquer adversário. Contudo, para Garganta (2000) e Oliveira Silva (2006), depois de consolidada e assegurada a coerência do processo de treino, tendo em vista o desenvolvimento de uma determinada forma de jogar, alicerçada no modelo e concepção de jogo do treinador, informações relativas à equipa adversária poderão ser oportunas na elaboração e reajuste de exercícios específicos, ao nível da padronização semanal.

Fazendo um ponto de situação das ideias evidenciadas, o treinador não deverá abdicar da sua forma de jogar, da identidade de jogo da equipa mas sim “acrescentar” este complemento estratégico (informação acerca das equipas adversárias), se assim entender ser pertinente. Portanto, Modelo de Jogo e

Scouting parecem poder coexistir em simultâneo, como factos integrantes do

processo de Treino.

Assim concordamos que a um Modelo de Jogo dever corresponder um Modelo de Análise de Jogo (Oliveira Silva, 2006). Também Queiroz (1986), afirma que ao se definir um modelo conceptual para a estruturação e definição dos exercícios de treino, este implicará também a definição de um modelo de

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análise de jogo. Os autores estão de acordo, portanto, que estando o Modelo de Análise de Jogo referenciado ao Modelo de Jogo, consequentemente o Treino buscará influências quer no Modelo de Jogo quer no Modelo de Análise do Jogo.

Garganta (1997) entende, a este propósito, que através da Análise do Jogo, pode e deve-se realizar um aporte da informação para o treino, tendo em vista o melhoramento da performance. Reparemos na Figura 5.

Figura 5 – Interacção entre o processo de treino e o processo de análise e observação do jogo (Retirado de Garganta, 1997)

De acordo com Franks e McGarry (1996) deve-se tentar, a partir das informações retiradas da análise do jogo, optimizar o comportamento dos jogadores, até porque segundo Neto e Matos (2008) parece existir uma relação entre treino e competição e nesse sentido a análise de jogo pode servir como ponto de união entre os dois.

Pinto (1991) concorda que esta relação se constitui como algo de concreto, e acrescenta que a relação é entre treino-competição-jogo. Assim, de acordo com o mesmo, parece poder considerar-se que, através da análise e observação do jogo, se pode auxiliar a conceptualização do treino através da construção de exercícios especializados.

Análise do Jogo, neste caso, somente referente à própria equipa. Relativamente à análise do jogo referente às equipas adversárias, Oliveira Silva (2006) entende que o scouting se constitui como algo que os treinadores

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realizam para a sua preparação, tendo em vista a construção de exercícios específicos de treino.

Entendendo os exercícios como os principais meios para o treinador modelar os comportamentos dos seus jogadores (Castelo, 2002; Garganta, 2003) a informação sobre o adversário deve nortear a construção dos exercícios que visem ensinar/exercitar as soluções estratégicas para um jogo (Santos, 2006). Assim, de acordo com Santos (2006), os treinadores concedem importância ao scouting com o intuito de decifrar os pontos fortes e os pontos fracos dos adversários para depois, em situação de treino, conseguirem delinear exercícios de forma a preparar adequadamente a sua equipa.

No fundo, o scouting fundamenta a sua acção surgindo como um auxílio, na preparação para a competição, sendo conotado por Lopes (2005) como um possível complemento estratégico para os jogos.

Portanto, concordamos com a posição de Lopes (2005) assim como com Oliveira Silva (2006) que considera que o scouting encontra sustento nos aspectos de ordem estratégico-táctica.

Assim, de acordo com a literatura consultada, entendemos que este conjunto de ideias – Modelo de Jogo, Concepção de Jogo do treinador, Análise da própria equipa e Scouting da equipa adversária, se constituem como partes sustentadoras do mesmo processo, o processo de Treino, e é isso que tentaremos comprovar no nosso estudo.

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